Cristo foi nosso substituto ou representante?

“Representante” é alguém que faz algo em nome de outro (como o representante de uma firma), enquanto “substituto” é o que efetivamente toma o lugar do outro (quando o representante assume a firma, por exemplo). Para entender melhor o abismo existente entre os dois termos, suponha um marido que, antes de morrer, tenha deixado um representante para cuidar da viúva e de suas necessidades materiais. Ele tem uma procuração para agir em nome do finado marido cuidando que nada falte à viúva, como geralmente faz um tutor. Mas se esse “representante” se casar com a viúva ele estará assumindo maritalmente o lugar que era do finado e estará sendo de fato o substituto do marido.

Em vida Jesus poderia até ser considerado um “representante” do homem perfeito que Deus gostaria que fossem os descendentes de Adão, mas que não conseguiram ser por causa do pecado. Mas na cruz Jesus não apenas nos representou na morte, como faria um mero representante, mas efetivamente tomou ali o nosso lugar, morrendo “por todos”, porém levando sobre si “os pecados de muitos”.

“Pois o amor de Cristo nos constrange, julgando nós isto: um morreu por todos; logo, todos morreram” (2 Co 5:14)

“Assim também Cristo, oferecendo-se uma vez para tirar os pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o esperam para salvação” (Hb 9:28)

O primeiro versículo acima indica que na cruz Deus colocou um fim na espécie humana descendente de Adão. “Um morreu por todos; logo todos morreram”. Isto não quer dizer que todos serão salvos, mas que já não existe chance alguma de restaurar o homem em seu estado natural herdado de Adão, pois este foi dado por morto e acabado pelo próprio Deus. Agora é preciso nascer de novo, nascer do alto, para ser parte da nova criação da qual Cristo ressuscitado é o protótipo ou ”primícias”. É aí que entra a nova criação de que fala 2 Co 5:17:

“Se alguém está em Cristo, é uma nova criação; passou o que era velho, eis que se fez novo” (2 Co 5:17 -- Versão Sociedade Bíblica Britânica).

“Mas agora Cristo foi ressuscitado dentre os mortos, sendo ele as primícias dos que dormem [morreram na fé]. Pois desde que a morte veio por um homem, também por um homem veio a ressurreição dos mortos. Pois assim como em Adão todos morrem, assim também em Cristo todos serão vivificados, mas cada um na sua ordem. As primícias, Cristo, depois, os que são de Cristo, na sua vinda” (1 Co 15:20-23)

Resumindo, na cruz Cristo nos substituiu, primeiro como o “Cordeiro que tira o pecado do mundo” (Jo 1:29) para resolver de uma vez por todas a questão do pecado que havia introduzido uma mancha na Criação. Uma segunda consequência de sua morte foi ele ter levado sobre si (assumido a culpa e recebido a pena) os pecados dos que seriam salvos por ele. Na ressurreição ele assumiu o lugar que todos os salvos agora têm nele, isto é, irrepreensíveis diante de Deus. Ele morreu por nossos pecados e ressuscitou para nossa justificação.

“O qual por nossos pecados foi entregue, e ressuscitou para nossa justificação... Porque o juízo veio de uma só ofensa, na verdade, para condenação, mas o dom gratuito veio de muitas ofensas para justificação... Pois assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para justificação de vida” (Rm 4:25; 5:16-18)

Se Cristo tivesse sido nosso mero representante na cruz, cumprindo uma espécie de ritual exemplar e morrendo como exemplo para nós, nada nos beneficiaríamos com isso pois nossos pecados continuariam em nossa conta como dívida aos olhos de Deus. Uma dívida, diga-se de passagem, impagável se fosse depender de nós. Se ele tivesse sido apenas nosso representante ainda nos faltaria alguém para morrer em nosso lugar, um substituto.

Outra questão importante a ser ponderada é o fato de Jesus ser Deus, portanto sem pecado e imune a pecar. “Porque o salário do pecado é a morte” (Rm 6:23), a menos que na cruz Deus tivesse feito dele pecado ele não teria morrido. Mas se ele não tinha pecado e nem podia pecar, que pecado o teria levado à morte? Por que Deus teria abandonado aquele Ser perfeito em trevas na cruz, a não ser como uma expressão de repúdio contra o pecado em que Cristo tinha sido transformado por Deus ali?

Certamente na cruz ele foi o “Substituto” perfeito, aquele que era sem pecado, foi feito por Deus pecado por nós, e castigado com o juízo divino em três horas de trevas e abandono para então morrer no lugar do pecador. A sua morte, portanto, não apenas resolveu eternamente a questão do pecado como também foi o meio de salvação para que aqueles que creem nele não passem pelo juízo e possam desfrutar desde já da salvação eterna, algo que infelizmente muitos dos que professam ser cristãos não desfrutam por não crerem verdadeiramente na obra substitutiva de Jesus.

“Aquele que não conheceu pecado, ele [Deus] o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus” (2 Co 5:21).

“... carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados” (1 Pe 2:24).

“Pois também Cristo morreu, uma única vez, pelos pecados, o justo pelos injustos” (1 Pe 3:18).

“Mas ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados” (Is 53:5).

Para mim estes versículos são claros o suficiente para me fazerem descansar em um sacrifício consumado e na certeza de que todos os meus pecados foram pagos na cruz e não passarei sequer pelo juízo final, por ter sido salvo pela fé.

“Em verdade, em verdade vos digo: quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna, não entra em juízo, mas passou da morte para a vida” (Jo 5:24).

