Por que as ursas mataram os jovens?

Sua dúvida é por que Deus teria permitido que ursas selvagens matassem um grupo de garotos em 2 Reis 2:23-24. Para entender isso é preciso ler o capítulo inteiro e também lembrar o que representam duas das cidades citadas ali: Jericó e Betel.

Encontramos Jericó no Antigo Testamento como a primeira cidade na Terra Prometida a ser invadida e destruída por Israel. “Ora Jericó estava rigorosamente fechada por causa dos filhos de Israel; ninguém saía nem entrava” (Josué 6:1) e isso nos dá uma ideia de tudo o que é contrário a Deus e ao seu povo. Poderia Deus ter poupado Jericó e seus habitantes? Bem, ele poupou alguns de Jericó, justamente aqueles que, pelos padrões da sociedade, seriam os menos qualificados para obterem o favor divino: a prostituta Raabe e seus familiares.

Numa outra ocasião Deus poupou uma cidade inteira, Nínive, porque seus habitantes se arrependeram de seus pecados (Jonas 3:10). Portanto tire logo da cabeça a ideia de um Deus injusto e tirano, porque ele é benigno para com todo aquele que se reconhece pecador e aceita seu favor. “Deixe o ímpio o seu caminho, e o homem maligno os seus pensamentos, e se converta ao Senhor, que se compadecerá dele; torne para o nosso Deus, porque grandioso é em perdoar” (Isaías 55:7). Mas a Palavra dele é também firme para com aqueles que se opõem à sua vontade.

Depois que os muros de Jericó caíram e a cidade foi destruída, “Josué os esconjurou, dizendo: Maldito diante do SENHOR seja o homem que se levantar e reedificar esta cidade de Jericó; sobre seu primogênito a fundará, e sobre o seu filho mais novo lhe porá as portas” (Josué 6:26). E para mostrar que Deus não estava brincando, muito tempo depois um rei ousou transgredir a maldição divina. “Acabe fez muito mais para irritar ao senhor Deus de Israel, do que todos os reis de Israel que foram antes dele. Em seus dias Hiel, o betelita, edificou a Jericó; em Abirão, seu primogênito, a fundou, e em Segube, seu filho menor, pôs as suas portas; conforme a palavra do SENHOR, que falara pelo ministério de Josué, filho de Num” (1 Reis 16:33-34).

A história de Betel, que significa “Casa de Deus” no hebraico, tem muito mais a ver com bênção que com maldição. Ali que Abrão, depois de ter sido chamado por Deus, “armou a sua tenda, tendo Betel ao ocidente, e Ai ao oriente; e edificou ali um altar ao Senhor, e invocou o nome do Senhor” (Gênesis 12:8). Ali também foi onde Jacó sonhou com a escada que alcançava o céu e “levantou-se Jacó pela manhã de madrugada, e tomou a pedra que tinha posto por seu travesseiro, e a pôs por coluna, e derramou azeite em cima dela. E chamou o nome daquele lugar Betel; o nome, porém daquela cidade antes era Luz” (Gênesis 28:18-19). Em Betel costumava ficar a Arca da Aliança, que simbolizava a presença de Deus, e era lá também que muitas vezes o profeta Samuel julgava o povo (1 Samuel 7:16).

Mas como tudo que o homem coloca sua mão acaba sendo arruinado, mais tarde vamos encontrar Betel transformada em um centro de idolatria, graças ao rei Jeroboão e seu bezerro de ouro (1 Reis 21:29). O profeta Oseias deixou clara a corrupção ocorrida no lugar que era inicialmente chamado de “Casa de Deus” ao chamar a cidade de “Bete-Áven” (Os 4:15), que significa “Casa do Nada” ou “Casa da Vaidade”, e Jeremias escreve que “a casa de Israel se envergonhou de Betel, sua confiança” (Jeremias 48:13).

O curioso é que hoje algumas religiões protestantes, ignorando o caráter de ruína que Betel passou a ter depois de invadida pela idolatria e corrupção, chamam a si mesmas de “Betel”. Uma seita que nega a divindade de Cristo também chama de “Betel” seus edifícios administrativos, complexos gráficos, fazendas e edifícios residenciais de seus voluntários.

