Judas perdeu a salvação?
Lendo Jo 17 você diz acreditar que Judas tivesse sido salvo por Cristo, porém teria perdido sua salvação ao decidir traí-lo. Como é completamente impossível alguém perder a salvação, portanto Judas nunca foi salvo. Ele não podia perder o que jamais teve. O versículo de João 17:12 fala de Judas, aquele que era o “filho da perdição” ou “destinado à perdição”, portanto ele era do maligno e nunca teve a salvação.
Judas é um exemplo do mero professo citado em Hebreus 6, aquele que teve todos os privilégios por conviver com Jesus, porém não creu. Ele aparenta crer, mas não crê. Judas era tão bom de aparência que quando o Senhor disse na ceia que um deles era traidor ninguém desconfiou de quem estava falando. Hoje há muitos nessa situação, inclusive fazendo milagres e profetizando em nome de Jesus, dos quais o Senhor dirá no final: “Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade” (Mt 7:23). Paulo fala desses:
(2 Co 11:13-15) “Porque tais falsos apóstolos são obreiros fraudulentos, transfigurando-se em apóstolos de Cristo. E não é maravilha, porque o próprio Satanás se transfigura em anjo de luz. Não é muito, pois, que os seus ministros se transfigurem em ministros da justiça; o fim dos quais será conforme as suas obras”.
A Bíblia tem muitos casos de pessoas falsamente convertidas, como Jesus afirma em Mateus 7:21: “Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus”. Você encontra também em Hebreus 6, uma carta escrita a cristãos convertidos do judaísmo, uma referência a pessoas que tiveram um contato direto com o Senhor e foram beneficiadas por ele sem jamais terem crido. Qualquer pessoa pode professar crer com a boca, mas a profissão de fé tem dois aspectos, o interior e o exterior. Romanos 10:9 diz: “Se, com a tua boca, confessares Jesus como Senhor e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo”. Esses que você diz que se “converteram” e depois “perderam” a salvação foram professos de boca apenas. No coração eles nunca se converteram. Judas andou com o Senhor, fez milagres, etc., mas nunca foi salvo.
Você argumenta que seria impossível Judas não ter sido salvo antes de ter se perdido, já que em sua oração em João 17 Jesus diz: “Estando eu com eles no mundo, guardava-os em teu nome. Tenho guardado aqueles que tu me deste, e nenhum deles se perdeu, senão o filho da perdição, para que a Escritura se cumprisse” (Jo 17:12). Segundo você não faria sentido Jesus ter guardado Judas se ele não fosse salvo antes de se perder, pois aí o Senhor teria guardado o maligno. Além disso, como poderia Jesus ter escolhido um discípulo maligno?
A impressão que tenho é que você fala de Jesus como um mero homem que foi pego de surpresa quando soube das intenções malignas de Judas. Porém, sendo Deus e Homem, Jesus conhecia Judas muito bem, antes mesmo de ele vir a existir. Ele sabia que seria o traidor. Isso tinha sido profetizado no Antigo Testamento e se Judas tivesse sido salvo seria preciso Jesus escolher um décimo terceiro para ser o traidor. Observe que desde o início Judas já era diferente dos outros discípulos, pois nunca chamou a Jesus de Senhor, apenas de Rabi ou Mestre.
“Até o meu próprio amigo íntimo em quem eu tanto confiava, e que comia do meu pão, levantou contra mim o seu calcanhar” (Sl 41:9).
“E eu lhes disse: Se parece bem aos vossos olhos, dai-me o que me é devido; e, se não, deixai-o. Pesaram, pois, por meu salário, trinta moedas de prata. Ora o Senhor disse-me: Arroja isso ao oleiro, esse belo preço em que fui avaliado por eles. E tomei as trinta moedas de prata, e as arrojei ao oleiro na casa do Senhor” (Zc 11:12-13).
Existe um momento em que Judas decide ser o traidor e aí ele fica totalmente sob o domínio do diabo. (Jo 13:27) “E, após o bocado, entrou nele Satanás. Disse, pois, Jesus: o que fazes, faze-o depressa”. Evidentemente Jesus estava plenamente ciente de ter chamado para segui-lo um que depois se revelaria o traidor. Em nenhum momento Jesus foi pego de surpresa pela revelação do caráter de Judas.
“E, quando estavam reclinados à mesa e comiam, disse Jesus: Em verdade vos digo que um de vós, que comigo come, há de trair-me” (Mc 14:18).
“Pois o Filho do homem vai, conforme está escrito a seu respeito; mas ai daquele por quem o Filho do homem é traído! bom seria para esse homem se não houvera nascido” (Mc 14:21).
“Homens irmãos, convinha que se cumprisse a Escritura que o Espírito Santo predisse pela boca de Davi, acerca de Judas” (Atos 1:16).
