Jesus tinha cabelos longos?
Os cabelos dos homens nos tempos de Jesus eram curtos, portanto tudo indica que o Senhor também tivesse cabelos curtos. A dificuldade de se cortar cabelos não era tanta assim como você imagina, principalmente para um povo de pastores acostumado a tosar rebanhos inteiros de cabras e carneiros para extrair pelos e lã. Além disso, Deus no Antigo Testamento determinava que os sacerdotes não podiam nem rapar a cabeça e nem ter cabelos longos, mas mantê-los curtos. Como os sacerdotes eram tidos em grande estima entre o povo não é de se estranhar que o homem comum fizesse o mesmo. (Ez 44:20) “E não raparão a sua cabeça, nem deixarão crescer o cabelo; antes, como convém, tosquiarão as suas cabeças”.
Entre os gentios da época de Jesus o costume dos homens era também manter os cabelos curtos, e basta ver o exemplo das esculturas romanas e gregas de seus reis, generais e cidadãos ilustres. Apenas os deuses eram representados com barbas e cabelos longos, mas se reparar nas representações dos imperadores e cidadãos romanos que foram preservados em forma de estátuas e afrescos, você verá que eles não tinham apenas os cabelos curtos, mas também a barba feita, e isto muito antes da invenção da lâmina Gillette.
Uma citação de Plutarco, que viveu na época de Paulo, diz: “Na Grécia, sempre que acontece uma desgraça, as mulheres cortam os cabelos e os homens os deixam crescer, pois o normal é que os homens tenham seus cabelos cortados e as mulheres os deixem crescer”. O apóstolo Paulo traz à memória dos irmãos em Corinto este costume, que era natural aos gregos como eles eram, ao dizer: “A própria natureza não vos ensina que é uma desonra para o homem usar cabelo comprido? Ao passo que é glória para a mulher uma longa cabeleira, porque lhe foi dada como um véu” (1 Co 11:14-15). Portanto, o cabelo curto para homens, que era uma ordem divina para os judeus, era também o costume entre os gentios. Cabelos compridos para homens, por sua vez, é chamado neste versículo de “desonra”.
A representação da imagem de Jesus como um homem de cabelos e barbas longas só começou a surgir no quarto século e isto por influência das imagens e esculturas de deuses pagãos. Muitos romanos que haviam sido cristianizados à força pelo imperador Constantino certamente não entenderam nada e nem se converteram de verdade, mas apenas imaginavam Jesus como mais um deus em sua coleção de ídolos, daí a existência de tantas imagens, pinturas e esculturas de Jesus com os cabelos longos à semelhança dos deuses dos pagãos.
O próprio fato de alguém tentar criar uma imagem de Cristo não faz sentido por sabermos que o Jesus que hoje temos como Senhor não tem a mesma aparência do Homem fraco e humilde que andou aqui, mas está nos céus, coroado de honra e de glória à destra da Majestade. Como alguém iria representar graficamente tal Pessoa, Deus e Homem, assentado nos céus?! A exortação de Paulo é que, ainda que tenhamos conhecido a Jesus na sua forma humana de carne aqui na terra, não é mais assim que o conhecemos.
(2 Co 5:16) “Assim que daqui por diante a ninguém conhecemos segundo a carne, e, ainda que também tenhamos conhecido Cristo segundo a carne, contudo agora já não o conhecemos deste modo”.
Transcrevo abaixo uma citação da Carta de Eusébio à Constância, irmã de Constantino, o Grande. O texto revela o total desprezo de Eusébio para o que estava acontecendo então. O que aparece [entre chaves] são meus comentários:
“Você também me escreveu sobre uma suposta imagem de Cristo, a qual você gostaria que eu lhe enviasse. Ora, que tipo de coisa é esta à qual você se refere como a imagem de Cristo? Não sei o que a levou a pedir que uma imagem de Nosso Salvador lhe deva ser mostrada. Que tipo de imagem de Cristo você está procurando? Seria a único e verdadeira e pura que traga as características essenciais dele [provavelmente ele se refira à sua divindade], ou a uma que ele assumiu por nossa causa, quando assumiu a forma de servo [sua forma humana]? ... Certamente ele tem duas formas, e eu mesmo não acredito que seu pedido tenha a ver com a sua forma divina (...)
