Cristãos devem ser patriotas?
Se a pergunta é no sentido de sentirmos orgulho pelo país em que nascemos, promovermos suas qualidades naturais e até sua ordem e progresso, sim, creio que podemos ser patriotas neste sentido. Mas acredito ser um engano tentar enxergar nosso país com lentes bíblicas ou querer aplicar a ele promessas feitas a Israel, porque todas as profecias no Antigo Testamento que falam de uma nação como sendo povo de Deus, terra prometida, nação abençoada, etc., referem-se a Israel, e não ao Brasil, Argentina, Estados Unidos, etc.
Então qual o posicionamento do cristão em relação ao país em que vive? Deve respeitar as leis e as autoridades, orar por elas para termos paz e o evangelho não venha a ser impedido, pagar impostos, dar um bom testemunho, etc. Acredito até ser normal nos animarmos com as cores de nossa bandeira e sentirmos aquele nó na garganta quando vemos a Seleção Brasileira ganhar ou qualquer brasileiro se destacar mundialmente em alguma área dos esportes, cultura, negócios, etc. Mais ainda, devemos trabalhar para o bem estar de sua população e para seu progresso. Esta foi a ordem dada por Deus aos judeus exilados na Babilônia:
“Assim diz o Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel, a todos os do cativeiro, os quais fiz transportar de Jerusalém para Babilônia: edificai casas e habitai-as; e plantai jardins, e comei o seu fruto. Tomai mulheres e gerai filhos e filhas, e tomai mulheres para vossos filhos, e dai vossas filhas a maridos, para que tenham filhos e filhas; e multiplicai-vos ali, e não vos diminuais. E procurai a paz da cidade, para onde vos fiz transportar em cativeiro, e orai por ela ao Senhor; porque na sua paz vós tereis paz” (Jr 29:4).
A passagem acima vale como figura para a Igreja, já que sua cidadania é celestial, não terrena.
(Fp 3:20) “Pois a nossa pátria [cidadania] está nos céus, de onde também aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo”.
(Hb 13:14) “Na verdade, não temos aqui cidade permanente, mas buscamos a que há de vir”.
(Jo 15:19) “Se vós fósseis do mundo, o mundo amaria o que era seu, mas porque não sois do mundo, antes eu vos escolhi do mundo, por isso é que o mundo vos odeia”.
Mas devemos ter cuidado para não entrar na corrente da Teologia do Pacto, que acredita em uma restauração do mundo pelo trabalho dos cristãos e considera a Igreja como mera continuação de Israel. Por isso vemos tantos cristãos sinceros trabalhando arduamente na tentativa de fincar sua bandeira aqui no mundo, exigindo que no dinheiro seja impresso “Cremos em Deus”, lutando pela colocação de crucifixos em repartições públicas, por orações nas escolas, ou promovendo uma “bancada evangélica” no Congresso, apoiando a CNBB, etc.
Também é comum vermos adesivos do tipo “Feliz a nação cujo Deus é Senhor” com a bandeira do Brasil ao lado, ou a aplicação da passagem de 2 Crônicas 7:14 para este país, quando sua aplicação e o contexto tem a ver com Israel na terra, não com qualquer país.
(2 Cr 7:14) “E se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e buscar a minha face e se converter dos seus maus caminhos, então eu ouvirei dos céus, e perdoarei os seus pecados, e sararei a sua terra”.
Da mesma forma, o versículo que se segue não está relacionado a qualquer templo religioso construído pelos homens, como muitas religiões cristãs fazem ao tentar fazer valer isto para seus templos. Deus só ordenou a construção de um templo, o de Jerusalém, e qualquer templo religioso hoje é uma caricatura ofensiva para Deus e uma deturpação da verdade.
(2 Cr 7:15-16) “Agora estarão abertos os meus olhos e atentos os meus ouvidos à oração deste lugar. Porque agora escolhi e santifiquei esta casa, para que o meu nome esteja nela perpetuamente; e nela estarão fixos os meus olhos e o meu coração todos os dias”.
Sem saber recebemos esta influência dos Estados Unidos, um país protestante e em grande parte simpatizante da Teologia do Pacto e da Teologia do Domínio (expansionista) que considera as terras norte-americanas como uma espécie de “terra prometida” e, portanto, no direito de ditar os rumos das outras nações. Na verdade o versículo acima só se aplica a uma nação, a nação de Deus na terra, que é Israel.
O Brasil, assim como os países das Américas, é uma extensão do Império Romano (um satélite ou colônia) e não existe qualquer fundamento bíblico para um arrependimento nacional neste sentido. Deus certamente se agrada do arrependimento e pode abençoar a população de um determinado território quando isto acontece em grandes números. Mas aquele território não se torna o povo de Deus, mesmo porque o povo de Deus na atual dispensação não está identificado por nenhuma fronteira nacional. A igreja está espalhada pelo mundo e os cristãos que morem na China não são menos aos olhos de Deus do que os que moram na América.
A verdade é que os países onde a luz do evangelho brilhou (ocidente) são identificados na profecia como a Babilônia. Eles serão destruídos na grande tribulação e nada restará. As nações gentias que serão abençoadas no reino milenar de Cristo na terra serão principalmente aquelas que ignoram hoje o evangelho (principalmente oriente). Aí sim, territórios como a China, serão abençoados, enquanto países como o Brasil amaldiçoados por abrigarem a Babilônia da cristandade que tanta desonra trouxe para o nome de Cristo.
Resumindo: é um erro esperar por uma “restauração” do Brasil ou de qualquer outro país em escala nacional, em especial os países ocidentais. As profecias que se referem ao ocidente falam de uma terra completamente desolada durante o Milênio. Isto é o que Deus prepara profeticamente para a Europa e seus satélites norte, centro e sul americanos:
“Clamai, pois, o dia do Senhor está perto; vem do Todo-Poderoso como assolação... Eis que vem o dia do Senhor, horrendo, com furor e ira ardente, para pôr a terra em assolação, e dela destruir os pecadores... E visitarei sobre o mundo a maldade, e sobre os ímpios a sua iniquidade e farei cessar a arrogância dos atrevidos, e abaterei a soberba dos tiranos... Farei que o homem seja mais precioso [raro] do que o ouro puro, e mais raro do que o ouro fino de Ofir... Porque me levantarei contra eles, diz o Senhor dos Exércitos, e extirparei de Babilônia o nome, e os sobreviventes, o filho e o neto, diz o Senhor. E farei dela uma possessão de ouriços e a lagoas de águas; e varrê-la-ei com vassoura de perdição, diz o Senhor dos Exércitos. O Senhor dos Exércitos jurou, dizendo: como pensei, assim sucederá, e como determinei, assim se efetuará... Anunciai entre as nações; e fazei ouvir, e arvorai um estandarte, fazei ouvir, não encubrais; dizei: tomada está Babilônia, confundido está Bel, espatifado está Merodaque, confundidos estão os seus ídolos, e quebradas estão as suas imagens. Porque subiu contra ela uma nação do norte, que fará da sua terra uma solidão, e não haverá quem nela habite; tanto os homens como os animais fugiram, e se foram... Como quando Deus subverteu a Sodoma e a Gomorra, e as suas cidades vizinhas, diz o Senhor, assim ninguém habitará ali, nem morará nela filho de homem... Assim diz o Senhor: Eis que levantarei um vento destruidor contra Babilônia, e contra os que habitam no meio dos que se levantam contra mim. E enviarei padejadores contra Babilônia, que a padejarão, e despejarão a sua terra; porque virão contra ela em redor no dia da calamidade”. (Is 13; 14:22-23; Jeremias 50:2-3, 39; 51:2).