O que você achou do livro A Cabana?
Minha mãe costumava dizer que quando alguém vinha a ela com más intenções, um sininho tocava. Eram comuns expressões como, “Fulana? Hmmm... não sei não, quando ela chegou tocou o sininho...”. No caso do livro “A Cabana”, ouvi um carrilhão. É que por ter me convertido e sido liberto de uma salada de filosofias orientais, espíritas e humanistas (na época ainda não chamavam aquilo de Nova Era), hoje sou alérgico a tudo o que levemente cheira a essas coisas. Entrar em loja com cheiro de incenso, então, nem pensar.
Antes de comentar sobre o livro “A Cabana” fiz uma busca e descobri que muita gente já comentou. Eu confesso que não fui até o fim (parei um pouco depois da metade) porque não aguentei. Ao contrário de outras alegorias, como “O Peregrino” ou “As Crônicas de Nárnia”, o livro “A Cabana” não tem a sutileza de apenas sugerir coisas, como deve ocorrer numa alegoria. Além disso, é péssima literatura em termos de... Isso mesmo, literatura. O autor passa longe de um C. S. Lewis (“As Crônicas de Nárnia”).
Vou transcrever abaixo algumas passagens do livro (e meus questionamentos entre parênteses) para você julgar. Lembre-se de que, no livro, quem estaria dizendo essas coisas seria Deus, apresentado ali como três pessoas diferentes, o Pai (uma mulher negra e gorda), o Filho (um carpinteiro do Oriente Médio) e o Espírito Santo (uma mulher oriental):
“Os que me amam estão em todos os sistemas que existem. São budistas ou mórmons, batistas ou muçulmanos, democratas, republicanos e muitos que não votam nem fazem parte de qualquer instituição religiosa. Tenho seguidores que foram assassinos e muitos que eram hipócritas. Há banqueiros, jogadores, americanos e iraquianos, judeus e palestinos. Não tenho desejo de torná-los cristãos, mas quero me juntar a eles em seu processo para se transformarem em filhos e filhas do Papai, em irmãos e irmãs, em meus amados”. (Aqueles que negam a Deus, que desprezam a divindade de Jesus, que rejeitam o evangelho? As pessoas seriam transformadas em filhos de Deus através de um processo? Deus não iria querer que um budista se tornasse cristão?).
“Em Jesus eu perdoei todos os humanos por seus pecados contra mim, mas só alguns escolheram relacionar-se comigo (...). Quando você perdoa alguém, certamente liberta essa pessoa do julgamento, mas, se não houver uma verdadeira mudança, não pode ser estabelecido nenhum relacionamento verdadeiro”. (Então todos já estariam perdoados e libertos do juízo?)
“Quando nós três penetramos na existência humana sob a forma do Filho de Deus, nos tornamos totalmente humanos”. (O Pai, o Filho e o Espírito Santo teriam se tornado humanos? Tornar-se “totalmente” humano significa abrir mão da divindade?)
“Papai não respondeu, apenas olhou para as mãos dos dois. O olhar de Mack seguiu o dela, e pela primeira vez ele notou as cicatrizes nos punhos da negra, como as que agora presumia que Jesus também tinha nos dele. ‘Jamais pense que o que meu filho optou por fazer não nos custou caro. O amor sempre deixa uma marca significativa’, ela declarou, baixinho e gentilmente. ‘Nós estávamos lá, juntos.’ Mack ficou surpreso. ‘Na cruz?’” (Teria Jesus se enganado ao clamar “Deus meu, por que me abandonaste”? Teria o Pai as marcas dos cravos nas mãos, nos pés e no lado? Teria o sangue do Pai também sido derramado na cruz?)
“Não preciso castigar as pessoas pelos pecados. O pecado é o próprio castigo, pois devora as pessoas por dentro. Meu objetivo não é castigar. Minha alegria é curar” (Então não haveria um juízo?).
