Por que esse “estilo de culto”?

Você enviou uma série de perguntas questionando o que chamou de “estilo de culto dos congregados em nome do Senhor”. Pelo que entendi você deve ter visitado uma assembleia de irmãos congregados somente ao nome do Senhor e ficou confuso com o que viu, pois nada se assemelhava ao que tem observado em reuniões cristãs de diferentes denominações.

Este é o grande erro da maioria das pessoas, que partem do que veem na cristandade para julgar aquilo que encontram na Bíblia, quando deveriam fazer o inverso: Buscar na Palavra de Deus o padrão e por meio dele julgar o que os homens dizem e fazem nas muitas religiões que criaram. Vamos às suas dúvidas:

P. Por que os irmãos não ficam falando durante a reunião ou gritando, “glória a Deus”, “aleluia”, “amém”?

Porque não encontramos isso na doutrina dos apóstolos. Quando um fala, ele está sendo “a boca” através da qual os santos estão se expressando, pois fala por toda a assembleia. “Para que concordes, a uma boca, glorifiqueis ao Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo” (Romanos 15:6).

Além disso, gritaria e confusão em qualquer reunião de pessoas não é considerado ordem, mas bagunça. “E falem dois ou três profetas, e os outros julguem. Mas, se a outro, que estiver assentado, for revelada alguma coisa, cale-se o primeiro” (1 Coríntios 14:29-30). “Faça-se tudo decentemente e com ordem.” (1 Coríntios 14:40). “Porque todos podereis profetizar, uns depois dos outros; para que todos aprendam, e todos sejam consolados. E os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas. Porque Deus não é Deus de confusão” (1 Coríntios 14:31-33).

O cristão tem o privilégio de adorar a Deus “em espírito e em verdade” (João 4:23) e com o pleno domínio de suas faculdades mentais. Seu culto a Deus não é uma demonstração de histeria coletiva ou de perda do controle de seu corpo e sentidos, como fazem os pagãos que são invadidos e dominados por espíritos malignos. O verdadeiro culto a Deus é algo sereno e controlado. “Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus” (Romanos 12:1-2).

“Que farei, pois? Orarei com o espírito, mas também orarei com o entendimento; cantarei com o espírito, mas também cantarei com o entendimento. De outra maneira, se tu bendisseres com o espírito, como dirá o que ocupa o lugar de indouto, o Amém, sobre a tua ação de graças, visto que não sabe o que dizes? Porque realmente tu dás bem as graças, mas o outro não é edificado” (1 Coríntios 14:15-17).

P. Por que não há apelos para ir a frente aceitar Jesus como Salvador?

Porque a igreja não se reúne para pregar o evangelho, mas para as funções mencionadas em Atos 2:42: “E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações.” Evangelismo é algo que se faz no mundo e a critério daquele que evangeliza. Eventualmente pode-se utilizar o mesmo espaço das reuniões da assembleia para uma pregação do evangelho, mas aí o caráter da reunião é outro. Não se trata de uma reunião de assembleia, de “dois ou três” congregados ao nome do Senhor, mas de uma preleção do evangelho feita por um evangelista.

As reuniões da igreja ou assembleia não têm por objetivo evangelizar, mas a edificação do corpo de Cristo pela manifestação dos dons, em especial de ministério da Palavra. O evangelismo é uma atividade que traz a matéria prima para a assembleia; busca os perdidos, estes são convertidos a Cristo, e então passam a congregar, não para serem salvos, mas porque já foram salvos.

Em Atos 11:19-26 você encontra uma maravilhosa ordem disso. Primeiro, os dispersos pela perseguição saem pelo mundo levando o evangelho (Atos 11:19-20). Através da obra do Espírito Santo muitos em Antioquia se convertem (Atos 11:21). Barnabé vem para ajudá-los e ensinar os rudimentos da fé e de como congregar para adoração, ministério da Palavra, comunhão e oração (Atos 11:22-24). Barnabé reconhece as limitações de seu dom e vai buscar Saulo (Paulo), e ambos congregam naquela igreja recém-formada e ensinam os irmãos (Atos 11:25-26).

