Como é uma reunião da assembleia na prática?
Com a formação de algumas novas assembleias em um país do porte do Brasil, muitas delas isoladas e distantes umas das outras, é compreensível que os irmãos procurem ter cuidado com o que fazem para não fazerem algo fora da Palavra. Normalmente as reuniões da assembleia são aquelas descritas em Atos 2:42 ”E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações”.
A reunião do partir do pão ou ceia do Senhor é um memorial basicamente de gratidão, louvor e adoração. Nela lembramos o Senhor, pois ele pediu ”fazei isto em memória de mim” enquanto comêssemos do pão e bebêssemos do cálice de vinho, figuras (e não a realidade) de seu corpo e sangue. Ao fazermos isso também anunciamos sua morte, conforme ele disse: ”Todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice anunciais a morte do Senhor, até que venha” (1 Coríntios 11:26). Fazemos isso, por assim dizer, de cajado na mão e sandálias nos pés, prontos para a partida, porque o ”até que venha” nos faz lembrar de que ele logo vem.
A ceia do Senhor não é uma reunião para se pregar o evangelho ou ensinar doutrina, mas para agradecer e louvar a Deus pelo que ele é, a Cristo pelo que fez, recordando nos símbolos do pão e do vinho a morte do Senhor. Também não é uma reunião para pedirmos algo a Deus, pois para isso temos a reunião de oração. Ali nossas orações são no sentido de ações de graças pela morte e ressurreição de Cristo que nos trouxe salvação. Geralmente, após alguns irmãos sugerirem um hino e darem graças a Deus, um irmão se levanta, dá graças, parte o pão (que deve ser um pão inteiro, não uma fatia) e passa aos presentes.
Em assembleias grandes pode acontecer de vários irmãos ajudarem nessa tarefa levando a(s) travessa(s) ou cesta(s), mas na maioria das vezes o pão é passado de um para outro (somente os que já foram recebidos à comunhão à mesa do Senhor) e cada um tira o pedaço que irá comer. Depois o irmão que deu graças pelo pão dá graças pelo cálice de vinho e este é igualmente passado de mão em mão. Em reuniões grandes pode-se usar mais de um cálice, pois o que simboliza unidade é o pão, não o cálice. Mas como o cálice simboliza comunhão, não creio que seja correto utilizar cálices individuais, pois cada um beber em um cálice individual não dá ideia de comunhão.
Na reunião da ceia também se costuma passar um saquinho de tecido para coleta, e isto é feito apenas aos que estão em comunhão à mesa do Senhor. Embora visitantes possam assistir a reunião, eles não participam do pão, do vinho e nem da coleta. O dinheiro coletado é usado para as ”necessidades dos santos” (2 Coríntios 9:12), o que pode incluir coisas materiais, como ter um local para as reuniões, comprar cadeiras, pagar contas de água e luz etc., ou necessidades individuais de irmãos enfermos ou desempregados, ou ainda para aqueles que trabalham na obra do Senhor.
No primeiro caso, não se trata de algum tipo de “seguro desemprego” ou “auxílio doença” pago regularmente a irmãos desempregados ou enfermos, mas de ocorrências pontuais conforme o Senhor dirigir a assembleia a fazê-lo. No segundo caso não se trata de “clérigos” ou “missionários” no sentido das religiões, já que aqueles que se propõem a sair pregando o evangelho e visitando assembleias nunca pedem nada a ninguém além do Senhor, e a assembleia não tem qualquer vínculo ou obrigação em “assalariar” alguém neste sentido. Trata-se também de um exercício pontual conforme surgem as necessidades. Se quiser saber mais digite palavras como “ceia”, “mesa do Senhor”, “coleta” na caixa de busca do www.respondi.com.br
A reunião de oração é quando a assembleia está reunida para apresentar suas necessidades a Deus. Podem ser necessidades genéricas, como orar pelas autoridades, como também necessidades pessoais dos irmãos dali ou de outras assembleias. Geralmente os irmãos costumam apresentar as necessidades de oração antes de nos ajoelharmos para orar, pois assim todos poderão orar ou dizer o “amém” com sabedoria. Seria estranho alguém fazer uma oração pelo “Carlos” sem que os irmãos saibam quem é o Carlos e qual a necessidade dele.
