Qual o passo-a-passo para congregar?
Quem nasce em uma cultura ocidental cristã não percebe o quanto de condicionamento cultural e religioso traz debaixo da pele, coisas que foram acrescentadas por anos de contato com religiões cristãs, com clero, doutrinas e outras coisas. Aí fica até difícil saber que caminho tomar quando se deseja caminhar e viver como cristão em meio a tudo isso, separando-se de tudo isso, porém ainda vivendo em meio a essa cristandade toda que tem muito de homem, muito de carne, arraigada a ela.
Então a gente poderia pensar em alguns passos. Primeiro é importante lembrar que pode ser preciso passar por um processo de desaprender tudo o que aprendemos dentro das religiões, pois muitas coisas vieram por dogmas e doutrinas erradas, costumes e tradições, e isso nós precisamos deixar de lado. O processo de separação dos sistemas religiosos criados pelo homem exige alguns passos.
PRIMEIRO: Reconhecer que a má doutrina é contaminante e corrosiva. Ela não é inócua, não é inofensiva. Vou ler este passo a passo seguindo uma passagem de 2 Timóteo capítulo 2.
(2 Timóteo 2:17-18) “E a palavra desses roerá como gangrena; entre os quais são Himeneu e Fileto; os quais se desviaram da verdade, dizendo que a ressurreição era já feita, e perverteram a fé de alguns”.
SEGUNDO: Entender que separar-se do mal doutrinário e eclesiástico não significa deixar de considerar os que ficam como irmãos. Só o Senhor conhece os seus e um dos fundamentos de estar congregado ao nome do Senhor é reconhecer que TODOS os que creem em Cristo, independentemente de onde estejam, fazem parte do ÚNICO corpo de Cristo, a Igreja.
(2 Timóteo 2:19a) “Todavia, o fundamento de Deus fica firme, tendo este selo: O Senhor conhece os que são seus”.
TERCEIRO: Separar-se da má doutrina e dos sistemas que a professam, inclusive entendendo que o simples fato de existirem denominações (grupos de cristãos denominados por algum outro nome que não seja o de Cristo) já é uma desonra para Deus e para o único NOME que ele deu para identificar os cristãos.
(2 Timóteo 2:19b) “...e qualquer que profere o nome de Cristo aparte-se da iniquidade”.
QUARTO: Entender que a ”casa de Deus” que em 1 Timóteo 3:15 deveria ter sido ”coluna e firmeza da verdade”, em 2 Timóteo é vista como uma “grande casa” onde existe de tudo, “vasos” (pessoas) para honra e outros para desonra.
(2 Timóteo 2:20) “Ora, numa grande casa não somente há vasos de ouro e de prata, mas também de pau e de barro; uns para honra, outros, porém, para desonra”.
QUINTO: Purificar-se ”destas coisas”, ou seja, das doutrinas e dos ”vasos” que as professam para poder ser ”vaso para honra”, ”santificado” (separado), idôneo e preparado para ”toda boa obra”.
(2 Timóteo 2:21) “De sorte que, se alguém se purificar destas coisas, será vaso para honra, santificado e idôneo para uso do Senhor e preparado para toda boa obra”.
SEXTO: Abandonar tudo os impulsos contenciosos inerentes à energia da juventude e da carne, o que inclui gerar conflitos ou combater pessoas.
(2 Timóteo 2:22a) “Foge, também, dos desejos da mocidade”.
SÉTIMO: Seguir aquilo que é positivo segundo a Palavra de Deus, como ”a justiça, a fé, a caridade” e não ficar atirando pedras e ofensas naqueles que, por não entenderem, permanecem na ”iniquidade” e entre ”vasos para desonra”.
(2 Timóteo 2:22b) “...e segue a justiça, a fé, a caridade e a paz”.
OITAVO: ”Com os que” significa congregar, o que muitos se esquecem de fazer. A separação da má doutrina, dos sistemas religiosos e até dos ”vasos para desonra” não é o fim, mas apenas o começo de um processo que leva o crente a congregar com aqueles que ”com um coração puro”, isto é, já purificados ou separados dessas coisas, ”invocam o Senhor”. Ter só o Senhor como o centro do ato de congregar, e não um homem à frente, um dogma, um estatuto, uma denominação etc., é a meta aqui. Mas isso deve ser feito com pessoas igualmente separadas, e não mantendo um pé no sistema e outro fora dele.
(2 Timóteo 2:22c) “...com os que, com um coração puro, invocam o Senhor”.
NONO: Fugir de debates improdutivos sobre ”questões loucas” (que não levam a nada) e ”sem instrução” (sem fundamento na Verdade da Palavra) para evitar contendas.
(2 Timóteo 2:23) “E rejeita as questões loucas e sem instrução, sabendo que produzem contendas”.
DÉCIMO: Manter uma conduta não contenciosa (e não ficar provocando aqueles que permanecem nos sistemas) em mansidão.
(2 Timóteo 2:24a) “E ao servo do Senhor não convém contender, mas, sim, ser manso para com todos”.
