Qual a versão correta de Apocalipse 22:14?
Sua dúvida vem do conflito que encontrou nas diferentes versões do versículo de Apocalipse 22:14. Umas dizem: “Bem-aventurados aqueles que lavam as suas vestiduras no sangue do Cordeiro, ... para que lhes assista o direito à árvore da vida, e entrem na cidade pelas portas” (Almeida Revista e Atualizada, Almeida Revista e Corrigida, New Translation by J. N. Darby, Ave Maria, CNBB, NVI, etc.), enquanto outras trazem: “Bem-aventurados aqueles que guardam os seus mandamentos” (Almeida Corrigida Fiel, King James etc.). Em qual confiar?
A diferença ocorre porque os tradutores utilizaram como ponto de partida de suas traduções diferentes manuscritos gregos. Alguns usaram o “Texto Tradicional” ou “Textus Receptus”, como a Almeida Corrigida e Fiel e a King James em inglês. Outros utilizaram o que é chamado de “Texto Crítico”, formado por uma mistura de diferentes manuscritos, como o Alexandrino, o do Sinai e o do Vaticano, etc., além de análises (ou críticas) de especialistas modernos sobre esses manuscritos. Nesta categoria estão as versões Almeida Atualizada, a da Imprensa Bíblica e mesmo a de J. N. Darby. Mas mesmo estas não são baseadas exclusivamente no “Texto Crítico” (assim como a Almeida Revista e Corrigida da SBB não é puramente baseada no “Textus Receptus”, mesmo sendo muito parecida com a Almeida Corrigida Fiel da Sociedade Bíblica Trinitariana ou com a King James).
Não existem os manuscritos originais (escritos pelos apóstolos) e certamente Deus providenciou para que desaparecessem para não se transformarem em objetos de adoração (tipo fizeram com o falso santo sudário). Os manuscritos que existem são cópias de cópias e por isso há algumas diferenças que foram causadas por copistas inexperientes ou incautos. A Palavra de Deus é divina, mas os copistas são humanos e sujeitos a erros.
Sou tradutor e já encontrei verdadeiras aberrações cometidas por tradutores de livros cristãos provavelmente por não concordarem com o que estava no original. Uma vez decidi retraduzir a partir do original inglês o livrete “A ceia do Senhor”, de C. H. Mackintosh, que já existia em português publicado em Portugal. Fiquei surpreso ao descobrir que todos os comentários do autor sobre o catolicismo romano tinham sido suprimidos da versão em português. Em outro livro sobre a epístola aos Romanos descobri que a versão em espanhol trazia mudanças significativas nas ideias do autor, provavelmente por ter sido traduzido por alguém que não entendia o novo nascimento.
Mas voltando ao versículo de Apocalipse, as versões que trazem “aqueles que guardam os seus mandamentos” não parecem ter sido fiéis à ideia original, enquanto as que trazem “aqueles que lavam as suas vestiduras no sangue do Cordeiro” estão bem mais de acordo com a doutrina da justificação que não é baseada em obras. A ideia de guardar mandamentos para ter direito a um lugar na glória não tem fundamento bíblico, porém a ideia de ter as vestiduras lavadas no sangue do Cordeiro é confirmada por outra passagem do mesmo livro de Apocalipse: “Um dos anciãos tomou a palavra, dizendo: Estes, que se vestem de vestiduras brancas, quem são e donde vieram? Respondi-lhe: meu Senhor, tu o sabes. Ele, então, me disse: São estes os que vêm da grande tribulação, lavaram suas vestiduras e as alvejaram no sangue do Cordeiro” (Ap 7:13-14). Veja os comentários de alguns autores sobre o versículo:
“Existe uma similaridade no som das palavras no original que fizeram desviar alguns copistas. Mas os melhores comentaristas do texto não deixam dúvidas de que o correto é “aqueles que lavam as suas vestiduras” - “Washed Their Robes” - J. A. Trench
“O versículo 14 é corretamente traduzido na versão NASB: “Bem-aventurados aqueles que lavam as suas vestiduras no sangue do Cordeiro, para que lhes assista o direito à árvore da vida, e entrem na cidade pelas portas”. O lavar no sangue do Cordeiro é absolutamente essencial para dar a alguém o direito à árvore da vida, o direito à comunhão com o próprio Senhor Jesus. Meramente guardar seus mandamentos jamais pode dar a quem quer que seja tal direito. Isto seria uma forma de guarda da lei e não poderia nos purificar da contaminação do pecado. É o sangue de Cristo que nos dá o direito de desfrutarmos da sua Pessoa (a árvore da vida) e à herança (a cidade). Depois de termos sido lavados, porém, somos exortados a andarmos em alegre obediência à Palavra de Deus” - “Exploring the Revelation” - L. M. Grant.