Por que me decepcionei com as reuniões?

Você disse que ficou decepcionada depois de visitar uma reunião de irmãos congregados ao nome do Senhor. Não se preocupe, a maioria das pessoas que vão a uma reunião nunca mais voltam, e entendo perfeitamente a razão, pois foi o mesmo sentimento que tive em minha primeira visita a uma assembleia de irmãos congregados ao nome do Senhor somente. Eu estava congregando com irmãos da Igreja Batista em uma pequena congregação no interior de Goiás, onde nem sequer existia um pastor para dirigir os “cultos”. Então eu e outro irmão nos revezávamos em pregar o evangelho naquele pequeno salão onde não devia caber mais que vinte pessoas.

Quando visitei igrejas maiores (eu tinha me convertido sem saber o que eram igrejas protestantes, só a católica) fiquei chocado com o que vi. Em uma delas a pastora era uma mulher, contrariando o pouco que eu conhecia das Escrituras que proíbem a mulher de ensinar (1 Timóteo 2:11-15) e até mesmo de falar nas reuniões da igreja (1 Coríntios 14:32-40). Nesse mesmo lugar vi a manipulação que ela fazia sobre as pessoas com apelos tipo leilão: “Quem vai ofertar cem venha à frente para ser abençoado!”; “Agora quem vai dar cinquenta!”; “Alguém vai dar vinte?”; “Agora venha à frente quem vai dar qualquer coisa...”. Aí você via o constrangimento dos mais pobres caminhando em direção ao púlpito com o dinheiro do ônibus.

Em outra igreja mais tradicional não entendi a razão de ninguém sair ao término do culto. Aí vi o pastor saindo e se colocando à porta e todos saindo em seguida e o cumprimentando. Tudo ali acontecia em torno daquele homem. Em outra igreja a ênfase estava na emoção, e até durante a oração tinha alguém no piano tocando uma melodia tristonha para nosso “enlevo espiritual”. Tudo era na base da música, do teatro e outras artificialidades para despertar a emoção da carne. Quando um grupo subiu ao palco e a mesa de som disparou o play-back da orquestra de fundo, minha pele arrepiou. Mas não durou muito, pois o toca-fitas (sim, era na época de play-back em fita K7) engoliu a fita e deu aquele nó que só quem viveu na época conhece bem. A orquestra parou e o coro engasgou. Como tudo o que vinha a seguir também dependia de fundo musical ninguém mais soube o que fazer e o culto foi encerrado.

Teve também a igreja que visitei numa noite de gala, quando haveria a troca de pastores. Era uma grande igreja em Brasília e ali estávamos eu e minha esposa de jeans e camiseta em meio a uma multidão vestida para festa de casamento. Antes que me sentisse mais constrangido do que já estava, começou a “rasgação de seda” no púlpito, onde o pastor que deixava o posto tecia grandes elogios ao pastor que assumiria o cargo. Aí o novo pastor subia ao palco para derramar uma cachoeira de adjetivos coroando o pastor que saía com elogios piegas, rasgados e exagerados. Minha vontade foi gritar: “Ei, amigo, será que ninguém aí vai se lembrar de falar de Cristo?”.

Enquanto minha decepção crescia decidi visitar um grupo de amigos em minha cidade natal, que eu sabia que haviam se convertido e se reuniam em algum lugar. A cabeleireira de minha mãe frequentava as reuniões, congregava lá e pedi para minha mãe ligar para ela para saber o endereço. Minha mãe, que na época era católica e alguns anos mais tarde se converteria e viria a congregar ao nome do Senhor até sua morte em 2005, logo me desencorajou. “Xi, meu filho, é melhor você ir nessas igrejas onde já está indo... Aquele grupo nem nome tem, alguns ali fumavam maconha antes, dizem até que eles se reúnem para fumar e levam a erva escondida na Bíblia...”.