DÉCIMO PRIMEIRO: Buscar aprender a Palavra e a sã doutrina para não cair no erro na hora de ensinar os que se mostrarem dispostos a aprender, fazendo isso com ”mansidão” e pronto a perder a discussão (“sofredor”) quando for o caso, lembrando que nesta carta Paulo está falando de cristãos que estão sendo enganados e presos pela mentira, da qual o diabo é autor.
(2 Timóteo 2:24b-26) “...apto para ensinar, sofredor; instruindo com mansidão os que resistem, a ver se, porventura, Deus lhes dará arrependimento para conhecerem a verdade e tornarem a despertar, desprendendo-se dos laços do diabo, em cuja vontade estão presos”.
Estes são os principais passos da separação do mal e da mentira para ocupar-se com o bem e a verdade. Infelizmente muitos param na separação do mal e aí passam a vida atirando pedras nos sistemas e em seus irmãos que ficaram neles. É preciso lembrar que o cristão deve se ocupar com Cristo e que o Senhor continua alimentando os Seus, mesmo aqueles que não tiveram luz para se apartarem dos sistemas humanos. Ele tem dons espalhados por todos os lugares, e um verdadeiro crente que entende a verdade do ”um corpo” e do que é estar congregado ao nome do Senhor não poderá desconsiderar seus irmãos, pois ”o olho não pode dizer à mão: Não tenho necessidade de ti; nem ainda a cabeça, aos pés: Não tenho necessidade de vós.” (Leia todo o trecho de 1 Coríntios 12:12-27).
Finalmente deve existir uma ação prática de buscar a comunhão com aqueles que já estejam congregados ao nome do Senhor, pedindo formalmente à assembleia mais próxima para estar à mesa do Senhor. A assembleia, ao receber tal pedido, irá examinar o irmão ou irmã quanto à realidade de seu pedido, isto, como partindo de alguém que efetivamente se separou do pecado doutrinário e eclesiástico, e que também não esteja vivendo em pecado moral. Uma vez que exista paz entre os irmãos a respeito disso esse irmão ou irmã será recebido à comunhão. Em uma cristandade tão imersa em má doutrina e apostasia esse cuidado passou a ser cada vez mais importante para não contaminar a mesa do Senhor, porque a mesa é dele, apenas cuidada por homens.
Quando esse irmão ou irmã mora longe de alguma assembleia congregada ao nome do Senhor deverá procurar visitar a mais próxima ou será visitado por irmãos congregados nela ou em outras localidades. Depois de recebido à comunhão passará a partir o pão sempre que for visitado por irmãos ou visitar uma assembleia, até que o Senhor acrescente mais um ou dois com a mesma disposição e a mesma comunhão naquela localidade, quando então passam a ser os “dois ou três” dos quais o Senhor falou, que constituem um testemunho congregado ao nome do Senhor.
A partir daí esta nova assembleia poderá receber pedidos de outros irmãos igualmente apartados dos sistemas, ou recém convertidos, para estarem em comunhão e deverá considerar esses pedidos da mesma forma como cada um ali foi analisado quando buscou estar à mesa do Senhor.
Quando a assembleia é formada apenas por um irmão e uma irmã, ou um irmão e duas ou mais irmãs, lhe faltará “quórum” para funcionar regularmente como uma assembleia em todos os aspectos de suas reuniões, como os cristãos do princípio que ”perseveravam na doutrina e dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão e nas orações” (Atos 2:42), além do julgamento para poder “ligar” ou “desligar”. Eles poderão congregar como assembleia para partir o pão na ceia do Senhor e para oração, já que não são reuniões de ministério da Palavra, portanto não sujeitas à ordem de falarem dois ou três e os outros julgarem.
Na ceia pode existir apenas um varão, o mesmo acontecendo na reunião de oração, pois ele nada mais fará do que sugerir hinos e dar ações de graças, ou orar pelas necessidades que podem ter sido previamente compartilhadas pelas irmãs em conversa particular. Para entender isso é preciso lembrar que as irmãs devem permanecer ”caladas nas igrejas”, o que as impede, não só de falar em reuniões de ministério da Palavra, como também de deliberar como agir quando os irmãos se reúnem para tomar decisões relativas à assembleia (como receber alguém à comunhão ou excomungar quem está em pecado, por exemplo).
Então aquela assembleia, limitada em número, deve reconhecer suas limitações e buscar ajuda de irmãos de outras assembleias quando precisarem tomar decisões. Não se trata de buscar ajuda em alguma “sede” ou junta de homens, e nem mesmo em alguma assembleia que seja maior em número, mas em irmãos varões aptos a julgar para ajudarem em um tempo de tanta fraqueza e necessidade como este em que vivemos. Devem se lembrar de que o Senhor é capaz de cuidar deles, inclusive em sua pequenez, evitando a todo custo um espírito de independência, o que é contrário à natureza do corpo de Cristo, onde os membros agem em harmonia uns com os outros.