Investir em ações é jugo desigual?

O versículo que citou é 2 Coríntios 6:14: “Não vos prendais a um jugo desigual com os infiéis; porque, que sociedade tem a justiça com a injustiça? E que comunhão tem a luz com as trevas?”

A passagem fala de qualquer tipo de sociedade ou associação, incluindo casamento, negócios ou qualquer coisa que coloque um crente e um incrédulo atados por algum compromisso. O jugo é chamado de canga em algumas regiões do Brasil, e é aquele pedaço de pau arqueado que é colocado sobre o pescoço de dois bois que puxam um carro ou arado. O jugo mantém os dois animais unidos e, para que funcione, os animais precisam ter o mesmo passo.

É por isso que no Antigo Testamento não era permitido colocar um boi e um jumento para lavrarem juntos. “Com boi e com jumento não lavrarás juntamente” (Dt 22:10). Os animais têm alturas e passos diferentes, e acabam arrebentando os arreios. O crente e o incrédulo não devem entrar em uma sociedade, ou seja, caminhar lado a lado com um objetivo comum. Eles têm diferentes modos de caminhar. O que pode ocorrer, porém, é que o crente acabe adotando o andar do incrédulo, mas nunca o contrário.

Se pensar em dois sócios, o incrédulo provavelmente poderá querer agir de forma desonesta nos negócios, o que causará problemas se o crente quiser obedecer a Deus. O mesmo acontece no casamento, e principalmente quando vêm os filhos e cada um quer levá-los para um lado ou instruí-los de modo diferente em questões de fé.

Há ocasiões em que é preciso depender da graça de Deus e seguir vivendo, como é o caso de alguém se converter depois de casado. Essa pessoa não irá se separar porque se converteu com a alegação de estar em jugo desigual. Seria uma desobediência a Deus separar-se por esta razão. Deus diz o que fazer a respeito em sua Palavra.

Sua dúvida está mais relacionada às sociedades humanas e de negócios, como investir em ações, por exemplo. Há alguns anos, ao adquirir uma linha telefônica no Brasil você ficava sócio da operadora, ou seja, não comprava uma linha, mas sim ações da empresa. Ao aplicar seu dinheiro numa caderneta de poupança obviamente o Banco irá movimentá-lo em diferentes aplicações, o mesmo acontecendo com seu Fundo de Garantia e Plano de Previdência.

Há, portanto, associações inevitáveis, que eu particularmente não considero jugo desigual no sentido de uma sociedade deliberada, como abrir uma empresa junto com um incrédulo. Ao comprar ações de uma empresa você pode considerar que está associando-se aos resultados, não exatamente ao modo de operação, pois tem a opção de escolher entrar e sair do negócio conforme desejar.

Por exemplo, você pode optar por não investir em empresas cujas atividades ou produtos você considere inadequados para um cristão. Ou pode vender as ações quando perceber que a empresa não está agindo de forma idônea. Ao comprar ações você não assume uma responsabilidade conjunta como acontece quando você constitui uma empresa com um sócio.

Se a empresa da qual você comprar ações for acusada de corrupção ou de más práticas comerciais, você provavelmente perderá seu dinheiro, mas não terá qualquer parte nas decisões que levaram àquela prática. Já se você constituir uma sociedade, você é solidário na alegria e na tristeza.

Obviamente esta é uma opinião pessoal e você deve ter seu exercício com o Senhor a este respeito. Há diferentes opiniões entre diferentes cristãos, e sei de irmãos que não investem em ações, e conheço outros que investem de forma seletiva, escolhendo empresas que consideram idôneas. Outros nem sequer utilizam cartões de crédito, e houve uma época em que muitos cristãos se recusavam a comprar produtos que tivessem códigos de barra, algo impossível de ser feito hoje se quiser sobreviver, porque consideravam o código de barras uma etapa prévia do domínio do anticristo.

Como disse, cada um deve ter bem clara estas questões consigo mesmo e com Deus.