Basta conhecer um pouco a Bíblia para ver que não são apenas declarações inocentes ou de mera ficção, mas afirmações que comprometem a verdade. A princípio achei o livro extremamente irreverente, mas a trombada mesmo ocorreu quando o autor transforma a Trindade em pessoas visíveis, quando sabemos que na realidade apenas o Filho de Deus se tornou visível na encarnação. (Jo 1:18) “Deus nunca foi visto por alguém. O Filho unigênito, que está no seio do Pai, esse o revelou”.
É algo extremamente sério dar uma imagem visível a Deus, pois ele mesmo deixa isso claro em sua Palavra. (1Tm 6:16) “Aquele que tem, ele só, a imortalidade, e habita na luz inacessível; a quem nenhum dos homens viu nem pode ver, ao qual seja honra e poder sempiterno”. O próprio Senhor Jesus deixou clara a impossibilidade de enxergarmos o Pai: (Jo 6:46) “Não que alguém visse ao Pai, a não ser aquele que é de Deus”. O que podemos conhecer do Pai é o que foi revelado em Jesus, nada mais. (Jo 12:45) “E quem me vê a mim, vê aquele que me enviou”. (Cl 1:15) “O qual é imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação”.
Alguém pode alegar que por se tratar de ficção, não há problema. Será? Quem pode dizer que não há problema? Acredito que só a pessoa que está sendo representada no livro, e neste caso a Pessoa é Deus, pode dizer se há ou não problema nisso. E ele deixa claro o que pensa da ideia de ser representado de forma visível: (Rm 1:22-23) “Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos. E mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível”.
(Dt 4:15-16) “Guardai, pois, com diligência as vossas almas, pois nenhuma figura vistes no dia em que o SENHOR, em Horebe, falou convosco do meio do fogo; Para que não vos corrompais, e vos façais alguma imagem esculpida na forma de qualquer figura, semelhança de homem ou mulher”.
Como dizia, fiz buscas e descobri que muita gente já comentou, portanto não vou reinventar a roda. Concordo basicamente com o que vi em três sites. Um é um artigo escrito por Paulo Romeiro. Há também uma análise muito boa que encontrei no blog “Tchê Noll”. Outro são os comentários que achei no blog “Pés descalços” de Maurilo e Vivian. Vou transcrever aqui um comentário e uma lista de 13 heresias do livro “A Cabana” que o autor do blog traduziu de um texto em inglês de Michael Youssef:
O livro “A Cabana” (William P. Young, ed. Sextante) tem sido um livro bastante aclamado, especialmente no meio evangélico. Está sendo recomendado por muitos pastores e até para famosos músicos cristãos, como Michael W. Smith. Leia a descrição do livro no site da própria editora. “Durante uma viagem de fim de semana, a filha mais nova de Mack Allen Phillips é raptada e evidências de que ela foi brutalmente assassinada são encontradas numa cabana abandonada. Após quatro anos vivendo numa tristeza profunda causada pela culpa e pela saudade da menina, Mack recebe um estranho bilhete, aparentemente escrito por Deus, convidando-o para voltar à cabana onde aconteceu a tragédia. Apesar de desconfiado, ele vai ao local do crime numa tarde de inverno e adentra passo a passo no cenário de seu mais terrível pesadelo. Mas o que ele encontra lá muda o seu destino para sempre. Em um mundo tão cruel e injusto, ‘A Cabana’ levanta um questionamento atemporal: Se Deus é tão poderoso, por que não faz nada para amenizar o nosso sofrimento?”.
É aí que está o grande problema do livro. Na tentativa de responder a essa pergunta, Young abandona a abordagem bíblica sobre sofrimento e busca uma abordagem mais humanística, focada no homem. Young acredita no universalismo, ou seja, todos, no final das contas serão salvos.
Michael Youssef do ministério “Leading the Way” listou 13 heresias contidas no livro e que têm trazido muito engano à igreja, substituindo conceitos bíblicos por conceitos universalistas.
13 Heresias encontradas no livro “A Cabana”
1. Deus Pai foi crucificado com Jesus.
Porque os olhos de Deus são puros e não podem olhar para o pecado, a Bíblia diz que Deus não olharia para seu próprio Filho amado enquanto este estava pendurado na cruz, carregando nossos pecados. (Hc 1:13; Mateus 27:45; Isaías 53:4-10).
