Jesus amava mais a João que aos outros?

Entendo que o discípulo que Jesus amava era o próprio João e isso não tem nada a ver com ele ter amado menos os outros discípulos. Jesus amava a todos igualmente e você encontra a mesma expressão a respeito de Marta, Maria e Lázaro: “Ora, Jesus amava a Marta, e a sua irmã, e a Lázaro” (João 11:5).

Mas a expressão “o discípulo que Jesus amava” aparece seis vezes no evangelho de João e nos ensina algumas coisas. É João o discípulo que pergunta a Jesus quem iria traí-lo. Pedro pediu a ele que perguntasse porque João era o que estava mais próximo, reclinado ao seio do Senhor: “Ora, um de seus discípulos, aquele a quem Jesus amava, estava reclinado no seio de Jesus. Então Simão Pedro fez sinal a este, para que perguntasse quem era aquele de quem ele falava. E, inclinando-se ele sobre o peito de Jesus, disse-lhe: Senhor, quem é?” (João 13:23).

Você vive assim, reclinado sobre o peito de Jesus e ouvindo suas palavras bem de pertinho?

Na cruz Jesus se dirige à sua mãe para mostrar que a partir daquele momento seria João quem cuidaria de Maria (e não o contrário como gostariam os católicos). “Ora Jesus, vendo ali sua mãe, e que o discípulo a quem ele amava estava presente, disse a sua mãe: Mulher, eis aí o teu filho. Depois disse ao discípulo: Eis aí tua mãe. E desde aquela hora o discípulo a recebeu em sua casa” (João 19:26-27).

Você é o tipo de pessoa que Jesus colocaria outros sob o seu cuidado por ser hospitaleiro e estar sempre pronto e disposto a cuidar?

Quando Jesus ressuscita é a vez de Maria Madalena levar a notícia da ressurreição a Pedro e João. Os dois correm até o sepulcro, mas é João quem corre mais e chega primeiro, porém dá a Pedro a primazia de entrar no sepulcro vazio: “Correu, pois, e foi a Simão Pedro, e ao outro discípulo, a quem Jesus amava, e disse-lhes: Levaram o Senhor do sepulcro, e não sabemos onde o puseram. Então Pedro saiu com o outro discípulo, e foram ao sepulcro. E os dois corriam juntos, mas o outro discípulo correu mais apressadamente do que Pedro, e chegou primeiro ao sepulcro. E, abaixando-se, viu no chão os lençóis; todavia não entrou. Chegou, pois, Simão Pedro, que o seguia, e entrou no sepulcro, e viu no chão os lençóis” (João 20:2-6).

Será você aquele que está sempre disposto a conhecer mais de Jesus, ao mesmo tempo que reconhece e respeita os irmãos mais velhos?

Mais tarde, enquanto os discípulos pescavam, foi João o primeiro a reconhecer que tinha sido Jesus que, da praia, havia dito para jogarem a rede do lado direito do barco: “Então aquele discípulo, a quem Jesus amava, disse a Pedro: É o Senhor. E, quando Simão Pedro ouviu que era o Senhor, cingiu-se com a túnica (porque estava nu) e lançou-se ao mar” (João 21:7).

Você é do tipo que reconhece Jesus “em todos os teus caminhos” e sabe que “ele endireitará as tuas veredas?” (Provérbios 3:6).

No final do Evangelho de João, depois de Jesus revelar a Pedro como seria sua morte, ele quer saber o que será de João, mas o Senhor faz uma revelação que os discípulos entendem erroneamente como se João não fosse morrer.

“E Pedro, voltando-se, viu que o seguia aquele discípulo a quem Jesus amava, e que na ceia se recostara também sobre o seu peito, e que dissera: Senhor, quem é que te há de trair? Vendo Pedro a este, disse a Jesus: Senhor, e deste que será? Disse-lhe Jesus: Se eu quero que ele fique até que eu venha, que te importa a ti? Segue-me tu. Divulgou-se, pois, entre os irmãos este dito, que aquele discípulo não havia de morrer. Jesus, porém, não lhe disse que não morreria, mas: Se eu quero que ele fique até que eu venha, que te importa a ti? Este é o discípulo que testifica destas coisas e as escreveu; e sabemos que o seu testemunho é verdadeiro” (João 21:20-24).

