Posso orar no início das aulas?

Sua dúvida é se deve continuar orando com seus alunos antes de iniciar as aulas do dia. Pelo que disse, você pediu e a direção da escola autorizou que fizesse assim, sem contudo dar conotação à sua oração de ligação com alguma igreja ou denominação, mas apenas orando e agradecendo a Deus em nome de Jesus.

Se você morasse nos EUA provavelmente já estaria sendo processado por alguma mãe avessa à expressão de qualquer fé. O pior é que lá não são muçulmanos ou budistas que protestam contra orações nas escolas, e sim norte-americanos natos, vindos de famílias cristãs, porém que agora nutrem ódio contra o nome de Jesus. Esta semana em uma escola de New Jersey a direção proibiu as crianças de cantarem músicas natalinas no Natal, que agora na escola só pode ser chamado de “Festividades de Inverno” (a notícia que acabo de ler é que a escola voltou atrás após virar notícia e ser alvo de protestos).

Em minha opinião, se você começa suas aulas com uma oração e isso é feito de forma respeitosa e com a aprovação da direção da escola, continue. Sua oração pode ser a única oportunidade de alguns alunos escutarem o nome de Jesus de maneira reverente, principalmente numa época em que oração virou sinônimo de gritaria de pastores da prosperidade pedindo dinheiro no rádio e na TV e prometendo curas e carros importados para seus seguidores incautos.

O que não sou favorável é ao ensino religioso formal nas escolas, porque isso abre espaço para qualquer um querer ensinar sua religião ou contratarem um professor neutro o bastante para só deixar os alunos apáticos e indiferentes às coisas espirituais. É o que ocorre em países como a Suíça, onde há professores de religião que são ateus. Também não sou favorável à transformação oficial de espaços públicos em “ambientes cristãos”, como é o costume de se colocar um crucifixo nas dependências de escolas e prédios públicos, ou de escrever “Cremos em Deus” no dinheiro.

Mas quando a iniciativa de dar testemunho de Cristo parte de indivíduos, então tem tudo a ver com o caráter do cristão neste mundo: vivendo no mundo, porém separado dele e testemunhando para os incrédulos. Portanto, se um dia a direção decidir proibir as orações você terá de sujeitar-se a ela e parar, aproveitando outras horas e ocasiões para testemunhar do evangelho. Mas é claro que se um dia o governo do país como um todo proibir o evangelho, os cristãos deverão continuar nos bastidores evangelizando, como acontece nos países onde a fé cristã é proibida.

Quando jovem, eu lecionava em uma escola estadual de primeiro grau em Alto Paraíso de Goiás. Na época eu estava lá recém-convertido e cheio de idealismo, e a cidade era muito pequena, longe de tudo e com serviços públicos bem precários. Por causa da falta de professores eu e minha esposa lecionávamos várias matérias cada um para classes com crianças dos onze aos vinte anos de idade (sim, havia alguns marmanjos atrasados).

Como a luz da cidade vinha de um pequeno gerador instalado numa pequena barragem, quando chegava a época da seca era comum faltar luz. O operador daquela “micro hidrelétrica” ficava sentado num banquinho pilotando um volante que abria ou fechava a vazão da água, aumentando ou diminuindo a potência gerada. Mas na seca ele era obrigado a fechar a torneira durante algum tempo e esperar a represa encher para poder abrir de novo. Como as aulas eram noturnas, as aulas ficavam entrecortadas com intervalos escuros, durante os quais simplesmente aguardávamos a luz voltar com os alunos dentro da sala jogando conversa fora.

Então tive uma ideia. Comprei uma caixa de Novos Testamentos e dei de presente para todos os meus alunos. Cada um também ganhou uma vela e uma caixa de fósforos e, como a direção da escola não nos obrigava dar aulas nos períodos escuros, podíamos fazer o que bem entendêssemos. E eu bem entendi que seria proveitoso para os alunos se estudássemos juntos o evangelho de João. Era interessante ver que eles gostavam tanto das leituras (cada um podia ler um versículo) que até vibravam quando a luz começava a diminuir até se apagar por completo. Então as velas saíam das mochilas e em instantes estavam todos com suas carteiras iluminadas e com seus Novos Testamentos abertos, famintos pela Palavra de Deus.

Tenho notícia de que alguns de meus alunos (hoje já adultos) se converteram depois daquela época em que puderam ouvir o puro evangelho de Cristo, e Deus é glorificado por isso.