A cruz de Cristo foi um fracasso como o Papa afirmou?
Andei recebendo muitas mensagens de pessoas perguntando se eu concordava com o que o Papa disse, e eu simplesmente respondia que não costumo acompanhar notícias do que o Papa diz ou faz. Quando vejo a palavra “Papa” no noticiário nem me preocupo em saber de que se trata. Não é implicação ou sentimento anticatólico, mas simplesmente por enxergar nele um homem comum querendo ser algo que não é e nem tem respaldo bíblico.
Basta ver que ele leva títulos como “sacerdote”, algo que hoje só cabe a Cristo nos céus, e a nenhum homem na terra. Se estivéssemos nos tempos do Antigo Testamento e o Papa fosse um israelita não veria problema em ele se denominar sacerdote, desde que pertencesse à linhagem sacerdotal. Mas quando Cristo morreu e ressuscitou Deus colocou um fim ao judaísmo e deu início ao povo celestial de Deus, a Igreja, na qual todos os salvos por Cristo formam um sacerdócio santo representados nos céus pelo único e genuíno Sumo Sacerdote, Cristo. O apóstolo Pedro, que supostamente deveria endossar a existência de um sacerdote humano como o Papa declara ser, escreveu acerca de todos os crentes como pedras e sacerdócio santo edificados sobre a única Rocha reconhecida por Deus: Cristo:
“Vós também, como pedras vivas, sois edificados casa espiritual e sacerdócio santo, para oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por Jesus Cristo. Por isso também na Escritura se contém: Eis que ponho em Sião a pedra principal da esquina, eleita e preciosa; e quem nela crer não será confundido. E assim para vós, os que credes, é preciosa, mas, para os rebeldes, a pedra que os edificadores reprovaram, essa foi a principal da esquina, e uma pedra de tropeço e rocha de escândalo, mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (1 Pedro 2:5-9).
A carta aos Hebreus também mostra que o privilégio restrito ao Sumo Sacerdote do judaísmo, de ter acesso ao santíssimo lugar representando o povo, é hoje estendido a todo crente em Cristo: “Tendo, pois, irmãos, ousadia para entrar no santuário, pelo sangue de Jesus, pelo novo e vivo caminho que ele nos consagrou, pelo véu, isto é, pela sua carne, e tendo um grande sacerdote sobre a casa de Deus, cheguemo-nos com verdadeiro coração, em inteira certeza de fé, tendo os corações purificados da má consciência, e o corpo lavado com água limpa, retenhamos firmes a confissão da nossa esperança; porque fiel é o que prometeu” (Hebreus 10:19-23).
A mesma epístola aos Hebreus também deixa claro o privilégio que temos com um Grande Sumo Sacerdote assim: “Visto que temos um grande sumo sacerdote, Jesus, Filho de Deus, que penetrou nos céus, retenhamos firmemente a nossa confissão. Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; porém, um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado. Cheguemos, pois, com confiança ao trono da graça, para que possamos alcançar misericórdia e achar graça, a fim de sermos ajudados em tempo oportuno” (Hebreus 4:14-16). “Ora, a suma do que temos dito é que temos um sumo sacerdote tal, que está assentado nos céus à destra do trono da majestade, ministro do santuário, e do verdadeiro tabernáculo, o qual o Senhor fundou, e não o homem” (Hebreus 8:1-2).
Portanto, com tamanho privilégio, por que eu iria me ocupar com o que diz ou faz um homem que se declara “sacerdote”? Para que eu precisaria dele se tenho livre acesso a Deus por intermédio de Jesus, meu Sumo Sacerdote? Além disso, seria muita ingenuidade minha acreditar que um homem como o Papa, cercado de luxo e portando uma mitra tecida com fios de ouro e joias preciosas, realmente seja um “Servo dos Servos”, outro título dado aos Papas. O Servo dos Servos que conheço é aquele que, “sendo rico, por amor de vós se fez pobre; para que pela sua pobreza enriquecêsseis” (2 Coríntios 8:9), e jamais aprovaria tamanha ostentação, especialmente de alguém que diz representá-lo.
