Se Maria era pecadora por que Jesus não?
Sua dúvida é como Jesus poderia ter nascido sem pecado se sua mãe era humana e pecadora. Seu raciocínio é que, mesmo tendo sido concebido do Espírito Santo, o fato de nascer de uma mulher descendente de Adão poderia tê-lo contaminado com o pecado, do mesmo modo como um feto pode ser contaminado por uma doença no sangue da mãe ou herdar suas características genéticas.
Esta é uma pergunta importante e não podemos simplesmente responder “porque sim” ou “porque não” ou ainda desdenharmos de quem tem a dúvida com algo do tipo: “Ah, você não entende essas coisas...”. A questão é tão crítica que o catolicismo, diante de tal impasse, decidiu declarar Maria imaculada, isto é, concebida sem pecado, para justificar o porquê de Jesus ter nascido imaculado. Na verdade, esse arranjo só jogava o problema para a geração anterior, pois como justificar que Maria seria sem pecado se sua própria mãe era pecadora?
Vou tentar responder usando algumas passagens e afirmações da Palavra de Deus. Primeiro, se Cristo tivesse nascido pecador, como Maria ou outro ser humano qualquer, ele estaria desqualificado para assumir o lugar de “o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1:29). Ele precisaria de um Salvador sem pecado, pois o cordeiro dos sacrifícios judaicos era sem mancha e sem defeito por tipificar o verdadeiro Cordeiro de Deus, que deveria ser sem qualquer mancha. Como poderia ele redimir a outros quando ele próprio precisaria de um redentor?
Ele tampouco poderia exercer a função de sacerdote e intermediário entre Deus e os homens, “porque nos convinha tal sumo sacerdote, santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores, e feito mais sublime do que os céus; que não necessitasse, como os sumos sacerdotes, de oferecer cada dia sacrifícios, primeiramente por seus próprios pecados, e depois pelos do povo; porque isto fez ele, uma vez, oferecendo-se a si mesmo. Porque a lei constitui sumos sacerdotes a homens fracos, mas a palavra do juramento, que veio depois da lei, constitui ao Filho, perfeito para sempre” (Hb 7:26-28).
Portanto, para que Jesus fosse Salvador, Redentor e Sacerdote ele precisaria ser, como diz a passagem, “santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores”, algo que obviamente nenhum ser humano é em sua condição natural.
A carta aos Hebreus declara que, apesar de ser tentado (ou testado), Jesus era sem pecado. “Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; porém, um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado [à parte o pecado]” (Hb 4:15). Tamanha era essa isenção da natureza pecaminosa em Jesus que ele podia desafiar os religiosos judeus, dizendo: “Quem dentre vós me convence de pecado”? (Jo 8:46). Certamente homem nenhum pode fazer tal desafio.
Outra evidência clara da natureza imaculada de Jesus foi o que se deu na cruz, quando ele foi julgado ali por Deus. “Àquele que não conheceu pecado, [Deus] o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus” (2 Co 5:21). Se ele não fosse sem pecado e sem a capacidade de pecar Deus não o teria feito pecado por nós na cruz. Sua natureza imaculada, além de sua natureza divina, fazia com que o pecado fosse nele uma total impossibilidade. “O qual não cometeu pecado... e nele não há pecado” (1 Pe 2:22; 1 Jo 3:5).
Ao ser concebido do Espírito Santo, e não de um homem, Jesus não recebeu a natureza pecaminosa de Adão. O próprio anjo anunciou que o ser que seria gerado nela era “santo” por natureza, e “Filho de Deus”. “Porque o que nela está gerado é do Espírito Santo” (Mt 1:20). “E disse Maria ao anjo: Como se fará isto, visto que não conheço homem algum? E, respondendo o anjo, disse-lhe: Descerá sobre ti o Espírito Santo, e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra; por isso também o Santo, que de ti há de nascer, será chamado Filho de Deus” (Lc 1:34-35).
Embora a Bíblia não diga explicitamente como a natureza pecaminosa de Maria não passou a Jesus, as passagens acima demonstram ser ele sem pecado e sem capacidade de pecar e comprovam a natureza imaculada de Jesus. Ainda que possamos ficar sem entender como ele não saiu do ventre de sua mãe contaminado, sabemos que de fato ele era sem pecado. Se isto não bastar devemos nos lembrar de que ele é o Filho de Deus eterno, e obviamente o Filho de Deus não iria encarnar em um corpo de pecado e em nenhum momento ele deixou de ser Deus completo, ainda que tenha assumido um corpo de carne. “Porque nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade” (Cl 2:9).
Outra explicação seria o fato de a Palavra de Deus mostrar todas as coisas do ponto de vista da responsabilidade da cabeça, e em um casal a cabeça é o homem, não a mulher. Apesar de sabermos que “a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão” (1 Tm 2:14), em Romanos não diz que o pecado tenha entrado na Criação por meio da mulher, mas do homem, ao mencionar a transgressão de Adão: “Por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens por isso que todos pecaram... a morte reinou desde Adão até Moisés, até sobre aqueles que não tinham pecado à semelhança da transgressão de Adão, o qual é a figura daquele que havia de vir” (Rm 5:12-21).
Juntando tudo, podemos confiar que, seja pelas evidências da vida santa de Jesus, seja pelas declarações de sua natureza divina e sem pecado, seja pelo modo como Deus determina as coisas responsabilizando a cabeça, que é o homem, na transmissão da natureza pecaminosa, podemos ainda acrescentar que nunca entenderemos o que realmente aconteceu quando o Espírito Santo e a virtude do Altíssimo desceram e cobriram Maria com sua sombra no processo da concepção. “E, respondendo o anjo, disse-lhe: Descerá sobre ti o Espírito Santo, e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra; por isso também o Santo, que de ti há de nascer, será chamado Filho de Deus” (Lc 1:35).