Por que Lutero foi dividir os cristãos?
Primeiro não sou luterano e nem pertenço a qualquer denominação dita protestante ou coisa do tipo. Sou convertido a Cristo desde 1978 quando ouvi o evangelho claro da graça de Deus e, sem saber para onde ir, voltei ao catolicismo de meus pais. Depois de um ano ajudando o padre e tocando violão na missa, promovendo estudos com os jovens da paróquia e estudando a doutrina católica e a Bíblia, percebi que as duas não entravam num acordo. Preferi ficar com o que encontrava na Bíblia, a seguir uma tradição de dois mil anos de erros e barbáries. Saí do catolicismo e passei a me congregar com outros irmãos em Cristo sem qualquer denominação, mas reunidos somente ao nome do Senhor Jesus e reconhecendo como “Igreja” todos os que em todo lugar creem no Salvador.
A intenção de Lutero não era dividir os cristãos, mas apontar os abusos cometidos pela igreja de Roma e pelo papa, como a venda de indulgências (perdão de pecados). Naquela época não havia qualquer ideia de mais de uma igreja, portanto o que Lutero estava fazendo tinha a ver com a única igreja que conhecia, que era o conjunto de todos os que creem em Cristo.
Os desdobramentos daquilo, inclusive a perseguição que ele sofreu da parte da igreja de Roma, acabaram criando muitas das divisões que você encontra hoje entre os cristãos, mas não era essa a intenção de Lutero. De qualquer modo, se ele queria mesmo seguir o que diz a Palavra de Deus teria de obedecer ao que está em 2 Timóteo 2:19-22 e se separar de Roma:
“Todavia o fundamento de Deus fica firme, tendo este selo: O Senhor conhece os que são seus, e qualquer que profere o nome de Cristo aparte-se da iniquidade. Ora, numa grande casa não somente há vasos de ouro e de prata, mas também de pau e de barro; uns para honra, outros, porém, para desonra. De sorte que, se alguém se purificar destas coisas, será vaso para honra, santificado e idôneo para uso do Senhor, e preparado para toda a boa obra. Foge também das paixões da mocidade; e segue a justiça, a fé, o amor, e a paz com os que, com um coração puro, invocam o Senhor.”
O cristão que deseja ser fiel a Deus tem o dever de apartar-se ou separar-se da iniquidade, seja lá a forma como ela se apresenta. Se pensarmos em como o Senhor Jesus, nos evangelhos, era mais dócil e amigo de pecadores morais, porém extremamente severo e de chicote na mão quando o assunto era o pecado doutrinário ou eclesiástico, vemos que toda iniquidade cometida em nome de Deus tem um grau maior de importância para Deus, pois envolve o seu nome.
Você sugeriu que eu visse um vídeo chamado “Bem-vindos à Igreja Católica”. Assisti ao vídeo que fala dos grandes feitos dessa organização com um tom de propaganda de seguradora. Lá diz ser a maior organização de caridade do mundo, mantenedora de hospitais, creches, instituições científicas e criadora das universidades. Se você estudar um pouco de história verá a que custo isso tudo foi construído. Coloco entre aspas algumas afirmações do vídeo acompanhadas de meus comentários:
“Somos... ricos e pobres...”.
A igreja católica é hoje uma das organizações mais ricas do mundo, com participação em segmentos diversos de negócios. O tesouro que possui graças às doações de fiéis nos últimos dois mil anos é incomparável. A cidade do Rio de Janeiro é, até hoje, território da “santa sé”. Se você comprar ou vender algum imóvel lá precisa recolher uma taxa à igreja católica, pois ela detém os direitos sobre o território (algo parecido com o que acontece com imóveis litorâneos em relação à Marinha e riquezas do subsolo em relação à União).
Quanto aos “pobres”, os países colonizados por católicos são reconhecidamente mais pobres do que os colonizados por protestantes, pois a censura ao trabalho e às ideias gerou um grande atraso nesses países. No Brasil colonial, por muitos anos foi proibido publicar qualquer coisa que não tivesse a aprovação da Coroa e da igreja, e livros estrangeiros eram confiscados e queimados, além de seus portadores presos.
“... pecadores e santos”.
A noção de “santo” do catolicismo nada tem a ver com o que encontramos na Palavra de Deus. Todos são pecadores, porém, os pecadores que se convertem a Cristo são todos santos, pois foram santificados por Deus. As epístolas dos apóstolos eram endereçadas “aos santos” das localidades, o que compreendia todos os crentes daquele lugar, e não apenas alguns mortos canonizados. Aliás, se apenas mortos canonizados fossem “santos”, como teriam os apóstolos enviado cartas aos santos? Teriam eles tentado se comunicar com os espíritos dos mortos?
