Devo seguir as palavras de Paulo?

Tenho dúvidas se devo perder meu tempo explicando a você essas coisas, pois você parece não crer na Palavra de Deus revelada. Mas pensei melhor e decidi dar uma resposta mais detalhada pois poderá servir aos milhares de pessoas que irão ler, ouvir ou assistir em vídeo esta mesma resposta.

O sarcasmo, ironia e desprezo contidos em suas palavras quando fala do apóstolo Paulo são evidentes. Você escreve: ”Onde é que Jesus ensina isso nos evangelhos? É um ensino de Paulo. É Paulo quem diz isso e não Cristo. Onde é que Jesus ensinou isso? Foi somente revelado em espírito para Paulo? E os demais, teriam de “aprender” com Paulo sobre?”

Ao questionar os escritos do apóstolo e duvidar que sejam Palavra de Deus, dizendo que ”Jesus não disse nada disso que Paulo escreveu”, sua atitude fica muito parecida com a dos espíritas, que para fugirem da condenação que a Lei Mosaica faz da invocação de mortos, dizem que creem só nas palavras de Jesus. Eles se esquecem de que Jesus deu sua chancela a tudo o que Moisés escreveu: ”Porque, se vós crêsseis em Moisés, creríeis em mim; porque de mim escreveu ele. Mas, se não credes nos seus escritos [de Moisés], como crereis nas minhas palavras?” (João 5:46-47).

No caso de Paulo o próprio Senhor Jesus deu a ele a autoridade de apóstolo e revelou muitas coisas. Até mesmo a revelação da ceia do Senhor Paulo não recebeu dos outros apóstolos, mas diretamente de Jesus: “Eu recebi do Senhor o que também vos ensinei” (1 Coríntios 11:23). Na verdade, foram ao menos nove revelações de mistérios que permaneceram ocultos até serem revelados a Paulo e que não conheceríamos se não existissem suas cartas às igrejas:

  1. O mistério do evangelho da graça de Deus (Romanos 16:25-26)

  2. O mistério do endurecimento de Israel por um tempo (Romanos 11:25-27)

  3. O mistério do arrebatamento e da ressurreição do corpo de Cristo (1 Coríntios 15:51-53)

  4. O mistério do um só corpo, a Igreja (Efésios 3:1-9)

  5. O mistério da cidadania ou vocação celestial do crente no corpo de Cristo (Efésios 1:3; Filipenses 3:20-21)

  6. O mistério do propósito de Deus de reunir todas as coisas em Cristo na dispensação da plenitude dos tempos (Efésios 1:9-10)

  7. O mistério da graça de Deus (Romanos 6:14)

  8. O mistério da identificação do crente com Cristo (1 Coríntios 15:1-4)

  9. O mistério da iniquidade (2 Tessalonicenses 2:6-12)

Quanto à sua dúvida da citação que em 1 Coríntios 14:34, para que as mulheres ”estejam sujeitas, como também ordena a Lei”, ele não está pregando a Lei Mosaica, que foi dada a Israel, mas simplesmente dizendo que há mandamentos do Senhor dados à Igreja que na Lei também eram assim. Esse era também o modo de se proceder na Lei, quando a mulher não tinha um papel atuante nos serviços do Templo.

Portanto, o que Paulo diz sobre a mulher é mandamento do Senhor e também Palavra de Deus, como deixa claro aqui: ”Porventura saiu dentre vós a Palavra de Deus? Ou veio ela [a Palavra de Deus] somente para vós? Se alguém cuida ser profeta, ou espiritual, reconheça que AS COISAS QUE VOS ESCREVO SÃO MANDAMENTOS DO SENHOR” (1 Coríntios 14:36-37).

Sendo assim, seu argumento de que não temos de seguir essas coisas porque Jesus não falou isso nos evangelhos cai por terra. Se não foi Jesus quem falou então Paulo era um mentiroso e devemos imediatamente arrancar de nossas Bíblias todas as suas epístolas e esquecer coisas como os dons, a casa de Deus, o evangelho da graça (Jesus pregava o evangelho do Reino), o arrebatamento, o Corpo de Cristo, a vocação celestial do crente etc.

Na última carta de Paulo antes de morrer ele disse que todos os da Ásia o abandonaram. Isso é significativo e reflete muito bem o estado da cristandade hoje, que questiona o que o Espírito Santo revelou através de Paulo e cada vez mais abandona o seu ensino, usando de raciocínios e mestres segundo seus desejos. Isso se chama apostasia, que é o abandono da verdade. Talvez você não creia no que Paulo diz a este respeito em suas últimas palavras registradas, mas vou repetir assim mesmo:

“Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências; e desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas.” (2 Timóteo 4:3-4).

