O que significa a fé uma vez dada aos santos?
Ao ler a tradução do livro “Teologia do Pacto ou Dispensacionalismo”, de Bruce Anstey, você disse ter estranhado a citação de um versículo da epístola de Judas neste trecho: “Foi somente nos anos 1800 que Deus efetuou uma restauração completa da verdade ‘que uma vez foi dada aos santos’ (Jd 1:3) e a verdade dispensacional voltou a ser conhecida.”
Quando traduzi o texto também estranhei ele usar Judas 1:3, mas acho que é porque sempre associamos “fé” à salvação e não à completa revelação de Deus, que é o assunto da epístola de Judas. Outra leitura do versículo seria da versão Almeida e Atualizada:
“Amados, quando empregava toda a diligência em escrever-vos acerca da nossa comum salvação, foi que me senti obrigado a corresponder-me convosco, exortando-vos a batalhardes, diligentemente, pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos”.
O que o autor do livro está falando não é nenhuma doutrina nova, mas apenas a restauração daquilo que os primeiros cristãos já conheciam e que foi perdido com a apostasia (abandono da verdade) do advento do clericalismo, que privou o Espírito Santo de usar quem ele quer nas reuniões da igreja e instituiu sacerdotes e papas.
Se continuar lendo o capítulo de Judas verá que é justamente este o contexto. Veja que ele começou querendo escrever sobre a salvação, comum a todos os cristãos, mas sentiu-se obrigado a exortá-los a batalhar pela fé que uma vez por todas foi dada aos santos, ou seja, não está falando agora de salvação mas de algo mais.
Esse “algo mais” é o que vem do versículo 4 em diante mostrando a degradação da “fé que uma vez por todas foi entregue aos santos” com a introdução de homens ímpios que negam o senhorio de Cristo, além dos exemplos de Caim, Balaão e Coré, que tentaram usurpar posições que não lhes tinham sido dadas por Deus.
Darby comenta o versículo:
“A expressão ‘fé que uma vez por todas foi dada aos santos’ significa que devo voltar ao princípio, à fé original conforme foi dada. Em nossos dias é importantíssimo inquirir o que era no princípio. Com certeza você encontra no Novo Testamento o que era no princípio. Se eu permanecer nisso, permaneço no Pai e no Filho; 1 João 2:25. Os versículos 14 e 15 falam da profecia de Enoque, o primeiro testemunho de Deus. Aqui vemos que Deus desde o seu primeiro testemunho Deus havia contemplado a apostasia da igreja; do mesmo modo como em Deuteronômio 32 ele previa no começo da história de Israel como seria o seu final.
A intenção de Judas era escrever a eles acerca de comum salvação de todos os cristãos; mas ele achou necessário exortá-los a permanecerem firmes, a contenderem pela fé que uma vez por todas foi dada aos santos. Isso porque aquela fé já estava sendo corrompida pela negação dos direitos de Cristo de ser Senhor e Mestre; e do mesmo modo, ao dar rédea solta à vontade própria, eles abusavam da graça e a transformavam em um princípio de dissolução. Estes são os dois elementos do mal que os instrumentos de Satanás introduziram, a rejeição da autoridade de Cristo (não o Seu nome) e o abuso da graça, a fim de permitir suas próprias luxúrias. Em ambos os casos prevaleceu a vontade do homem, que eles liberaram de tudo o que a limitava. A expressão ‘Senhor Deus’ aponta para este caráter de Deus. Aqui ‘Senhor’ não é a palavra comumente usada, mas ‘despotes’ que significa ‘mestre’”