Qual a chave para entender o Sermão da Montanha?

A chave para o Sermão da Montanha está no primeiro versículo: (Mt 5:1) “E Jesus, vendo a multidão, subiu a um monte, e, assentando-se, aproximaram-se dele os seus discípulos”.

É para os discípulos que ele fala, e não para o povo em geral. Portanto não são preceitos para as pessoas obterem a salvação, mas o padrão esperado de quem já era discípulo de Jesus para fazer parte do seu reino. É importante ressaltar que estas palavras foram ditas a judeus antes da formação da igreja, que é o corpo de Cristo, composta por judeus e gentios. Elas são, portanto, dirigidas primeiramente aos súditos do Rei Jesus, caso ele não fosse rejeitado como foi.

Com sua rejeição o reino dos céus assume um novo caráter de reino com sua origem no céu, porém como estando na terra enquanto o Rei está ausente. É por isso que neste momento o Senhor fala das qualidades necessárias para se entrar no reino dos céus, mas repare que a partir de certo ponto ele começa a falar do reino dos céus contendo pessoas que não têm estas qualidades, como nas parábolas do capítulo 13.

Aparentemente a mudança ocorre no capítulo 12, quando os judeus vão ao extremo de dizer que Jesus expulsava demônios por Belzebu: (Mt 12:24) “Mas os fariseus, ouvindo isto, diziam: Este não expulsa os demônios senão por Belzebu, príncipe dos demônios”. É no capítulo 12 que ele rompe os vínculos naturais que tinha com seu povo e até mesmo com sua família: “Quem é minha mãe? E quem são meus irmãos? E, estendendo a sua mão para os seus discípulos, disse: Eis aqui minha mãe e meus irmãos; Porque, qualquer que fizer a vontade de meu Pai que está nos céus, este é meu irmão, e irmã e mãe”. Por isso o capítulo 13, que fala do reino dos céus já como uma mistura de joio e trigo, começa com a significativa frase: “Tendo Jesus saído de casa”.

Portanto, o sermão da montanha é primeiramente um sermão que fala do reino. Lembre-se de que em nenhum lugar da doutrina dos apóstolos (dada à igreja), Jesus é chamado de Rei pelos apóstolos. A relação que ele tem com a igreja é diferente da que teve e terá com Israel e com o mundo. Os que fazem parte da igreja reinarão com Cristo sobre a terra. Os que estiverem na terra durante seu reino milenial estarão sob a regência de Jesus. Tudo isso, porém, não exime os que creram em Jesus (a igreja) de obedecerem aos preceitos ensinados por Jesus no Sermão da Montanha.

Você diz ter lido o Sermão da Montanha e decidido fazer sua parte, pois se todos fizessem o que está ali o mundo seria melhor. Não é este o objetivo do sermão, pois “o mundo jaz no maligno”, isto é, nada que os homens façam irá evitar que o juízo venha sobre este mundo. Se o cristão procura se comportar segundo o padrão que o Senhor ensinou é porque está neste mundo para representá-lo (Jesus está no céu por nós e nós estamos na terra por ele neste momento).

No momento presente o sermão da montanha traz preceitos válidos para todos os que professam estar sob a autoridade e senhorio de Jesus, embora o reino seja dos céus em origem, e não da terra, e o Rei esteja ausente, nos céus. Mesmo assim, ao que hoje crê a Palavra exorta a dividir (ou manejar) bem a Palavra da Verdade (2Tm 2:15), o que implica saber, pela direção do Espírito e o discernimento que vem dele, o que é dito, quando foi dito, para que propósito foi dito, por quem foi dito, para quem foi dito, etc.

Um cristão não poderia levar ao pé da letra tudo o que está no Sermão do Monte, pois há detalhes específicos para os judeus ali. Por exemplo, Mateus 5:22 que nos fala do sinédrio, uma instituição judaica, Mateus 5:23-24 que nos fala do altar (só havia um altar, no Templo de Jerusalém), 5:35 que nos fala de não jurarmos por Jerusalém (por que alguém no Brasil iria jurar por Jerusalém?!) e Mateus 6:14 que condiciona o perdão a perdoarmos primeiro quem nos ofendeu (Em Colossenses 2:12-13 é o contrário, o perdão ao próximo vindo como consequência do perdão recebido).

Sua crítica ao que eu disse em um de meus vídeos de “O Evangelho em 3 minutos” foi expressa assim:

“Falando como você falou, você tira o estímulo das pessoas de buscarem a santificação observando os mandamentos de DEUS. Lembre-se que sem santidade ninguém verá a DEUS”.

Primeiro, todo estímulo para a santificação vem do Espírito Santo que habita no crente e da gratidão por sua salvação, não como forma de se obter alguma coisa. Na verdade é preciso entender o que é santificação antes de continuarmos. A santidade posicional e absoluta o crente recebe quando crê, e sem ela ninguém verá a Deus. Isso Paulo explica isso em Coríntios. A santidade prática é a expressão dessa santidade que já recebemos. De qualquer modo, não será seguindo os preceitos da Lei ou do Sermão do Monte que você se tornará santo como Deus, mas é justamente este o padrão que Jesus exige no próprio sermão quando diz em 5:48 para sermos perfeitos como o Pai é perfeito. Você consegue isso obedecendo a Lei?

Para esta não ficar muito longa, vou deixar para comentar sobre a relação do cristão com a Lei em outro texto. Por enquanto vá meditando no fato de que nem mesmo o sermão da montanha é uma expressão da lei dada no Antigo Testamento, pois ele vai muito além. A Lei proibia matar. O Senhor proíbe até pensar em matar. A Lei proibia adulterar. O Senhor proíbe até pensar em adulterar.