Tanto insisti que ela ligou e fui parar no segundo andar de um predinho comercial, numa salinha com uns bancos de madeira dura e nenhum pastor à frente. Eu, que sabia que alguns deles tinham sido músicos de bandas de rock, esperava ao menos um som caprichado, mas nada. Nenhum instrumento à vista. Aí, depois de um silêncio que durou um século, alguém sugeriu cantarem um hino de um hinário feito em mimeógrafo de álcool (aquele das letrinhas azuis). Minha vontade foi de pular pela janela, de tão mal cantado! Mais silêncio, agora durando dois séculos, e alguém se levantou e deu graças. Outro hino, outro silêncio, e finalmente alguém decidiu ler uma passagem da Bíblia e, entre um silêncio e outro, alguns irmãos fizeram comentários, que nem me lembro quais foram porque eu estava mais ocupado com a forma do que com o conteúdo. Outro hino, outra oração e foi isso. Se eu tivesse comprado ingresso teria exigido meu dinheiro de volta.

Voltei para casa remoendo aquilo que tinha visto. Eu sabia que não faltavam qualidades naquelas pessoas, mas não vi nenhuma sendo colocada em prática. Nenhum bom orador; nenhum som caprichado que eu sabia que alguns ali sabiam produzir; nenhuma animação. Um velório teria sido mais divertido. Então naquela noite, ao colocar a cabeça no travesseiro, perguntei em oração: “Senhor, o que aquelas pessoas estão fazendo ali? E a resposta que veio ao meu coração foi: 'Eles estão congregados por causa de MIM'“. Eu ainda brigaria mais de um mês para não me deixar dominar por aquela ideia, enquanto mergulhava em alguns poucos folhetos que tinham me dado e comparava o que lia com as Escrituras. Mas o Espírito Santo tinha me fisgado, e depois de me debater um bocado decidi me entregar ao fato de que é para o Senhor que os cristãos devem congregar.

Então seria bom você analisar se a sua decepção não foi por ter ido a uma reunião dos irmãos congregados ao nome do Senhor buscando algo além DELE. Muitas pessoas entram em contato comigo perguntando de algum endereço onde congregar e depois a reação é a mesma sua: ficam decepcionadas e nunca mais voltam. A razão? Não entenderam bem o que significa estar congregado para o Senhor. Estavam em busca de uma “igreja alternativa” por estarem decepcionadas com alguma coisa no lugar onde já congregavam, ou por terem tido alguma briga com os dirigentes de lá, ou por estarem cansadas de patrocinarem pastores morando em mansões e viajando em grande estilo, etc.

Alguns chegam achando que irão encontrar um grupo de irmãos que tenham aquela auréola dourada em volta da cabeça, como os santos das imagens católicas. Chegam pensando encontrar pessoas perfeitas levitando a um palmo do chão e se decepcionam ao descobrir que são feitas da mesma carne que todos os seres humanos. Outros acham que vão encontrar uma “restauração” da igreja nos moldes de Atos 2, quando todos tinham tudo em comum, mas não percebem que em Atos 6 aqueles mesmos amáveis, dedicados e altruístas irmãos já estavam brigando por comida.

Há também os carentes, que se decepcionam por não encontrarem o amor com que buscavam ser amados, sem perceber que nunca a Bíblia ordena que o cristão exija amor, mas que ame. Ou seja, quem busca por amor deveria entender que amor não é algo para se esperar, mas para se dar. Também reclamam da falta de atenção e caridade, como quem busca uma ONG beneficente, sem perceberem que ali são pessoas como outras quaisquer, trabalhando aqui e ali para fazerem as contas fecharem no fim do mês. Quem vem atrás de “uma turma mais animada” do que na igreja que frequentava, logo percebe que a reunião dos irmãos congregados ao nome do Senhor não é um clube de campo e nem um show de bandas famosas e pregadores ilustres. É aí que o que chega “roto” descobre que nada mais encontrou do que um bando de “rasgados”, e aí passa a falar mal de tudo e de todos.

Uma vez um visitante vindo de uma denominação mais legalista me escreveu: “Tudo o que vi ali foi uma irmã com as costas de fora, outra de mini-saia mostrando as pernas, outra que não parava de ir ao banheiro, outra que ficava conferindo o WhatsApp...”. Respondi dizendo que se tinha ido em busca de pessoas mais santas e espirituais não era de espantar que ficasse decepcionado, pois tudo o que tem ali é “uma irmã com as costas toda de fora, outra que só vai ao banheiro, outra de pernas para fora, outra que fica conferindo o celular e um irmão que fica olhando costas, pernas, quem entra e sai e quem verifica o celular”.

