A Bíblia proíbe o ministério das mulheres?
O texto que enviou tenta provar que a ordem dada em 1 Coríntios 14:35, para as mulheres ficarem caladas nas igrejas, e em 1 Timóteo 2:11, 12, para as mulheres não ensinarem os homens ou exercer autoridade sobre os mesmos, têm validade apenas no contexto da cultura da época.
Na continuidade o texto apresenta os casos em Romanos 16 de Febe, que servia à igreja de Cencréia, de Priscila, que colaborava com Paulo, de Maria, que muito trabalhava entre os irmãos, e ainda cita 1 Coríntios 11:5 para tentar provar que as mulheres profetizavam na igreja.
Aparentemente há um impasse aqui, não é mesmo? na verdade não há impasse algum para aquele que crê na Palavra de Deus e não precisa apelar para o conhecimento humano para tentar explicá-la. Apenas um detalhe de 1 Coríntios 14:35 coloca a passagem toda na perspectiva correta:
“Que fazer, pois, irmãos? Quando vos reunis, um tem salmo, outro, doutrina, este traz revelação, aquele, outra língua, e ainda outro, interpretação.” (1 Co 14:26).
O detalhe é este: Paulo está ensinando a ordem a ser seguida quando os irmãos se reúnem em Eklésia ou assembleia. Trata-se do ajuntamento solene dos irmãos. Qualquer empresário entenderia isso se você usasse a palavra “assembleia”. Quando uma empresa se reúne em assembleia trata-se de uma ocasião especial, com uma ordem estabelecida, uma agenda, uma ata, um presidente, um secretário para anotar tudo em ata, etc.
Quando você entende isso, todas as outras passagens ficam perfeitamente claras em cada contexto. A mulher que deve cobrir a cabeça em 1 Coríntios 11 quando ora e profetiza recebe aquela ordem em um sentido geral. Uma vez que a ordem dada em 1 Coríntios 14 especifica que ela deve permanecer calada nas reuniões da igreja, então uma mulher inteligente irá entender que 1 Coríntios 11 se refere a todas as ocasiões exceto à reunião em assembleia.
O mesmo se aplica a todo o trabalho feito pelas irmãs de Roma, pelas filhas de Filipe que profetizaram em sua casa, pelo empenho de Priscila ao lado de seu marido Áquila ou, se voltarmos no período ‘pré-igreja’, o ministério das mulheres que serviram o Senhor e daquelas que Deus escolheu para testemunhar da ressurreição. De repente tudo se encaixa perfeitamente e a harmonia das escrituras é mantida sem precisarmos apelar para a arqueologia, os costumes, as culturas ou as citações de algum teólogo.
O caso de 1 Timóteo também segue o mesmo caminho. Se a Palavra de Deus ensina que a mulher não deve ensinar e exercer autoridade sobre o marido, para mim está claro que esse ensino está relacionado às coisas de Deus, que é o que vem antes no versículo 10 que fala de “servir a Deus”. As mulheres têm um ministério de ensino, como faziam a mãe e a avó de Timóteo ou como elas são exortadas a fazerem em relação às mulheres mais jovens em Tito 2:4.
No mais você irá encontrar as mulheres atuantes em diversas áreas da sociedade, como Lídia, em Atos que era empresária, por exemplo. Basta você ler o que diz da “mulher virtuosa” em Provérbios 31 para ver que Deus coloca a mulher em uma posição muitíssimo mais elevada do que até mesmo algumas mulheres querem para si em nossa época de transformação da mulher em produto de consumo.
O versículo em 1 Coríntios 14 que encerra o assunto do lugar da mulher no momento das reuniões de assembleia parece prever que alguns não iriam querer dar ouvidos ao ensino do Espírito Santo:
“Porventura saiu dentre vós a palavra de Deus? Ou veio ela somente para vós? Se alguém cuida ser profeta, ou espiritual, reconheça que as coisas que vos escrevo são mandamentos do Senhor. Mas, se alguém ignora isto, que ignore.” (1 Co 14:36-38).
Será que o autor do texto que você enviou se deu conta de que está tentando invalidar um “mandamento do Senhor”? Sim, porque o texto é claro e não diz “reconheça que as coisas que vos escrevo são mandamentos culturais”.
Se adotarmos o argumento cultural para filtrarmos da Bíblia o que devemos ou não aceitar, então o mesmo raciocínio deverá ser utilizado para questões como o sexo antes do casamento ou o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Nas culturas mais “avançadas” isso já está fora de discussão, e quem pensar diferente pode até ser processado.
Será que devemos desconsiderar também as passagens da Palavra de Deus que condenam essas coisas, interpretando-as como questões ligadas à cultura de um povo atrasado que viveu na Palestina há dois mil anos?