Os dons de Efésios 4:11-12, concedidos pelo próprio Cristo glorificado e não por uma faculdade de teologia, são ali demonstrados em plena ação e direção do Espírito: “E ele mesmo [Cristo] deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo”. Aqueles que têm dom de evangelista pregam o evangelho e pessoas se convertem. Alguém com dom de pastor (Barnabé) exorta as ovelhas a terem o Senhor como o centro de sua reunião e a permanecerem nele. Um irmão com o dom de mestre ou doutor (Paulo), que também tem o dom de apóstolo, os ensina com a ajuda daquele que tem o dom de pastor (Barnabé).

P. Por que quem está na frente pregando, não grita e não pula?

Normalmente nas reuniões não existe um homem à frente pregando, a menos que seja uma reunião especial em que um irmão vai à frente para apresentar um tema específico, mas pode ser que outro faça o mesmo depois dele. O mais provável é que você tenha ouvido uma preleção assim quando visitou uma assembleia, ou então havia um irmão usando o salão de reuniões para pregar o evangelho, o que não se caracterizaria uma reunião da assembleia, mas uma pregação do evangelho. Geralmente nas reuniões mais de um irmão ministra.

Mas você perguntou por que a pessoa que ministra não grita e não pula. Porque a fé é pelo ouvir, e a capacidade de ouvir é dada pelo poder da própria Palavra de Deus, e não pelo esforço, inteligência, expressão corporal, técnicas de persuasão, eloquência, etc. “De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela Palavra de Deus.” (Romanos 10:17). Alguém que seja influenciado por essas coisas vindas do homem não estará sendo convencido pelo Espírito Santo, mas pela carne; não estará recebendo a nova vida que há em Cristo, mas talvez apenas alguma mudança de atitude e comportamento que poderiam ter sido causadas da mesma maneira por um palestrante motivacional. Paulo deixa isso claro em sua primeira carta aos Coríntios, ao dizer:

“E eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não fui com sublimidade de palavras ou de sabedoria. Porque nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado. E eu estive convosco em fraqueza, e em temor, e em grande tremor. A minha palavra, e a minha pregação, não consistiram em palavras persuasivas de sabedoria humana, mas em demonstração de Espírito e de poder; para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria dos homens, mas no poder de Deus” (1 Coríntios 2:1-5).

P. Existe algum dia em que as pessoas caem no chão, pela unção? Nesse dia ninguém caiu no chão.

Quando a igreja está reunida é para Cristo, para se ocupar com ele, e não com manifestações de histeria individuais ou coletivas. A igreja não congrega para se ocupar com demônios, mas com Cristo. É uma reunião de crentes, não de incrédulos. Vemos, principalmente no livro de Atos que é um período de grande poder e de início do cristianismo, manifestações como as que descreveu, porém não nas reuniões da assembleia. Essas coisas aconteciam nas ruas quando os apóstolos e discípulos saíam a pregar aos incrédulos. Uma vez que aquelas pessoas estivessem libertas de algum demônio e cressem em Cristo elas passavam a ter o Espírito Santo habitando em si. Uma casa ocupada por um inquilino dessa magnitude jamais será ocupada por outro.

P. Por que é sempre silencioso nas reuniões dos congregados ao nome do Senhor?

Quando estamos congregados ao nome do Senhor Jesus Cristo devemos esperar pela direção do Espírito Santo e não tentar organizar as coisas na carne. O silêncio tem esse objetivo, mas quando é demasiado pode denotar também o estado de fraqueza em que nos encontramos, o qual é a marca registrada destes últimos dias da igreja na terra. Não existe razão para tentar fazer de conta que não estamos fracos ou iniciar algum tipo de teatrinho só para preencher o tempo. Devemos nos humilhar e esperar no Senhor.

A passagem em 1 Coríntios 14 diz que “tratando-se de profetas [Os que proferem a Palavra de Deus], falem apenas dois ou três” (1 Coríntios 14:29), indicando que o ministério da Palavra em uma reunião da assembleia ou igreja não está limitado a um “padre” ou “pastor” e muito menos a pessoas indicadas por eles. É o Espírito quem decide e levanta quem trará a Palavra porque somente o Espírito de Deus sabe as reais necessidades daquela assembleia para aquele momento.

