Somos todos corruptos?

Sim, sou corrupto e você também é, e vou explicar a razão de pensar assim. Há alguns anos tomei um táxi em Curitiba e o motorista era um idoso aposentado e cheio de histórias para contar. Às vezes você aprende mais de um motorista de táxi com a sabedoria que ele adquiriu no trânsito da vida, do que na sala de aula de um mestre doutor que nunca experimentou o que diz.

O taxista contou a história de um jovem advogado que tinha transportado do escritório ao aeroporto. Ele e o jovem advogado conversavam sobre a corrupção, e o taxista afirmou que todos somos corruptos, ao que o jovem doutor discordou. Insistiu ser honesto à toda prova, que nunca seria capaz de aceitar propina, que foi criado dentro de um rígido código moral, que era íntegro e possuía uma ilibada reputação.

Conversa vai, conversa vem, o táxi chegou ao aeroporto e o motorista deu um cartão ao reputado passageiro, sugerindo: “Da próxima vez que você precisar, ligue direto para mim. Assim a gente faz esta corrida só entre nós sem passar pela cooperativa de rádio táxi e eu dou um desconto. Você iria pagar uns dois reais a menos numa corrida assim”. O advogado respondeu: “Ligo sim! Afinal dois reais sempre ajudam”. Aí o taxista cortou a bola que ele próprio tinha levantado, e falou: “Eu não disse que somos todos corruptos? Eu sugeri que a gente desse um chega-pra-lá na cooperativa e você gostou. A única diferença entre os corruptos é o preço. O seu são dois reais”.

Portanto, anote aí: Eu e você somos tão corruptos quanto todo mundo. Talvez eu e você não estejamos envolvidos em algum esquema milionário de desvio dos cofres públicos e lavagem de dinheiro, mas todos os dias corrompemos e somos corrompidos. Sim, porque para todo corrupto é preciso existir um corruptor e vice-versa. O corruptor convence você de que não é de todo errado participar do esquema e que os riscos são mínimos comparados aos benefícios. Você pondera o custo-benefício da proposta e entra num acordo. O problema é que a corrupção é um enorme escorregador. Uma vez que você decida entrar vai descer cada vez mais rápido. Já ouviu a expressão “engraxar a mão”? Pois é, numa mão bem lubrificada a propina passeia com menor atrito.

Satanás é especialista em corrupção por que é especialista em mentir. Se você quisesse patentear a mentira como se fosse uma ideia que você teve, iria descobrir que ela já foi patenteada há muito tempo. Satanás “foi homicida desde o princípio, e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso, e pai da mentira” (João 8:44).

O diabo é tão bom em mentir e enganar que conseguiu corromper a si mesmo e a um terço dos anjos do céu para que o seguissem antes mesmo de Deus criar o homem. Em Isaías 14:12 a Palavra de Deus identifica Satanás como uma “estrela”: “Como caíste desde o céu, ó estrela da manhã, filha da alva!”. Em Apocalipse 12:3-4 o apóstolo João vê “um grande dragão vermelho” cuja “cauda levou após si a terça parte das estrelas [ou anjos] do céu, e lançou-as sobre a terra”. Isaías revela o mecanismo da corrupção, o qual é acionado antes mesmo de existir um ato corrupto: “E tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu, acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono, e no monte da congregação me assentarei, aos lados do norte. Subirei sobre as alturas das nuvens, e serei semelhante ao Altíssimo” (Isaías 14:13-14).

Agora acompanhe meu raciocínio e você verá que não escapa um, pois somos todos corruptos, eu, você e até a “Madre Teresa de Calcutá”, cujo nome virou sinônimo de santidade, despojamento e dedicação. O processo de corrupção começa no íntimo de cada um e sua principal ferramenta é a mentira. Satanás contou a si mesmo uma mentira e acreditou nela. Depois ele contou uma mentira para Eva e ela, antes de acreditar na mentira de Satanás, precisou contar uma mentira a si mesma e acreditar nela. Anote isso aí: sempre que caímos em algum pecado isso começou antes em uma negociação interna entre você e você mesmo, isso obviamente com alguma ajuda exterior quando o inimigo de nossas almas ou algum de seus emissários for usado no processo.