Um visitante que chegou meio de paraquedas perguntou a denominação e, quando soube que não tínhamos uma denominação, respondeu: “Não se preocupe, irmão, vou orar e Deus vai revelar a vocês uma denominação para colocarem na placa da igreja”. Outro, quando não viu instrumentos musicais no salão, perguntou: “Não tem banda?”. Respondi que não, e ele tentou me consolar: “É, eu compreendo, no começo a igreja passa por dificuldades para comprar instrumentos, mas o Senhor vai prover”.

Como você pode ver, quem buscar encontrar uma “igreja alternativa”, uma “turma legal”, uma “festa de amor”, um “clube de campo”, vai cair do cavalo, porque o que devia ter procurado era o fundamento sobre o qual a igreja deve estar reunida. Então, por que alguém se disporia a deixar para trás toda a estrutura denominacional, com seu clero, cultos espetaculares, grandes eventos, estruturas beneficentes, planos médicos e dentários e tantas outras coisas que oferecem as grandes denominações, só para estar com um bando de perdedores congregado ao nome do Senhor?

Bem, isso me faz lembrar de um episódio quando duas jovens interessadas convidaram um irmão norte-americano que visitava o Brasil, o Bob, para irem à casa de uma delas falar mais do assunto. Esse irmão, que está congregado ao nome do Senhor, fala portunhol e costuma visitar assembleias de irmãos do Canadá ao Peru, não sabia que elas tinham convidado também um pastor adventista. Quando chegou lá deu uma breve explanação do que era estar congregado ao nome do Senhor e aí foi a vez do pastor adventista desfilar todas as vantagens que aquelas jovens teriam caso decidissem se filiar à sua organização: “Temos trocentas igrejas em todo o mundo, trocentas escolas, trocentos hospitais, um barco hospital na Amazônia, trocentos missionários...” e por aí foi.

Então, virando-se para o irmão Bob e fazendo cara de “Mr. Bean” quando se mostra orgulhoso de seu ursinho de pelúcia, perguntou: “E vocês, o que têm”. Bob nem piscou para responder: “Só temos Jesus”. Foi o suficiente para que uma daquelas jovens decidisse o que fazer e até hoje (uns trinta anos depois) está congregada ao nome do Senhor.

Mas eu não poderia terminar sem dizer exatamente a razão de alguém deixar tantas vantagens materiais, sociais e emocionais nas organizações religiosas para desejar estar congregado “só ao nome de Jesus”. Então aqui vai: Você deve buscar congregar ao nome do Senhor por causa do VALOR DE CRISTO e porque ELE É DIGNO. Quer mais? Então que tal congregar assim por reconhecer A SOBERANIA DO ESPÍRITO SANTO, e não de homens, em guiar os crentes em tudo? Espere! Existe ainda mais uma razão para estarmos congregados somente ao nome do Senhor, e esta é A UNIDADE DO CORPO DE CRISTO, algo que não pode ser demonstrado quando se carimba diferentes nomes sobre diferentes grupos cristãos. Finalmente, estamos congregados ao nome do Senhor somente para ATENDER ÀQUILO QUE ELE PEDIU EM SUA PALAVRA.

Eu normalmente não costumo convidar pessoas para as reuniões, porque o cristão está nesse mundo para pregar o evangelho e convidar as pessoas para irem a Cristo, não a uma reunião ou igreja. Eu sei que quando alguém se converte e se coloca sob a direção do Espírito e tendo o desejo de fazer a vontade de Deus, esse tal não será confundido e Deus o encaminhará ao lugar onde o Senhor está no meio e o Espírito Santo dará a convicção de ser aquele o lugar. “Se alguém quiser fazer a vontade dele, conhecerá a respeito da doutrina” (João 7:17). A premissa está em querer fazer a vontade do Senhor, e não satisfazer seus próprios desejos de amizades, enlevo e emoção.

Mas às vezes sou obrigado a convidar determinadas pessoas a não irem às reuniões, se perceber que estão buscando algo que não seja exatamente Cristo. Se elas procuram por amizade de pessoas perfeitas, animadas, vivendo como a “igreja primitiva”, em reuniões extasiantes e cheias de emoção, com a oferta de benefícios assistenciais e beneficentes, em cultos de muitos decibéis de música de qualidade e pregadores bem articulados, eu prefiro dizer: Não vá.