Além disso, vemos claramente a necessidade de esperarmos uns pelos outros quando estamos congregados. Um princípio disso é ensinado quando Paulo escreve sobre a ceia do Senhor: “Portanto, meus irmãos, quando vos ajuntais para comer, esperai uns pelos outros” (1 Coríntios 11:33). Também precisamos ter clareza em nossos corações se devemos sugerir um hino, fazer uma oração ou trazer uma palavra de edificação, exortação e consolação. É bom lembrar que mais de um pode ministrar, mas aquele que ministra está tendo seu ministério julgado pelos demais e poderá ser interrompido ou corrigido caso fale algo fora da Palavra de Deus. Mas isso não significa “engessar” a liberdade do Espírito, o qual não deve ser “extinto” ou “apagado”. “Não extingais o Espírito. Não desprezeis as profecias. Examinai tudo. Retende o bem” (1 Tessalonicenses 5:19-21).

P. Tem algum dia em que as mulheres vão à frente pregar? Não vi mulheres pregando.

As mulheres nunca pregam, porque isto estaria fora da ordem que Deus estabeleceu para elas. Mulheres têm um ministério dentro da esfera que Deus lhes concede, e isso é entre outras mulheres e com crianças. Mas quando a igreja está reunida a ordem é para que fiquem caladas: “Como em todas as igrejas dos santos as vossas mulheres estejam caladas nas igrejas; porque não lhes é permitido falar; mas estejam sujeitas, como também ordena a lei. E, se querem aprender alguma coisa, interroguem em casa a seus próprios maridos; porque é vergonhoso que as mulheres falem na igreja” (1 Coríntios 14:33-35). Isso nada tem a ver com a cultura da época, e o apóstolo continua justamente para deixar muito claro que também não é opinião dele: “Se alguém cuida ser profeta, ou espiritual, reconheça que as coisas que vos escrevo são mandamentos do Senhor” (1 Coríntios 14:37).

Aprendemos também em 1 Timóteo 2:11-14 que a mulher não deve assumir a posição e autoridade dadas ao homem, deve aprender em silêncio e submissão e não ensinar. “A mulher aprenda em silêncio, com toda a sujeição. Não permito, porém, que a mulher ensine, nem use de autoridade de homem, mas que esteja em silêncio” (1 Timóteo 2:11-12). A razão também é explicada na mesma passagem: “Porque primeiro foi formado Adão, depois Eva. E Adão não foi enganado, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão” (1 Timóteo 2:13-14). A mulher é também o alvo preferido de Satanás até os dias de hoje em razão da inimizade que Deus colocou entre os dois em Gênesis 3:15, quando disse à serpente: “E porei inimizade entre ti e a mulher”.

P. Existem testemunhos, narrações de acontecimentos das pessoas na frente falando de quando não eram crentes?

Em nenhum lugar em Atos e nas epístolas vemos a igreja congregada para ouvir experiências pessoais, mas sempre para se ocupar com Cristo, a mesma ocupação que teremos por toda a eternidade. Existe na cristandade hoje um comércio dos chamados “testemunhos” e muitas denominações contratam pessoas que cobram para falar de sua vida devassa e criminosa e depois dizerem que foram salvas por Cristo. Quanto mais tenebrosa a vida que a pessoa levou em sua incredulidade, maior o cachê cobrado para sua apresentação. A carne gosta de ouvir histórias e principalmente se essas despertarem paixões carnais, como acontece em qualquer novela, filme ou noticiário sensacionalista. O crente está morto para o que passou e vivo para Deus.

Aqui vale a recomendação do apóstolo Paulo aos Colossenses: “Portanto, se já ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus. Pensai nas coisas que são de cima, e não nas que são da terra; porque já estais mortos, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus” (Colossenses 3:1-3).

