Seria Cristo um “Segundo Adão”?
Aparentemente há duas formas de se encarar a relação “primeiro-último” ou “primeiro-segundo”, quando falamos de Adão e Cristo. Se o assunto for o homem natural, então temos o “primeiro Adão”, que começou no Jardim do Éden, e o “último Adão”, que foi o último exemplar de uma linhagem que terminou na cruz. A cruz é o ponto final onde o homem desembarca por não existir outra parada nessa linha. Por isso Paulo chama Cristo de “último Adão”, pois ali Deus colocou um fim àquela primeira criação iniciada em Adão.
“Assim está também escrito: O primeiro homem, Adão, foi feito em alma vivente; o último Adão em espírito vivificante... O primeiro homem, da terra, é terreno; o segundo homem, o Senhor, é do céu” (1 Coríntios 15:45-47). Nesta passagem o Senhor é chamado de “segundo Homem” porque Deus iniciou nele uma nova criação, pois “Cristo ressuscitou dentre os mortos, e foi feito as primícias dos que dormem” (1 Coríntios 15:20).
Embora não encontremos nas Escrituras a expressão “segundo Adão”, creio que ela possa ser usada quando a posição de Adão, como o administrador de toda a Criação, for comparada com a posição de Cristo. O primeiro falhou em sua administração, o segundo jamais falhará. Portanto neste sentido administrativo ou de governança temos um “primeiro Adão” e um “segundo Adão”. Vários autores utilizam estas expressões e John Nelson Darby faz o mesmo quando considera este aspecto de Cristo como o sucessor administrativo de Adão:
“Adão foi criado à imagem de Deus, e foi colocado para governar sobre as obras das mãos de Deus, sendo ele o centro de um vasto sistema de coisas subordinadas a ele, e as quais ele possuía domínio universal. O apóstolo diz que ele foi a imagem daquele que viria; e o mesmo apóstolo toma o Salmos 8, que textualmente estaria limitado ao primeiro Adão, e aplica a universalidade de seus termos ao total domínio do segundo. Não há dúvida de que o domínio do Segundo Adão é muito mais extenso do que o do primeiro, pois, tendo ele criado todas as coisas, ele irá herdar tudo o que criou; mas não é menos verdade que o primeiro Adão, como imagem de Deus, como o centro do sistema no qual foi colocado, como tendo domínio sobre a criação pela qual ele estava cercado, foi a imagem ou tipo do Senhor Jesus, o Filho do homem, Cabeça sobre todas as coisas. Outras coisas ampliam essa semelhança. Eva, ao assumir um senhorio ao qual ela não tinha qualquer direito, mas do qual desfrutava por ser uma com Adão, é a figura mais vívida da igreja, e é assim maravilhosamente usada pelo apóstolo em Efésios 5. Temos também, conforme Romanos 5, no Adão caído, a cabeça de uma raça envolvida em seu pecado e em todas as suas consequências, do mesmo modo como no Segundo Adão, quando a justiça foi cumprida, temos a cabeça de uma irmandade ou família que participa em tudo o que ele é como Cabeça dela na presença e sob a vista de Deus”. - John Nelson Darby em “The Principles displayed in the Ways of God, compared with His Ultimate Dealings”.