Quanto à expressão sua ao levantar a hipótese de Jesus ser “guardador do maligno” por ter guardado seus discípulos, é importante entender que em João 17, onde Jesus diz que guardava os seus, Judas já não está entre os discípulos. Ele já tinha se retirado no capítulo 13 para consumar sua traição diante dos fariseus e sacerdotes. Portanto, a partir do versículo 31 daquele capítulo temos apenas Jesus e os genuínos salvos e é destes que Jesus fala em sua oração e é a eles que são feitas as várias promessas.
(Jo 13:27-31) “E, após o bocado, entrou nele [em Judas] Satanás. Disse, pois, Jesus: O que fazes, faze-o depressa. E nenhum dos que estavam assentados à mesa compreendeu a que propósito lhe dissera isto. Porque, como Judas tinha a bolsa, pensavam alguns que Jesus lhe tinha dito: Compra o que nos é necessário para a festa; ou que desse alguma coisa aos pobres. E, tendo Judas tomado o bocado, saiu logo. E era já noite. Tendo ele, pois, saído, disse Jesus: Agora é glorificado o Filho do homem, e Deus é glorificado nele”.
É apenas na presença dos genuínos discípulos que Jesus promete enviar o Espírito Santo para habitar neles. Jo 14:16-17 diz: “E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre; O Espírito de verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece; mas vós o conheceis, porque HABITA CONVOSCO, e ESTARÁ EM VÓS”.
É importante entender que até Cristo morrer, ressuscitar e ascender aos céus o Espírito Santo nunca havia habitado na terra e no homem de forma permanente. Quando veio habitar isso foi “para sempre”. Portanto é impossível que alguém que tenha o Espírito Santo habitando em si (porque creu realmente) venha a perder a salvação, pois isto significaria o Espírito sair dele. Davi, no Salmos 51:11, ora a Deus “não retires de mim o teu Espírito Santo” e isso era porque naquela época o Espírito Santo podia inspirar, usar e até mesmo entrar numa pessoa, porém não era para habitar nela de forma permanente. Jesus disse em João 14 que o Espírito habitava COM ELES, porém estaria NELES.
(Jo 14:16-17) “E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre”.
Portanto, se a partir de Pentecostes o Espírito veio habitar para sempre no crente, é impossível o verdadeiro crente perder-se porque o selo que traz em si é permanente e eterno. Esta é apenas uma das provas de que Judas não perdeu a salvação eterna porque ele nunca a teve, apesar de ter sido um dos discípulos do Senhor.
Tendo isto em vista, Hebreus 6 (que você diz ser uma prova de um crente que perde a salvação) não pode estar falando de um crente real, mas de um mero professo (ali nunca diz que o tal creu). Como qualquer outro que tenha tido um contato direto com Jesus, Judas teve todos aqueles privilégios: foi iluminado (a Luz estava ali), provou o dom celestial (o Pão do céu estava ali), se tornou participante do Espírito Santo (não recebeu o Espírito, pois dependia de Jesus ser glorificado), provou a Palavra de Deus, os poderes ou virtudes do século futuro (o Milênio) nas curas e multiplicação dos pães. Mas não creu.
Do modo como você diz que Cristo morreu para salvar a todos dá a impressão de que todos estão salvos até segunda ordem. Judas nunca foi salvo, pois se tivesse recebido o dom da vida eterna e a vocação celestial nunca as perderia “Porque os dons e a vocação de Deus são sem arrependimento” (Rm 11:29). É importante entender que, se por um lado Jesus morreu por todos (o preço pago era suficiente para tanto) não foi o pecado de TODOS que ele levou sobre si na cruz, mas os pecados de MUITOS (existe uma diferença entre todos e muitos).
(2 Co 5:15) “Ele morreu por TODOS”.
(Is 53:12) “Ele levou sobre si o pecado de MUITOS”.
Em Jo 17, no momento em que Jesus ora ao Pai e diz que estava com eles no mundo, fica claro que está se referindo apenas aos discípulos que ficaram para aquele momento da oração. É deles que Jesus está falando, não de Judas que já tinha sido possuído pelo Diabo. Ele rogava naquele momento apenas pelos que creram. Jesus não rogaria por Judas que era do maligno pelo mesmo motivo que não rogaria pelo mundo que jaz no maligno.
(Jo 17:8-9) “Porque lhes dei as palavras que tu me deste; e eles as receberam, e têm verdadeiramente conhecido que saí de ti, e creram que me enviaste. Eu rogo por eles; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus”.
Se Jesus roga ao Pai “por aqueles que me deste” é evidente que Judas não estava entre esses, pois aquele que o Pai deu a Jesus de maneira nenhuma se perderia.
(Jo 10:28-29) “E dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará da minha mão. Meu Pai, que mas deu, é maior do que todos; e ninguém pode arrebatá-las da mão de meu Pai”.