O templo que Salomão edificou era para deuses pagãos?
Sua dúvida é: considerando que Deus não habita em templos feitos por mãos de homens, será que o Templo que Salomão construiu não teria sido para adorar ídolos e deuses pagãos, já que ele mesmo caiu na idolatria? Não, o Templo que Salomão construiu foi ordenado por Deus, que colocou seus planos no coração de Davi, mas não permitiu que construísse, escolhendo para isso seu filho Salomão. Aquele Templo foi depois reconstruído nos tempos de Esdras e Neemias e mais tarde por Herodes, o Grande. Tanto era propósito de Deus que nos evangelhos. Jesus o chamou de “casa de meu Pai”: “E disse aos que vendiam pombos: Tirai daqui estes, e não façais da casa de meu Pai casa de venda”(Jo 2:16).
Mas a intenção de Deus não era fazer daquela construção de pedras uma habitação no sentido estrito da Palavra, mas uma figura do verdadeiro templo. Vemos nos evangelhos Jesus mostrar que o seu corpo era o verdadeiro templo no qual o Espírito de Deus habitava.
“Jesus respondeu, e disse-lhes: Derribai este templo, e em três dias o levantarei. Disseram, pois, os judeus: Em quarenta e seis anos foi edificado este templo, e tu o levantarás em três dias? Mas ele falava do templo do seu corpo. Quando, pois, ressuscitou dentre os mortos, os seus discípulos lembraram-se de que lhes dissera isto; e creram na Escritura, e na palavra que Jesus tinha dito” (Jo 2:19-22).
Hoje Deus habita em cada salvo por Cristo, porque o corpo do crente é habitação do Espírito Santo. Como Jesus prometeu, isso só aconteceria depois de sua morte e ressurreição quando ele iria enviar o Espírito Santo para habitar para sempre no crente (é impossível perdê-lo). No Antigo Testamento o Espírito habitava eventual e temporariamente nas pessoas, mas não de forma permanente como hoje habita no cristão.
“E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco PARA SEMPRE; o Espírito de verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece; mas vós o conheceis, porque habita convosco, e estará em vós” (Jo 14:16-17).
“Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se é que o Espírito de Deus habita em vós. Mas, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele... E, se o Espírito daquele que dentre os mortos ressuscitou a Jesus habita em vós, aquele que dentre os mortos ressuscitou a Cristo também vivificará os vossos corpos mortais, pelo seu Espírito que em vós habita” (Rm 8:9,11).
“Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?... Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos?... Ou cuidais vós que em vão diz a Escritura: O Espírito que em nós habita tem ciúmes?” (1Co 3:16; 6:19; Tg 4:5).
Não tenho dúvidas de que Deus tinha em mente que o templo de Jerusalém fosse construído, e isso muito antes de Davi ou Salomão. O capítulo 12 de Deuteronômio é todo ele sobre o lugar onde o Senhor iria colocar o seu nome no futuro, em lugar do tabernáculo no deserto, que era transitório e igualmente ordenado por Deus. O templo que Salomão iria construir também foi detalhado em seu projeto dado a Davi, que deveria ser seguido à risca por Salomão. “E me disse: Teu filho Salomão, ele _edificará a minha casa e os meus átrios; porque o escolhi para filho, e eu lhe serei por pai..._Tudo isto, disse Davi, fez-me entender o Senhor, por escrito da sua mão, a saber, todas as obras desta planta”(1Cr 28:6,19).
A aprovação de Deus ao Templo construído por Salomão você encontra nesta passagem que fala de sua inauguração: “E aconteceu que, quando eles uniformemente tocavam as trombetas, e cantavam, para fazerem ouvir uma só voz, bendizendo e louvando ao Senhor; e levantando eles a voz com trombetas, címbalos, e outros instrumentos musicais, e louvando ao Senhor, dizendo: Porque ele é bom, porque a sua benignidade dura para sempre, então a casa se encheu de uma nuvem, a saber, a casa do Senhor; e os sacerdotes não podiam permanecer em pé, para ministrar, por causa da nuvem; porque a glória do Senhor encheu a casa de Deus” (2Cr 5:13-14).
Os sacerdotes não podiam permanecer em pé para ministrar por causa da nuvem da glória de Deus, mas ainda assim estavam no Templo, pois ali encontravam refúgio. Salomão reconhecia que aquela casa não era suficiente para ser habitada por Deus: “Mas, na verdade, habitará Deus com os homens na terra? Eis que os céus, e o céu dos céus, não te podem conter, quanto menos esta casa que tenho edificado?”(2Cr 6:18). Todavia, depois de todas as orações e súplicas do capítulo 6, Deus responde dando sua chancela de aprovação ao Templo construído por Salomão: “E o Senhor apareceu de noite a Salomão, e disse-lhe: Ouvi a tua oração, e escolhi para mim este lugar para casa de sacrifício”(2 Cr 7:12).
