O que acha da Baleia Azul?
Não tenho dúvidas de que por detrás de tudo o que leve ao incentivo de destruição da vida humana esteja Satanás. Judas teve um desafio parecido instigado pelo diabo: trair o Filho de Deus e ficar rico, provavelmente sabendo que Jesus seria poderoso para se livrar de seus captores. No final Judas falhou no desafio e cumpriu o último passo de sua lista de tarefas: suicidou-se.
Aos que participam ou promovem esse tipo de jogo cabe como uma luva a advertência que Jesus fez no seu tempo: “Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os
desejos de vosso pai. Ele foi homicida desde o princípio, e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso, e pai da mentira” (Jo 8:44).
Mas se por um lado existem adolescentes brincando com a morte e irresponsáveis o suficiente para incentivar amigos a fazerem o mesmo, como se a vida fosse um “game”, surpreende descobrir que por outro há cristãos tratando o assunto levianamente, fazendo piada de algo que incentiva o suicídio de adolescentes. Suicídio é coisa séria, não é piada. Se você for um pai ou mãe ainda no início de carreira saiba que você ainda não tem todas as respostas de como educar filhos. Seu tiro pode sair pela culatra quando descobrir que seus métodos não funcionaram.
Depois de velhos percebemos que erramos em muitos aspectos na educação dos filhos. Não se iluda achando que por checar todos os itens de sua lista de princípios bíblicos tudo irá sair direito. Mentimos para nós mesmos na tentativa de nos convencermos de estar no rumo certo, quando cada um de nós também traz muitas arestas a serem aparadas em muitos aspectos da vida. O que dirá das arestas na vida de nossos filhos, que só conseguimos enxergar por fora!
Nunca percebemos o quão falhos somos até na maneira como aplicamos a Palavra de Deus em nós mesmos, quanto mais em nossos filhos. Fingimos que obedecemos, achando que iremos tirar dez na prova de educar os filhos, só para depois descobrir que não foi bem assim. Filhos são entidades autônomas. Você tem controle sobre eles até certo ponto e é por isso que precisamos sempre de dependência de Deus. Mas eu não chamaria de uma atitude de dependência de Deus zombar daqueles que falharam, estão falhando ou podem falhar na educação de seus filhos. E jamais alguém poderia chamar de atitude cristã zombar de uma situação tão trágica quanto essa da “Baleia Azul” que traz em seu bojo a possibilidade de suicídio de uma criança ou adolescente.
Até mesmo irmãos conhecedores da Palavra, que nos serviram de exemplo por seu ministério na família e educação de filhos, descobriram no final que falharam. Isso obviamente não tira deles o mérito daquilo que escreveram ou pregaram no Senhor e segundo a Palavra, pois eles podem também ter sido alvos preferidos do inimigo justamente nos assuntos aos quais mais se dedicavam a ensinar outros. Um irmão que foi muito severo na educação de seus filhos sobre princípios bíblicos me confidenciou pouco antes de partir para o Senhor que tinha falhado. Outro ministrou bastante sobre educação de filhos por meio de textos, e teve resultados inversos com os seus. Outro que escreveu um excelente livro sobre o matrimônio acabou vendo o seu terminado em divórcio.
Procuro trazer Tiago 3:1-2 na lembrança para me humilhar quando sou tentado a posar de mestre de ignorantes: “Meus irmãos, não vos torneis, muitos de vós, mestres, sabendo que havemos de receber maior juízo. Porque todos tropeçamos em muitas coisas”. E Paulo dá um puxão de orelha nos judeus porque nesse orgulho eles acabaram caindo: “Tu, que tens por sobrenome judeu, e repousas na lei, e te glorias em Deus; que conheces a sua vontade e aprovas as coisas excelentes, sendo instruído na lei; que estás persuadido de que és guia dos cegos, luz dos que se encontram em trevas, instrutor de ignorantes, mestre de crianças, tendo na lei a forma da sabedoria e da verdade; tu, pois, que ensinas a outrem, não te ensinas a ti mesmo?” (Rm 2:17-21).
Portanto não ria da horta do vizinho antes de saber se vai colher morangos ou pepinos na sua. “Não julgueis, para que não sejais julgados. Porque com o juízo com que julgardes sereis julgados, e com a medida com que tiverdes medido vos hão de medir a vó.” (Mt 7:1-2).
Hoje muitos pais cristãos vivem a angústia da incerteza de estarem fazendo o que é certo, de estarem conectados o suficiente aos filhos, de estarem amando e dando a atenção que deveriam. O mundo oferece a crianças e jovens conexões sombrias que eles acham mais legais que aquela que têm com os pais, e com as novas tecnologias de comunicação você nunca sabe exatamente onde seus filhos circulam no ciberespaço, longe de sua vigilância e com amigos que você talvez jamais receberia em sua sala de estar.
Olhe agora para seus filhos pequenos e pense com temor no risco que eles correm vivendo neste mundo. Conheço pais cristãos que criaram o filho no temor do Senhor, só para um dia chegarem em casa e o encontrarem na ponta de uma corda. Conheci o filho também, e até o vi na escola dominical falando versículos e cantando hinos com outras crianças e adolescentes. Para qualquer um ali — pais e irmãos na fé — tudo parecia normal, até que não. “Portanto, nada julgueis antes de tempo, até que o Senhor venha, o qual também trará à luz as coisas ocultas das trevas, e manifestará os desígnios dos corações; e então cada um receberá de Deus o louvor”(1Co 4:5).
Por isso pense bem antes de fazer piada com “Baleia Azul”, um nome que mostra sua verdadeira cara quando você o define como “Suicídio de Adolescentes”. Nem pense em rir, principalmente se você for um pai ou mãe e tiver filhos pequenos. Melhor do que rir de pais que passaram ou estão passando pela perspectiva de um trauma de suicídio infantil é chorar com eles e orar por eles. Porque nenhum pai ou mãe pode dizer com certeza que não passará pela mesma angústia.
Quem me conhece sabe que gosto de humor e até uso de muito humor em minhas palestras e textos. Mas tudo tem um limite e existe uma tentação à qual devo resistir que é a de fazer da desgraça alheia minha comédia. É preciso discernir o tempo e o motivo para riso, tanto quanto o tempo e o motivo para o pranto. E mais que ninguém, o cristão deveria ser alguém capaz de discernir isso.
“Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu. Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou; tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derrubar, e tempo de edificar; tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar; tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar, e tempo de afastar-se de abraçar; tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de lançar fora; tempo de rasgar, e tempo de coser; tempo de estar calado, e tempo de falar; tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo de paz” (Ec 3:1-8).
“Alegrai-vos com os que se alegram; e chorai com os que choram” (Rm 12:15).
A frase que minha mãe costumava repetir ecoa até hoje em meu pensamento: “Meu filho, não fale mal dos filhos dos outros porque você não sabe como serão os seus” - Ruth Persona.