Devemos voltar ao cristianismo primitivo?
Fui ao site que mencionou (em inglês) e corri os olhos em alguma coisa, mas me pareceu que a ênfase é dada à forma, não ao cerne da questão. O importante não é como nos reunimos, mas sobre que base nos reunimos, e aí é que entra a questão. Há muitas reuniões em casas ou sem denominação por aí, mas isso é apenas adotar a forma de reunião. O fundamento é que há um só corpo e que todos os salvos fazem parte deste mesmo corpo, e que nesse corpo não há independência.
Portanto, qualquer reunião, mesmo sem denominação ou que tenha o objetivo de retornar ao cristianismo primitivo, não passará de mais uma forma exterior de se adotar algumas práticas e costumes se não reconhecer a unidade do corpo de Cristo, o Senhorio de Cristo e a unidade. Ou seja, a interdependência do corpo.
Outra coisa que me chamou a atenção no texto que li foi a questão dos apóstolos. Biblicamente falando apóstolos já não existem mais, assim como profetas no sentido da igreja do Novo Testamento. Se você ler Efésios 2 verá que eles fizeram parte do fundamento, juntamente com Cristo, a Pedra angular. Uma vez construído o fundamento, o que vem depois são os outros dons, mas não mais apóstolos e profetas (os outros são evangelistas, pastores e mestres).
Você escreveu: “Deixa eu lhe perguntar algo sobre a ceia. Todos os domingos vocês praticam este ato. A ceia é somente a ceia, não há uma mistura de reuniões no período em que ela está sendo realizada?”.
Sim, a ceia é celebrada todo primeiro dia da semana, pois é assim que encontramos na Palavra. Não é uma reunião de ministério ou de oração para pedir algo, mas de adoração. Então passamos o tempo cantando hinos, adorando e dando graças. Aí um irmão vai e dá graças pelo pão, que é partido e passado adiante, para que cada irmão em comunhão pegue um pedaço e coma. Depois o irmão dá graças pelo vinho, que todos bebem. Em seguida é feita uma coleta como vemos em Coríntios, onde cada um coloca secretamente o que tiver proposto em seu coração. Como não há pastores ou obreiros assalariados, aquele dinheiro vai servir para as necessidades dos santos e para despesas da obra do Senhor.
Você escreveu: “E se, por exemplo, um irmão (como eu) que fico um ou dois finais de semana fora de casa, como farei para participar dela se eu estiver só e não conhecer irmãos naquela localidade?”.
A ceia é celebrada onde há assembleias reunidas. Eventualmente uma assembleia pode autorizar um irmão, que viaje para visitar outro, que parta o pão com esse irmão lá. Pode ser o caso também de um casal se mudar para outra cidade ou país onde não há irmãos reunidos e seja longe demais para participar regularmente da ceia. Neste caso a assembleia de origem pode autorizá-los a celebrar a ceia, não como uma assembleia, mas como se estivessem em trânsito.
É preciso entender que para existir uma assembleia em uma localidade é preciso que existam dois ou três reunidos. Como a assembleia também irá exercer a autoridade delegada pelo Senhor, é preciso que pelo menos dois desses sejam homens, para poderem falar nas reuniões onde são tomadas decisões, já que 1 Coríntios 14 deixa claro que as mulheres não devem falar nas reuniões da igreja. Duas ou três mulheres podem até se reunir regularmente em um lugar para ler e orar (acho que em Belo Horizonte começou assim), mas não compõem uma assembleia, não se trata de uma reunião da igreja.
Você escreveu: “Em suas reuniões vocês deixam o Espírito Santo dirigir a reunião sem que haja uma escala para pregadores ou um dirigente de reunião?”.
Sim, é dada liberdade para o Espírito usar quem ele quiser. Obviamente essa “liberdade” não significa liberar geral, porque muitos irmãos podem não ter o dom de ministrar ou podem ser novos e não conhecer a Palavra. O “falem dois ou três e os outros julguem” de 1 Coríntios 14:29 é para valer. Se eu disser algo que esteja errado pelas Escrituras, estou sujeito a ser interrompido (se for algo grave) ou algum irmão vir conversar comigo depois para me corrigir, caso não seja algo muito sério.
Você escreveu: “As irmãs permanecem caladas ou há algum tipo de reunião em que elas possam falar? Sem ser escola dominical.”.
Sim, é isso que a Palavra de Deus ensina. As reuniões da assembleia são as de adoração (Ceia), oração e doutrina dos apóstolos (ministério). Veja Atos 2:42: “E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações”. A escola dominical não é uma reunião da assembleia. Há irmãs que ensinam as crianças, mas quando se trata de grupos de jovens ou adultos o correto é que seja um irmão para ensinar.
A pregação do evangelho também não é uma reunião da assembleia, já que é voltada para os de fora, os incrédulos e convidados. Aí é um irmão que vai à frente pregar. Em alguns lugares isso é deixado para o irmão que quiser, em outros é organizada uma escala pelos próprios irmãos que pregam o evangelho (não se trata de uma reunião de assembleia, portanto é uma iniciativa dos que pregam).
Você escreveu: “Suponhamos que eu os visite e o Senhor me direcione a se reunir com os irmãos, como eu faria se não há um grupo de irmãos aqui em minha cidade?”.
Você iria pedir seu lugar à comunhão e aguardar ser recebido à mesa do Senhor da localidade mais próxima de você, e seria lá que iria partir o pão se fosse possível se deslocar. Em casos quando esse deslocamento fosse impossível, a assembleia à qual você estaria ligado decidiria como fazer. Em alguns casos poderia ser decidido que você partisse o pão com sua esposa, se ela também estivesse em comunhão (essa é uma decisão individual), em outros casos não. Não existe uma regra, é preciso buscar a direção do Senhor caso a caso.
Você escreveu: “Penso que o Senhor tem me orientado a deixar a denominação, mas, como lhe perguntei anteriormente onde me reunir, e você disse para eu não fazer nada sem antes buscar a orientação do Senhor porque ele tem os seus meios de nos orientar para que tomemos uma direção, penso que o melhor é esperar.”.
Sim, eu nunca convido pessoas a se reunirem onde me reúno, porque não há base bíblica para um convite assim, do tipo “venha à minha igreja”, como se vê por aí. É cada um que deve perguntar ao Senhor aonde deve ir e decidir isso por si mesmo, em comunhão com ele. Eu prego o evangelho e insisto para que as pessoas creiam no Salvador, porque isso sim é um convite bíblico, mas não há qualquer fundamento em querer “pregar para conseguir membros” para alguma coisa.