Mas a mentira, que leva à corrupção, é dinâmica. Pense num imenso escorregador no qual você se senta e, uma vez dada a partida, não consegue parar. A corrupção é assim, vai aumentar cada vez mais. A corrupção de Satanás e seus anjos começou em tempos imemoráveis, creio que no período antes do caos na criação descrito no segundo versículo de Gênesis 1. A corrupção deste mundo, deste estado atual de coisas, começou no jardim do Éden em um processo interno de análise de custo-benefício no coração de Eva. Ela ponderou o que teria a ganhar, acreditando na mentira da Satanás, e o que ganharia acreditando na verdade de Deus, e tomou uma decisão. Escolheu a mentira.

Talvez você ainda não tenha se convencido de que seja um corrupto, então vamos lá: Você já colou numa prova? Falsificou carteira de estudante para entrar no cinema? Correu para pegar um lugar na fila antes de alguém? Fingiu não ver a grávida de pé no ônibus enquanto você viajava sentado? Estacionou em lugar proibido ou em fila dupla? Dirigiu acima da velocidade permitida? Falou ao celular enquanto dirigia? Foi para a direção depois de tomar umas Brahmas? Pediu atestado só para faltar ao trabalho? Instalou programa pirata no computador? Registrou imóvel abaixo do valor para evitar impostos? Vendeu sem nota fiscal ou negociou comprar sem nota para pagar menos? Pediu nota de valor maior para sua prestação de contas? Levou para casa material da empresa? Fingiu que trabalhava quando o chefe passou perto? Disse à mulher que trabalhou até mais tarde e ao mendigo que não tem dinheiro?

“Mas todo mundo faz!”, dirá você. “A estrada estava livre!”, dirá para si mesmo enquanto pisa no acelerador. “É só um minutinho!”, tentará se justificar, como se a placa de estacionamento para deficientes fosse capaz de ouvir seus pensamentos. Percebe um padrão aí? Somos corruptos e corruptores porque mentimos para nós mesmos. Avaliamos o custo-benefício e decidimos agir. Por isso a Palavra é categórica em qualificar o homem como incorrigível: “Porventura pode o etíope mudar a sua pele, ou o leopardo as suas manchas? Então podereis vós fazer o bem, sendo ensinados a fazer o mal” (Jeremias 13:23).

Por isso e muito mais é impossível você salvar-se a si mesmo. Deus precisa transformar você em uma nova criação, aí você passará a enxergar seu velho “eu” como crucificado e morto em Cristo na cruz do calvário. Você acha que está enganando a quem, quando veste um terno, coloca uma Bíblia debaixo do braço e vai à igreja, usando lá um vocabulário bem diferente daquele que usa no trabalho ou na escola, onde tem vergonha de dizer que crê em Cristo? Dissimulamos, tanto em um lugar como no outro, como forma de autoproteção, para que as pessoas não descubram quem realmente somos.

Os fariseus eram mestres na arte do engano ao tentarem aparentar aquilo que não eram. Não que eles fossem homens terríveis de maus, que saíssem por aí comendo criancinhas e beliscando gatinhos. Eles eram como eu, você e aquele pregador ali da esquina, que se convenceu a si mesmo de que não teria problema inventar milagres se isso deixar as pessoas felizes e mais dispostas a contribuírem para “a obra de Deus”. Afinal, pensa ele, os fins justificam os meios.

Entenda que o ser humano é pecador por natureza e é impossível mudá-lo. Ele precisa nascer de novo, começar do zero, se quiser ser salvo. Em Marcos 7:1-23 o Senhor fala da religião que cria costumes, regras e tradições na tentativa de “domesticar” esse velho homem arruinado pelo pecado. Jesus diz: “Do interior do coração dos homens saem os maus pensamentos, os adultérios, as prostituições, os homicídios, os furtos, a avareza, as maldades, o engano, a dissolução, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura. Todos estes males procedem de dentro e contaminam o homem” (Mateus 7:21-23).