Existem motivos de oração que podem ser apropriados para serem feitos em particular, mas nem tanto para serem apresentados em assembleia. Digo isto porque podem ser motivos totalmente estranhos aos irmãos e que também não dizem respeito às necessidades dos santos como um todo. Há também assuntos que muitas vezes são pessoais e privativos de pessoas que conhecemos e apresentá-los em público poderia ser prejudicial àquela pessoa. Minha opinião pessoal é que orar por necessidades de incrédulos também não seria apropriado numa reunião assim. Muitas vezes as dificuldades que um incrédulo está passando são a mão de Deus pesando sobre ele para que se converta, e neste caso minha oração deveria ser no sentido de ele se converter, e não de se livrar dos problemas. Portanto é preciso sabedoria também no que apresentar como necessidade de oração.
Uma terceira reunião da assembleia é aquela em que os irmãos têm o privilégio de serem edificados, consolados e exortados pelo Espírito Santo através do ministério dos dons. É o que vemos em 1 Coríntios 14:29: ”E falem dois ou três profetas, e os outros julguem”. Embora uma assembleia nova comece logo a praticar tanto a ceia do Senhor quanto a reunião de oração, pode acontecer de os irmãos ficarem temerosos de colocar em prática reuniões de ministério da Palavra, geralmente por se acharem inaptos para ensinar.
Devemos ser humildes em reconhecer que os vários dons dados por Cristo à Igreja não estão todos ali, mas espalhados por uma cristandade que se dividiu em milhares de denominações. Então não devemos nos achar completos neste sentido, mas apenas um remanescente que busca seguir ”a justiça, a fé, o amor, e a paz com os que, com um coração puro, invocam o Senhor” (2 Timóteo 2:22).
Podemos não ter todos os dons de ministério disponíveis numa assembleia local, mas ainda temos o Espírito e ainda temos a exortação de Paulo a Timóteo: ”Mas tu, sê sóbrio em tudo, sofre as aflições, faze a obra de um evangelista, cumpre o teu ministério” (2 Timóteo 4:5). Embora ali ele não estivesse falando de um dom que é exercido na reunião da assembleia para a edificação dos santos (pois se supõe que os presentes já estejam todos salvos), e sim exercido no mundo para a salvação de pecadores, parece que Timóteo não tinha exatamente o dom de evangelista, mas foi exortado a fazer o ”trabalho de um evangelista”.
Geralmente uma assembleia nova adota a prática de reuniões informais nas quais leem algum livro, acessam algum site ou ouvem algum ministério gravado de reuniões de outras assembleias. Estas reuniões não são reuniões da igreja ou assembleia nos moldes de 1 Coríntios 14, versículos 26 em diante, portanto nelas não se aplica o mandamento dado pelo Senhor por meio de Paulo no versículo 34, que ordena que as irmãos não falem.
Numa reunião informal não há problema em uma irmã fazer perguntas, desde que ela não comece a ensinar doutrina, o que é vedado em 1 Timóteo 2:11-14, de forma geral e não restrita às reuniões de assembleia, onde diz que ”a mulher aprenda em silêncio, com toda a submissão. E não permito que a mulher ensine, nem exerça autoridade de homem; esteja, porém, em silêncio. Porque, primeiro, foi formado Adão, depois, Eva. E Adão não foi iludido, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão.”
Reuniões informais para o estudo da palavra e do ministério escrito ou falado por outros irmãos, e também para cantar hinos e conversar das coisas do Senhor, são muito proveitosas. Mas não devem substituir jamais as reuniões da assembleia para o ministério da Palavra. Precisamos tomar cuidado para não tolher a liberdade do Espírito e acabarmos “viciados” em reuniões informais de estudo, nas quais temos acesso instantâneo a qualquer ministério de qualquer irmão, graças à tecnologia da informação. Apesar de aprendermos muito com isso, uma comparação tosca seria a de ler um livro sobre andar de bicicleta e efetivamente pedalar na prática.
