Devo ouvir o “profeta”?

Tenho recebido muitas mensagens de pessoas perguntando sobre o “profeta” e se devem dar crédito ao que ele diz. Seu nome é Dr. David Owuor e assume para si mesmo o pomposo título de “O Poderoso Profeta de Deus do Fim dos Tempos”. Ele tem feito seguidores na África e em outras partes do mundo pregando arrependimento e santidade de vida.

Levando sempre um “Dr.” antes do nome, por causa de seus muitos títulos na área da pesquisa médica, ele afirma que o Senhor lhe apareceu, tocou sua boca e o transportou milagrosamente para outro cômodo da casa. Depois apareceu novamente acompanhado de Moisés e Elias, ao lado da Arca da Aliança, enquanto o profeta Daniel permanecia do outro lado. Mais tarde apareceria outra vez para apresentar a ele João Batista, ordenando que saísse aos quatro cantos da terra para preparar o arrependimento entre as nações, preparando-as para a vinda de Cristo.

Você iria duvidar de um currículo assim? Bem, mesmo que você não seja “profeta”, sugiro que coloque as barbas de molho antes de engolir o discurso de alguém que diz ser “O Poderoso Profeta de Deus do Fim dos Tempos”. Ah, mas ele faz chover, faz surgir luzes no céu, cura pessoas, não pede dinheiro e denuncia os pecados da cristandade. Mesmo assim, ainda que ele transforme sua vara em serpente e água em sangue, não é hora de desligar o “desconfiômetro”. Você poderia acabar seguindo um mago de Faraó achando que era Moisés. Ou você espera que um falso profeta venha com um crachá pendurado na barba escrito “Falso Profeta”?

“E surgirão muitos falsos profetas, e enganarão a muitos” (Mateus 24:11).

“Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas, interiormente, são lobos devoradores” (Mateus 7:15).

“Porque surgirão falsos cristos e falsos profetas, e farão tão grandes sinais e prodígios” (Mateus 24:24).

Bem, o que temos aqui? As passagens dizem que os falsos profetas não seriam poucos, mas muitos, que iriam parecer por fora o que não são por dentro e que também fariam grandes sinais e prodígios. Geralmente as pessoas dão crédito a quem faz milagres, mas será que não prestaram atenção no aviso? Muitos falsos profetas têm surgido se declarando “profetas de Deus” e dizendo ser Elias ou João Batista. E aí, com ou sem barba, abrem uma mala de profecias catastróficas, assistem a previsão do tempo antes de “profetizar” que vai chover e ganham seguidores às pencas.

É claro que você terá dificuldade em identificar um falso profeta se não tiver entendido que não somos Israel, porém Igreja; que não estamos mais na Lei, mas na dispensação da graça de Deus, e que os profetas eram enviados a Israel para admoestá-los a cumprir a Lei. Essa distinção fica muito clara na própria mensagem dada pelo profeta Malaquias ao falar do arauto que viria para preparar o caminho para a vinda do Messias. Veja se encontra alguma referência à Igreja neste anúncio:

“Lembrai-vos da lei de Moisés, meu servo, que lhe mandei em Horebe para todo o Israel, a saber, estatutos e juízos. Eis que eu vos enviarei o profeta Elias, antes que venha o grande e terrível dia do Senhor; e ele converterá o coração dos pais aos filhos, e o coração dos filhos a seus pais; para que eu não venha, e fira a terra [de Israel] com maldição” (Malaquias 4:6).

Repare que toda a encenação desse “Dr. Profeta” quer nos fazer crer que temos diante de nós um profeta bem no estilo do Antigo Testamento, o que nada tem a ver com os profetas da Igreja que nos legaram o Novo Testamento. Este “Dr. Profeta” queniano diz ser parte de um trio formado por Elias, João Batista e... ele próprio, claro.

Assim como João Batista pregava o arrependimento diante da chegada do Messias e Rei de Israel, este “profeta” finge que faz o mesmo em relação à segunda vinda de Cristo. Sua pregação consiste em aterrorizar as pessoas com ameaças de fogo e enxofre, e basta uma visita ao seu site para perceber que mais parece um site de notícias sensacionalistas, desses que só falam de crime e catástrofes, do que um site evangelístico que anuncie a graça de Deus para salvar o pecador.

Geralmente “profetas” assim, além de falarem um monte de si mesmos, fazem alarde de supostas profecias cumpridas, e convenientemente esquecem as que não deram certo. Sabe aquelas previsões de astrólogo de fim de ano, que todo Ano Novo é chamado outra vez pela emissora de TV, porque todo mundo já esqueceu que ele não acertou uma no ano anterior? Pois é. Nossa memória naturalmente se lembra daquilo que prefere lembrar. Se eu disser a você cem coisas que podem acontecer este ano e só uma acontecer você irá se lembrar dessa e ficará impressionado como eu acertei.

