Mulheres podem escrever sobre o Senhor?

Na Bíblia encontramos muitas mulheres que foram usadas por Deus e elas efetivamente têm seu lugar dentro da esfera que lhes é designada. Há coisas para as quais os homens são péssimos e as irmãs tiram de letra. O importante é sempre entender que as irmãs não têm um testemunho público e de ensino, como pregar em público por exemplo, mas elas têm sim seu lugar em outras esferas, como as descritas nos últimos capítulos de Romanos, quando Paulo cita várias irmãs.

Paulo também diz a Tito para ensinar as mulheres idosas para que “ensinem as mulheres novas a serem prudentes, a amarem seus maridos, a amarem seus filhos, a serem moderadas, castas, boas donas de casa, sujeitas a seus maridos, a fim de que a palavra de Deus não seja blasfemada”. Só esta lista já manteria as irmãs ocupadas por toda a vida e perceba que nada aqui inclui doutrina, mas questões ligadas à vida diária em sua comunhão com o Senhor. Também é bom lembrar que o Senhor escolheu uma mulher, Maria Madalena (Jo 20:17-18) para levar a mensagem da ressurreição aos discípulos. Em Atos encontramos Priscila e Áquila ajudando Apolo a explicar “mais precisamente o caminho de Deus”. Mas repare que não é Priscila quem está fazendo isso, porém “Priscila e Áquila”, ou seja, considerando que em outras passagens vemos os limites impostos ao ministério das mulheres, aqui ela evidentemente está ajudando seu marido, e isto não em público, mas em seu próprio lar. O texto abaixo, de W. W. Fereday, pode ajudar:

“Quanto às mulheres falarem na assembleia, em qualquer maneira que seja, as Escrituras são claras a respeito: elas não devem falar (1 Co 14:24-45). Esta passagem não deve ser negligenciada por aquelas cujo único desejo é fazer a vontade do Senhor. O capítulo todo dá total liberdade para os santos quando reunidos, desde que tudo seja para a edificação, o que nem preciso dizer que exige a direção do Espírito Santo, sem o qual nada pode ser de proveito ou para a glória do Senhor. A única exceção é: ‘As vossas mulheres estejam caladas nas igrejas; porque não lhes é permitido falar’.

O mesmo encontramos em 1 Timóteo 2:8, onde diz: “Os homens orem em todo o lugar, levantando mãos santas, sem ira nem contenda”, seguido de instruções para mulheres, ‘que do mesmo modo as mulheres se ataviem em traje honesto, com pudor e modéstia... A mulher aprenda em silêncio, com toda a submissão. E não permito que a mulher ensine, nem exerça autoridade de homem; esteja, porém, em silêncio.’ (1Tm 2:8-15).

Outra razão para sua sujeição é o que está subtendido em 1 Coríntios 14:36: ‘Porventura saiu dentre vós a palavra de Deus? Ou veio ela somente para vós?’. Pondere bem sobre esta passagem e veja o que ela envolve. A Palavra de Deus vem para a igreja (a mulher), nunca vem dela, como os romanistas costumam ensinar. A mulher cristã deve agir sobre este grande princípio e aprender do homem, e não querer ensinar o homem. (W. W. Fereday - ‘Women Speaking in Public’)”.

Na resposta a uma pergunta respondida no “Bible Treasury” sobre a possibilidade de irmãs falarem em uma reunião de estudo bíblico, encontrei:

“Nunca deveríamos confundir um “estudo da Bíblia” com uma “reunião da assembleia”. O caráter de cada uma é totalmente diferente e distinto. A liberdade de falar e fazer perguntas que você encontra em uma leitura da Bíblia não cabe em uma reunião da assembleia. (...). Homens podem orar em todo lugar, levantando mãos santas, não mulheres (...) Podemos muito bem entender a liberdade de uma mãe orando com seus filhos em casa (...)”

E quando se trata de escrever, uma irmã poderia publicar textos seus falando do Senhor? Sem dúvida, se eles não envolverem o ensino da doutrina. Textos devocionais, biografias, material para crianças e adolescentes, histórias bíblicas, poesia, hinos... Há também o trabalho de redação e edição que muitas irmãs fizeram no século 19 e permitiram que hoje existisse uma biblioteca tão vasta de escritos dos irmãos. É que elas costumavam anotar o que era dito nas reuniões, depois juntavam as anotações (porque uma perdia algo que outra tinha), editavam, revisavam e isso acabava depois transformado nos livros assinados pelos irmãos que haviam falado aquilo nas reuniões.

Muitas letras dos hinos que cantamos foram escritas por mulheres. Veja por exemplo o caso do “Little Flock”, o hinário em inglês que foi compilado no século 19 e é usado até hoje pelas assembleias de língua inglesa reunidas ao nome do Senhor. Um quinto dos hinos ali foram escritos por irmãs, ou seja, mais de 80 hinos. As letras dos hinos 58, 148, 191, 248, 279, 287, 292, 454, 470, 471 e 477, por exemplo, foram escritas por Catherine Helene von Poseck (1859-1953). Há outras também que aparecem na história do hinário, além das que traduziram hinos que eram originalmente em alemão ou francês e das que trabalharam em sua edição, correção, etc. Tem a história em inglês do hinário “Little Flock” neste endereço: http://www.stempublishing.com/hymns/HISTRYLF.html