Aquele Templo seria também um ponto de contato entre o povo de Israel e Deus, que teria sua atenção focada para aquele lugar. “Agora estarão abertos os meus olhos e atentos os meus ouvidos à oração deste lugar. Porque agora escolhi e santifiquei esta casa, para que o meu nome esteja nela perpetuamente; e nela estarão fixos os meus olhos e o meu coração todos os dias”(2Cr 7:15-16). Mas como havia também a responsabilidade do homem, Deus deixa claro que aquele só seria um lugar de bênção enquanto o povo fosse fiel. A infidelidade e apostasia acabaria por transtornar não só a nação, mas até aquela casa, que se transformaria em motivo de piada para os ímpios.
“Porém se vós vos desviardes, e deixardes os meus estatutos, e os meus mandamentos, que vos tenho proposto, e fordes, e servirdes a outros deuses, e vos prostrardes a eles, então os arrancarei da minha terra que lhes dei, e lançarei da minha presença esta casa que consagrei ao meu nome, e farei com que seja por provérbio e motejo entre todos os povos. E desta casa, que é tão exaltada, qualquer que passar por ela se espantará e dirá: Por que fez o Senhor assim com esta terra e com esta casa? E dirão: Porque deixaram ao Senhor Deus de seus pais, que os tirou da terra do Egito, e se deram a outros deuses, e se prostraram a eles, e os serviram; por isso ele trouxe sobre eles todo este mal” (2Cr 7:19-22).
Mas quando lemos o Antigo Testamento vemos o quanto Deus teve de paciência com aquele povo, pois suportou as piores abominações feitas por eles no Templo. Não foi apenas nos tempos de Jesus que os judeus tinham transformado a casa de Deus em covil de ladrões, com seus cambistas e comerciantes atuando dentro do Templo. Nessa época já não havia em Israel a idolatria dos séculos anteriores, que vemos descrita em 2 Reis 23, quando o Rei Josias ordenou a limpeza do Templo de tudo o que tinha sido introduzido ali vindo dos pagãos.
“E o rei mandou ao sumo sacerdote Hilquias, aos sacerdotes da segunda ordem, e aos guardas do umbral da porta, que tirassem do templo do Senhor todos os vasos que se tinham feito para Baal,para o bosque e para todo o exército dos céus e os queimou fora de Jerusalém, nos campos de Cedrom e levou as cinzas deles a Betel... Também tirou da casa do Senhor o ídolo do bosquelevando-o para fora de Jerusalém até ao ribeiro de Cedrom, e o queimou junto ao ribeiro de Cedrom, e o desfez em pó, e lançou o seu pó sobre as sepulturas dos filhos do povo. Também derrubou as casas dos sodomitas [prostitutos cultuais]que estavam na casa do Senhor, em que as mulheres teciam casinhas para o ídolo do bosque... Também tirou os cavalos que os reis de Judá tinham dedicado ao sol,à entrada da casa do Senhor, perto da câmara de Natã-Meleque, o camareiro, que estava no recinto; e os carros do solqueimou a fogo... também o rei derrubou os altares que fizera Manassés nos dois átrios da casa do Senhor... E também os adivinhos, os feiticeiros, os terafins, os ídolos, e todas as abominaçõesque se viam na terra de Judá e em Jerusalém, os extirpou Josias...” (2Rs 23:4-24).
Com a destruição do Templo por Tito, general romano, no ano 70 D.C., Deus colocou um basta, não apenas àquela casa que havia sido tão maltratada pelo seu povo terreno, Israel, mas também colocou um fim na adoração judaica. Jesus já havia dito que o lugar de adoração não seria mais um lugar físico e nem tampouco no monte do Templo. E é assim até hoje no presente período da Igreja. Qualquer cristão que hoje construa um templo de pedras, madeira ou tijolos nada mais faz do que ir na contramão daquilo que o Senhor determinou.
“Disse-lhe a mulher: Senhor, vejo que és profeta. Nossos pais adoraram neste monte, e vós dizeis que é em Jerusalém o lugar onde se deve adorar. Disse-lhe Jesus: Mulher, crê-me que a hora vem, em que nem neste monte nem em Jerusalém adorareis o Pai. Vós adorais o que não sabeis; nós adoramos o que sabemos porque a salvação vem dos judeus. Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem. Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade” (Jo 4:24).
Uma boa leitura é esta: “Pedras grandes e preciosas” por Charles Stanley, que pode ser encontrado na internet.