Mas voltando ao profeta que diz ter vindo como se fosse o Elias e João Batista dos tempos do fim para avisar da vinda de Cristo... espere um pouco. Acaso o Senhor não afirmou que “todos os profetas e a lei profetizaram até João. E, se quereis dar crédito, é este o Elias que havia de vir” (Mateus 11:23-24)? E acaso Jesus não disse também, acerca de João Batista, que “este é aquele de quem está escrito: Eis que envio o meu anjo diante da tua face, o qual preparará diante de ti o teu caminho” (Lucas 7:27)?

Bem, então estamos com um problema quando aparece alguém dizendo ser alguém que já apareceu, não é mesmo? E pior ainda, quando o aparecido se denomina “Poderoso Profeta de Deus do Fim dos Tempos”. Lembre-se de que Jesus disse que “entre os nascidos de mulheres, não há maior profeta do que João o Batista” (Lucas 7:28). Jesus não estava falando de um moderno doutor que anda de limusine com guarda-costas armados, mas de um homem vestido de peles e se alimentando de gafanhotos e mel silvestre, que pregava no deserto e “não fez sinal algum” (João 10:41), do tipo fazer chover ou curar enfermos.

Agora eu me pergunto: Um profeta de Deus precisaria colocar “Dr.” antes do nome? O Senhor Jesus nos alertou, ao falar dos falsos profetas, que “por seus frutos os conhecereis” (Mateus 7:16). Somos rápidos em interpretar a palavra “frutos” como as ações do falso profeta, tipo pedir dinheiro, agir de forma desonesta e coisas do tipo. Mas podemos também interpretar “frutos” como consequências naturais de uma árvore, e não as coisas que a árvore faz. E o que você vê como frutos deste e de outros profetas que aparecem por aí? Basta uma rápida olhada nas fotos para ver dezenas de pessoas se prostrando aos pés desse “Poderoso Profeta de Deus do Fim dos Tempos” e até empunhando escovões para lavar as ruas de cidades por onde seu carro iria passar.

Com um currículo de doutor, especializado em engenharia genética molecular, doutorado em Israel e pós-doutorado em quimioterapia, que aparecia em seu site inicial e foi tirado depois que ficou famoso, ele disse ter sido chamado para pregar. Até aí tudo bem, não fosse o fato de que, de um homem comum e sem barba pregando nas ruas de cidades da África, em poucos anos ele passou a celebridade. Ah, e também deixou crescer uma longa barba, porque profeta sem barba não vale. No noticiário envolvendo o “profeta” não faltam fotos ao lado de presidentes e políticos que emprestam seus aviões para transportá-lo. É claro que políticos gostam de paparicar quem atrai multidões, e é por isso que muitos países não cobram impostos de igrejas. Quando um político tem um líder religioso no bolso basta convencer o líder que a multidão vota no automático.

Talvez você me considere ferino em meus comentários, mas devo lembrar que antes de minha conversão fui enganado por diferentes gurus espiritualistas. Como diz o ditado, que “cachorro mordido de cobra tem medo de guru” e “gato escaldado tem medo de guru”, adquiri um certo faro para essas coisas, principalmente quando envolve a exaltação própria de quem diz ser alguma coisa ou ter algum poder espiritual. O apóstolo João nos alerta: “Amados, não creiais a todo o espírito, mas provai se os espíritos são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo” (1 João 4:1).

Quer ver como é fácil detectar a falsidade de um “profeta” assim? Fiz uma busca na Bíblia pela expressão “sou profeta” e só encontrei um homem afirmando isso de si mesmo: aquele “velho profeta” que enganou um profeta de Deus dizendo para ele fazer o contrário do que Deus havia dito (1 Reis 13:18). E João Batista, a quem esse “Dr. Profeta” se compara e diz ser o sucessor? Quando lhe perguntaram: “És tu profeta? E respondeu: Não” (João 1:21). Acredito que não vamos encontrar na Bíblia um profeta que diga ser profeta, mas ou é chamado assim por Deus ou pelo povo. Então, se quiser identificar um falso profeta, basta ver se ele fala grandes coisas de si e faz alarde de supostos milagres, visões e profecias. Veja estas três instâncias de falsos profetas encontradas na Bíblia, e como elas apontam para a autoproclamação:

“Quem FALA DE SI MESMO busca a sua própria glória” (João 7:18).

“Porque antes destes dias levantou-se Teudas, DIZENDO SER ALGUÉM...” (Atos 5:36).

“E estava ali um certo homem, chamado Simão, que anteriormente exercera naquela cidade a arte mágica, e tinha iludido o povo de Samaria, DIZENDO QUE ERA GRANDE PERSONAGEM” (Atos 8:9).

