O que você acha da “Bíblia Judaica Completa”?

Confesso a você que apenas li comentários sobre essa versão e alguns poucos trechos dela que está disponível em inglês online, mas não a utilizaria para minha leitura. Talvez ela tenha o seu mérito no sentido de descobrir como eram algumas palavras no hebraico original, mas acredito que isso pouco iria me ajudar a compreender a mensagem, isto é, o que Deus estava querendo dizer quando inspirou os escritores da Bíblia.

Esta é também minha opinião a respeito de outras traduções modernas, como a “Linguagem de Hoje” e a “Nova Versão Internacional”, que geralmente são traduções feitas em cima de um partido adotado ou propósito predefinido, que não é o de apenas traduzir. A NTLH, que é a sigla para a Linguagem de Hoje, tomou como partido disponibilizar uma versão de vocabulário limitado para leitores menos letrados. A versão Bíblia Viva nem pode ser chamada de versão, mas sim de paráfrase, pois seus tradutores interpretaram o texto e escreveram o que acharam que queria dizer. Esta BJC (Bíblia Judaica Completa) partiu do princípio de retornar os textos às suas origens linguísticas e culturais hebraicas, mas o problema é que seu autor não parou aí. Ele acabou também fazendo algumas mutilações que induzem o leitor a pensar que deve seguir um cristianismo judaico.

Acredito que o tradutor irá satisfazer uma multidão de leitores que querem dar um ar mais pomposo, ilustre e aristocrático à leitura, mas só isso. Quem gosta de versões assim para parecer judaico deveria ler a carta aos Hebreus, onde o Espírito Santo deixa claro que não é a melhor coisa para alguém que se converteu a Cristo querer andar na moda judaica. O objetivo da carta é mostrar que aqueles hebreus convertidos deviam se desvencilhar de todos os rituais e figuras do judaísmo agora que já tinham a realidade daquelas sombras. Por isso são exortados a saírem a Cristo, fora do arraial do judaísmo (Hebreus 13:13).

Veja o que o autor dessa versão BJC fez com Gálatas. A primeira citação a seguir está na versão Almeida Revista e Atualizada, a outra foi tirada da Bíblia Judaica Completa:

“Porque eu, mediante a própria lei, morri para a lei, a fim de viver para Deus” (Gálatas 2:19 - ARA)

“Pois foi através de deixar a Torah falar por si mesma que eu morri para a má interpretação tradicional dela, que é legalista, de modo que eu pudesse viver em relação direta com Deus.” (Gálatas 2:19 - BJC)

Acho que já deu para você perceber que se usar a João Ferreira de Almeida Revista e Corrigida (ARC) ou Revista e Atualizada (ARA) você estará bem servido. Os versículos que deixarem alguma dúvida você pode comparar com outras traduções igualmente sérias, como a Versão Brasileira da Imprensa Bíblica do Brasil, a Fiel da Sociedade Bíblia Trinitariana, a versão traduzida por John Nelson Darby (inglês) e até versões católicas.

Hoje têm aparecido “mestres” e “especialistas” em hebraico, grego e aramaico tentando desmontar toda a doutrina da graça, da divindade de Cristo, da justificação pela fé e outras mais, com argumentos intelectuais que lançam dúvidas sobre os textos bíblicos, a inspiração da Palavra de Deus e os próprios fundamentos da fé cristã. Outro dia alguém leu algo que escrevi sobre a moda que invadiu a Web de falar o nome de Jesus apenas em hebraico, e me escreveu algo assim: “Você acha que sabe mais que o Professor Fábio?”. Ele estava se referindo a um teólogo, professor de hebraico e outras coisas mais que derrama no Youtube uma enxurrada de heresias para colocar em dúvida a divindade de Cristo e a salvação eterna. A questão é que não basta ser um exímio conhecedor de um idioma para ser um bom tradutor. É preciso, primeiro, ser um salvo por Cristo, e segundo, entender o assunto que está traduzindo. Algumas versões modernas foram traduzidas por equipes de homens e mulheres ilustres, alguns dos quais, porém, nem sequer acreditam na existência de Deus ou até mesmo tratam a Palavra de Deus com irreverência.

