Somos salvos pela justiça e santidade de Cristo?
O vídeo que enviou mostra uma cena que aparentemente se passaria na presença de Deus, com uma fila de pessoas vestidas de branco diante de uma grande balança. Enquanto elas entregam a um homem pastas contendo seus arquivos de pecados que as condenam, e boas obras que esperam sejam em maior número, elas sobem na balança e o ponteiro registra que, apesar de terem feito boas obras, nenhuma delas alcança o padrão necessário para serem salvas já que o pecado pesa para o lado contrário.
Finalmente um homem vai subir na balança, quando um rapaz com uma camiseta escrita “Jesus” entrega uma pasta com o nome “Filho de Deus” e sobe na balança em seu lugar. O ponteiro do índice de bondade obviamente aponta para o peso máximo, e o rapaz substituído por Jesus no processo de pesagem de pecados X boas obras é salvo.
Apesar da boa intenção de quem criou o vídeo, obviamente para mostrar que boas obras não salvam e que só Jesus salva, ele traz erros sutis que podem atrapalhar na compreensão da Palavra de Deus e do papel que Cristo teve em nossa salvação.
O primeiro erro é colocar o crente junto com os incrédulos em uma espécie de “juízo final”. Esta é a crença genérica que foi introduzida principalmente pelo catolicismo romano e adotada também por segmentos do protestantismo, de que os crentes chegarão ao juízo final. Mas o vídeo atropela a verdade de que o crente não entrará em juízo, pois passou da morte para a vida no momento em que creu em Jesus.
(Jo 5:24) “Na verdade, na verdade vos digo que quem ouve a minha palavra, e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna, e não entrará em condenação, mas passou da morte para a vida”.
Segundo, não somos salvos pela vida santa e justa de Jesus, como o vídeo parece insinuar, mas pela fé em sua pessoa e obra. É certo dizer que somos justificados pela fé, mas a Bíblia nunca diz que somos justificados pela justiça de Cristo. J. N. Darby comenta: “A Palavra diz simplesmente que justiça é imputada, ou que a fé é imputada por justiça, mas não diz que seja a justiça de Cristo” (J. N. Darby: Letters: Volume 2, number 99).
The word says always simply that righteousness Isaías imputed, or that faith is imputed for righteousness, not the righteousness of Christ.” Apesar de eu já ter pregado isso algumas vezes no passado, entendo hoje que o pensamento protestante e católico a respeito não tem fundamento. Refiro-me à ideia de que Deus nos salva depositando em nossa conta, zerada de boas obras, as boas obras de Jesus.
Este comentário de Charles Stanley, que fala da justificação pela fé, pode ajudar:
Repare que nestas passagens não se trata da justiça de Cristo em sua vida santa na terra, por mais preciosa que possa ser; trata-se de algo muito mais profundo. A vida impecável de Cristo não poderia ajudar nem um pouco a justificar o pecador. Deixe-me ilustrar isto. Um criminoso está sob sentença de morte. Ele comparece perante o juiz. O juiz deseja livrar o prisioneiro pois, apesar de sua vida criminosa, o juiz o ama. Ora, como poderia o juiz livrar o prisioneiro e mesmo assim manter a dignidade de seu cargo e cumprir a lei que exige que ele seja morto? Esta é a questão. Então alguém se apresenta e diz:
- Eu sou perfeitamente inocente. Nunca cometi um crime sequer contra as leis de meu país. E agora, Meritíssimo juiz, desejo que V. Exa. impute a minha justiça em favor desse pobre homem, isto é, o reconheça justo baseado na minha justiça.
O juiz retruca:
- O contraste com a sua justiça só torna os pecados deste homem ainda piores. A lei exige que ele seja morto.
Então outro homem se apresenta:
- Também sou um criminoso, como o prisioneiro ali, e quero oferecer minha vida em lugar da dele. Acaso com minha condenação V. Exa. não continuaria sendo reconhecido como justo e agindo de acordo com a lei, ao perdoar o prisioneiro e salvar sua vida?
O juiz então ordena:
- Oficial, prenda este homem pois ele também é culpado e a lei exige que seja condenado à morte. Como poderia ele, culpado, substituir outro culpado?
Então entra um funcionário e entrega um bilhete ao juiz. O juiz fica profundamente comovido ao reconhecer a letra. Trata-se do príncipe daquele reino. Ele abre o bilhete, lê, e voltando-se para os presentes, diz:
- Senhores do júri. Esta é a mensagem mais maravilhosa que já recebi. Ela diz: ‘Meritíssimo, sabendo de seu grande amor pelo prisioneiro, e sendo o meu amor por ele o mesmo, e ciente da justiça com que V. Exa. mantém as leis deste reino, e considerando que minha vida é sem mancha, decido entregar a minha vida em preço de redenção pela vida do prisioneiro. Permita que eu seja executado e ele seja libertado.
O juiz então se senta e o representante do júri se manifesta.
- Devo aqui expressar o veredito unânime deste júri, de que não só o resgate do prisioneiro pode ser pago, mas também o Meritíssimo juiz estará perfeitamente justificado por isso, e a integridade da lei preservada em sua essência.