O cristão pode arriscar a vida praticando esportes radicais?

Existe uma diferença entre arriscar a vida e desperdiçar a vida. O cristão quando se converte já passa a correr risco de vida em vários aspectos. Se ele morar em um país muçulmano esse risco é real. Frequentemente vemos notícias de condenações à morte e chacinas de cristãos em países da África e do Oriente. No ano passado tive notícia de dois casos na Índia, um de uma irmã em Cristo que congregava com irmãos de lá e foi morta pelo marido por recusar-se a fazer oferendas aos deuses do hinduísmo. Outro foi morto e teve sua casa queimada quando sua família descobriu que ele havia se convertido a Jesus.

Mas o cristão, mesmo em países ocidentais normalmente considerados “cristãos”, também corre o risco de perder o emprego, parentes, amigos, enfim, a vida que tinha antes. Todos os que se converteram já experimentaram o quanto custa seguir a Cristo até mesmo entre aqueles que são meros religiosos, mas que repudiam qualquer referência ou reverência à Palavra de Deus.

Por outro lado, aquilo que costumamos chamar de “arriscar a vida” ou de “esportes radicais” pode ser, aos olhos de Deus, simplesmente uma forma de se desperdiçar a vida. Se um cristão quer realmente viver uma vida radical, com muita adrenalina e constantemente escapando por um triz do perigo, que vá pregar o evangelho no Afeganistão ou em países onde isso é punido com prisão ou morte. Ele colocará sua vida em risco, correrá risco de morrer, mas não estará desperdiçando sua vida.

Porém o cristão que se engaja em algum esporte que represente um alto grau de risco para sua vida ou saúde está desperdiçando sua vida. É claro que muitos também cometem um tal desperdício sem correrem qualquer risco, simplesmente por levarem a mesma vida que sempre levaram quando incrédulos. Em ambos os casos cristãos assim terão a alma salva, porém a vida perdida ou desperdiçada.

Algumas atividades e esportes radicais colocam a vida da pessoa em risco sem uma razão importante, o que pode se configurar como tentar a Deus. Como eu poderia entrar em uma atividade de risco e orar a Deus por proteção sabendo que aquilo é desnecessário e poderei morrer se algo der errado? Entendo que entrar deliberadamente numa atividade de alto risco é o mesmo que tentar a Deus. Quando o diabo levou o Senhor ao pináculo do templo e sugeriu que pulasse dali na confiança de que Deus iria protegê-lo, sua resposta foi: “Não tentarás o Senhor teu Deus” (Mt 4:6-7).

Evidentemente existem muitas atividades que são de risco, porém necessárias àquele que as exerce, como algumas profissões ou até atravessar a rua ou dirigir no trânsito de uma grande cidade a caminho do trabalho. Até sacar dinheiro em caixa eletrônico é hoje uma atividade de risco, considerando-se o alto índice de assaltos seguidos de morte. Porém são atividades em que o risco é considerado uma fatalidade, já que se tratam de atividades normais à vida.

O mesmo não pode ser dito de alguém que salta de bungee jump ou participa de uma luta violenta na qual pode ser espancado até a morte. No primeiro caso está se expondo a um risco totalmente desnecessário, já que não se trata de ir a algum lugar por necessidade de trabalho ou de sobrevivência. No segundo está entregando seu corpo, que é o templo do Espírito, para ser espancado pelo adversário. Como um cristão poderia ser inocente em pensar que pode orar a Deus pedindo por proteção, quando ele próprio está se expondo gratuitamente ao perigo? Deus é gracioso em nos guardar, mas não é ingênuo.

Mas como determinar se um esporte ou atividade é ou não de risco? Obviamente a Bíblia não diz, já que muitos esportes só foram criados séculos depois de seu texto ter sido redigido. Mas um cristão com algum bom senso saberá dizer se está ou não se envolvendo sem necessidade em algo que poderá tirar a vida que Deus lhe deu para ser usada para a glória dele.

Uma boa referência para esse “bom senso” talvez sejam as apólices de seguros e as exceções de cobertura para acidentes causados por atividades perigosas e esportes radicais. Embora existam leis que determinam que algumas destas cláusulas não têm efeito, acho que servem de referência para um cristão que esteja decidindo se deve ou não se envolver em uma atividade perigosa. Uma boa ideia seria pensar assim: “Se a seguradora não quer me proteger neste esporte, por que Deus iria querer?”.

