Posso me tatuar para a glória de Deus?

Sei que há muitos irmãos fiéis ao Senhor que usam tatuagem, portanto este é um assunto que não gostaria de transformar em polêmica. O cristão certamente não vive segundo uma lista de regras e mandamentos como viviam os israelitas, mas é sempre bom procurar saber o que o Senhor acha dos costumes que adotamos, e isso não se limita a tatuagem, mas a qualquer coisa que possa ser de auxílio ou empecilho para o testemunho de Deus neste mundo.

Sim, você tem razão ao observar que a palavra “tattoo” que aparece na versão King James se refere a marcas infligidas ao próprio corpo nos rituais pagãos, e não às tatuagens da moda. Mas me parece que esse argumento já é suficiente para o cristão não aderir à moda: sua origem. Dei uma olhada na Wikipedia e aprendi que é mesmo essa a origem da tatuagem: rituais das religiões pagãs. Será que devo adotar para a glória de Deus uma prática com uma origem assim e que não encontra qualquer paralelo nas Escrituras?

Você citou um versículo para, talvez, dar um pouco mais de peso ao argumento pró-tatuagem: “E no manto e na sua coxa tem escrito este nome: REI DOS REIS, e Senhor dos senhores.” (Ap 19:16).

Considerando que não se faz tatuagem em mantos de tecido, isso está mais para uma declaração do que para uma tatuagem. Além disso, é bom prestar atenção ao contexto:

“E seus olhos eram como chama de fogo... estava vestido de uma veste tingida em sangue... de sua boca saía uma espada aguda... ele as governará com vara de ferro, e pisa o lagar do vinho do furor e ira do Deus Todo-poderoso... E em sua veste e em sua coxa tinha escrito este nome, Rei dos reis, e Senhor dos senhores”.

“Chama de fogo”, “tingida de sangue”, “de sua boca saía uma espada”, “com vara de ferro”, “pisa o lagar do vinho”... Certamente não podemos levar tudo isso no sentido literal, e o mesmo deve ser feito com o que traz no manto e na coxa.

Creio que em nenhum momento a intenção de Deus foi mostrar que fica bem escrever na coxa ou endossar a tatuagem. Ocupar-se com o veículo ou meio é perder de vista a mensagem. É como abrir a Bíblia para prestar atenção no papel, na encadernação... Neste caso, pensar em tatuagem é perder de vista o verdadeiro objetivo da passagem, que é deixar claro tudo aquilo que envolve Cristo e sua força, que ele é “Rei dos reis e Senhor dos senhores”. Deus não está nos dizendo: “Vejam que tatuagem bonita”, mas “Vejam quem é Jesus”.

O fato de não estarmos debaixo da Lei e, seguindo o seu raciocínio, não precisarmos mais obedecer a mandamentos como o da proibição de se aparar o cabelo e as extremidades da barba (Lv 19:27), não nos dá o aval para fazermos tudo o que quisermos. O cristão faz bem em buscar saber a origem dos costumes que adota e o quanto eles podem influenciá-lo em sua vida e testemunho.

Você argumenta que há muitos cristãos que fazem tatuagem para a glória de Deus, e eu acredito. Os motivos de cada um, Deus conhece, pois ele conhece o coração. Com base nisso você inclui a tatuagem no “qualquer outra coisa” de 1 Corintios 10:31: “Portanto, quer comais quer bebais, ou façais, qualquer OUTRA COISA, fazei TUDO para glória de DEUS.”

Lembrei-me de outro versículo com “outras coisas”: “Bom é não comer carne, nem beber vinho, nem fazer outras coisas em que teu irmão tropece, ou se escandalize, ou se enfraqueça” (Rm 14:21). Será que se eu fizer uma tatuagem isso poderá servir de tropeço ou escândalo aos meus irmãos?

Outra pergunta que deve ser feita, neste caso referindo-se a fazer tudo para a glória de Deus, é esta: será a tatuagem a forma como Deus quer que eu o glorifique? Os discípulos, quando foram celebrar a páscoa, não fizeram de qualquer jeito ou no lugar que acharam melhor. Eles perguntaram ao Senhor “Onde queres que a preparemos?”. Eis algo que cada um deve perguntar a Deus, ou seja, se um costume que teve início nos rituais pagãos é a melhor forma de glorificá-lo. Em minha opinião, não temos base bíblica para isso.

É sempre bom ficarmos alertas ao nosso coração, pois ele adora nos enganar. Quando adolescente tive aeromodelos. Depois de casado e com os filhos pequenos tive vontade de voltar ao aeromodelismo, mas tínhamos tantas outras prioridades que gastar dinheiro em um hobby naquela hora certamente não era o que o Senhor queria de mim.

Então comecei a maquinar um jeito de “santificar” a vontade própria e passei tentar convencer minha esposa que eu queria fazer aquilo para a glória de Deus, pois pretendia pintar “Cristo Salva” sob a asa do aeromodelo para evangelizar. Obviamente não comprei meu sonhado aeromodelo, mas hoje dou risada de minha artimanha infantil em querer usar o nome de Deus para justificar aquilo que não passava de minha própria vontade.

“Portanto, quer comais quer bebais, ou façais, qualquer OUTRA COISA, fazei TUDO para glória de DEUS.” (1 Co 10:31).