É pela mesma razão que as versões NVI (Nova Versão Internacional), NTLH (Novo Testamento na Linguagem de Hoje) e Bíblia Viva não servem em muitos aspectos para uma leitura continuada. No máximo podem ser usadas como referência para comparações, pois às vezes um sinônimo usado na tradução de um versículo ajuda a perceber melhor o pensamento contido ali. A NVI é a “menos ruim” delas, e eu a utilizo no “Evangelho em 3 Minutos” apenas por ela usar uma linguagem coloquial (“você” em lugar de “tu”, “vocês” em lugar de “vós”), mas eu adapto o texto sempre que encontro alguma distorção quando comparada à ARC, ARA ou JND (John Nelson Darby).

Se você lê habitualmente uma dessas versões modernas, atente para o fato de estar perdendo alguns detalhes importantes daquilo que Deus quis transmitir. Veja, por exemplo, o que essas versões fizeram com pesos, medidas e distâncias. Seus tradutores simplesmente traduziram os números e unidades sem levar em consideração que existe toda uma simbologia numérica na Bíblia que Deus quis mostrar, a qual é perdida na conversão dos números para unidades modernas. Um bom exemplo é a simbologia do número SEIS, explicada assim no “Concise Bible Dictionary”:

“Número Seis: Algo incompleto, imperfeito (porque falta um para chegar ao perfeito número sete). Salomão tinha uma escada de seis degraus para chegar ao seu grande trono em 1 Reis 10:19, impedindo que ele ficasse elevado demais e livrando-o da idolatria. Seiscentos e sessenta e seis talentos de ouro eram trazidos a ele a cada ano em 1 Reis 10:14, todavia ele foi obrigado a confessar que tudo não passava de vaidade e vexação de espírito. Os judeus em Caná tinham seis talhas de pedra para as purificações em João 2:6 mas elas expressavam a insuficiência das ordenanças em atender as demandas da necessidade do homem. O número da besta imperial será seiscentos e sessenta e seis em Apocalipse 13:18, o que a torna imperfeita em todos os aspectos”.

Quer ver agora o quanto você perde lendo uma versão da Bíblia como a Linguagem de Hoje? Veja 1 Reis 10:14 onde fala dos seiscentos e sessenta e seis talentos de ouro, um número obviamente que indica imperfeição na simbologia bíblica:

“O peso do ouro que se trazia a Salomão cada ano era de seiscentos e sessenta e seis talentos de ouro” (1 Reis 10:14 - ARA).

“Todos os anos o rei Salomão recebia mais ou menos vinte e três mil quilos de ouro” (1 Reis 10:14 - NTLH).

“O peso do ouro que Salomão recebia anualmente era de vinte e três toneladas e trezentos quilos” (1 Reis 10:14 - NVI).

Na versão “Bíblia Judaica Completa” em inglês o número também foi substituído por cerca de “duas toneladas”.

Estas versões modernas, NTHL, NVI e BJC converteram os valores a unidades modernas de peso sem se importarem com o simbolismo do número original. A NTLH nem se importou com precisão, pois acrescentou um “mais ou menos”. Um leitor da Palavra não deveria se satisfazer com “mais ou menos”. Salomão representa Cristo em seu reinado, mas o número SEIS associado a ele pode bem indicar que Deus quisesse deixar clara a sua imperfeição para que ele não fosse idolatrado. Salomão era um mero rei humano, apesar da grandiosidade simbólica e profética associada ao seu reino. Por isso, para subir ao seu trono, ele usava “SEIS degraus” (1 Reis 10:19).

Veja também que o simbolismo do número SEIS, que significa imperfeição, foi destruído nas versões modernas da Bíblia. O homem que foi criado no SEXTO dia não é o Homem perfeito que hoje conhecemos, Jesus. Ao homem foi dado trabalhar SEIS dias, todavia o Senhor Jesus, que é Deus e Homem, revela trabalhar TODOS os dias, assim como seu Pai. “E os judeus perseguiam Jesus, porque fazia estas coisas no sábado. Mas ele lhes disse: Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também. Por isso, pois, os judeus ainda mais procuravam matá-lo, porque não somente violava o sábado, mas também dizia que Deus era seu próprio Pai, fazendo-se igual a Deus” (João 5:16-18).

Quando Nabucodonosor construiu um ídolo, o Espírito Santo fez questão de revelar que as medidas traziam o número SEIS justamente para deixar claro que aquela imagem era a exaltação do homem, não de Deus. Todos deviam se prostrar e adorar aquela imagem, algo não muito diferente do que faz hoje o humanismo, que coloca o homem como centro do universo:

“O rei Nabucodonosor fez uma imagem de ouro que tinha sessenta côvados de altura e seis de largura” (Daniel 3:1 - ARA).

