Por que Deus exigia o sacrifício de animais?
Você perguntou a razão de Deus ter ordenado sacrifícios de animais no Antigo Testamento e da previsão disso continuar quando Cristo estabelecer seu reino de mil anos na terra. Então você comentou: “Como alguma bondade poderia vir de um ato de crueldade?”.
Existe um princípio que permeia a Criação em seu estado atual, e é o da necessidade da morte para que se mantenha a vida. Todos os dias promovemos sacrifícios de animais para sermos alimentados e continuarmos vivos. O vegetariano pode protestar dizendo que não faz assim, mas isso apenas porque ele qualifica os animais entre mais e menos dignos segundo os seus próprios critérios. Por que seu poodle teria mais direito à vida do que os animais sacrificados que compõem sua ração?
Mas ainda que você não tenha um cãozinho de estimação, não pode se eximir de assassinar milhões de criaturinhas todos os dias para manter sua privada cheirosa e livre de bactérias. Ao despejar ali um bactericida você promove de uma só vez a matança de um número de seres vivos que faria Hitler parecer Madre Teresa. Ou ao passar uma pomada germicida, ou tomar um antibiótico, ou pagar sua conta de água tratada com cloro, cozinhar seus vegetais, eu e você estamos sempre promovendo um holocausto de germens. Até mesmo ao escovarmos os dentes e bochechar com desinfetante bucal.
Repare que na Criação uns morrem para que outros permaneçam vivos, e é esta a dinâmica da vida que foi até profetizada sem intenção pelo sacerdote que queria Jesus morto:
“E Caifás, um deles que era sumo sacerdote naquele ano, lhes disse: Vós nada sabeis, nem considerais que nos convém que um homem morra pelo povo, e que não pereça toda a nação. Ora ele não disse isto de si mesmo, mas, sendo o sumo sacerdote naquele ano, profetizou que Jesus devia morrer pela nação. E não somente pela nação, mas também para reunir em um corpo os filhos de Deus que andavam dispersos” (Jo 11:49-52).
O primeiro a promover um sacrifício cruento (de sangue) foi o próprio Deus, como resposta ao pecado que acabara de ocorrer no Jardim do Éden. Um problema radical exigia uma solução radical. “E fez o Senhor Deus a Adão e à sua mulher túnicas de peles, e os vestiu”(Gn 3:21). Para vestir Adão e Eva com peles Deus precisou sacrificar um animal inocente. Aquilo servia para substituir a inútil vestimenta de justiça própria costurada por Adão e Eva a partir de folhas de figueira.
Tão inútil era que ao ouvirem a voz de Deus se esconderam entre as árvores do jardim, e quando Deus questionou, Adão respondeu: “Ouvi a tua voz soar no jardim, e temi, porque estava nu, e escondi-me”(Gn 3:10). Até Adão reconheceu que suas obras não poderiam encobrir seu pecado ou aliviar sua consciência. “Estava nu”, diz ele, apesar de estar vestido com um cinto de folhas.
Enquanto Caim tentava agradar a Deus com o fruto do seu trabalho, Abel tinha a mente do Senhor e ofereceu a ele um sacrifício cruento. Desde o pecado esta seria a única forma de agradar a Deus porque era consoante aos pensamentos e intenções de Deus de que um inocente morresse pelo pecado do culpado. Por isso ao longo do Antigo Testamento milhões de animais seriam sacrificados, não para tirar o pecado do homem, mas para fazer recordação, ou seja, era como se Deus quisesse despertar a consciência do homem dizendo: “Veja o que você fez! Agora um inocente terá de morrer por causa de seu pecado!”.
“Entretanto, nesses sacrifícios faz-se recordação de pecados todos os anos, porque é impossível que o sangue de touros e de bodes remova pecados” (Hb 10:3-4).
Os sacrifícios que Deus exigia na Lei eram sombras ou figuras do derradeiro sacrifício de Deus: a morte de seu próprio Filho no lugar do pecador. A pergunta correta, então, não é por que Deus ordenava o sacrifício de animais, e sim por que Deus iria querer sacrificar seu próprio filho.
“Ora, visto que a lei tem sombra dos bens vindouros, não a imagem real das coisas, nunca jamais pode tornar perfeitos os ofertantes, com os mesmos sacrifícios que, ano após ano, perpetuamente, eles oferecem. Doutra sorte, não teriam cessado de ser oferecidos, porquanto os que prestam culto, tendo sido purificados uma vez por todas, não mais teriam consciência de pecados?” (Hb 10:1-2).
“Agora, porém, ao se cumprirem os tempos, [Cristo] se manifestou uma vez por todas, para aniquilar, pelo sacrifício de si mesmo, o pecado. E, assim como aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo, depois disto, o juízo, assim também Cristo, tendo-se oferecido uma vez para sempre para tirar os pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o aguardam para a salvação” (Hb 9:26-28).