A tentativa de domar o velho homem me faz lembrar daqueles desenhos animados do Tom & Jerry, em que o gato entra numa casa e prega várias tábuas na porta para o cachorrão não entrar. Aí percebe que o cachorrão já está dentro, bem atrás dele. Assim é o nosso velho homem, a carne, aquela parte de nós que é incorrigível e que Deus precisou entregar à morte por meio de um Substituto do pecador. Sim, ali na cruz Jesus não apenas tirou o pecado do mundo e pagou pelos pecados do pecador sendo feito pecado por nós. No Cristo crucificado, Deus colocou um fim ao homem da primeira criação, Adão. Já que aquele que verdadeiramente crê em Cristo é visto por Deus como tendo sido crucificado, ele é exortado a viver considerando isso:

“O primeiro homem, da terra, é terreno; o segundo homem, o Senhor, é do céu. Qual o terreno, tais são também os terrestres; e, qual o celestial, tais também os celestiais. E, assim como trouxemos a imagem do terreno, assim traremos também a imagem do celestial” (1 Coríntios 15:47-48). “Ó insensatos gálatas! Quem vos fascinou para não obedecerdes à verdade, a vós, perante os olhos de quem Jesus Cristo foi evidenciado, crucificado, entre vós?... Já estou crucificado com Cristo... o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo... E os que são de Cristo crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências” (Gálatas 3:1; 2:20; 6:14; 5:24)

O homem religioso tem duas maneiras de lidar com as imperfeições do velho homem: camuflando ou enfeitando que não tem nada de aproveitável, apenas um cadáver putrefato. Uma sepultura pode ser camuflada pela relva que a encobre, de modo que ninguém perceba que a morte está ali. Para esses o Senhor diz: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Que sois como as sepulturas que não aparecem, e os homens que sobre elas andam não o sabem” (Lucas 11:44). Ou ela pode ser caiada de branco puro e brilhante para aparentar pureza: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que sois semelhantes aos sepulcros caiados, que por fora realmente parecem formosos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda a imundícia” (Mateus 23:27).

Mas vamos voltar ao processo da corrupção que nos assola o tempo todo por meio das mentiras que contamos a nós mesmos. Nós as achamos inofensivas e sempre encontramos justificativas para elas. Você já comeu até sair pelos poros, prometendo começar um regime na segunda-feira? Você sabia que estava mentindo para si mesmo. No início do comércio eletrônico as lojas de roupas na Web perceberam que a venda de roupas femininas seria um processo mais caro. Isto porque a quantidade de devoluções e pedidos de trocas por números maiores era bem grande. Por mais que fizessem a cliente preencher um formulário com todas as medidas do corpo, as mulheres mentiam no preenchimento e acabavam recebendo uma roupa menor.

Assisti um documentário muito interessante de Dan Ariely, autor de “A Mais Pura Verdade Sobre a Desonestidade”. Ele é professor de psicologia e economia comportamental e revela várias pesquisas que demonstram como somos todos corruptos e corruptores. Isto porque mentimos para nós mesmos negociando em nosso íntimo os prós e contras de agir de forma imoral ou antiética. Algumas conclusões dele são interessantes: Você pode não ser capaz de roubar uma moeda do caixa da loja onde trabalha, mas não pensa duas vezes antes de enfiar na bolsa um lápis ou caneta de maior valor. Isto porque nosso código moral diz que roubar dinheiro é errado, mas se esse dinheiro estiver camuflado na forma de um objeto corriqueiro as coisas mudam de figura. Ao menos dentro de nossa cabeça.

Se você colocar numa escola uma máquina de vendas de refrigerantes que devolva o dinheiro junto com o refrigerante ninguém irá reclamar ou avisar a direção. Mas todos irão avisar os amigos, mesmo sabendo que alguém está sendo lesado pelo defeito. O autor Dan Ariely descobriu que os alunos burlavam menos nas provas se antes tivessem jurado não mentir com a mão sobre uma Bíblia, mesmo que fossem ateus, ou se tivessem assinado um documento dizendo estarem de acordo com o código de ética e conduta da universidade, código este que nem mesmo existia. A simples ideia de estarem racionalmente inseridos num contexto moral inibia a mentira. Eles eram também mais propensos a corromper e serem corrompidos se não estivessem olhando diretamente para o que estavam fazendo.

