As reuniões devem ser públicas ou reservadas?

Você perguntou se quando os irmãos estão reunidos em assembleia ou igreja (que é sinônimo), essas reuniões podem ser em salões abertos para a rua ou devem ser reservadas. Encontramos alguns princípios na Bíblia que podem nos dar uma direção, começando com os evangelhos, que são anteriores a formação da Igreja na terra.

O Senhor Jesus, quando ainda estava aqui, pediu aos seus discípulos que preparassem a Páscoa, que era uma festa do judaísmo que comemorava a libertação dos israelitas da escravidão do Egito. Mas a intenção do Senhor não estava em apenas celebrar a Páscoa, mas também instituir a ceia que seria depois revelada ao apóstolo Paulo como o ponto alto da celebração cristã. Em 1 Coríntios 11 o apóstolo conta como havia recebido do próprio Senhor, e não de algum outro apóstolo, essa instituição.

Mas voltando aos evangelhos, quando o Senhor pediu aos discípulos para prepararem a Páscoa, eles fizeram a pergunta que todo cristão deveria fazer quando pensa em congregar, e vale a pena transcrever a passagem toda aqui:

E mandou a Pedro e a João, dizendo: Ide, preparai-nos a páscoa, para que a comamos. E eles lhe perguntaram: Onde queres que a preparemos?E ele lhes disse: Eis que, quando entrardes na cidade, encontrareis um homem, levando um cântaro de água; segui-o até à casa em que ele entrar. E direis ao pai de família da casa: O Mestre te diz: Onde está o aposento em que hei de comer a páscoa com os meus discípulos? Então ele vos mostrará um grande cenáculo mobilado; aí fazei preparativos. E, indo eles, acharam como lhes havia sido dito; e prepararam a páscoa. E, chegada a hora, pôs-se à mesa, e com ele os doze apóstolos” (Lc 22:8-14).

O Senhor deu instruções para que eles preparassem tudo em um cenáculo, que era o andar superior de uma casa. Não era para fazer aquilo ao nível da rua, mas em um lugar mais reservado porque não seria um evento aberto a todos, mas apenas a alguns poucos convidados. Vemos a mesma coisa acontecer em Atos 1:13, quando os discípulos se reuniram, não ainda como igreja, mas como discípulos judeus do Messias:

E, entrando, subiram ao cenáculo, onde habitavam Pedro e Tiago, João e André, Filipe e Tomé, Bartolomeu e Mateus, Tiago, filho de Alfeu, Simão, o Zelote, e Judas, irmão de Tiago. Todos estes perseveravam unanimemente em oração e súplicas, com as mulheres, e Maria mãe de Jesus, e com seus irmãos” (At 1:13-14). Na versão Almeida Revista e Atualizada está assim: “Quando ali entraram, subiram para o cenáculo onde se reuniam Pedro, João, Tiago, etc.”.

Todos estavam reunidos nesse mesmo cenáculo quando foi formada a Igreja com a descida do Espírito Santo que passaria a habitar em cada crente: “E, cumprindo-se o dia de Pentecostes, estavam todos concordemente no mesmo lugar; e de repente veio do céu um som, como de um vento veemente e impetuoso, e encheu toda a casa em que estavam assentados” (At 2:1-2).

Algum tempo depois já como igreja, nós os vemos também congregados no primeiro dia da semana, o domingo, para celebrar a ceia do Senhor em um cenáculo, ou seja, num andar superior de uma casa. “E no primeiro dia da semana, ajuntando-se os discípulos para partir o pão, Paulo, que havia de partir no dia seguinte, falava com eles; e prolongou a prática até à meia-noite. E havia muitas luzes no cenáculo onde estavam juntos” (At 20:7-8).

Não existe nenhuma ordenança no sentido de termos de congregar em um andar superior, mas estes exemplos bastam para a mente espiritual perceber que Deus pede algum grau de separação com o rés do chão. As reuniões da igreja são para a igreja, não para estranhos, portanto não devemos escolher um local que possa parecer uma vitrine para o mundo. Evidentemente incrédulos podem ter acesso ao local de reuniões dos irmãos, mas não um acesso escancarado de forma convidativa para todos participarem.

As reuniões da igreja são para os salvos, não para os perdidos, mesmo porque as atividades principais dessas reuniões são o ministério da Palavra para crentes, a ceia do Senhor e as orações. Ao menos era assim que os primeiros cristãos se reuniam. “E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações”(At 2:42). Nem preciso dizer que não se trata de uma reunião evangelística destinada a convidar pecadores para crerem em Cristo, embora algum incrédulo que entre ali poderá eventualmente ouvir o evangelho em meio ao ministério da Palavra para crentes.

Volto a insistir que, como irmãos salvos por Cristo, não estamos reunidos para o mundo, mas para o nome de Jesus. Não há nada de errado se os irmãos se reunirem a portas fechadas em locais onde exista o risco de entrar estranhos que causem distúrbios ou tirem a atenção daqueles que estão ali para o Senhor, não para o mundo e nem para os incrédulos.

Hoje existe tecnologia que permite manter portas fechadas e ter câmeras que permitam abri-las apenas a conhecidos, e quem congrega em locais com risco de assaltos ou em zonas de guerra sabe como algo assim pode ser útil. Os irmãos que congregam em casas no Egito costumam combinar a chegada separados e um de cada vez para não levantar suspeitas de radicais islâmicos. Lá até os templos de denominações cristãs (apenas as antigas, porque as novas são proibidas de se estabelecer) costumam ter guardas armados na porta.

Nada disso que estou dizendo aqui tem a ver com evangelismo, pois suponho que você saiba a diferença entre congregar e pregar o evangelho. A pregação do evangelho é uma atividade de responsabilidade de quem evangeliza, não da igreja. A pregação do evangelho deve ser pública, mas as atividades da igreja são destinadas a crentes somente. Onde congrego usamos um salão e visitantes podem entrar e assistir as reuniões. Mas depois da ceia do Senhor, quando temos assuntos sensíveis a tratar, como algum caso de disciplina ou excomunhão, pedimos que os visitantes saiam e fiquem somente os irmãos em comunhão.