Mas você pode agora querer perguntar a razão de os sacrifícios serem continuados no reino de mil anos na terra, considerando que o Cordeiro de Deus já foi morto. Várias passagens falam disso, como Isaías 56:6-8, zc 14:16 e Jeremias 33:15-18. Ezequiel 43:18-46:24 dá um panorama mais geral de como as coisas voltarão a ser como eram antes, com o templo reconstruído em Jerusalém e os sacrifícios restabelecidos. Isso só ocorrerá depois que a Igreja, o conjunto dos salvos da atual dispensação, tiver sido recolhida para o céu no arrebatamento, a terra ter sido purificada na Grande Tribulação, e o reino estabelecido com a vinda de Cristo para reinar.
Os sacrifícios então continuarão pela mesma razão que eram feitos, como recordação do pecado. Se antes de Cristo eles recordavam o homem de sua culpa e do quanto custaria a Deus para eliminá-la sacrificando um inocente, no reino futuro o objetivo será o mesmo porque Deus estará tratando com seres humanos em sua condição natural de pecadores. No passado os sacrifícios anunciavam que um Cordeiro iria morrer; no futuro os sacrifícios recordarão que um Cordeiro já morreu.
Lembre-se de que os habitantes do reino de mil anos serão pessoas comuns que ainda não foram redimidas e nem ressuscitadas, mas apenas convertidas à obediência formal ao Rei Jesus. Elas continuarão sujeitas a pecar e serão mortas quando isso ocorrer. “Pela manhã destruirei todos os ímpios da terra, para desarraigar da cidade do Senhor todos os que praticam a iniquidade”(Sl 101:8). Será um reino de paz e felicidade, mas ao mesmo tempo de justiça contra o pecado. O reino milenial não é o estado eterno, quando tudo isso estará resolvido para sempre. O período do reino de mil anos terminará com um motim de pessoas lideradas por Satanás (então recém libertado de sua prisão) para combater o Cristo.
No atual período da graça os cristãos já foram completamente lavados de sua culpa e de seus pecados, e suas consciências purificadas. Somos exortados a nos lembrarmos de Cristo sendo morto por nós, porém não usando um animal como tipo ou figura, porque para nós o valor do sacrifício de Cristo foi 100% eficaz. Por isso usamos pão e vinho ao recordar a Cristo e anunciar sua morte, como figuras do corpo e do sangue de Jesus. Isto mostra o quanto podemos ter a certeza de uma redenção já consumada em nosso caso e com efeito total sobre nossas consciências.
Mas você pergunta se Deus não poderia ter apenas ensinado aos homens o caminho ao invés de exigir sacrifícios assim, ou de sacrificar seu próprio Filho. O caminho da expiação (retirada) do pecado é justamente o sangue de um inocente derramado em lugar do pecador, porque a justiça exige uma pena, como toda ação exige uma reação. O que você está dizendo é o mesmo que pegar todos aqueles corruptos, traficantes, ladrões, assassinos, etc., reuni-los em um grande estádio e dizer: “Ei, pessoal, não façam mais isso, tá? Procurem viver honestamente, serem bons, amarem o próximo, etc.”. E depois soltá-los.
Você acharia isso justo? Certamente não. Para ter justiça tem que existir uma pena e o culpado deve pagar (às vezes com a própria vida dependendo da gravidade da culpa). Assim Deus precisou também exigir que os responsáveis fossem presos, julgados e condenados. Mas sua graça veio ao encontro do pecador ao substituí-lo nesse juízo de morte pelo Seu próprio Filho, Jesus. Assim como todo professor de medicina sabe que nada substitui uma aula prática, Deus sempre quis mostrar o quão grave é o pecado que exige a morte do pecador dando aulas práticas de morte de animais.
Não crer que seja preciso sangue para redimir o pecador é rejeitar o sacrifício de sangue que Deus proveu para sua salvação e continuar perdido e sujeito ao juízo eterno. “E quase todas as coisas, segundo a lei, se purificam com sangue; e sem derramamento de sangue não há remissão”(Hb 9:22).
Portanto, se você ainda não creu em Jesus como seu Salvador, se ainda não tem a certeza de todos os seus pecados já pagos pelo Cordeiro de Deus na cruz, sua preocupação não deve ser com os sacrifícios de animais no Antigo Testamento ou no futuro reino de Cristo na terra, mas com o seu próprio destino. Ao recusar-se a crer em Cristo e seu sacrifício já consumado na cruz você continua sob a sentença de juízo que, para os salvos caiu sobre ele ali, mas para os impenitentes ainda paira prestes a ser levada a cabo.
“De quanto mais severo castigo julgais vós será considerado digno aquele que calcou aos pés o Filho de Deus, e profanou o sangue da aliança com o qual foi santificado, e ultrajou o Espírito da graça? Ora, nós conhecemos aquele que disse: A mim pertence a vingança; eu retribuirei. E outra vez: O Senhor julgará o seu povo. Horrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo” (Hb 10:29-31).