“O rei Nabucodonosor mandou fazer uma estátua que media vinte e sete metros de altura por dois metros e setenta de largura” (Daniel 3:1 - NTLH).

“O rei Nabucodonosor fez uma imagem de ouro de vinte e sete metros de altura e dois metros e setenta centímetros de largura” (Daniel 3:1 - NVI).

“O rei Nabucodonosor fez uma estátua dourada, que tinha quase 30 metros de altura por três de largura” (Daniel 3:1 - Viva).

Na versão inglesa da Bíblia Judaica Completa o tradutor se preocupou muito em manter os nomes no original, impossíveis de serem pronunciados corretamente por quem nasceu falando português, mas não se preocupou nem um pouco com os números:

“N'vukhadnetzar the king had a gold statue made, ninety feet high and nine feet wide” (“noventa pés de altura e nove pés de largura” (Daniel 3:1 - BJC).

As versões mutiladas da Bíblia também perdem de vista o simbolismo do número SEIS como imperfeição e arrogância humanas, ao traduzirem a altura do gigante Golias:

“Então, saiu do arraial dos filisteus um homem guerreiro, cujo nome era Golias, de Gate, da altura de seis côvados e um palmo” (1 Samuel 17:4 - ARA).

A versão NTLH diz que ele tinha “quase três metros de altura”, o que nos leva a pensar que Golias era quase um ser divino, já que o número TRÊS nos fala da perfeição! A NVI diz que “tinha dois metros e noventa centímetros de altura” e na inglesa BJC “nove pés e nove polegadas”.

O número QUATRO tem um significado na Bíblia e aparece ligado à criação de Deus e ao mundo. Mas os tradutores da NTHL aparentemente não sabiam disso quando traduziram Apocalipse 20:8:

“... e sairá a seduzir as nações que há nos quatro cantos da terra” (ARA).

“... e sairá para enganar os povos de todas as nações do mundo” (NTLH).

Existem muitas outras passagens que falam de pesos, medidas e dinheiro na Bíblia, e em cada uma o Espírito Santo usou um número, não porque estava interessado em mostrar quanto aquilo significava em quilos, metros ou dólares, mas porque o número seguido de alguma unidade tinha muito maior importância do que a unidade em si.

Deixando os números de lado, existem também os problemas doutrinários nas novas versões, muitas vezes sutis, porém importantes. Veja por exemplo Isaías 7:14:

“Portanto, o Senhor mesmo vos dará um sinal: eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho e lhe chamará Emanuel” (ARA).

“Pois o Senhor mesmo lhes dará um sinal: a jovem que está grávida dará à luz um filho e porá nele o nome de Emanuel” (NTLH).

“Por isso, Deus vai dar um sinal - quer vocês queiram, quer não. Uma virgem terá um filho! E ela; chamará o nenê de Emanuel (que significa “Deus está conosco)” (Viva).

As novas versões incorrem no erro de trocar “a virgem” específica do original por “uma virgem” genérica, ou “a jovem que está gravida”, na horrível NTLH. Curiosamente a excelente King James também deixou isso passar. Mas basta irmos para o Evangelho de Mateus para termos a certeza de que a profecia não falava de uma virgem qualquer, mas da virgem Maria, a mulher que já estava nos planos de Deus para que o Filho de Deus fosse nela gerado. Ou você acha que Deus, que já tinha determinado o Cordeiro antes da fundação do mundo, iria deixar para a última hora escolher uma mulher para receber seu Filho em seu ventre? Pois foi “Cristo, conhecido, com efeito, antes da fundação do mundo, porém manifestado no fim dos tempos, por amor de vós” (1 Pedro 1:20).

Você acreditaria que aquele que escolheu um imperador cem anos antes de nascer e até revelou seu nome — Ciro (Isaías 44:28) —, o qual é uma figura de Cristo como libertador de Israel, teria deixado de antecipar-se para o nascimento do próprio Cristo neste mundo? Até mesmo um profeta como Jeremias foi conhecido de Deus antes de existir, como é revelado aqui: “Antes que eu te formasse no ventre materno, eu te conheci, e, antes que saísses da madre, te consagrei, e te constituí profeta às nações” (Jeremias 1:5). E o apóstolo Paulo também sabia que o fato de ter sido levantado para receber revelações de mistérios ocultos até dos profetas do Antigo Testamento não tinha sido um mero acidente. Ele escreveu: “Quando, porém, ao que me separou antes de eu nascer” (Gálatas 1:15).