Agora, deixando de lado as imitações, vamos falar um pouco de João Batista, o genuíno precursor do Messias de Israel e o Elias que veio aplainar os caminhos do Senhor. Não quer dizer que João era Elias em carne e ossos, mas ele era o que representava Elias, pois veio no poder e virtude de Elias com a missão prevista pelos profetas do Antigo Testamento. Repare que ele negou que era o Elias justamente para os incrédulos fariseus que fizeram a pergunta:

“Quando os judeus mandaram de Jerusalém sacerdotes e levitas para que lhe perguntassem: Quem és tu? E confessou, e não negou; confessou: Eu não sou o Cristo. E perguntaram-lhe: Então quê? És tu Elias? E disse: Não sou. És tu profeta? E respondeu: Não. Disseram-lhe pois: Quem és? Para que demos resposta àqueles que nos enviaram; que dizes de ti mesmo? Disse: Eu sou a voz do que clama no deserto: Endireitai o caminho do Senhor, como disse o profeta Isaías. E os que tinham sido enviados eram dos fariseus” (João 1:19-24).

Todavia, ele era sim o Elias para os que cressem, enquanto que para os incrédulos ele não era nem profeta e nem o Elias. Simples assim, porque foi o que Jesus disse: “E, se quereis dar crédito, é este o Elias que havia de vir” (Mateus 11:14). Dou um exemplo: para os que creem em Cristo ele é o Salvador e Advogado, mas para os que não creem ele não é Salvador e nem Advogado. Ele é Juiz e Algoz.

Malaquias profetizou: “Eis que eu vos enviarei o profeta Elias, antes que venha o grande e terrível dia do Senhor; e ele converterá o coração dos pais aos filhos, e o coração dos filhos a seus pais; para que eu não venha, e fira a terra com maldição” (Malaquias 4:5-6).

As últimas palavras do Antigo Testamento trazem à memória Moisés, por meio de quem Israel recebeu a Lei. Fala também de Elias, usado para profetizar às dez tribos para que permanecessem na Lei em tempo de grande abandono e idolatria. Sabemos que João Batista veio para Israel no espírito e poder de Elias e, embora ele tenha negado ser o Elias, para os fariseus incrédulos, o Senhor afirmou que ele era Elias para quem lhe dava crédito. Isto é, cumpria-se assim a promessa do aviso que precederia a vinda de Cristo para reinar. Depois disso esse “Dr. Profeta” e outros profetas modernos que vez ou outra surgem dizendo-se Elias ou João Batista ficam sobrando. Mesmo porque a mensagem de arrependimento foi dada a Israel, não à Igreja, e o evangelho da graça que hoje pregamos é “Crê no Senhor Jesus e serás salvo”, enquanto o evangelho do reino, pregado por João Batista, e por Jesus e seus discípulos nos evangelhos, era “Arrependei-vos porque é chegado o reino de Deus”.

O que muitos não entendem é que, entre o aviso de arrependimento dado por João Batista e a efetiva vinda de Cristo em poder e glória para julgar as nações e estabelecer seu reino na terra, haveria um parêntesis profético no qual Deus incluiria a presente dispensação da graça e a Igreja, o povo celestial de Deus. Isto estava oculto até mesmo dos profetas do Antigo Testamento e seria revelado inicialmente a Paulo. Quando a igreja for arrebatada será como se emendássemos a proclamação de João Batista com o remanescente judeu que irá se converter após o arrebatamento, nos sete anos que precederão a vinda de Cristo. Nesse período também haverá duas testemunhas, como mostra Apocalipse 11:3-13, pregando no espírito ou disposição de Moisés e Elias, e seu discurso também terá tudo a ver com o de João Batista.

Se você segue a teologia do pacto terá dificuldade para entender que o Antigo Testamento é a história do homem sob a Lei, uma história que termina em “maldição”, a última palavra de Malaquias. O Novo Testamento é a história da graça de Deus, “Porque a lei foi dada por Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo” (João 1:17), portanto suas últimas palavras são que a graça do Senhor Jesus Cristo esteja com todos os santos (Apocalipse 22:21). Sabendo disso, você daria ouvidos a um suposto profeta, que alardeia seus próprios feitos, anda em ostentação cercado por seguranças, e prega maldição para quem não se arrepender e guardar a Lei, como faziam os profetas de Israel? Ou você repousa na graça de Deus e na certeza de sua salvação, e espera pela iminente vinda de Cristo para arrebatar sua Igreja, a qual ele já tornou apta ao céu, não por arrependimento ou obras da Lei, mas por graça e por seu sangue derramado na cruz?

Quase ia me esquecendo de uma outra característica de um falso profeta que tem tudo a ver com seus “frutos” ou consequências de seu ministério. Os seguidores de um falso profeta sentem o sangue ferver quando ouvem uma crítica àquele a quem seguem, ficam cegos para a verdade, negam a realidade e são capazes de dar a vida por ele. Mesmo que antes de seguirem o tal “profeta” professassem ser cristãos, passam a defendê-lo com uma energia e vontade que nunca usaram para defender a Cristo. Um falso profeta leva as pessoas ao fanatismo religioso. Ou o que você acha que levou aqueles radicais islâmicos a metralharem os cartunistas que zombaram de seu “profeta”?