Devo me preocupar com o que pensam de mim?

Sim e não. É bom lembrar que quando você se converteu ganhou de Deus uma nova natureza, que está em total antagonismo à velha natureza, a carne, que vive em você. Então a preocupação com o que as outras pessoas pensam de você pode ter dois aspectos: Ou elas estão se referindo à sua velha carne ou ao "novo homem, que segundo Deus é criado em verdadeira justiça e santidade” (Ef 4:24).

Como cristãos sua preocupação não deveria ser quando falam mal de você injustamente. Ao contrário, você deveria estar mais preocupado quando incrédulos falam bem de você. Veja o que o Senhor Jesus diz: "Ai de vocês, quando todos falarem bem de vocês, pois assim os antepassados deles trataram os falsos profetas” (Lc 6:26 - NVI). O que o Senhor pensava da opinião ou aparência das pessoas? Podemos descobrir pelas palavras de seus adversários: "Chegando, disseram-lhe: Mestre, sabemos que és verdadeiro e não te importas com quem quer que seja, porque não olhas a aparência dos homens” (Mc 12:14).

O apóstolo Paulo não dava a mínima para o que os outros pensavam dele, e aprendemos isto de Gálatas 1:10, quando ele diz: "Porque, persuado eu agora a homens ou a Deus? Ou procuro agradar a homens? Se estivesse ainda agradando aos homens, não seria servo de Cristo” (Gl 1:10). Mas este "não dar a mínima para o que os outros pensam" não é no sentido de viver uma vida inconsequente fazendo a própria vontade e ofendendo a Deus e aos homens, mas de viver apenas preocupado com a opinião de Deus, não dos homens. "Porque também Cristo não agradou a si mesmo", mas se dispôs a servir de uma espécie de "para-raios" atraindo para si toda injúria dirigida a Deus: "Sobre mim caíram as injúrias dos que te injuriavam” (Rm 15:30).

Ao se referir ao seu ministério, Paulo mostrou bem a quem ele servia: "Falamos, não como para agradar aos homens, mas a Deus, que prova os nossos corações. Porque, como bem sabeis, nunca usamos de palavras lisonjeiras, nem houve um pretexto de avareza; Deus é testemunha; e não buscamos glória dos homens, nem de vós, nem de outros” (1 Ts 2:4-6).

Há muitas razões para agirmos de modo contrário a este demonstrado por Paulo. Podemos omitir a verdade ou esconder o evangelho para sermos populares entre as pessoas e não sofrermos perseguições. Eu e você certamente já tivemos oportunidade de testemunhar de Cristo e não o fizemos porque logo veio um pensamento em nossa mente: "O que essa pessoa irá pensar quando souber que eu sou cristão”? Esta é uma forma de conservarmos uma reputação de neutralidade diante de incrédulos para sermos aceitos por eles.

Mas é um engano pensar que os incrédulos aceitam um crente totalmente. Quando Davi decidiu se esconder justamente entre os inimigos de Deus foi preciso fazer-se e louco para não ser morto por eles, e assim é o cristão que quer ser popular entre incrédulos: acabará sempre sendo visto como um louco: "E Davi levantou-se, e fugiu aquele dia de diante de Saul, e foi a Aquis, rei de Gate. Porém os criados de Aquis lhe disseram: Não é este Davi, o rei da terra? Não se cantava deste nas danças, dizendo: Saul feriu os seus milhares, porém Davi os seus dez milhares? E Davi considerou estas palavras no seu ânimo, e temeu muito diante de Aquis, rei de Gate. Por isso se contrafez diante dos olhos deles, e fez-se como doido entre as suas mãos, e esgravatava nas portas de entrada, e deixava correr a saliva pela barba. Então disse Aquis aos seus criados: 'Eis que bem vedes que este homem está louco; por que mo trouxestes a mim? Faltam-me a mim doidos, para que trouxésseis a este para que fizesse doidices diante de mim?'" (1 Sm 21:10-25).

Também podemos ser do tipo lisonjeador por pretexto de avareza, isto é, para lucrar com isso, ganhar votos ou por qualquer outro motivo. Somos treinados desde pequenos a sermos educados na presença das pessoas, e isso é ótimo. O Senhor não chegou para a mulher na beira do poço em João 4 logo trazendo à conversa que ela tinha dormido com vários homens, mas deixou que o assunto chegasse ao ponto em que sua vida de escolhas erradas viesse à tona com a intenção de salvá-la. Ele foi, ao mesmo tempo, educado e honesto em suas colocações, pois não tinha vindo no caráter de quem esmaga "o caniço rachado" ou apaga "o pavio fumegante", isto é, não pisava nas pessoas já feridas e nem as desmotivava. Mas ao mesmo tempo não era um lisonjeador barato pois não buscava a glória dos homens.

