Deus destinou os negros para serem escravos?
De modo nenhum. Sei que algumas correntes do cristianismo acreditam nisso, embora hoje não falem abertamente por se tratar de discriminação racial, mas um exame mais acurado dos textos bíblicos revela não existir qualquer discriminação de cor promovida ou aceita por Deus. Mesmo nos tempos bíblicos a ideia de escravidão baseada na cor da pele era algo desconhecido e que só veio a ser adotado muitos séculos mais tarde inicialmente pelo islamismo e depois pelos povos ocidentais.
Há várias teorias sobre a origem das diferentes raças e cores dos seres humanos. Uma das mais conhecidas é a que define os três filhos de Noé, Sem, Cão e Jafé, como a origem dos povos semitas (árabes, israelitas de pele morena), negros e brancos, respectivamente. O problema com essa interpretação é que foi ela serviu de pretexto para a escravidão dos tempos coloniais, pelo fato de acharem que Cão, o filho amaldiçoado por Noé, fosse negro ou que seu filho Canaã fosse ancestral dos povos negros. Vamos ver o trecho:
(Gn 9:18-27) “E os filhos de Noé, que da arca saíram, foram Sem, Cão e Jafé; e Cão é o pai de Canaã. Estes três foram os filhos de Noé; e destes se povoou toda a terra. E começou Noé a ser lavrador da terra, e plantou uma vinha. E bebeu do vinho, e embebedou-se; e descobriu-se no meio de sua tenda. E viu Cão, o pai de Canaã, a nudez do seu pai, e fê-lo saber a ambos seus irmãos no lado de fora. Então tomaram Sem e Jafé uma capa, e puseram-na sobre ambos os seus ombros, e indo virados para trás, cobriram a nudez do seu pai, e os seus rostos estavam virados, de maneira que não viram a nudez do seu pai. E despertou Noé do seu vinho, e soube o que seu filho menor lhe fizera. E disse: Maldito seja Canaã; servo dos servos seja aos seus irmãos. E disse: Bendito seja o Senhor Deus de Sem; e seja-lhe Canaã por servo. Alargue Deus a Jafé, e habite nas tendas de Sem; e seja-lhe Canaã por servo”.
Mas a Palavra de Deus não diz qual era a cor da pele dos filhos de Noé, portanto é pura especulação acreditar que a divisão das cores características das raças tenha se originado nesse episódio da Bíblia. O mais simples e honesto é admitir que diferentes povos originários desses primeiros habitantes do mundo pós-diluviano tenham se isolado em diferentes regiões e, como consequência desse isolamento, tenham realçado certas características e debilitado outras.
É muito fácil perceber isso quando vemos que todas as raças de cães vêm basicamente de um mesmo cão selvagem mais parecido com o lobo. Através do isolamento e do cruzamento seletivo foram conseguidas diferentes raças com características marcantes. Por exemplo, se você separar de uma ninhada apenas os cães com uma determinada cor e for cruzando esses e sempre selecionando cães com as mesmas características, no final você chegará a uma raça na qual todos os descendentes são praticamente iguais. Isso é feito com animais, peixe, insetos, vegetais, qualquer coisa viva. O mesmo pode ter acontecido com os seres humanos. Com os estudos atuais de genética muitos cientistas já admitem que não existe mais que uma raça, a humana.
O mais importante é perceber que, na Bíblia, Deus não faz distinção de pessoas pela cor da pele. Ele obviamente escolheu um determinado povo em Abraão, depois escolheu novamente as doze tribos e vez ou outra destacava este ou aquele povo, esta ou aquela nacionalidade, mas não encontro distinções baseadas na cor da pele.
Curiosamente, o primeiro gentio (não judeu) a se converter depois da formação da igreja em Atos foi um etíope, provavelmente negro, que era eunuco (castrado), ou seja, alguém que jamais poderia ser admitido no Templo de Jerusalém, não por ser negro, mas por ser gentio e castrado. Provavelmente as primeiras igrejas na África surgiram através do ministério desse eunuco, que era alguém proeminente na corte de uma rainha africana.