Mulheres podem ser pastoras?
Sua pergunta precisa ser contextualizada antes de ser respondida. Normalmente, quando se pergunta se uma mulher pode ser pastora de uma igreja o que a pessoa está querendo dizer é se uma mulher pode dirigir uma congregação nos moldes daquilo que encontramos no protestantismo, que nada mais é do que uma herança do catolicismo. Neste contexto, nem homem nem mulher poderiam ser pastores, simplesmente porque esse modelo de alguém dirigindo uma congregação não existe na doutrina dada pelos apóstolos.
Porém a pergunta geralmente é uma reação ao que ensina 1 Coríntios 14, quando diz que as mulheres devem ficar caladas nas igrejas, pois não lhes é permitido falar. Então, seguindo o raciocínio do modelo de uma pessoa dirigindo uma congregação, como seria possível uma mulher fazer isso se ela estivesse impedida de falar na igreja? É particularmente difícil explicar tudo isso quando a cristandade se afastou tanto da simplicidade do texto bíblico, adotando a ideia de “igreja” como uma denominação ou instituição religiosa, e “pastor” como uma profissão, cargo ou função de liderança de uma congregação.
Antes de qualquer coisa, entenda que “igreja”, biblicamente falando, tem dois significados. Pode significar o corpo de Cristo, composto por todos os salvos, e pode significar também a assembleia dos cristãos quando estão reunidos ao nome de Jesus. O significado de instituição denominacional, de templo ou qualquer outra coisa semelhante é estranho às Escrituras.
Mas, voltando ao seu e-mail, você enviou o texto de um autor que tenta dar respaldo a um cargo de pastor para mulheres, obviamente não apenas pensando nelas como dirigentes de congregação, mas também como pregadoras nas reuniões da igreja (repito, duas ideias inventadas pelo homem). Vou comentar alguns trechos do texto que você enviou.
Você escreveu: “É fato que o Apóstolo Paulo em sua epístola, faz algumas restrições às manifestações das mulheres na igreja, mas, antes de generalizarmos estas recomendações Paulinas...”
Não é Paulo quem faz restrições, é o Senhor. (1 Co 14:35) “E, se querem aprender alguma coisa, interroguem em casa a seus próprios maridos; porque é vergonhoso que as mulheres falem na igreja. Porventura saiu dentre vós a palavra de Deus? Ou veio ela somente para vós? Se alguém cuida ser profeta, ou espiritual, reconheça que as coisas que vos escrevo SÃO MANDAMENTOS DO Senhor”.
Essa prática de jogar para Paulo a responsabilidade das coisas que Deus falou por intermédio dele abre um precedente para aberrações, como considerar que aquilo que Paulo fala do homossexualismo seja apenas opinião dele, portanto não deve ser levado em conta.
Você escreveu: “É preciso que façamos uma análise da situação feminina diante da cultura oriental.”.
Não. Se condicionarmos a Palavra de Deus à cultura, vamos ser obrigados a acatar o homossexualismo, o aborto, o sexo fora do casamento e tantas outras coisas que eram culturalmente aceitáveis entre os povos pagãos da antiguidade e hoje também o são.
Você escreveu: “Na Bíblia encontramos as mulheres exercendo uma série de atividades eclesiais, por exemplo: servindo na igreja (diaconisas), evangelistas, profetisas, pregadoras, obreiras, etc.”.
Sim, dentro de determinados contextos, como o da família, a casa do pai (as filhas de Filipe), entre mulheres (como as mais velhas que devem ensinar as mais novas), etc. Nunca nas reuniões da igreja.
Você escreveu: “Diante de tantos exemplos, é impossível negarmos o chamado e a unção de mulheres ao pastorado.”.
Só porque a premissa é verdadeira não nos dá a liberdade de chegar a conclusões falsas. Além disso, o autor aqui deve estar tomando a palavra “pastorado” dentro de seu significado denominacional, o qual não é bíblico. Refiro-me a um homem dirigindo uma congregação. Não há tal coisa no Novo Testamento.
Você escreveu: “Inclusive, o mover do Senhor é uma realidade em nossos dias, mesmo que não houvesse nenhuma citação na Bíblia endossando o chamado feminino, ainda assim seria aceitável, desde que revelado pelo Espírito Santo de Deus, o verdadeiro edificador da igreja.”.
Ah, então mesmo que não exista nenhuma citação na Bíblia endossando qualquer coisa, podemos fazer isso desde que chamemos de “mover do Senhor”. Para que usar a Bíblia então, se não precisamos mais de referências tiradas dela para nosso modo de agir?
Você escreveu: “Exponho a seguir uma série de atividades exercidas pelas mulheres, por exemplo, serviram ao Senhor e a sua igreja: ‘Então o anjo continuou: — Não tenha medo, Maria! Deus está contente com você. Você ficará grávida, dará à luz um filho e porá nele o nome de Jesus...’ (Lc 1:30-38)”.
O autor não compreende que a igreja só foi formada em Atos 2. Maria era uma judia que adorava no Templo de Jerusalém e oferecia animais sacrificados a Deus.
Você escreveu: “Recomendo-vos a nossa irmã Febe, que está servindo à igreja de Cencréia... Saudai Priscila e Áquila, meus cooperadores em Cristo Jesus, os quais pela minha vida arriscaram a sua própria cabeça... Saudai Maria, que muito trabalhou por vós” (Rm 16:1-6)..
“E a você, meu fiel companheiro de trabalho, peço que ajude essas duas irmãs. Pois elas, junto com Clemente e todos os outros meus companheiros, trabalharam muito para espalhar o evangelho.” (Fp 4:3)..