“... nós defendemos a dignidade de toda vida humana”.
Devemos excluir aí os mouros massacrados pelas Cruzadas, os judeus perseguidos pela Inquisição depois de devidamente espoliados para a obtenção de meios para a igreja de Roma, e todas as vítimas de séculos de inquisição. São milhões de vidas humanas ceifadas por uma organização que agora diz defender a dignidade de toda vida humana. Um exame atento das obras de arte existentes no Vaticano revela que grande parte é fruto de pilhagem e roubo de seus donos e países de origem.
“... e preservamos o casamento e a família”.
Isso é um engano muito grande, pois essa organização proíbe o casamento de seus ministros. Deus não tinha em seus planos o celibato dos ministros da Palavra. Aliás, em 1 Timóteo o apóstolo Paulo revela que “o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios; Pela hipocrisia de homens que falam mentiras, tendo cauterizada a sua própria consciência; Proibindo o casamento, e ordenando a abstinência dos alimentos que Deus criou para os fiéis, e para os que conhecem a verdade, a fim de usarem deles com ações de graças”. Fui católico tempo suficiente para saber que o sistema não apenas proíbe o casamento de seus ministros como também o consumo de determinados alimentos em determinados dias.
“... cidades receberam nomes de nossos reverenciados santos...”.
Encontro na Bíblia uma passagem que deixa claro ser isso uma abominação para Deus, não algo de que se deva gloriar: “O seu pensamento interior é que as suas casas serão perpétuas e as suas habitações de geração em geração; dão às suas terras os seus próprios nomes. Todavia o homem que está em honra não permanece; antes é como os animais, que perecem. Este caminho deles é a sua loucura; contudo a sua posteridade aprova as suas palavras”. (Sl 49:11-13).
“... compilamos a Bíblia”.
E depois a proibiram de ser lida pelos leigos, os quais pagavam com a própria vida quando encontrados com algum exemplar. Geralmente o método de execução era amarrar o exemplar ao pescoço do condenado e queimá-lo vivo em praça pública.
“... somos transformados pelas sagradas escrituras e pela sagrada tradição que nos têm guiado firmemente por dois mil anos”.
Ao colocar a tradição como “voto de Minerva” em qualquer questão, o catolicismo romano efetivamente anula qualquer autoridade das sagradas escrituras, como faziam os judeus nos tempos de Jesus. “E assim invalidastes, pela vossa tradição, o mandamento de Deus” (Mt 15:6).
“... por mais de dois mil anos, nós tivemos uma linha ininterrupta de pastores guiando a Igreja Católica...”.
O que não é verdade. A “New Catholic Encyclopedia” diz “Mas deve ser francamente admitido que as ideias preconcebidas ou distorções nas fontes tornam impossível determinar em alguns casos se os que se diziam ser papas eram papas ou antipapas”. A razão disso é que muitos papas ocuparam o trono mediante guerras, golpes, assassinatos ou por indicação políticas de nobres e reis. Basta estudar história para ver isso.
Mas voltando à pergunta inicial, você a expressou assim: “Por que Lutero foi dividir os Cristãos, hein meu amigo?”.
Bem, eu visitei uma cidadezinha no sul da Itália chamada hoje de “Guardia Piemontese” e lá descobri que em 5 de junho de 1561 cerca de dois mil cristãos, homens, mulheres e crianças, foram literalmente divididos pelos soldados do papa, cabeça para um lado, corpo para o outro.
Você entra na cidade pela “Porta del Sangue”, até hoje chamada assim por causa da carnificina promovida pela igreja católica no local. Nas fotos abaixo, que tirei no local, você vê essa porta e também uma laje de pedra, que antigamente ficava no chão, mas agora foi levantada como um monumento. Nela é possível ver os talhos feitos pelos machados dos soldados do papa. Sobre essa pedra muitos cristãos foram decapitados por ordem do papa da igreja católica romana.
O vídeo que você sugeriu termina dizendo: “Se você esteve fora da Igreja Católica, nós convidamos você a um novo olhar”. Ok, dei uma nova olhada na história e não gostei nem um pouco do que vi. Não, muito obrigado. Prefiro manter-me longe desse sistema que derramou tanto sangue inocente.