A cristandade está decadente?

Sim, entendo que a cristandade está caminhando “morro abaixo” e sua trajetória culminará na grande meretriz do Apocalipse, a mesma mulher com a qual o apóstolo João se espantou. Não é opinião minha, mas o que encontro na Palavra profética. A cristandade está decadente, rumando à apostasia, e quando falo de cristandade falo do testemunho exterior da Igreja e me incluo nesta decadência de Laodiceia, pois faço parte da “grande casa” de 2 Timóteo 2 em que se tornou a cristandade.

Do lado de Deus, porém, a Igreja continua sem mancha e sem mácula e será assim, perfeita, que será tirada da Terra a qualquer momento no arrebatamento. Então este mundo ficará vazio de todos os que verdadeiramente creram em Cristo, pois todos subirão para estar com ele. Mas este ponto de vista esbarra no ponto de vista daqueles que acreditam numa unificação do cristianismo para o bem e até acham que isso esteja acontecendo. A Bíblia, porém, mostra que todo fim de época é de ruína. Foi assim pouco antes do dilúvio, pouco antes da libertação dos israelitas do Egito e pouco antes da vinda do Senhor há dois mil anos. De lá para cá temos o período da igreja, que começou bem e está como está.

Costumo receber e-mails de pessoas que acreditam que na Bíblia existe fundamento para se criar denominações, ou seja, separar os cristãos por diferentes nomes. Às vezes esses interpretam que se reunir sem denominação, como faço, é apenas criar mais uma denominação, porém sem nome.

Esquecem-se, porém, que os primeiros cristãos também se reuniam sem denominação e nem por isso podemos chamar aquilo de uma denominação sem nome. A ideia de uma denominação sem nome só poderia surgir numa época quando a ideia de grupos de cristãos denominados tivesse se tornado uma espécie de regra, e não o contrário. Há dois mil anos isso seria uma exceção, não a regra.

Não devemos julgar a Palavra de Deus pelo que vemos os cristãos fazendo ao nosso redor, mas o contrário: julgar as práticas pela Palavra, e não por um credo, dogma, estatuto ou regra de fé que alguém estabeleceu no passado, ou ainda por algum sistema do qual se alegue “ter dado certo”.

Os primeiros cristãos poderiam ser acusados de formar uma denominação “sem denominação”? No entanto eles estavam reunidos “somente” ao nome do Senhor. O centro era o Senhor. Era ele o imã que os atraia a estarem juntos, não algum nome, homem ou doutrina. Era o Espírito Santo que os dirigia, não algum homem ou organização.

Suponha que transportássemos Pedro ou Paulo para nossos dias e os colocássemos diante da grande confusão que hoje existe: inúmeras seitas e divisões, má doutrina, erros, templos imensos e luxuosos emprestados do judaísmo, um clero se sobrepondo à ordem simples dada pelo Espírito para as reuniões cristãs, mulheres nos púlpitos, mulheres orando e profetizando com a cabeça descoberta, coros, orquestras, cantores e artistas centralizando as atenções, concertos de rock “cristão”, pessoas em pecado participando ativamente do governo da igreja, avidez por membros & lucros, etc.

Então, suponha que, após mostrarmos tudo isso a Pedro ou Paulo, perguntássemos: “De que denominação vocês gostariam de serem membros?” Não precisamos de muito discernimento para entender que eles não iriam querer se fazer membros de coisa alguma. Eles iriam procurar um canto quieto onde pudessem, em dois ou três, se reunir para o Senhor, para a sua glória, para o seu nome e deixar que o Espírito lhes guiasse em simplicidade.

Uma vez uma jovem cristã, ao saber que eu não pertencia a uma denominação, me convidou a fazer-me membro da sua. Respondi que prazerosamente o faria desde que ela me mostrasse na Bíblia que eu deveria me fazer membro de algo que não inclui todos os membros do corpo de Cristo. Ela não conseguiu encontrar um versículo sequer.

No mundo às avessas em que vivemos, alguns irmãos me chamaram de sectário por eu testemunhar que não quero levar sobre mim um nome que não possa ser levado por todos os que creem! Ser simplesmente cristão é ser sectário? Sair do particular para testemunhar do geral tornou-se restritivo? Expressar unidade de um modo prático, deixando qualquer identificação que seja exclusiva, tornou-se exclusivismo!

Bom, desculpe-me pelo longo e-mail, mas achei que deveria apresentar as razões de minha tristeza. Não espero ver toda a cristandade abandonando seus sistemas, e nem me coloco como um aríete tentando derrubar sistemas. Longe de mim tal pensamento. Tudo caminhará em franco progresso rumo à apostasia final que a Palavra de Deus já previu, e a união com a Roma religiosa e política será cada vez maior.

Certamente Deus tem o seu povo espalhado nos muitos compartimentos denominacionais que o homem criou e, como irmãos, os amo com o amor que Deus colocou em meu coração. Mas não quero nada com seus sistemas. Alguns irmãos com quem converso talvez procurem sinceramente buscar nas Escrituras, como os de Bereia, para ver se estas ideias têm fundamento ou não.

Outros simplesmente irão preferir permanecer na falsa segurança que seus sistemas eclesiásticos lhes oferecem. Já ouvi de um irmão dizer que ele concordava com tudo, porém a estrutura organizacional de uma denominação lhe dava segurança e motivação para se manter fiel.

É uma questão de consciência individual, e quando alguém entende ser da vontade de Deus que o lugar onde o Senhor prometeu estar foi onde dois ou três estivessem reunidos ao seu nome, esse naturalmente acabará se afastando dos sistemas criados pelos homens. Não se trata de uma questão de oposição ou combate contra status quo formado hoje pelo sistema denominacional, mas simplesmente de separação dele.