Essas serviram, mas não diz que ministravam a Palavra de Deus nas reuniões da igreja, o que era vedado segundo 1 Coríntios 14.
Você escreveu: “’Ela disse ao seu marido: —Tenho a certeza de que esse homem que vem sempre aqui é um santo homem de Deus. Vamos construir um quarto pequeno na parte de cima da casa e vamos pôr ali uma cama, uma mesa, uma cadeira e uma lamparina. E assim, quando ele vier nos visitar, poderá ficar lá’ (2 Rs 4:9-10)”.
Mais uma vez o autor não entende que no Antigo Testamento não existia a igreja e que as epístolas são dirigidas a uma nova ordem de coisas. No Antigo Testamento eles deviam guardar a Lei dada a Moisés.
Você escreveu: “O que ela fez foi perfumar o meu corpo para o meu sepultamento.” (Mt 26:12-13).
Idem. A igreja não existia nos Evangelhos. Jesus veio primeiramente para os seus, os judeus. Viveu como um judeu, cumpriu os rituais judaicos, etc. A igreja ainda era o mistério que seria revelado a Paulo (Efésios) até mesmo depois de seu início em Atos 2.
Você escreveu: “Miriam: ‘A profetisa Miriam, que era irmã de Arão...’ (Êx 15:20); Débora: ‘Débora, mulher de Lapidote, era profetisa...’ (Jz 4:4); Hulda: ‘Então, os sacerdotes... foram ter com a profetisa Hulda.’ (2 Rs 22:14); Noadia: ‘... profetisa Noadia e dos mais profetas ...’ (Ne 6:14); Ana: ‘Havia uma profetisa, chamada Ana...’ (Lc 2:36)”.
Outra vez. Profetas e profetizas do Antigo Testamento não tinham nada a ver com a igreja e nem imaginavam o que seria isso. Eles nem mesmo entendiam o que profetizavam. “E todos estes, tendo tido testemunho pela fé, não alcançaram a promessa, Provendo Deus alguma coisa melhor a nosso respeito, para que eles sem nós não fossem aperfeiçoados” (Hb 11:39).
Você escreveu: “As filhas de Felipe: ‘Ele tinha quatro filhas solteiras que profetizavam’ (Atos 21:9)”.
Sim, na casa de Felipe, não nas reuniões da igreja.
Você escreveu: “Débora: ‘... Era também juíza dos israelitas naquele tempo.’ (Jz 4:4)”
Outra vez Antigo Testamento e Israel.
Você escreveu: “Priscila: ‘Ele começou a falar com coragem na sinagoga. Priscila e o seu marido Áquila o ouviram falar; então o levaram para a casa deles e lhe explicaram melhor o Caminho de Deus’ (Atos 18:26). ‘Mando saudações a Priscila e ao seu marido Áquila, meus companheiros no serviço de Cristo Jesus’ (Rm 16:3). ; Febe: ‘Eu recomendo a vocês a nossa irmã Febe, que é diaconisa da igreja de Cencréia’ (Rm 16:1-2)”
Sim, as mulheres têm um trabalho grande a fazer para o Senhor e a sua igreja, e isso não muda em nada a proibição de 1 Coríntios 14 que é específica para o ministério da Palavra nas reuniões da igreja. (“Que fazer, pois, irmãos? Quando vos reunis, um tem salmo, outro, doutrina...” — 1 Co 14:26)
Você escreveu: “Havia mulheres evangelistas: ‘Naquele momento chegaram os seus discípulos e ficaram admirados, pois ele estava conversando com uma mulher... Em seguida, a mulher deixou ali o seu pote, voltou até a cidade e disse a todas as pessoas: — Venham ver o homem que disse tudo o que eu tenho feito. Será que ele é o Messias?’ (Jo 4:27-29)”
Esta não podia ter sido uma evangelista porque o dom de evangelista só foi dado depois que Cristo subiu ao céu (“Subindo ao alto, levou cativo o cativeiro, E deu dons aos homens” Ef 4:8). Considerando apenas o papel de falar de Cristo aos outros, isso não invalida 1 Co 14 (embora devemos voltar a lembrar que isso é anterior à igreja, e a ordem dada em 1 Coríntios 14 não é retroativa).
Você escreveu: “‘E a você, meu fiel companheiro de trabalho, peço que ajude essas duas irmãs. Pois elas, junto com Clemente e todos os outros meus companheiros, trabalharam muito para espalhar o evangelho’ (Fp 4:3)”.
Sim, devem ter falado do evangelho às pessoas que encontravam, não nas reuniões da igreja, mesmo porque as reuniões da igreja não são pregações do evangelho. As reuniões da igreja não são para incrédulos, mas para crentes, e são voltadas ao aprendizado da doutrina dos apóstolos e à comunhão dos santos, ao partir do pão (ceia do Senhor) e orações. (Atos 2:42) “E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações”.
Você escreveu: “Vemos mulheres pregando aos judeus no templo, como Ana: ‘e que era viúva de oitenta e quatro anos. Esta não deixava o templo, mas adorava noite e dia em jejuns e orações. E, chegando naquela hora, dava graças a Deus e falava a respeito do menino a todos os que esperavam a redenção de Jerusalém’ (Lc 2:37-38)”.
Outra vez Israel, não igreja.
Você escreveu: “Mulheres estavam presentes na primeira reunião de oração: ‘Eles sempre se reuniam todos juntos para orar com as mulheres, a mãe de Jesus e os irmãos dele’ (Atos 1:14”).
Sim, 1 Coríntios 14 não proíbe as mulheres de estarem presentes nas reuniões de oração, apenas diz que elas não devem falar.