Se Deus usou Debora por que a mulher deve ficar calada?

A ordem dada à Igreja (não a Israel) nas epístolas é “Como em todas as igrejas dos santos as vossas mulheres estejam caladas nas igrejas; porque não lhes é permitido falar; mas estejam sujeitas, como também ordena a lei. E, se querem aprender alguma coisa, interroguem em casa a seus próprios maridos; porque é vergonhoso que as mulheres falem na igreja. Porventura saiu dentre vós a palavra de Deus? Ou veio ela somente para vós? Se alguém cuida ser profeta, ou espiritual, reconheça que as coisas que vos escrevo são mandamentos do Senhor. Mas, se alguém ignora isto, que ignore” (1 Co 14:34-38).

É evidente que no mundo moderno uma ordem assim dada pela Palavra de Deus parece fora da realidade, mas se ficasse para nós decidirmos o que obedecer e o que não obedecer, já não estaríamos sujeitos à autoridade da Palavra de Deus, e sim aos nossos próprios caprichos. Parece até que o Espírito Santo sabia que tal ordem seria olhada com desprezo por muitos nos últimos dias, e acrescentou uma pergunta que parece até ter um tom irônico: “Porventura saiu dentre vós a palavra de Deus ou veio ela somente para vós? Se alguém cuida ser profeta ou espiritual, reconheça que as coisas que vos escrevo são mandamentos do Senhor”, e não de um “Paulo machista” como alguns gostam de interpretar esta passagem.

Mas você escreve contando que Deus teria enviado duas mulheres para pregar o evangelho em uma cidade, as quais ficaram por vários anos à frente da igreja até os irmãos desejarem eleger um homem, um pastor para liderá-los. Porém, segundo você, o homem acabou deixando o cargo e uma das mulheres voltou para colocar a casa em ordem. Você conclui que quem manda e controla a igreja é Deus, dando a entender que não podemos contestar a experiência que mencionou.

A questão é que nenhum de nós pode julgar um servo de Deus, porque é a Deus que ele deve prestar contas, mas podemos muito bem comparar se o que faz está em conformidade com a doutrina dada pelo Espírito Santo à igreja. E neste caso específico tudo está completamente fora de ordem. Começa pelo fato de considerar que uma congregação de cristãos deva ter um pastor (ou “pastora”) à frente, o que é algo completamente estranho nas Escrituras. Tente indicar um caso no Novo Testamento de uma congregação dirigida por um homem (ou mulher) e não encontrará. O protestantismo emprestou este modelo do catolicismo romano que, por sua vez, o emprestou do judaísmo e da figura do sacerdote.

“Pastor” é um dom dado à igreja como um todo, e não um ofício local. Os presbíteros (sempre no plural) eram sim um ofício local, mas não dependiam de ter um dom e nem necessariamente ficavam à frente de uma congregação. Basta ler 1 Co 14, quando é indicado como congregar, para perceber que ali todos os dons são usados pelo Espírito com decência e ordem, mas você não encontra um homem ou mulher à frente dirigindo. Portanto se no exemplo que você contou as coisas parecem ter dado certo, mesmo assim elas não passariam no teste das Escrituras, e se a Palavra de Deus não for autoridade para você, e sim as experiências bem sucedidas dos homens, então não tenho nem o que dizer.

“Porém Samuel disse: Tem porventura o Senhor tanto prazer em holocaustos e sacrifícios, como em que se obedeça à palavra do Senhor? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar; e o atender melhor é do que a gordura de carneiros” (1 Sm 15:22).

Mas sua dúvida é por que Deus teria levantado alguém como Débora, como profetiza e juíza de Israel, se não quisesse que mulheres tivessem tal posição. Primeiro é importante entender que existe um enorme abismo entre a maneira como Deus lidou com Israel e a maneira como cuida da igreja. São povos distintos com esperanças e responsabilidades distintas. Mesmo assim, também era fora de ordem uma mulher ocupar uma posição de projeção naquele tempo, e se isso aconteceu no livro de Juízes foi porque os homens não cumpriram com suas responsabilidades

(Jz 21:25) “Naqueles dias não havia rei em Israel; porém cada um fazia o que parecia reto aos seus olhos”. Foi um tempo de extrema ruína, ao ponto de uma das tribos quase ter sido dizimada completamente e no capítulo 20 o povo ter sido obrigado a providenciar que não ficassem sem descendentes.

Mesmo tendo sido convocada por Deus para julgar Israel (pela negligência dos homens), quando Deus colocou Débora em uma missão importante ela chamou Baraque. Ela sabia muito bem guardar a ordem estabelecida por Deus desde o Éden: “E disse o Senhor Deus: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma ajudadora idônea para ele” (Gn 2:18).