Isto também explica a razão de você roubar a caneta, mas não o dinheiro da loja onde trabalha. O dinheiro está oculto na caneta, você não o vê. É também por isso que você estende a mão para o policial e entrega o documento do carro com uma nota dentro, enquanto olha para a estrada à sua frente. Ele retira o dinheiro e enfia no bolso olhando para o lado, não para o dinheiro. Na hora de praticarmos o ilícito temos a impressão de que, se não olharmos diretamente para a coisa em si, o ilícito fica parecendo ter sido praticado por um sujeito indeterminado.

A desonestidade é também como uma balança: de um lado estamos sempre avaliando o que podemos ganhar, e do outro o quanto essa transação poderá riscar nossa reputação. O problema é que, como acontece com qualquer viciado em drogas, a quantidade de entorpecente é sempre crescente, porque o organismo se acostuma e pede mais, enquanto a razão vai ficando mais experiente em arranjar desculpas, até que estas acabem e acabem ficando totalmente absurdas para quem não está dopado. É por isso que o pior viciado é aquele que não se considera viciado, e o pior corrupto é aquele que não se considera desonesto. Ele está constantemente fazendo um discurso para si mesmo a fim de neutralizar seu pecado por meio de raciocínios. Somos como Satanás oferecendo a nós mesmos benefícios e tentando argumentar que as consequências ruins disso são desprezíveis.

Se você chegou até aqui e ainda não está convencido de que é corrupto e corruptor de si mesmo, então não há salvação para você. Paulo escreveu que “Cristo Jesus veio ao mundo, para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal” (1 Timóteo 1:15). Não precisaríamos de um Salvador se fôssemos perfeitos e quando entendemos que a corrupção não é algo externo, mas um mal que habita em nosso coração, só podemos clamar: “Miserável homem que eu sou! Quem me livrará do corpo desta morte?” (Romanos 7:24).

Você não melhora aquela carne podre que encontra no refrigerador; você a joga fora e compra uma fresca e saudável. Assim Deus faz com você como um todo: Na cruz ele “jogou fora” o velho ser criado à semelhança de Adão. “Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo... Porque em Cristo Jesus nem a circuncisão [que é a tentativa de se domar a carne], nem a incircuncisão tem virtude alguma, mas sim o ser uma nova criatura” (2 Coríntios 5:17; Gálatas 6:15).

Aqueles que creem em Cristo como Salvador têm resolvida a questão judicial de seus pecados, pois eles foram todos pagos naquele sacrifício na cruz que também lançou na morte o velho homem. Resta agora esperar que os benefícios todos dessa obra já consumada se concretizem também no corpo pela transformação ou ressurreição no dia do arrebatamento da Igreja.

“Porque convém que isto que é corruptível se revista da incorruptibilidade, e que isto que é mortal se revista da imortalidade. E, quando isto que é corruptível se revestir da incorruptibilidade, e isto que é mortal se revestir da imortalidade, então cumprir-se-á a palavra que está escrita: Tragada foi a morte na vitória. Onde está, ó morte, o teu aguilhão? Onde está, ó inferno, a tua vitória? Ora, o aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei. Mas graças a Deus que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Coríntios 15:53-57).

Percebe agora a loucura que é tentar justificar-se enganando-se a si mesmo de que você não é um corrupto pecador, e achar que guardando alguns mandamentos da Lei de Deus vai se safar da condenação no lago de fogo? Nada disso vai dar certo, a menos que seja uma nova criatura. O pecado irá levá-lo à morte, como um aguilhão ou anzol que fisga e arrasta o peixe que se debate em vão. E a Lei dada a Moisés nada mais é do que a força do pecado, isto é, o instrumento que revela a malignidade do pecado para dar ao pecador a justa condenação. A Lei não salva, a Lei só condena.

Sabia que as pessoas são menos propensas a mentir em um questionário quando a linha da assinatura está no topo da página? Isto porque elas primeiro assumem o compromisso, antes de fazer declarações, as quais, na sua mente, estariam sendo anônimas até chegarem ao final da página para assiná-las. É por isso que a vida cristã começa no compromisso pessoal com Cristo. Primeiro você assina que crê em Jesus como Salvador, depois, tendo seus pecados todos perdoados e a garantia de vida eterna e entrada no céu, você irá viver aqui na terra a vida que Deus espera de um filho seu. Mas não se engane achando que vivendo ainda neste corpo de carne tudo será perfeito. Não, você continuará negociando internamente os prós e contras de agir desonestamente e, se der a mão ao pecado, logo ele vai querer também o braço. Lembre-se do escorregador.