Mas então por que razão o catolicismo nega que Cristo tenha sido nosso “substituto” para considerá-lo apenas nosso “representante”? Bem, apesar de parecer uma mera questão de semântica, na verdade não é. Da negação de Cristo como nosso substituto depende toda a doutrina da missa como um sacrifício repetitivo. Essa doutrina viria abaixo caso reconhecessem que “já não resta sacrifício pelos pecados” (Hb 10:26), a não ser aquele que foi feito uma vez na cruz.

A sutil doutrina católica que nega o sacrifício substitutivo de Cristo, isto é, que diz que ele apenas nos representou, mas não nos substituiu na pena imposta sobre o pecado, é toda construída sobre os tipos e figuras do Antigo Testamento, dos quais Cristo era a realidade para a qual as sombras apontavam. Porém, se Cristo não fosse a realidade e consumação de todos aqueles tipos e figuras, então os sacrifícios teriam de ser continuados, como o padre finge fazer ao celebrar a missa. Mas o que diz a Palavra de Deus? Veja o versículo abaixo (os comentários entre chaves são meus):

“Ora, visto que a lei tem sombra dos bens vindouros, não a imagem real das coisas, nunca jamais pode tornar perfeitos os ofertantes, com os mesmos sacrifícios que, ano após ano, perpetuamente, eles oferecem. Doutra sorte, não teriam cessado de ser oferecidos, porquanto os que prestam culto, tendo sido purificados uma vez por todas, não mais teriam consciência de pecados? Entretanto, nesses sacrifícios faz-se recordação de pecados todos os anos... Nessa vontade [de Cristo se oferecer] é que temos sido santificados, mediante a oferta do corpo de Jesus Cristo, uma vez por todas. Ora, todo sacerdote [do judaísmo] se apresenta, dia após dia, a exercer o serviço sagrado e a oferecer muitas vezes os mesmos sacrifícios, que nunca jamais podem remover pecados; Jesus, porém, tendo oferecido, para sempre, um único sacrifício pelos pecados, assentou-se à destra de Deus... Porque, com uma única oferta, aperfeiçoou para sempre quantos estão sendo santificados. E disto nos dá testemunho também o Espírito Santo.... Também de nenhum modo me lembrarei dos seus pecados e das suas iniquidades, para sempre. Ora, onde há remissão destes, já não há oferta pelo pecado” (Hb 10:1-18).

Exclua a doutrina da missa como um sacrifício repetitivo e você acabará também com o sacerdócio católico, do qual dependem seus seguidores se quiserem desfrutar dos benefícios transitórios do ritual da alegada transubstanciação. Elimine a classe sacerdotal e você esvaziará o poder do clero, o que obviamente não é interessante para aquela religião baseada em poder, controle e domínio.

Mas evidentemente um católico não crerá no que a Palavra de Deus afirma sobre a obra consumada de Jesus, seu sacrifício substitutivo e a salvação unicamente pela fé, pois isto vai contra os ensinos da tradição deixada pelos “santos padres”. E a doutrina católica ensina que, em caso de discordância entre o texto bíblico e a “santa tradição”, fica valendo esta última, a qual é obviamente transmitida pelo “magistério”, o clero católico.

Foi esta uma das razões pelas quais o catolicismo romano manteve na ignorância milhões de pessoas durante séculos ao privá-las da leitura da Bíblia e até mesmo condenar ao suplício e morte aqueles que ousavam ler ou possuir as escrituras. Qualquer pessoa esclarecida sabe que a melhor maneira de se controlar as massas é mantê-las nas trevas da ignorância e dar a apenas uma elite o privilégio de acesso à informação e o poder de interpretá-la. Se alguém quiser sentir um gostinho do que era viver na “Idade Média”, também conhecida como ”Idade das Trevas” e cujo final coincidiu com a Reforma Protestante, é só ir morar na Coréia do Norte.

Mas antes que algum protestante ou evangélico fique muito empolgado com o que eu disse e comece a atirar pedras em católicos, é bom lembrar que essa técnica que utiliza ignorância, terror, poder, controle e domínio é hoje utilizada por muitos “pastores”, principalmente entre os pentecostais, para manter seus seguidores na incerteza da vida eterna e sobrecarregá-los de mandamentos e obrigações com dízimos e ofertas, sob a ameaça de que poderão perder a salvação caso não obedeçam.

Veja abaixo mais algumas passagens que falam da realidade do sacrifício substitutivo de nosso Senhor Jesus Cristo:

“Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele próprio maldição em nosso lugar, porque está escrito: 'Maldito todo aquele que for pendurado em madeiro'“ (Gl 3:13).

“Caifás, porém, um dentre eles, sumo sacerdote naquele ano, advertiu-os, dizendo: Vós nada sabeis, nem considerais que vos convém que morra um só homem pelo povo e que não venha a perecer toda a nação. Ora, ele não disse isto de si mesmo; mas, sendo sumo sacerdote naquele ano, profetizou que Jesus estava para morrer pela nação e não somente pela nação, mas também para reunir em um só corpo os filhos de Deus, que andam dispersos... Ora, Caifás era quem havia declarado aos judeus ser conveniente morrer um homem pelo povo [ou 'em lugar do povo']” (Jo 11:49; 18:14).

“Porque Cristo, quando nós ainda éramos fracos, morreu a seu tempo pelos ímpios. Dificilmente, alguém morreria por um justo; pois poderá ser que pelo bom alguém se anime a morrer. Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores. Logo, muito mais agora, sendo justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira” (Rm 5:6-9).

“... porque Deus não nos destinou para a ira, mas para alcançar a salvação mediante nosso Senhor Jesus Cristo, que morreu por nós” (1 Ts 5:9-10).

“Porquanto há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem, o qual a si mesmo se deu em resgate por todos” (1 Tm 2:5-6).