Numa pesquisa encontrei a apólice de uma seguradora que, para alguns esportes exige uma contratação adicional no custo do seguro, apesar de mesmo assim não dar cobertura em caso de morte acidental ou invalidez permanente. Os esportes nesta categoria são bungee jumping, esgrima, kart, kite surf, mergulho com cilindro de nitrox, patinação sobre rodas, patinação no gelo, rugby, skate, snowboard, surfe, trekking e wake boarding.

Porém para outros esportes a mesma seguradora diz não dar cobertura nem mesmo com a contratação de serviços e apólices adicionais. Os esportes não cobertos seriam: artes marciais ou esportes de defesa pessoal, asa delta, aviação (exceto para viagens), base jumping, bobsleigh, bulldog (rodeio), caça, corrida (exceto à pé), corrida ou rally em motocicletas, descida em trenó, escalada livre, escalada de montanhas, escalada em pedras, esqui na neve (em pista não regulamentada, com tubos e saltos), exploração de cavernas subterrâneas, exploração em cavernas, hockey no gelo, jiu-jitsu/judô, karatê, mergulho submarino (abaixo de 25 m de profundidade), navegação, navegação marítima individual, paraquedismo, pesca submarina, prática esportiva profissional, rafting, rapel, rodeio, tiro ao alvo, trekking com cordas, ultra leve e snowboard em pista não regulamentada, com tubos e saltos.

Espero que entenda que não estou dando aqui uma lista de esportes proibidos ou permitidos, mas apenas indicando que existem atividades que, independente da fé de seu praticante, são consideradas de altíssimo risco até pelas seguradoras. Que isto não é uma “lista de proibições” qualquer pessoa de bom senso entenderá só de ponderar que em muitos ou em todos estes casos existem pessoas que precisarão praticar ou saber como fazer tais atividades até por necessidade profissional e de salvar vidas.

Por exemplo, um profissional que trabalhe na manutenção de torres de transmissão precisará estar treinado em escalada com cordas. Um piloto de avião pode precisar aprender manobras acrobáticas para saber como sair de situações difíceis. Bombeiros e salva-vidas também precisarão treinar e praticar muitas dessas atividades para salvar vidas. Policiais precisarão praticar tiro ao alvo com regularidade. Socorristas de estâncias de esqui precisarão ser treinados em esquiar na neve e no gelo, escalar montanhas, etc. Obviamente estas pessoas farão isso para o sustento próprio e de seus familiares, além de salvar vidas. Enquanto isso o esportista as praticará tão somente para a satisfação pessoal.

Embora possam existir opiniões genéricas e universais sobre este assunto, o que escrevi tem a ver com aqueles que foram salvos por Cristo e cuja vida agora já não lhes pertence, e sim àquele que os salvou. Evidentemente quem ainda não foi salvo por Cristo e nem tem a vida eterna garantida pela fé naquele que morreu e ressuscitou não se enquadrará nesta categoria e minhas palavras não farão qualquer sentido. Este é, por assim dizer, um assunto familiar apresentado àqueles que pertencem à família da fé. Existem assuntos que eu discuto em casa com minha família que meus vizinhos nunca entenderiam por não pertencerem à família.

Alguns versículos da Palavra de Deus podem lançar mais luz sobre as razões disso (para os salvos, evidentemente):

“Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo, e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus” (1 Co 6:19-20).

“Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim” (Gl 2:20).

“Eu sei, Senhor, que a vida do homem não lhe pertence; não compete ao homem dirigir os seus passos” (Jr 10:23).

“Então o diabo o transportou à cidade santa, e colocou-o sobre o pináculo do templo, E disse-lhe: Se tu és o Filho de Deus, lança-te de aqui abaixo; porque está escrito: Que aos seus anjos dará ordens a teu respeito, E tomar-te-ão nas mãos, Para que nunca tropeces em alguma pedra. Disse-lhe Jesus: Também está escrito: Não tentarás o Senhor teu Deus” (Mt 4:5-7).

“Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus” (Rm 12:1-2).