O estado dos homens fica evidente na aparente covardia de Baraque, que diz a Débora: “Se fores comigo, irei; porém, se não fores comigo, não irei” (Jz 4:8). Diante de um homem assim tão tímido Deus precisa usar uma mulher para levar adiante a libertação do povo e outra mulher para matar Sísera, o inimigo, por isso Débora profetiza: “Ela respondeu: Certamente, irei contigo, porém não será tua a honra da investida que empreendes; pois às mãos de uma mulher o Senhor entregará a Sísera” (Jz 4:9).

(Jz 4:21) “Então Jael, mulher de Héber, tomou uma estaca da tenda, e lançou mão de um martelo, e chegou-se mansamente a ele, e lhe cravou a estaca na fonte, de sorte que penetrou na terra, estando ele, porém, num profundo sono, e já muito cansado; e assim morreu. E eis que, seguindo Baraque a Sísera, Jael lhe saiu ao encontro, e disse-lhe: Vem, e mostrar-te-ei o homem que buscas. E foi a ela, e eis que Sísera jazia morto, com a estaca na fonte”.

Mesmo que os fatos demonstrem que duas mulheres haviam sido os instrumentos usados por Deus para eliminar o inimigo, quando vamos a Hebreus e encontramos o Espírito Santo, que inspirou o texto, colocando Baraque entre outros homens como Gideão, Sansão, Jefté, Davi e Samuel “os quais, por meio da fé, subjugaram reinos, praticaram a justiça, obtiveram promessas, fecharam a boca de leões, extinguiram a violência do fogo, escaparam ao fio da espada, da fraqueza tiraram força, fizeram-se poderosos em guerra, puseram em fuga exércitos de estrangeiros” (Hb 11:32-34).

É claro que Débora tem seu galardão por ter se sujeitado a ser um instrumento de Deus, mas no “frigir dos ovos” Deus mantém a ordem que estabeleceu o Éden e é também mencionada em 1 Coríntios 11:3: “Quero, entretanto, que saibais ser Cristo o cabeça de todo homem, e o homem, o cabeça da mulher, e Deus, o cabeça de Cristo”. Evidentemente isto é uma ordem, não uma competição para ver quem é melhor, o homem ou a mulher, porque bem sabemos que Cristo é igualmente Deus como o Pai, mas aqui é de ordem que está falando.

Não devemos nos basear em uma das épocas mais vergonhosas de Israel, como nos é mostrada no livro de Juízes, como modelo para a igreja agir. Aquilo foi um tratamento emergencial da parte de Deus, algo parecido com o que aconteceu após a morte e ressurreição do Senhor. Onde estavam os homens naquela hora tão crítica? Exceto por José de Arimateia e Nicodemos, os discípulos mais próximos do Senhor estavam literalmente trancados em casa com medo dos judeus (Jo 20:19). E onde estavam as mulheres? Junto ao sepulcro de Jesus, tornando-se assim os instrumentos disponíveis para aquela hora. E foi a elas que foi dado o privilégio de serem as primeiras a anunciarem a ressurreição.

A instrução que hoje é dada à Igreja em 1 Coríntios 14 está muito clara, e deve ser ela a nossa bússola. Obviamente Deus usa (e muito) as irmãs, mas deseja que elas permaneçam no lugar que lhes designou e sirvam a Deus aí. Fazer o contrário é sujeitar-se a serem enganadas, pois assim também é dito a elas na Palavra de Deus:

(1Tm 2:11-15) “A mulher aprenda em silêncio, com toda a sujeição. Não permito, porém, que a mulher ensine, nem use de autoridade sobre o marido, mas que esteja em silêncio. Porque primeiro foi formado Adão, depois Eva. E Adão não foi enganado, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão. Salvar-se-á, porém, dando à luz filhos, se permanecer com modéstia na fé, no amor e na santificação”.

O versículo acima complementa a passagem de 1 Coríntios 14, mas veja que lá é vedado à mulher tanto falar quanto ensinar na igreja, porém pode perguntar (portanto falar) quando estiver em casa ou em outra situação.

“Como em todas as igrejas dos santos as vossas mulheres estejam caladas nas igrejas; porque não lhes é permitido falar; mas estejam sujeitas, como também ordena a lei. E, se querem aprender alguma coisa, interroguem em casa a seus próprios maridos; porque é vergonhoso que as mulheres falem na igreja”.

Há quem alegue que um pouco antes, em 1 Coríntios 14:31, a expressão “todos podereis profetizar”, seria a licença dada às mulheres para falarem na igreja, porém alegar isto é não entender o princípio da regra e exceção. Se numa escola a professora disser que todas as crianças podem correr, mas que na sala de aula não podem correr, até uma criança seria capaz de entender que a licença para todas as crianças poderem correr não se aplica à sala de aula.