Existe um equilíbrio que é bíblico entre viver de modo agradável a Deus e ao mesmo tempo não ser inconveniente diante dos homens. Muitos cristãos saem por aí batendo com a Bíblia na cabeça das pessoas e expondo todos os seus erros até receberem o troco, que geralmente vem com força total. Aí saem orgulhosos de estarem sendo perseguidos, pois se lembram da passagem que diz que "todos quantos querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos” (2 Tm 3:12). A questão é que esse tipo de perseguição não veio por desejarem viver piedosamente, mas por terem sido brutos, inconvenientes e ofensivos em suas abordagens.

O apóstolo Pedro escreveu sobre o cuidado que devemos ter para não darmos motivo para os incrédulos falarem mal de nós: "Amados, exorto-vos, como peregrinos e forasteiros que sois, a vos absterdes das paixões carnais, que fazem guerra contra a alma, mantendo exemplar o vosso procedimento no meio dos gentios, para que, naquilo que falam contra vós outros como de malfeitores, observando-vos em vossas boas obras, glorifiquem a Deus no dia da visitação” (1 Pe 2:11-12).

Quando algum incrédulo criticar nosso mau proceder, aí sim devemos nos preocupar e corrigir nossos passos, porque se um incrédulo é capaz de enxergar em nós algo que cause escândalo é porque nosso andar está até pior do que o daqueles que não temem a Deus. Como Paulo escreveu, ao falar do homem que vivia em pecado moral na assembleia de Corinto: "Geralmente se ouve que há entre vós fornicação, e fornicação tal, que nem ainda entre os gentios se nomeia, como é haver quem abuse da mulher de seu pai” (1 Co 5:1).

Mas se as críticas e perseguições forem consequência de nosso andar piedoso, então não há com o quê nos preocuparmos, cuidando sempre de reagirmos com mansidão e temor: "Mas também, se padecerdes por amor da justiça, sois bem-aventurados. E não temais com medo deles, nem vos turbeis; antes, santificai ao Senhor Deus em vossos corações; e estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós, tendo uma boa consciência, para que, naquilo em que falam mal de vós, como de malfeitores, fiquem confundidos os que blasfemam do vosso bom porte em Cristo. Porque melhor é que padeçais fazendo bem (se a vontade de Deus assim o quer), do que fazendo mal” (1 Pe 3:14).

Juntando tudo, devemos nos preocupar com o que as pessoas pensam de nós? Sim e não. Sim, se o que pensam de nós for de algum modo ofensivo a Cristo por ser consequência de nosso mau testemunho neste mundo. Não, se o que pensam de nós for o resultado de estarmos vivendo para a glória de Deus. No primeiro caso devo considerar o outro, que pensa ou fala mal de mim, uma espécie de "consultor gratuito". Consultores são contratados para encontrar defeitos nas empresas e ajudá-las a corrigi-los. Se formos acusados justamente nossa reação deve ser reconhecer nossos erros e deixá-los. Devemos também nos retratarmos para com aqueles que se sentiram ofendidos. Mas se formos acusados injustamente devemos nos sentir felizes por padecermos fazendo o bem.

"Se pelo nome de Cristo sois vituperados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória e de Deus; quanto a eles, é ele, sim, blasfemado, mas quanto a vós, é glorificado. Que nenhum de vós padeça como homicida, ou ladrão, ou malfeitor, ou como o que se entremete em negócios alheios; mas, se padece como cristão, não se envergonhe, antes glorifique a Deus nesta parte” (1 Pe 4:14-16).

"Porque é coisa agradável, que alguém, por causa da consciência para com Deus, sofra agravos, padecendo injustamente. Porque, que glória será essa, se, pecando, sois esbofeteados e sofreis? Mas se, fazendo o bem, sois afligidos e o sofreis, isso é agradável a Deus. Porque para isto sois chamados; pois também Cristo padeceu por nós, deixando-nos o exemplo, para que sigais as suas pisadas. O qual não cometeu pecado, nem na sua boca se achou engano. O qual, quando o injuriavam, não injuriava, e quando padecia não ameaçava, mas entregava-se àquele que julga justamente” (2 Pe 2:19-23).