Algum protestante mais radical pode estar sentindo arrepios de pensar em Maria ter sido pré-determinada por Deus para ser “a virgem” e não “uma virgem”, mas penso ser até mais preciosos analisarmos as coisas desta maneira. Havia muitos montes na terra de Moriá, mas apenas “um dos montes” tinha o carneiro preso pelos chifres: “Acrescentou Deus: Toma teu filho, teu único filho, Isaque, a quem amas, e vai-te à terra de Moriá; oferece-o ali em holocausto, sobre um dos montes, que eu te mostrarei... Ao terceiro dia, erguendo Abraão os olhos, viu o lugar de longe” (Gênesis 22:2-4). Quando os discípulos perguntaram ao Senhor onde deviam preparar a Páscoa, havia muitos cenáculos em Jerusalém onde a Páscoa seria celebrada naquela noite, mas apenas um onde Jesus estaria (Mateus 22).

“Lembrai-vos das coisas passadas da antiguidade: que eu sou Deus, e não há outro, eu sou Deus, e não há outro semelhante a mim; que desde o princípio anuncio o que há de acontecer e desde a antiguidade, as coisas que ainda não sucederam; que digo: o meu conselho permanecerá de pé, farei toda a minha vontade; que chamo a ave de rapina desde o Oriente e de uma terra longínqua, o homem do meu conselho. Eu o disse, eu também o cumprirei; tomei este propósito, também o executarei” (Isaías 46:9-11).

Portanto, espero que com tudo isso você entenda o quão importante é uma boa e tradicional tradução da Bíblia para sua leitura continuada. Você encontrará imperfeições em todas elas, inclusive na King James ou nas versões João Ferreira de Almeida, e por isso é bom sempre comparar versões. Mas o problema com as versões modernas é que elas foram feitas tendo uma agenda em vista, e não pela simples missão de ter a Palavra de Deus numa língua moderna. A NTLH foi produzida tendo em vista um vocabulário de algumas poucas centenas de palavras para ficar acessível ao grande público. Isso, em termos médicos, seria como traduzir como “ASPIRINA” todas as embalagens de todos os medicamentos contra dor e febre encontrados na farmácia. A agenda do tradutor da “Bíblia Completa Judaica” foi manter os nomes no formato original hebraico e preservar elementos culturais, o que traz alguma dificuldade quando sabemos que dois terços das citações do Antigo Testamento feitas no Novo Testamento não saíram da versão hebraica, mas da versão grega conhecida por “Septuaginta”.

Agora, se você ainda achar que aferrar-se ao texto hebraico é bom, então o que irá fazer nos casos em que os apóstolos citaram o Antigo Testamento de forma diferente do original hebraico? Teriam os apóstolos se enganado ou estaria o Espírito Santo querendo nos dizer algo diferente ou melhor clarificado daquilo que disse outrora por boca dos profetas? Aqui vai um exemplo:

“... pois eles não continuaram na minha aliança, e eu não atentei para eles, diz o Senhor”, escreve o autor de Hebreus 8:9 citando Jeremias 31:32, que diz: “porquanto eles anularam a minha aliança, não obstante eu os haver desposado, diz o Senhor”.

“...Quando ele subiu às alturas, levou cativo o cativeiro e concedeu dons aos homens”, escreve Paulo em Efésios 4:8 citando Salmos 68:18, que diz: “Subiste às alturas, levaste cativo o cativeiro; recebeste homens por dádivas, até mesmo rebeldes, para que o Senhor Deus habite no meio deles”.

Como pode ver, traduzir a Bíblia não é uma tarefa simples, pois o próprio Espírito Santo de Deus já fez isso ao traduzir as escrituras hebraicas do Antigo Testamento para as escrituras gregas do Novo Testamento ao colocar essas citações na boca dos apóstolos e profetas da Igreja. Em 1 Coríntios 2 Paulo explica que essa inspiração que ele e outros receberam foi verbal, isto é, palavra a palavra. Como eu já disse: não basta conhecer os idiomas para traduzir bem o autor. É preciso conhecer o Autor para traduzir bem os idiomas, e em especial ter ideia do que ele queria dizer, além de ter grande apreço por ELE e fazer tudo com reverência e temor. Coisas que você não encontrará num incrédulo, por mais títulos acadêmicos teológicos e linguísticos que ele possa ter conquistado com sua mente carnal.