Quando estamos congregados ao nome do Senhor esperando nele e com o Espírito Santo a nos dirigir, ainda que apenas um versículo seja lido e duas ou três palavras faladas a respeito daquele versículo, o Espírito Santo terá uma liberdade de agir de uma forma que não tem quando abrimos livros e enciclopédias. Devemos reconhecer que vivemos em tempos de fraqueza, mas também precisamos ter cuidado de não apagar o Espírito. Estes quatro versículos são para a assembleia:
- “Não extingais o Espírito” (1 Tessalonicenses 5:19)
Extinguir o Espírito significa restringir sua liberdade e limitar sua ação. Há coisas que naturalmente extinguem o Espírito, como o pecado não julgado, as tradições e as regras humanas. Concentrar todo o ministério em um só irmão também é uma forma de extinguir o Espírito, pois não podemos supor que o Espírito irá usar sempre e exclusivamente aquele irmão nas reuniões da assembleia.
Apesar de ser aconselhável que os irmãos que ministram sejam como aquele rapaz do Evangelho e já venham de casa trazendo ”cinco pães de cevada e dois peixinhos” (João 6:9) para o Senhor multiplicar, não devemos tentar organizar ou regular a ação do Espírito na assembleia, pois isso poderia ser uma forma de extingui-lo. O ”não extingais o Espírito” inclui também entender que o Espírito Santo poderá usar um irmão pelo qual não nutro total afeição ou que, aos meus olhos, não é um grande entendedor da Palavra. Uma vez li a história de uma assembleia em uma pequena cidade da Inglaterra na qual congregavam lado a lado o juiz, que era o homem mais ilustre da cidade, e o padeiro, homem simples e de pouca instrução. Se nas questões legais da cidade era o juiz quem se manifestava, mas na assembleia o Espírito usava o padeiro para ensinar.
L. M. Grant escreve: ”Existe, evidentemente, uma ligação muito próxima entre os versículos 19 e 20. 'Não extingais o Espírito' inclui uma genuína consideração de uns para com os outros e com aquilo que o Espírito de Deus possa estar querendo dizer através de um ou outro. Pode acontecer de as profecias serem o tipo de ministério mais desprezado por não se tratar de um ensino formal que apele para o intelecto humano, seja na assembleia ou não, mas sim de um ministério que fala ao coração e à consciência para edificação, exortação e consolação (1 Coríntios 14:3) e que pode ser bem perscrutador.”
O verbo extinguir aqui nos fala de algo como uma chama, e devemos nos lembrar de que podemos apagar uma chama por deixar de dar a ela o combustível necessário (neste caso uma comunhão diária com Deus e com sua Palavra da parte dos que ministram), soprando a chama (neste caso sendo aquele que esfria os ânimos dos irmãos com olhares gélidos ao invés de incentivá-los a participar) ou de forma mais agressiva, apertando o pavio ou dando um tapa na vela (que é quando criamos situações embaraçosas ou críticas que desestimulem nossos irmãos de exercerem seus dons).
Antes de pensarmos que as reuniões da assembleia sejam de proveito apenas dos santos reunidos, é bom lembrar que estamos ali também como espetáculo para os anjos. É através da igreja que a multiforme sabedoria de Deus é conhecida deles. ”Para que agora, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus seja conhecida dos principados e potestades nos céus” (Efésios 3:10).
- “Não desprezeis as profecias” (1 Tessalonicenses 5:20)
Quando extinguimos o Espírito por alguma dessas razões estamos também desprezando as profecias. Profetizar significa falar da parte de Deus, e isto é algo que fazemos às vezes sem perceber. Lembro-me de uma reunião em São Paulo, quando congregávamos em meu apartamento, que uma visitante incrédula levantou-se e saiu correndo e chorando em direção à cozinha. Uma irmã que foi ver se ela estava bem, a escutou dizer: ”Por que eles ficam falando o tempo todo de mim?”. É evidente que ninguém estava falando dela, e aquela nem era uma pregação do evangelho dirigida a incrédulos, mas de algum modo o Espírito usou a Palavra que estava sendo dita para mexer com sua consciência.