Voltando à questão de Eliseu e dos meninos atacados pelas ursas, vamos partir do princípio de que Jericó era uma cidade amaldiçoada e Betel abençoada. É por meio delas que neste capítulo de 2 rs Deus irá mostrar que é capaz de produzir bênção no lugar de maldição e maldição no lugar de bênção. Quando Eliseu visita Jericó ele traz bênção para a cidade:

“Os homens da cidade disseram a Eliseu: Eis que é bem situada esta cidade, como vê o meu senhor, porém as águas são más, e a terra é estéril. Ele disse: Trazei-me um prato novo e ponde nele sal. E lho trouxeram. Então, saiu ele ao manancial das águas e deitou sal nele; e disse: Assim diz o Senhor: Tornei saudáveis estas águas; já não procederá daí morte nem esterilidade. Ficaram, pois, saudáveis aquelas águas, até ao dia de hoje, segundo a palavra que Eliseu tinha dito” (2 Reis 2:19-22).

Todavia, para a Betel abençoada Eliseu passa e traz maldição. “Então, subiu dali a Betel; e, indo ele pelo caminho, uns rapazinhos saíram da cidade, e zombavam dele, e diziam-lhe: Sobe, calvo! Sobe, calvo! Virando-se ele para trás, viu-os e os amaldiçoou em nome do Senhor; então, duas ursas saíram do bosque e despedaçaram quarenta e dois deles” (2 Reis 2:23-24).

Quando não conhecemos quem é Deus e o temor que se deve a ele vamos achar que ele fez mal em amaldiçoar Jericó lá no início do Antigo Testamento, mas fez bem em purificar suas águas neste capítulo de 2 Reis. E que ele fez bem em abençoar Betel lá em Gênesis 31:13 quando disse “Eu sou o Deus de Betel”, mas fez mal em permitir que as ursas atacassem os jovens irreverentes neste nosso capítulo.

Engraçado como nos achamos capazes de julgar como Deus deve ou não agir. Mas quando entendemos o significado da zombaria dos jovens contra Eliseu percebemos o quão sério é tratar com desprezo as coisas de Deus e aqueles que são dele. Eliseu era um profeta de Deus e devia ser respeitado como tal, porque era a expressão e voz de Deus na terra. Na atual dispensação todo verdadeiro crente no Senhor Jesus Cristo, como membro do seu corpo que é a Igreja, o representa na terra. Lembre-se de que quando o Senhor apareceu a Saulo no caminho de Damasco perguntou a ele: “Saulo, por que me persegues?” (Atos 9:4). Ele perseguia a igreja, os salvos por Cristo, mas não sabia que, agindo assim, era como se perseguisse o próprio Senhor.

Além disso, quando entendemos que Elias subindo aos céus era uma figura de Cristo que ressuscitou e ascendeu à destra da Majestade nas alturas, vemos a seriedade da zombaria dos jovens. Indiretamente eles zombavam da ascensão de Elias, da qual certamente tinham ouvido falar mas talvez não acreditassem. Daí zombarem de Eliseu: “Sobe, calvo! Sobe, calvo!”.

Você zomba da ressurreição e ascensão do Senhor Jesus? Você zomba dos cristãos que creem e proclamam esta mensagem? Lembre-se de que Deus, em sua infinita graça, pode trazer bênção no lugar de maldição — e todo ser humano em sua incredulidade está sob a maldição do pecado —, salvando por graça o pecador perdido, mas pode também, em sua justiça, amaldiçoar aqueles que foram privilegiados por ocuparem um lugar de bênção que é hoje a cristandade, mas nunca realmente creram em Cristo de coração. Aqueles que acham que o Deus do Antigo Testamento é diferente do Jesus dos evangelhos, lembrem-se disto:

“Nem todo o que me diz: ‘Senhor, Senhor!’ entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? E em teu nome não expulsamos demônios? E em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade” (Mateus 7:21-23).

Disse Jesus: “Pois eu vos digo que a qualquer que tiver ser-lhe-á dado, mas ao que não tiver, até o que tem lhe será tirado. E quanto àqueles meus inimigos que não quiseram que eu reinasse sobre eles, trazei-os aqui, e matai-os diante de mim” (Lucas 19:26-27).