Se você visitar o site da www.bibletruthpublishers.com encontrará vários livros escritos por irmãs, do passado e do presente, dentro daqueles parâmetros que escrevi acima. O que não cabe, obviamente, é a pregação pública e o ensino. Mas como há coisas que são mulheres as melhores para ensinarem mulheres, também há bons livros escritos por irmãs com este conteúdo. Sei que os irmãos da Bible Truth Publishers são bem criteriosos na escolha dos livros vendidos, pois todos eles são lidos de antemão e muitos são tirados da lista quando algum leitor detecta erros. Aqui vão algumas autoras e seus livros publicados ou vendidos pela Bible Truth Publishers:

Bevan, Frances; Brenneman, Helen Good; Buksbazen, Lydia; Carmichael, A.; Currier, Mary; Davies, Florence; Drewsen, Mary Emma; Elliot, Elizabeth; Enock, Esther E.; Epp, Margaret A.; Feuvre, Amy Le; Friesen, Marilyn; Goforth, Rosalind; Groves, Sheila; Gunderson, Vivian D.; Harris, Beth J. Coombe; Hunt, Lionel A.; Hurst, S.P.; Johnston, Dorothy Grunbock; Kauffman, Christmas Carol; Kever, Nancy; Landis, Mary M.; Leake, Jane J.J.; Lecomte, Eva; Mackenzie, Carine; Mackenzie, Catherine; Mackenzie, Janet; Miller, Sheila; Murray, Faith; Ropes, Mary E.; Rouw, Jan; Roy, Kristina; VonSchultze, Lilli; Sherwood, Mrs. Mary M.; Smith, Frances; Smith, Grandma; Smith, Teri; Soderholm, Beverly; St.John, Patricia; Taylor, Helen L.; Taylor, Mrs. Howard; Tuininga, Margaret Jean; Vernon, Louise A.; Walton, Mrs. O.; F.Watt, Rachel; Wilhelm, Myra L.; Williams, Effie; Willis, Anna Frances; Worman, Aunt Theresa; Zook, Mary

O perigo está em a mulher não se policiar e querer introduzir naquilo que diz ou escreve pensamentos seus de ensino doutrinário que não seriam adequados a uma irmã publicar. Lembre-se: Adão não foi enganado, mas Eva. Às vezes isso acaba acontecendo naquelas perguntas que não são perguntas, mas afirmações terminando com um ponto de interrogação. Encontro muito disso em palestras. Quando abrem no final para perguntas, sempre tem alguém que não tem uma dúvida, mas pega o microfone e faz sua própria palestra.

J. N. Darby foi direto ao ponto ao responder a uma irmã que lhe escreveu perguntando sobre o assunto:

“Duas coisas são proibidas às mulheres, falar na assembleia e ensinar em qualquer lugar. Isto torna a questão muito simples para mim: silêncio na assembleia e nunca ensinar. Se for o caso de uma reunião de leitura bíblica em um lar, o que é na prática uma reunião privativa e não pública, as irmãs estão livres. Creio que o recato as controlará quando irmãos estiverem presentes, mas em um lar elas têm a liberdade de falar. No momento em que os irmãos se reúnem como tais, ao nome do Senhor, então o lugar das irmãs é de silêncio, porque o simples fato de fazerem uma pergunta pode esconder um ensino.

“Uma reunião que ocorra no salão de reuniões que é usado pela assembleia pode mais ou menos ter necessariamente o caráter de uma reunião de assembleia, se for algo aberto e público para todos comparecerem. Quando existe liberdade, há também muitas coisas que estão conectadas à decência das irmãs e que devem servir de guia. ‘Não vos ensina a mesma natureza’, diz o apóstolo, e tudo está maravilhosamente em seu lugar: as mulheres tiveram o seu belo papel nos evangelhos, e mesmo nas epístolas. Elas são encontradas apegadas a Jesus quando os discípulos não faziam o mesmo, mas era no lugar que lhes estava designado que elas devotamente apegavam-se a ele, não no ensino público. A ordem de Deus traz maior progresso do que qualquer superioridade de inteligência. Creio que o fato de terem fé para manter-se em silêncio e confiarem no Senhor seria suficiente para fazer com que elas permanecessem em silêncio quando fossem incentivadas a falar. Mas neste caso a questão seria realmente de decoro, não de fé. ‘Não permito que a mulher ensine...’ (1Tm 2:12)”. [J. N. Darby - Letters - Vol. 2].

Acredito que as irmãs tenham um lugar muito honorável nas Escrituras. Elas se apegaram ao Senhor quando os discípulos o abandonaram; na sua morte e ressurreição são elas, não os apóstolos, que encontramos, e durante sua vida elas lhe ministravam em suas necessidades. Além disso, o apóstolo no final de Romanos concede a elas o mais elevado testemunho. Mas o Senhor nunca as enviou a ensinar ou pregar. E mais tarde os apóstolos as proibiram terminantemente de exercerem a mesma autoridade.

Tudo é maravilhoso quando em seu próprio lugar. Se elas estiverem se ajudando mutuamente, não vejo como impedir. Ou pode ser o caso de estarem explicando as Escrituras no sentido do evangelho a mulheres ignorantes e inconversas, mesmo quando muitas delas estiverem presentes. Mas ensinarem em reuniões, ainda que entre elas próprias, me parece contrário às Escrituras. O lugar onde isto é feito realmente não faz diferença, mas sim as circunstâncias: trata-se de um local de ensino, e é impossível eliminar este significado. Qualquer coisa que as coloque no lugar de ensinarem, as coloca na posição de erro e isto não vem de Deus. O que lhes concede honra é ‘um espírito manso e quieto, que é precioso diante de Deus’ (1 Pe 3-4).” [J. N. Darby - Letters - Vol. 3]