Como evangelizar meus filhos?
Você demonstrou estar preocupada com sua filha que é jovem e se recusa a ouvir você falar do evangelho. Ela está simplesmente seguindo a onda atual, que é querer mostrar independência e autossuficiência (inclusive nas coisas eternas). O jovem não tem senso de finitude como tem um idoso, pois acredita que a morte é a exceção, não a regra da vida. Na cabeça da maioria das pessoas, quem morre é sempre o outro. Por isso o jovem não se preocupa muito com as coisas eternas, pois a imagem que tem é que isso é coisa de velhos. Obviamente é, porque o idoso sabe que seu relógio está agora em contagem regressiva.
De qualquer modo não se desespere e nem considere sua filha um caso perdido. Lembre-se de que não faz muito tempo você mesma estava tão perdida e alheia às coisas de Deus quanto ela, talvez não de modo a verbalizar sua incredulidade, mas mesmo assim tão perdida quanto. Muitas esposas, esposos, pais e filhos crentes não terão a oportunidade de testemunhar a conversão de seus queridos enquanto estiverem vivos, mas acabarão encontrando-os no céu. Agarre-se à promessa feita por Paulo ao carcereiro de Filipo:
“E, tirando-os para fora, disse: Senhores, que é necessário que eu faça para me salvar? E eles disseram: Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo, tu e a tua casa” (Atos 16:30-31).
Procure conversar com ela e falar do evangelho de forma clara e simples. O evangelho é basicamente o que você encontra nos primeiros versículos de 1 Coríntios 15, que Cristo morreu e Cristo ressuscitou. Muito cuidado para não despejar em sua filha um caminhão de versículos que possam até ser bonitos e motivadores, mas que não dão qualquer pista do caminho da salvação.
Por exemplo, um versículo campeão até entre incrédulos é “O Senhor é o meu pastor, nada me faltará” (Sl 23:1). Bíblias abertas na sala de casas ou escritórios costumam estar na página deste Salmo, pois muitos enxergam isso como um “pé de coelho”, tipo um amuleto para dar sorte. O que a maioria das pessoas veem no versículo é apenas a parte que diz “nada me faltará”, pois é o que agrada ao ser humano.
Mas poucos pensam nas implicações de se afirmar “o Senhor é o meu Pastor”, pois não sabem que para Cristo realmente ser o Pastor de alguém é preciso que essa pessoa seja ovelha dele, tenha se reconhecido pecadora e se prostrado por fé aos pés do Salvador, arrependida de seus pecados e confiando que o seu sangue derramado na cruz foi suficiente para limpá-la, e sua ressurreição a provisão de Deus para justificá-la.
Afirmar meramente “o Senhor é o meu Pastor”, sem realmente crer nele, é colocar-se de modo informal e exterior sob o senhorio de Cristo, ou seja, adotar para si todas as responsabilidades que recaem sobre aqueles que não ignoram os desígnios de Deus. Sabe aquelas frases de filmes policiais, “tudo o que você disser poderá ser usado contra você?”. Pois é, tal pessoa, mesmo que não se converta de verdade, ao afirmar “o Senhor é o meu Pastor” estará se colocando sob a responsabilidade da passagem que diz:
“E o servo que soube a vontade do seu senhor, e não se aprontou, nem fez conforme a sua vontade, será castigado com muitos açoites; Mas o que a não soube, e fez coisas dignas de açoites, com poucos açoites será castigado. E, a qualquer que muito for dado, muito se lhe pedirá, e ao que muito se lhe confiou, muito mais se lhe pedirá” (Lc 12:47-48).
Outra página campeã das Bíblias abertas na sala é o Salmos 91: “Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo, à sombra do Onipotente descansará”. O Salmo segue com diversas promessas para aquele que habita no esconderijo do Altíssimo, como proteção dos inimigos, das doenças, do medo e terror, da morte, do mal, da praga, além da sensação de poder que transmite frases como “mil cairão ao teu lado, e dez mil à tua direita, mas não chegarão a ti”, ou “pisarás o leão e a cobra, calcarás aos pés o filho do leão e a serpente”.
Ou seja, se a pessoa não entender com clareza que “Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo” é o próprio Senhor Jesus, o Único que tem direito a essa posição, e que é somente estando nele que alguém pode ter tais promessas, acabará lendo esse Salmos como se fosse um mantra ou uma fórmula mágica não muito diferente das usadas em feitiçarias.
É preciso lembrar que, em se tratando de promessas bíblicas, “todas quantas promessas há de Deus, são nele (em Jesus) sim, e por ele (por Jesus) o Amém, para glória de Deus” (2 Co 1:20). A menos que a pessoa esteja pela fé em Cristo, salva e perdoada por ele, não poderá contar com quaisquer promessas bíblicas, por mais bonitas e motivadoras que possam parecer.
Você já disse que sua filha não quer nem ouvir falar de Jesus, mas não se deixe levar por aquilo que uma pessoa incrédula diz, porque obviamente nenhum de nós queria ouvir falar de Cristo antes de nossa conversão. Se parecíamos querer, isso nada mais era do que educação, curiosidade ou alguma influência religiosa que via a Jesus como mais um dentre os muitos “gurus”, “santos” e “iluminados” da história, como era o meu caso antes de minha conversão.
Alguém sugeriu (dizem ter sido São Francisco de Assis): “Pregue o evangelho e, se precisar, use palavras”. Com isto ele quis dizer que em alguns casos, e principalmente quando as palavras parecem não fazer mais efeito, o testemunho de uma vida cristã pode falar mais alto do que muito falatório. Isto é o que ensina Pedro em sua carta ao falar das mulheres crentes casadas com homens incrédulos, que obviamente não gostam muito de ouvir da Palavra de Deus:
“Semelhantemente, vós, mulheres, sede sujeitas aos vossos próprios maridos; para que também, se alguns não obedecem à palavra, pelo porte de suas mulheres sejam ganhos sem palavra; considerando a vossa vida casta, em temor. (1 Pe 3:1-2).