Portanto, antes de bufar e zurrar impropérios contra os políticos e empresários corruptos e corruptores flagrados nos esquemas de desvios de verbas públicas e lavagem de dinheiro, reconheça que você não é nem um pouco diferente deles. Você só não teve a ocasião que eles tiveram para ser mais ladrão do que já é aos olhos daquele que tudo sabe e tudo vê. Corruptos todos somos por natureza: eu, você e a Madre Teresa de Calcutá. A salvação é para aqueles que reconhecem o seu pecado e recorrem a Cristo para perdão, e não para os que passam óleo de peroba na cara e uma demão de cal em sua sepultura para fazê-la parecer limpa e pura. E se você disser que não tem pecado já está pecando, justamente com o pecado que deu início ao problema da corrupção de anjos e homens: a mentira.

“Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e não há verdade em nós. Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda a injustiça. Se dissermos que não pecamos, fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não está em nós” (1 João 1:8).

Se você chegou até aqui achando que a conclusão é que não há problema em mentir, já que todos mentimos e basta apenas confessarmos, não entendeu nada do que eu disse. Ou se achou que apenas dei mais dicas de como não mentir para com isso ser salvo, também não entendeu que o próprio Deus disse que é impossível ao homem natural não mentir. Em 1 Reis 8:46, ao inaugurar o Templo, o rei Salomão, inspirado por Deus, deu os recursos para o caso de os israelitas pecarem. Ele diz: “Quando pecarem contra ti, pois não há homem que não peque...” e em seguida apontou para recursos de graça que poderiam encontrar pela confissão e conversão.

O ponto que quero ressaltar é que, a menos que você seja nova criatura, não terá chances. Tudo nesta criação usa a mentira como forma de corrupção, até os animais. Quando o camaleão muda de cor ele está “mentindo” para comer ou não ser comido. Quando você tinge o cabelo, usa lentes coloridas ou aumenta o salto de seus sapatos está querendo passar aos outros uma imagem diferente da real. Você naturalmente tem uma imagem de si mesmo, não gosta muito dela e quer melhorá-la para os de fora. Essa autoproteção de imagem serve muitas vezes de escudo moral para não despencarmos no escorregador da corrupção, mas sua eficácia vai até certo ponto, pois usa de padrões relativos, geralmente nos levando a comparar nossa maneira de ser com alguém que é pior do que nós a fim de nos sentirmos melhor.

John Nelson Darby escreveu: “Quando alguém começa a descobrir que não é comparando a si próprio com os outros que ele será julgado, mas pela comparação com o próprio Deus, então sua consciência começa a ser despertada para pensar a respeito do pecado como quem está diante de Deus. Aí sim ele se reconhecerá culpado e arruinado; e não tentará justificar a si mesmo apontando para alguém que seja pior, mas ficará ansioso por saber se é possível que Deus, diante de quem ele sabe estar condenado, poderá desculpá-lo ou perdoá-lo.”

A salvação não é dos que se recriam a si mesmos segundo padrões que lhes são convenientes, sejam eles dados por uma religião, código de conduta ou pela “Regra Áurea”. A salvação é dos que são novamente criados segundo o Homem perfeito que é Cristo ressuscitado. Depois de termos sido salvos pela fé a Palavra de Deus nos exorta a vivermos segundo os padrões desse novo homem, para o qual a mentira e a corrupção são coisas inadmissíveis: “Não mintais uns aos outros, pois que já vos despistes do velho homem com os seus feitos, e vos vestistes do novo, que se renova para o conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou” (Colossenses 3:9-10). Como está dito aí, o velho homem é mantido fora de cena, como uma roupa velha que jogamos no fundo do baú, e é o novo homem que deve ser visto, porque é com este que entraremos na presença de Deus. “O que usa de engano não ficará dentro da minha casa; o que fala mentiras não estará firme perante os meus olhos” (Salmos 101:7).