2. Deus está limitado por seu amor e não pode praticar justiça.
A Bíblia declara que o amor de Deus e sua justiça são dois lados da mesma moeda – igualmente partes da personalidade e caráter de Deus (Is 61:8; Os 2:19; Romanos 9:13).
3. Na cruz, Deus perdoou toda a humanidade, tanto os que se arrependeram quanto os que não. Alguns escolhem um relacionamento com ele, mas ele perdoa a todos igualmente.
Jesus explica que somente aqueles que vierem até ele serão salvos (Jo 14:6).
4. Estruturas hierárquicas, estejam na igreja ou no governo, são ruins.
Nosso Deus é um Deus de ordem (Jó 25:2). Deus nos deu regras estruturais para a igreja, incluindo como dons são utilizados e qualificações para os líderes (1 Co 12, 14; 1 Timóteo 3).
5. Deus nunca vai julgar as pessoas pelos seus pecados.
A palavra de Deus repetidamente chama o homem a fugir do julgamento de Deus através da fé em Jesus Cristo, seu Filho (Rm 2:16; 2 Timóteo 4:1-3).
6. Não existe hierarquia na Trindade, só um círculo de unidade.
A Bíblia diz que Jesus se submete à vontade do Pai. Isso não significa que uma Pessoa é maior ou melhor que outra, mas sim única. Jesus disse “Eu vim para cumprir a vontade daquele que me enviou. Estou aqui para obedecer ao Pai”. Jesus também disse “Eu vou te enviar o Espírito Santo” (Jo 4:34; 6:44; 14:26; 15:26).
7. Deus se submete a desejos e escolhas humanas.
De maneira alguma Deus se submete a nós, Jesus disse “Estreito é o caminho que leva a vida eterna”. Nós devemos nos submeter a ele em todas as coisas, para sua glória e por aquilo que ele fez por nós (Mt 7:13-15).
8. Justiça nunca vai acontecer por causa do amor.
A Bíblia ensina que quando o amor de Deus é rejeitado, e quando a oferta de salvação e perdão é rejeitada, justiça precisa acontecer ou então Deus enviou Jesus Cristo para morrer por nada (Mt 12:20; Romanos 3:25-26).
9. Não existe julgamento eterno ou tormento no inferno.
A própria descrição de Jesus do inferno é muito vívida... Não pode ser negada (Lc 12:5; 16:23). Enquanto a “reconciliação universal” ensina que a salvação pode ocorrer após a morte, a Bíblia diz, “aquele que não acredita já está condenado, porque não creu no nome único Filho de Deus” (Jo 3:18).
10. Jesus está andando com todas as pessoas em suas diferentes jornadas a Deus e não importa qual caminho você pega para ele.
Jesus disse “Eu sou o caminho, a verdade e a vida, ninguém vem ao Pai senão por mim” (Jo 14:6).
11. Jesus está constantemente sendo transformado conosco.
Jesus, que habita no esplendor dos Céus, está assentado à direita de Deus, reinando e governando o universo. A Bíblia diz, “Nele não existe mudança alguma, porque ele é ontem, hoje e para sempre” (Hb 11:12; 13:8; Tiago 1:17).
12. Não é necessário fé ou reconciliação com Deus, pois todos conseguirão ir para o céu.
Jesus disse que “somente aqueles que crerem em mim terão a vida eterna” (Jo 3:15; 3:36; 5:24; 6:40).
13. A Bíblia não é verdadeira porque reduz Deus ao papel.
A Bíblia foi inspirada por Deus. Com certeza houve muitos homens durante 1800 anos que utilizaram a caneta (por assim dizer), cada um com uma profissão e em um ambiente diferentes, mas o Espírito Santo infundiu seu trabalho com a Palavra de Deus. Esses homens estavam escrevendo a mesma mensagem de Gênesis a Apocalipse.