“Certamente, então, você está buscando a sua imagem como um servo, aquela de carne que ele assumiu por nossa causa ... Como alguém poderia pintar uma imagem tão inatingível? Ao menos que, como fazem os pagãos incrédulos, representasse coisas que não trazem qualquer semelhança com a realidade? Pois eles fazem tais ídolos quando querem criar a semelhança do que eles pensam ser um deus ou, como se poderia dizer, um dos heróis ou qualquer outra coisa de natureza semelhante, mas mesmo assim eles não são capazes de criar uma semelhança e representar com precisão algumas formas humanas estranhas. Certamente, até você irá concordar comigo que tais práticas não nos são permitidas. Você já ouviu falar de tal semelhança [de Cristo] na igreja ou de alguma outra pessoa? Acaso tais coisas não são tão excluídas e banidas das igrejas em todo o mundo, e acaso não estão todos cientes de que tais práticas não são permitidas a nós de maneira nenhuma?
Era uma vez uma mulher, eu não sei como, me trouxe uma imagem de dois homens que pareciam ser dois filósofos e mencionou que eles eram Paulo e o Salvador. Eu não tenho como saber de onde ela tirou essa informação ou onde ela aprendeu tal coisa. Mas, para que nem ela nem os outros pudessem estar envolvidos numa ofensa, tirei dela a imagem e a mantive-a em minha casa, pois achei que seria impróprio que tais coisas fossem exibidas aos outros, pois acabaríamos parecendo adoradores de ídolos, carregando o nosso Deus por aí na forma de uma imagem. Faço notar que Paulo informa a todos nós para não considerarmos mais as coisas da carne, porque ele nos diz que ainda que tenhamos conhecido a Cristo segundo a carne, agora nós já não o conhecemos assim”.
Abaixo transcrevo uma citação de Epifânio de Salamina em sua “Carta ao Imperador Teodósio”, escrita por volta dos anos 379 a 395:
“Qual dos patriarcas que vieram antes de nós jamais pintou uma imagem de Cristo e a colocou em uma igreja ou uma casa particular? Que bispo de então jamais desonrou a Cristo, retratando-o em cortinas de portas? ... Além disso, aqueles que representam a semelhança dos santos em várias formas de acordo com a sua fantasia, às vezes mostrando as mesmas pessoas como velhas, às vezes muito jovens, envolvendo-se em coisas que não viram, estão enganando. Pois eles pintam o Salvador com os cabelos longos, e isto por acharem que por ele ter sido chamado de nazireu, e os nazireus usavam cabelo comprido. Eles erram ao tentar aplicar estereótipos a ele, pois o Salvador bebia vinho, ao passo que os nazireus não [parece, ao meu ver, que os termos ‘nazareno’ e ‘nazireu’ tenham um mesmo significado].
Eles também enganam ao inventarem coisas de acordo com suas fantasias. Esses impostores representam o santo apóstolo Pedro como um homem idoso, de cabelos e barba de corte curto, alguns representam o santo Paulo como um homem com recuo de cabelo, outros como sendo careca e barbudo, e os outros apóstolos são mostrados tendo seu cabelo cortado rente. Se, então, o Salvador tinha cabelo comprido, enquanto os seus apóstolos tinham cabelos curtos, e já que por não ter o cabelo curto o Salvador era diferente deles na aparência, por que os Fariseus e escribas teriam pago trinta moedas de prata a Judas para que ele o beijasse para revelar a eles quem era que procuravam, quando teria sido suficiente dizer a eles que aquele que buscavam era o de cabelos longos, economizando assim as moedas?
Acaso não você não enxerga, ó Imperador amado por Deus, que este estado de coisas não é agradável a Deus? Portanto, eu lhe peço ... que as cortinas que existem que trazem essas falsas representações dos apóstolos ou profetas ou do Senhor Cristo sejam recolhidas das igrejas, batistérios, casas e cemitérios de mártires e que sejam usadas para enterrar os pobres, e as imagens nas paredes sejam cobertas de cal. Quanto às imagens feitas em mosaicos, considerando que a sua remoção é difícil, fica a seu critério o que fazer contando com a sabedoria que Deus lhe deu. Se for possível removê-los, muito bem. Mas se não for possível, fique o que já existe e não haja uma pintura desta forma a partir de agora”.