Você é contra pesquisas com células-tronco?

Quando o assunto é ser contra ou a favor da pesquisa com células tronco obtidas de embriões, há uma pergunta que vem antes e que ninguém parece estar disposto a fazer. Sempre que quisermos descobrir o truque de um mágico, não adianta olhar para a mão que ele mostra, mas para a outra. É na outra mão que está o segredo de seu truque, mas ele irá mantê-la sempre escondida e procurará chamar a atenção das pessoas para a mão que não revela suas intenções.

Portanto, a questão não é se é correto fazer pesquisas com células embrionárias, porque isso é decorrência de outra pergunta:

Foi correto gerar essas vidas de onde sairão essas células embrionárias?

As células usadas nessas pesquisas vêm de embriões desenvolvidos in vitro, ou seja, do resto de embriões criados com o objetivo de serem transformados em bebês para pais que queriam ter filhos e não conseguiam.

Estamos falando de um refugo criado de propósito, porque alguém, para ter certeza de que iria conseguir engravidar, concordou em gerar meia dúzia de seres humanos para aproveitar apenas um.

Percebe que existe aí uma cadeia de efeitos causados por uma ação inicial?

Essa primeira ação foi, provavelmente, de um casal (ou de solteiros) que quiseram ter um filho. Considerando que filho é o que não falta no mundo, e os abrigos estão cheios de órfãos ou abandonados, o processo tem início em um ato de egoísmo e vontade própria: Eu quero um filho meu. As consequências disso não importam, porque as pessoas sempre acham que os fins justificam os meios.

Então a pessoa gera meia dúzia de embriões, escolhe o melhor e descarta o resto. Ou melhor, deixa congelado para se transformarem no pivô de outro problema, que é o da pesquisa com células-tronco.

É no interesse de quem que a pessoa age assim, da criança ou de si própria? Este é o caso de pais que querem filhos, não de filhos que precisam de pais, portanto é o interesse dos pais, e não dos filhos, que prevalece.

A consequência de uma escolha errada feita lá atrás na cadeia de eventos gerou esse refugo e, alegam alguns, para que jogar fora se podemos usar esses embriões para salvar vidas? Se você olhar apenas para este elo da cadeia, parece ser a escolha mais sensata.

Estaríamos entrando então no campo da doação de órgãos, no caso de um moribundo congelado cuja família aprova que seus órgãos (suas células) sejam aproveitados para salvar a vida de alguém. Não tenho nenhum problema com doação de órgãos.

Agora, o que eu faria se precisasse de um órgão e soubesse que ele estaria disponível graças a alguém que gerou um ser humano com a intenção de descartá-lo? Será que eu daria pulos de alegria? Pense nisto: os embriões que estão sendo discutidos foram gerados com a finalidade de serem manipulados a bel prazer por terceiros, os pais ou outros, e a maioria deles já estava deliberadamente destinada ao lixo. Parece soar até nobre quando alguém deseja usá-los para salvar vidas. Mas será que é?

Para entendermos um processo, eu sempre gosto de perguntar sobre o que vem antes, e você, como bióloga, deve fazer isso com frequência. Às vezes a gente não está olhando para o problema, mas para uma de suas consequências.

Você escreveu em seu blog: “A vida que começa na concepção, está longe de ser uma vida humana, enquanto não houver a nidação (implantação destas células no útero) jamais será um ser humano”.

Eu não tenho competência para julgar se o que disse está certo ou errado, pois não tenho formação científica. É preciso apenas ter cuidado, porque como disse alguém, “a ciência caminha de funeral em funeral”, ou seja, o que se sabe hoje não é o que se asseverava ontem e tampouco o que será descoberto amanhã.

Portanto, talvez fosse mais prudente dizer que “hoje se acredita que enquanto não houver a nidação...”. Amanhã? Eu não sei o que vão descobrir.

Mas, supondo que seja isso mesmo, voltamos à questão: “O que esses embriões estavam fazendo fora do útero, que era o lugar onde deviam estar?”. E se chamamos a “isso” de “embrião”, eu pergunto: “Embrião de quê?”. Embrião de um ser humano criado à imagem e semelhança de Deus. Esta é a resposta.

Então, respondendo, eu não concordaria em fazer pesquisas com um ser humano, ou embrião humano, se preferir, que foi criado com a intenção de ser transformado em refugo.

Talvez não fosse essa a resposta que você esperaria de alguém com um filho portador de deficiências, mas eu espero sinceramente que essa questão acabe resolvida, de preferência por meio de pesquisas e utilização de células-tronco do próprio paciente ou de pessoas que possam conscientemente doar seus tecidos, ou que, pelo menos, tiveram uma chance de viver.

Mas, como o homem é mau por natureza (não sou em quem diz, é a Palavra de Deus), não me surpreenderia se a prática se tornasse comum (como já se tornou comum a criação de embriões destinados ao lixo), e logo teríamos gente gerando e doando embriões com a mesma naturalidade que hoje se doa cabelo para fabricar perucas.

A alegação de que um embrião (humano) estará salvando uma vida cria um precedente para a velha questão da raça pura. Aquele embrião não teve chances porque era inferior ao seu irmão escolhido para continuar a gestação. Hoje existe um tráfico mundial de órgãos, o terceiro negócio mais lucrativo do mundo depois da venda de armas e drogas, baseado na mesma premissa. Pessoas pobres e indefesas são sequestradas e seus órgãos retirados para permitir que pessoas ricas e poderosas vivam.