Se você for um católico e admirador do Papa, entenda que estas palavras não têm por objetivo denegrir a pessoa que ocupa o trono papal, mas exaltar a Cristo, o único que merece nossa total consideração, respeito e admiração como Advogado e Sacerdote diante de Deus. A devoção a Cristo não pode ser dividida com ninguém. Abaixo dele temos todos os salvos por ele, igualmente sacerdotes, igualmente pedras vivas. “Porquanto há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem” (1 Timóteo 2:5). Mas não ache que eu desaprovo tudo no Papa. Não, tem algo que até gosto nele, e é o fato de também se chamar Mario. Sim, seu verdadeiro nome não é Francisco mas Jorge Mario Bergoglio.
Outra razão de eu não me interessar por notícias que falam do Papa, é que já faço ideia do que ele irá dizer. Não sei quantos Papas já apareceram naquela janelinha, mas o discurso é sempre o mesmo: “Parem de fazer guerras... Vamos viver em paz... Oremos pelo mundo... Vamos construir um mundo melhor...” etc. Muito bonito se palavras assim saírem de uma candidata a miss que só leu o “Pequeno Príncipe”, mas para alguém que lê a Bíblia a ideia de um mundo de paz e amor soa como delírio. Isto porque a Palavra de Deus deixa muito claro que o cristão não deve esperar encontrar paz e segurança neste mundo, mas o contrário:
“Não cuideis que vim trazer a paz à terra... Não rogo pelo mundo... Sabemos que somos de Deus, e que todo o mundo está no maligno... Pois que, quando disserem: Há paz e segurança, então lhes sobrevirá repentina destruição, como as dores de parto àquela que está grávida, e de modo nenhum escaparão” (Mateus 10:34; João 17:9; 1 João 5:19; 1 Tessalonicenses 5:3).
Mas o fato de não concordar com a posição que o Papa ocupa, ou não me interessar pelo que ele diz, não significa que deva sair por aí atirando pedras em católicos ou mesmo nos que compõem o clero romano. Tenho certeza de que encontrarei muitos católicos salvos no céu, não porque foram católicos, mas porque creram verdadeiramente em Cristo como Salvador.
E é aí que entra o que o Papa disse, com o que eu não me preocupei e nem procurei saber, até alguém me enviar um vídeo como se ele tivesse falado uma barbaridade ou desonrado a Pessoa e obra de Cristo. Os comentários são do tipo: “Você ouviu o Papa dizer que a cruz de Cristo foi um fracasso?!!! Que heresia!!!”. Ok, então vamos ver o que o Papa realmente disse, que ele depois teria repetido numa versão compacta em outro discurso, para saber se está certo ou errado.
“A cruz nos mostra uma maneira diferente de avaliar o sucesso. A nossa [ocupação] é plantar as sementes: Deus vê os frutos de nosso trabalho. E se às vezes nossos esforços e trabalhos parecem fracassar e não produzir fruto, precisamos nos lembrar de que somos seguidores de Jesus... e sua vida, humanamente falando, terminou em fracasso, no fracasso da cruz”. - Jorge Mario Bergoglio ou “Papa Francisco”.
A razão de muitos evangélicos gritarem tanto é a mesma de muitos estudantes brasileiros não irem bem nas provas de redação. Ninguém mais sabe ler e interpretar textos como antigamente. Será que você percebeu que o Papa disse “humanamente falando”? Pois é, sabe o que significa? Ele está falando da perspectiva humana, tanto do trabalho do cristão, como da obra de Cristo na cruz. Se você dedica tempo e dinheiro para levar o evangelho, como seus amigos incrédulos veem isso? Será que dizem: “Uau! Que trabalho importante o Zé está fazendo!”. Ou será que dizem: “O Zé é um otário! Fica gastando tempo e dinheiro falando de religião!” Pois é, para os seus amigos, “humanamente falando”, você é um otário.