Ao escrever aos Tessalonicenses Paulo deixou claro que esses cristãos recebiam a Palavra que lhes pregou como vinda de Deus. ”Por isso também damos, sem cessar, graças a Deus, pois, havendo recebido de nós a palavra da pregação de Deus, a recebestes, não como palavra de homens, mas (segundo é, na verdade), como palavra de Deus, a qual também opera em vós, os que crestes” (1 Tessalonicenses 2:13).

Paulo chamou de ”meu evangelho” a mensagem que lhe foi revelada em caráter de mistério outrora oculto: ”Ora, àquele que é poderoso para vos confirmar segundo o meu evangelho e a pregação de Jesus Cristo, conforme a revelação do mistério que desde tempos eternos esteve oculto, mas que se manifestou agora, e se notificou pelas Escrituras dos profetas, segundo o mandamento do Deus eterno, a todas as nações para obediência da fé” (Romanos 16:25-26).

Paulo não só viu o Senhor, como ouviu de sua própria boca e ainda recebeu dele o que devia testemunhar. ”Não sou eu apóstolo? Não sou livre? Não vi eu a Jesus Cristo Senhor nosso? Não sois vós a minha obra no Senhor?” (1 Coríntios 9:1) Na sua conversão Paulo foi instruído pelo próprio Senhor Jesus a ir ao encontro de Ananias que lhe diria aquilo que ele deveria fazer, obviamente inspirado pelo mesmo Jesus de quem ouviria ainda muitas revelações:

“Então disse eu: Senhor, que farei? E o Senhor disse-me: Levanta-te, e vai a Damasco, e ali se te dirá tudo o que te é ordenado fazer. E, como eu não via, por causa do esplendor daquela luz, fui levado pela mão dos que estavam comigo, e cheguei a Damasco. E um certo Ananias, homem piedoso conforme a lei, que tinha bom testemunho de todos os judeus que ali moravam, vindo ter comigo, e apresentando-se, disse-me: Saulo, irmão, recobra a vista. E naquela mesma hora o vi. E ele disse: O Deus de nossos pais de antemão te designou para que conheças a sua vontade, e vejas aquele Justo e ouças a voz da sua boca. Porque hás de ser sua testemunha para com todos os homens do que tens visto e ouvido” (Atos 22:10-15).

Não faltava ousadia a Paulo quando o assunto era desobedecer seus escritos, pois ele bem sabia que seus escritos eram revelados por Deus e que isso significava uma desobediência direta à Palavra de Deus. Aos Tessalonicenses ele escreveu: ”Se alguém não obedecer à nossa palavra por esta carta, notai o tal, e não vos mistureis com ele, para que se envergonhe” (2 Tessalonicenses 3:14).

O mesmo fez com os Coríntios, dentre os quais havia os que questionavam sua autoridade apostólica: ”Já anteriormente o disse, e segunda vez o digo como quando estava presente; mas agora, estando ausente, o escrevo aos que antes pecaram e a todos os mais, que, se outra vez for, não lhes perdoarei; visto que buscais uma prova DE QUE CRISTO FALA EM MIM, o qual não é fraco para convosco, antes é poderoso entre vós” (2 Coríntios 13:2-3).

E mais uma vez, aos Coríntios, deixa claro que ele é portador da Palavra de Deus, a qual não dependia de julgamento da parte deles, mas de simplesmente ser obedecida: ”Porventura saiu dentre vós a palavra de Deus? Ou veio ela somente para vós? Se alguém cuida ser profeta, ou espiritual, reconheça que as coisas que vos escrevo são mandamentos do Senhor” (1 Coríntios 14:36-37).

E para completar, a afirmação do próprio Pedro, que muitos usam na tentativa de denegrir os escritos de Paulo como se fossem complicados demais, sem perceber que estão incorrendo na própria crítica e condenação de Pedro, isto é, assumindo a carapuça de ”indoutos e inconstantes” que torcem as Escrituras ao seu bel prazer. Pedro coloca os escritos de Paulo no mesmo nível das ”outras Escrituras”, obviamente referindo-se aí ao Antigo Testamento.

“E tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor; como também o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada; falando disto, como em todas as suas epístolas, entre as quais há pontos difíceis de entender, que os indoutos e inconstantes torcem, e igualmente as outras Escrituras, para sua própria perdição” (2 Pedro 3:15-16) .

Finalmente, quem diz que devemos crer com segurança apenas nas palavras e Jesus é melhor rever sua tese. Digo isto porque as “palavras de Jesus” que encontramos na Bíblia foram escritas, não por ele pessoalmente, mas por Mateus, Marcos, Lucas e João. Do mesmo modo como usou Paulo para escrever outras coisas que ele disse depois de ter ressuscitado.