Mas eu entendo que neste caso essa mulher provavelmente já tenha falado de Cristo para seu cônjuge, porém para evitar atritos acabe “pregando” depois com seu modo de proceder.
Lembre-se sempre de que o evangelho (as boas novas de que Cristo morreu para pagar nossos pecados e ressuscitou para nossa justificação) “é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê” (Rm 1:16) e “a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais penetrante do que espada alguma de dois gumes, e penetra até à divisão da alma e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração. E não há criatura alguma encoberta diante dele; antes todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos daquele com quem temos de tratar” (Rm 4:12-13).
Portanto, é importante que em algum momento a pessoa tenha escutado a Palavra, pois o poder não está em quem prega a Palavra, mas na própria Palavra. É um poder sobrenatural e colocado em ação numa alma por meio do Espírito Santo, como a espada que tudo penetra e deixa evidente cada detalhe das vísceras do pecador. Ao entrar em contato com a Palavra a consciência do pecador não fica imune a esse contato. Apesar de Deus ter entregue a seres humanos a tarefa de divulgar as boas novas, todo o processo de conversão vem de Deus, não do homem, para que toda a glória também seja dada a Ele.
Existem algumas dicas práticas para se levar alguém da família a ter contato com a Palavra de Deus. Uma é sutilmente introduzir alguns versículos evangelísticos na decoração de sua casa, colocar um calendário de versículos evangelísticos na parede da cozinha, “esquecer” algum folheto ou livro em algum lugar da casa (o banheiro é ótimo para isso) e sempre regar todas essas estratégias com muita oração.
Quando eu tinha dez anos de idade peguei um evangelho de Marcos que caiu literalmente de paraquedas na rua de casa, depois que um avião de alguma missão sobrevoou a cidade despejando centenas de evangelhos amarrados em paraquedas de papel de seda. Este evangelho eu li várias vezes (de curiosidade) e ainda permaneceu comigo muitos anos depois de minha conversão. Aquela semente certamente ficou plantada em meu coração para germinar treze anos depois, quando Deus usou outros instrumentos e pessoas para me levar à conversão. Na maioria das vezes nem percebemos de quantas maneiras Deus vai afunilando nosso caminho até nos encontrarmos com Cristo.
Folhetos com mensagens evangelísticas são poderosos instrumentos para levar a Palavra de Deus onde não é possível chegar com uma mensagem audível, ou seja, pregar diretamente à pessoa. Eu me lembro de um caso de conversão em que um homem com um sapato que o incomodava pegou na rua o primeiro pedaço de papel que encontrou, dobrou-o e o enfiou no sapato para proteger o pé do prego que incomodava. Quando chegou em casa e tirou o sapato descobriu que o papel era uma mensagem do evangelho. Leu e se converteu.
Há sempre maneiras de se evangelizar. Existem bons folhetos e calendários com mensagens bíblicas que podem ser adquiridos em livrarias cristãs para distribuição. É possível baixar e gravar mensagens em mp3 na Internet (como as do “Evangelho em 3 Minutos”) para distribuí-las em CDs, pendrive ou cartões de memória. A queda nos preços das mídias eletrônicas permite colocar nelas um volume de textos, áudios e vídeos como nunca foi possível no passado. Bíblias e Novos Testamentos também são uma excelente opção. No site da Sociedade Bíblica existe uma Bíblia Econômica que custa menos que uma passagem de ônibus.
Portanto, se a sua filha não lhe dá chance de você evangelizá-la diretamente, faça isso usando mensagens impressas. Creio que um dos aspectos bastante positivos da evangelização pelos vídeos do Evangelho em 3 Minutos é que eles alcançam pessoas que de outra forma seriam avessas ao evangelho. Aquilo que alguém poderá recusar-se ao escutar ou ler em público talvez escute quando estiver sozinho em seu quarto e longe de olhares curiosos. Muitos têm medo de demonstrar que estão interessados no Evangelho porque isto pode parecer sinal de fraqueza para seus amigos incrédulos. E de fato é, pois a menos que reconheçamos nossa fraqueza, incapacidade e condição de perdidos, jamais iremos aceitar o socorro que vem de Deus.
Mas não espere que a evangelização de sua família seja um mar de rosas. Pode esperar por conflitos, pois o próprio Senhor previu que seria assim.
“Cuidais vós que vim trazer paz à terra? Não, vos digo, mas antes dissensão; porque daqui em diante estarão cinco divididos numa casa: três contra dois, e dois contra três. O pai estará dividido contra o filho, e o filho contra o pai; a mãe contra a filha, e a filha contra a mãe; a sogra contra sua nora, e a nora contra sua sogra” (Lc 12:51-53).
Mesmo assim é sua missão evangelizá-los, e sempre em oração, temor e confiança diante de Deus. Se alguém ainda recusa-se a aceitar o evangelho é porque “o deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus” (2 Co 4:4).
Não existem fórmulas para pregar o evangelho, e nem vejo fundamentação bíblica para a famosa prática de “ir à frente orar com o pastor” de alguma igreja evangélica. Mas é sempre bom ter em mente estes versículos que, tanto resumem o evangelho, como demonstram o caminho prático para aquele que crê:
“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele. Quem crê nele não é condenado; mas quem não crê já está condenado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus” (Jo 3:16-18).
“Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. Visto que com o coração se crê para a justiça, e com a boca se faz confissão para a salvação Porque a Escritura diz: Todo aquele que nele crer não será confundido” (Rm 10:9-11).