Do ponto de vista humano, as coisas de Deus são loucura para o homem natural. “Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. Mas o que é espiritual discerne bem tudo, e ele de ninguém é discernido” (1 Coríntios 2:14-15). Paulo explica que tinha sido enviado para evangelizar “para que a cruz de Cristo não se faça vã” (1 Coríntios 1:17). O que ele quis dizer? Que a menos que uma pessoa seja evangelizada e creia no evangelho e passe a ser nova criação, a cruz de Cristo não fará qualquer sentido. Será vista como uma derrota ou fracasso. Afinal, que Salvador é esse ali pregado naquela cruz cercado por malfeitores? Que fim inglório foi esse para alguém que era esperado para libertar o povo? No mesmo capítulo de 1 Coríntios Paulo continua mostrando o contraste entre o ponto de vista humano - ou o “humanamente falando” a que o Papa se referiu - e o ponto de vista de Deus:
“Porque a palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus.... Porventura não tornou Deus louca a sabedoria deste mundo? Visto como na sabedoria de Deus o mundo não conheceu a Deus pela sua sabedoria, aprouve a Deus salvar os crentes pela loucura da pregação. Porque os judeus pedem sinal, e os gregos buscam sabedoria; mas nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus, e loucura para os gregos... Porque a loucura de Deus é mais sábia do que os homens; e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens. Porque... Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; e Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes; e Deus escolheu as coisas vis deste mundo, e as desprezíveis, e as que não são, para aniquilar as que são” (1 Coríntios 1:18-28).
O Papa se referiu à visão humana da cruz como fracasso, mas ele também poderia ter dito que a cruz de Cristo é “loucura... escândalo... fraqueza... vil... desprezível”, pois são os adjetivos que Paulo usa, tanto para a mensagem da cruz, como para os que creem nela. Não se esqueça de que a ideia de fracasso estava muito clara na mente dos tristes e desiludidos discípulos no caminho de Emaús quando eles comentaram: “...os nossos príncipes o entregaram à condenação de morte, e o crucificaram. E nós esperávamos que fosse ele o que remisse Israel” (Lucas 24:20-21).
Qual a visão humana que o mundo tem de Jesus? Aquela que só pode constatar pelos sentidos. Eles olham e veem um filme de Mel Gibson e só. Uma parede de derrota e fracasso. Por que um crente em Jesus acha absurda a ideia da cruz como fracasso? Porque ele enxerga o que está atrás dessa parede; com os olhos da fé ele vê a coisa toda, e não a cruz como ponto final na trajetória de Jesus. Lembre-se: Ninguém viu Jesus ressuscitado, só os discípulos. Nenhum incrédulo viu Jesus ascender aos céus, só os crentes. Ninguém o verá quando viver buscar sua Igreja no encontro entre nuvens nos ares, só os salvos.
Então como poderia o mundo - o “humanamente falando” da expressão usada pelo Papa - enxergar outra coisa que não um fracasso completo? Os mais bem-intencionados podem ver Jesus crucificado com a piedade com que enxergam um Tiradentes enforcado, mas só isso. E você, como o enxerga? Se ficar só com os olhos da carne não verá muito mais que uma “Via Crucis” ou um filme de Hollywood. Mas, se crer nele, terá olhos de fé para poder afirmar: “Vemos, porém, coroado de glória e de honra aquele Jesus que fora feito um pouco menor do que os anjos, por causa da paixão da morte, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todos” (Hebreus 2:9). Você verá que a cruz é apenas a ponta visível do iceberg, pois terá então a certeza da ressurreição e de todo o resultado glorioso daquele Homem crucificado em fraqueza e ignomínia. Se Jesus tivesse encerrado seu ministério na cruz, como enxergaram os incrédulos de então e enxergam os céticos de hoje, estaríamos todos perdidos. Se você só enxerga Jesus “humanamente falando” você ainda precisa de salvação.
“Se não há ressurreição de mortos, também Cristo não ressuscitou. E, se Cristo não ressuscitou, logo é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé. E assim somos também considerados como falsas testemunhas de Deus, pois testificamos de Deus, que ressuscitou a Cristo, ao qual, porém, não ressuscitou, se, na verdade, os mortos não ressuscitam. Porque, se os mortos não ressuscitam, também Cristo não ressuscitou. E, se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé, e ainda permaneceis nos vossos pecados. E também os que dormiram em Cristo estão perdidos. Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens” (1 Coríntios 15:13-19).