Devemos celebrar dias santos?

Quando publiquei numa rede social um texto de J. N. Darby, esclarecendo que “é uma injúria chamar a Cristo de 'Rei da Igreja'“, como faz o presbiterianismo e outras instituições religiosas, um presbiteriano correu defender sua denominação. Para ele parecia não fazer diferença se a frase tinha ou não fundamento bíblico, pois se a tradição de sua denominação ensinava assim, ninguém deveria contestar. O correto seria imitar os varões de Beréia, que “eram mais nobres que os de Tessalônica; pois receberam a palavra com toda a avidez, examinando as Escrituras todos os dias para ver se as coisas eram, de fato, assim” (Atos 17:11).

Quando em outra postagem me queixei do barulho dos rojões, sem falar de religião e achando que fosse alguma carreata de concessionária de veículos anunciando promoções, recebi uma resposta irada de uma católica que julgou erroneamente que eu estaria criticando o dia de Santa Rita de Cássia. Preocupado com essa ofensa não intencional, fui conferir e descobri que já tinha se passado uma semana desde o tal “dia santo”. Mas mesmo que fosse, como eu iria saber? Levo a sério a admoestação da Palavra de Deus para não guardarmos “dias, e meses, e anos” (Gálatas 4:10).

Reações como estas não são novidade, e infelizmente muitos cristãos defendem com unhas e dentes as instituições religiosas e seus costumes e tradições, sem perceberem que foi exatamente essa a atitude dos judeus que condenaram o Senhor Jesus. Assim que Jesus nasceu, “alarmou-se o rei Herodes, e, com ele, toda a Jerusalém” (Mateus 2:3), pois se ele fosse realmente o “Rei dos Judeus” aquilo iria mexer com suas instituições. O Rei consultou os sacerdotes e escribas para ver se haveria algum Rei de Israel que nasceria em Belém, e eles mostraram a resposta na profecia de Miqueias:

“E tu, Belém, terra de Judá, não és de modo algum a menor entre as principais de Judá; porque de ti sairá o Guia que há de apascentar a meu povo, Israel” (Mateus 2:6).

O leitor atento irá perceber que até mesmo os escribas e sacerdotes usaram as escrituras de forma malandra. Omitiram a parte da profecia que mostra que seria inútil se opor àquele nascido em Belém, pois ele não era ninguém menos que o próprio Filho Eterno de Deus vindo em carne. A continuação do que Miqueias declarou em sua profecia original era: “...e cujas origens são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade” (Miquéias 5:2).

Que a guarda de dias, e especialmente para honrar homens, não tem fundamento na doutrina dos apóstolos, é fácil de perceber. Quando o centurião Cornélio se prostrou aos pés de Pedro foi por este repreendido: “Levanta-te, que eu também sou homem” (Atos 10:26). João, impressionado pela presença de um anjo, fez o mesmo e igualmente recebeu uma bronca: “Olha, não faças tal; porque eu sou conservo teu e de teus irmãos, os profetas, e dos que guardam as palavras deste livro. Adora a Deus” (Apocalipse 22:9).

Alguns cristãos veneram pessoas como Pedro, Paulo, João, Maria, Tiago e tantos outros personagens bíblicos, por ignorância ou tradição, mas estes nunca teriam aceitado a adoração, louvor ou exaltação feita por outros cristãos. Certamente eles não iriam querer morrer comidos por vermes por aceitarem a veneração feita por homens. Foi isso que aconteceu quando “em dia designado, Herodes, vestido de trajo real, assentado no trono, dirigiu-lhes a palavra; e o povo clamava: É voz de um deus, e não de homem! No mesmo instante, um anjo do Senhor o feriu, por ele não haver dado glória a Deus; e, comido de vermes, expirou” (Atos 12:21-23).

Não foram poucas as vezes que o Senhor repreendeu os judeus por exaltarem a homens, uma prática não restrita ao catolicismo, mas também encontrada no protestantismo com seus dignitários chegando a usar títulos como “Reverendo”, o qual nas Escrituras só é dado a Deus, e até nomes de pessoas para suas “igrejas” como “Luterana” ou “Wesleyana”. Quanto ao uso de fogos de artifício em comemorações religiosas, o catolicismo emprestou o costume dos pagãos chineses que, a partir do século 12, passaram a utilizá-los para espantar os maus espíritos. No meu caso, rojões só servem para espantar o bom humor, meu e dos cachorros da vizinhança.

Assim como fizeram os judeus dos tempos de Jesus, infelizmente muitos cristãos hoje estão mais comprometidos com suas instituições, costumes e superstições do que com a Verdade das escrituras. Por isso simplesmente contra-atacam qualquer um que coloque em risco essas instituições e tradições criadas por homens, as quais acabarão se unindo no final na forma de uma Grande Meretriz ávida por montar a besta da autoridade civil após o arrebatamento da Igreja, só para ser vergonhosamente desmontada e devorada pela mesma besta um pouco antes de Cristo voltar para reinar (leia Apocalipse caps. 17 e 18).

Sabendo que essas coisas irão terminar, o cristão jamais deveria estar compromissado com nomes de instituições religiosas, sejam elas grandes ou pequenas, ou com os costumes criados pelos homens. Sua ocupação deveria ser somente com o nome do Senhor e sua Palavra, ainda que isso seja visto como algo pequeno e desprezível aos olhos do mundo. E realmente é, mas o que o Senhor pensa é o que importa.

“Conheço as tuas obras — eis que tenho posto diante de ti uma porta aberta, a qual ninguém pode fechar — que tens pouca força, entretanto, guardaste a minha palavra e não negaste o meu nome” (Apocalipse 3:8).

“Porque o que entre os homens é elevado, perante Deus é abominação” (Lucas 16:15).