P. Não teve revelação das pessoas. Tem algum dia em que Deus “revela” alguém para o pregador?

Não sei exatamente do que você está falando, mas talvez seja daqueles pregadores que dizem que o Espírito Santo está revelando que ali tem uma pessoa com este ou aquele problema. Você não encontra nada disso na ordem das reuniões da igreja segundo o padrão bíblico, e uma pessoa inteligente imediatamente percebe que o que se faz nessas chamadas “igrejas” é um truque de manipulação. Algo do tipo: “Deus mandou dizer que seus problemas irão acabar em breve”, ou “Tenho uma grande obra para ti, meu filho” e coisas do tipo. Qualquer pessoa fácil de ser manipulada cai nesse tipo de conversa.

Existem casos mais sofisticados (inclusive denunciados publicamente) em que o pregador tem um “ponto” no ouvido, como aqueles usados por artistas e comentaristas na TV, através do qual lhe são passadas informações sobre pessoas da audiência, as quais foram previamente investigadas por sua equipe. Hoje isso ficou ainda mais fácil graças às redes sociais, que permitem que você saiba quem é quem, se existe alguém doente na família, se o namorado foi embora e coisas do tipo.

Repare que todas as suas perguntas não foram baseadas na Palavra de Deus, mas nas coisas que viu em denominações, principalmente pentecostais, e também em programas de pregadores mercenários na TV. Quando os costumes dos homens se tornam o padrão adotado pelos cristãos estamos vivendo uma apostasia, que é o abandono da Verdade. Nosso tempo é de uma ruína semelhante aos dias de Juízes, no Antigo Testamento, quando prevalecia, não uma direção vinda de cima, mas a opinião pública: “Naqueles dias não havia rei em Israel; porém cada um fazia o que parecia reto aos seus olhos” (Juízes 21:25).

Me causou surpresa você não ter perguntado a razão de não terem pedido dinheiro a você, de os irmãos não terem solicitado sua participação na coleta ou insistido em que pagasse algum carnê ou comprasse algum objeto supostamente “ungido”. Ainda que não tenha perguntado, vou responder mesmo assim, pois é o que você mais vê nas ditas “igrejas” neopentecostais por aí. Outro dia um homem incrédulo foi convidado a um “culto” em um lugar assim e contou que saiu horrorizado. Ele marcou no relógio que a maior parte do tempo foi gasto pelo pregador pedindo dinheiro. Depois disso, como falar do evangelho para alguém tão enojado com o falso cristianismo que viu?

Nas reuniões dos irmãos congregados ao nome do Senhor ninguém iria fazer isso porque a Bíblia é clara em mostrar que as necessidades dos santos devem ser supridas por aqueles que também são santos. Existe uma coleta, como ensina 1 Coríntios 16:1-3: “Ora, quanto à coleta que se faz para os santos, fazei vós também o mesmo que ordenei às igrejas da Galácia. No primeiro dia da semana cada um de vós ponha de parte o que puder ajuntar, conforme a sua prosperidade, para que não se façam as coletas quando eu chegar. E, quando tiver chegado, mandarei os que por cartas aprovardes, para levar a vossa dádiva a Jerusalém”. Como pode perceber, são recursos dos santos conhecidos para os santos conhecidos que estejam passando por necessidades (acontecia isso em Jerusalém por causa da perseguição). Não se tratava de obter dinheiro para manter alguma organização religiosa ou um pregador assalariado.

Quando há visitantes, ainda que se digam cristãos (porque hoje no Ocidente a maioria se diz cristão), não é solicitada nenhuma ajuda pois seria preciso conhecer melhor a pessoa para ter a certeza de não estarmos sendo ajudados por ímpios. Abraão deixou um princípio a este respeito, quando disse ao Rei de Sodoma: “Levantei minha mão ao Senhor, o Deus Altíssimo, o Possuidor dos céus e da terra, jurando que desde um fio até à correia de um sapato, não tomarei coisa alguma de tudo o que é teu; para que não digas: Eu enriqueci a Abrão” (Gênesis 14:22-23). Devemos seguir este exemplo e também aquele comportamento que o apóstolo João elogiou em sua carta: “Amado, procedes fielmente em tudo o que fazes para com os irmãos, e para com os estranhos... Porque pelo seu Nome saíram, nada tomando dos gentios” (3 João 1:5-7).