Este exemplo que aconteceu com uma visitante acontece com frequência com irmãos. Quantas vezes algum irmão, sem saber, trouxe uma palavra que foi como uma seta encravada em meu coração! Quando decidimos adotar o Pedro fizemos tudo sem contar nada a ninguém, exceto ao Senhor. Não contamos de nossa intenção nem aos irmãos, nem aos familiares, pois nós mesmos não estávamos muito certos do passo que iríamos dar. Então, numa reunião da assembleia em São Paulo, que nessa época se reunia no apartamento de outro irmão, quando nosso coração ainda balançava se seria ou não a decisão correta a tomar, um irmão de outra assembleia que nos visitava, e era ele próprio filho adotivo, trouxe uma palavra sobra adoção.
Ele falou de como nós tínhamos sido adotados por Deus para sermos seus filhos. Embora o Espírito possa utilizar de muitos meios para falar ao nosso coração, talvez nossos corações não teriam sido tão impactados se estivéssemos lendo um livro de algum irmão do século 19 ou ouvindo uma gravação. Qualquer um de nós sabe que as coisas são muito melhores quando ao vivo e em cores.
- “Examinai tudo. Retende o bem” (1 Tessalonicenses 5:21)
A reunião de ministério da Palavra inclui o julgamento, não da pessoa que fala, mas do que está sendo falado. Como diz em 1 Coríntios 14:29, ”falem dois ou três profetas, e os outros julguem”. Em caso de pequenos deslizes (como errar o nome de algum personagem bíblico) não é proveitoso interromper a reunião ou repreender o irmão que está ministrando. Há também questões que não são de importância cardeal e que podem ser conversadas depois da reunião, para não transformar o ministério daquele irmão em um debate ou discussão. Mas há também verdades cardeais, como a da divindade do Senhor, que se forem negadas por alguém que ministra devem ser imediatamente julgadas e o irmão convidado a se calar até que se esclareça o assunto a posteriori.
Este versículo de 1 Tessalonicenses 5:21, que diz ”examinai tudo”, costuma ser mal interpretado quando se aplica esse ”tudo” a qualquer coisa, como se isto servisse de aval para nos ocuparmos com tudo ao nosso redor, desde que examinássemos direitinho. Costumo receber e-mails de irmãos que dizem estar estudando religiões satânicas e usam este versículo com o pretexto de que, conhecendo bem essas religiões, estarão mais preparados para refutá-las. Mas esse ”examinai tudo” obviamente está conectado ao versículo anterior, que é ”não desprezeis as profecias” (1 Tessalonicenses 5:20), o que evidentemente limita-se ao ensino da verdade. Se eu sei que uma coisa é intrinsecamente má, não devo perder meu tempo e correr o risco de me contaminar indo a fundo na questão. Nenhum de nós seria louco de experimentar uma colher do líquido que está no vidro com o rótulo ”Ácido Sulfúrico” para saber que gosto tem. Basta ler o rótulo para manter distância daquilo.
- “Abstende-vos de toda a aparência do mal” (1 Tessalonicenses 5:22).
Acredito que este versículo na sequência tenha também muito a dizer à reunião dos santos. Às vezes falamos, fazemos ou nos comportamos nas reuniões com total boa vontade e sem qualquer malícia, mas sem perceber que aquelas palavras, Atos e atitudes podem estar sendo mal interpretadas por alguns por terem aparência de mal. O amor jamais se justifica dizendo ”eu falo o que eu quiser”, ou ”eu faço do jeito que achar melhor” ou ”eu me comporto do modo como considero ser o correto”. O amor sempre deve levar nossos irmãos em consideração e devemos sim nos preocupar, pensando de antemão: ”Será que isto que vou dizer pode chocar alguém?”; ”Será que meus gestos ou tom de voz podem ser interpretados como ofensivos ou agressivos?”; ”Será que a roupa que vou vestir na reunião não será motivo de tropeço para alguns?”. Sempre que estivermos congregados ao nome do Senhor, e em todos os outros momentos de nossa vida, devemos nos lembrar do que diz a Palavra de Deus:
“O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece. Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal; não folga com a injustiça, mas folga com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor nunca falha” (1 Coríntios 13:5-8).