Conhecer mais daquele que irá voltar e esperar ansiosamente por Jesus tem sido uma constante em sua vida?

Creio que Jesus não estava dizendo que joão seria imortal, mas o Senhor simplesmente disse que ele permaneceria até sua vinda no sentido de que a João seria dado escrever o Apocalipse que é a descrição da volta de Cristo. Ligando o versículo 20 ao versículo 24 você descobre quem é o discípulo do qual Pedro estava falando, ou seja, o mesmo que escreveu o evangelho. “E Pedro, voltando-se, viu que o seguia aquele discípulo a quem Jesus amava... Este é o discípulo que testifica destas coisas e as escreveu”.

Voltando à sua dúvida, será que João era mais amado que os outros discípulos? De maneira nenhuma. O amor de Jesus é absoluto e ele declarou amar a todos como Deus os amava: “Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis... Como o Pai me amou, também eu vos amei a vós; permanecei no meu amor” (João 13:34; 15:9). O que ocorre é que o amor de João por Jesus era visível, claro e notório, porque João tinha um grande apego a ele.

Você percebe isso quando, numa família, um dos filhos é o mais “grudado” no pai ou na mãe. Daí ser natural ele ficar conhecido como o “discípulo a quem Jesus amava”. Um filho que vive grudado em sua mãe também é percebido por outros que a mãe está sempre grudada naquele filho, parecendo até ser maior o amor dela por aquele. Mas uma mãe verdadeira sabe que ama a todos os seus, ainda que de formas diversas, mas mesmo assim é amor.

Acredito que Deus tenha revelado para nós essa expressão para demonstrar qual o relacionamento que ele quer que tenhamos com Cristo. Por estar sempre próximo de Jesus era João quem ouvia de primeira mão o que o Senhor dizia. Assim deve ser a comunhão do crente em Jesus: viver reclinado sobre o seu seio para ouvir de primeira mão as suas palavras. Por que você acha que alguns têm mais sensibilidade do que outros para entender o que o Senhor diz e agir conforme a vontade dele? João, em sua epístola, podia dizer que estava entre aqueles que ouviram, viram, contemplaram e tocaram “da Palavra da vida”, que é Jesus.

“O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que temos contemplado, e as nossas mãos tocaram da Palavra da vida” (1 João 1:1).

Você ouve a Jesus por meio de sua Palavra, vê a ele com os olhos da fé, o contempla onde agora está glorificado, e tem o privilégio de “tocá-lo” de tão íntima comunhão que tem com ele?

Mas antes que alguém pense que o amor de Jesus por alguém é condicional, ou seja, depende de a pessoa estar sempre perto dele, reclinada sobre o seu seio, ouvindo sua Palavra, etc., é bom lembrar que quando ele próprio diz que “Deus amou ao mundo” (João 3:16) isso inclui todas as pessoas, porque antes mesmo de elas existirem Deus já amava. Ou como Deus iria entregar seu Filho para morrer por inimigos seus se não os tivesse amado antes?

“Nós o amamos a ele porque ele nos amou primeiro” (1 João 4:19), e sabe quando foi que esse amor teve início? Nunca! Isto porque o amor de Deus é eterno, não tem começo nem fim. O Pai amou o Filho Jesus “antes da fundação do mundo” (João 17:24), ou seja, na eternidade passada antes que existisse a matéria, e ao Jesus dizer ao Pai que amava os seus “como me tens amado a mim” (João 17:23). Isto significa que ele também amou os seus antes da fundação do mundo, assim como amou aquele jovem que não quis segui-lo.

“E Jesus, olhando para ele, o amou e lhe disse: Falta-te uma coisa: vai, vende tudo quanto tens, e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, toma a cruz, e segue-me. Mas ele, pesaroso desta palavra, retirou-se triste; porque possuía muitas propriedades” (Marcos 10:21-22).

Ao falar dos salvos, o apóstolo Paulo escreve que Deus “nos elegeu nele (em Cristo) antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor” (Efésios 1:4). Não foi por acidente que Jesus morreu, mas porque “Cristo, como... um cordeiro imaculado e incontaminado... foi conhecido, ainda antes da fundação do mundo, mas manifestado nestes últimos tempos por amor de vós” (1 Pedro 1:19).