Devo me preocupar com o "chip da Dilma"?
Alguns cristãos não vivem sem uma dose diária de adrenalina, mas não é nos esportes radicais que procuram por ela, e sim nas teorias conspiratórias. Uma hora sentem calafrios de pensar que podem perder a salvação, como se existisse algo ou alguém capaz de tirar uma ovelha das mãos do Pai. Jesus deixou claro: “Dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará da minha mão. Meu Pai, que mas deu, é maior do que todos; e ninguém pode arrebatá-las da mão de meu Pai” (Jo 10:28). Outra hora acham que nem salvos estão por não terem crido no nome hebraico de Jesus, ou perseverado numa lista de regras de alguma denominação. Há também os que perdem o sono preocupados com uma conspiração que estaria tramando dominar o mundo. Bem, esta de fato existe e sempre existiu.
Na fila dos pretendentes ao domínio global já passaram Nabucodonosor, Alexandre, Júlio César, Gengis Khan, Hitler e até um ratinho, o "Cérebro", do desenho animado. A quem me diz que os Illuminati, Lex Luthor ou Dart Vader planejam dominar o mundo, eu respondo: “Que faça bom proveito”! Afinal o mundo já está dominado pelo “príncipe deste mundo” (Jo 14:30) e a maioria das pessoas nem sabe disso. Satanás já domina as pessoas na sua incredulidade, e até mesmo influencia os crentes por meio de “...falsos apóstolos [que] são obreiros fraudulentos, transfigurando-se em apóstolos de Cristo. E não é maravilha, porque o próprio Satanás se transfigura em anjo de luz. Não é muito, pois, que os seus ministros se transfigurem em ministros da justiça” (2 Co 11:13-15).
Se você ainda for incrédulo, andando “segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos da desobediência... nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos”, então você já é guiado pelo diabo sem perceber. A libertação só virá se crer em Cristo para ser salvo e perdoado de todos os seus pecados. Só então estará apto a andar segundo “as obras... que Deus preparou para que andássemos nelas” (Ef 2:1-10). Só assim “Deus lhe dará arrependimento para conhecer a verdade, e tornar a despertar, desprendendo-se dos laços do diabo, em que à vontade dele está preso” (2 Tm 2:25).
O problema é que muitos dos que já receberam a salvação pela fé em Cristo acabam não desfrutando da nova vida por viverem perturbados, “quer por espírito, quer por palavra, quer por epístola, como se procedesse de nós, supondo tenha chegado o Dia do Senhor” (2 Ts 2:2). Neste capítulo de 2 Tessalonicenses Paulo fala de dois eventos distintos: a “vinda de nosso Senhor Jesus Cristo e nossa reunião com ele” (vers. 1) e “o dia do Senhor” (vers. 2 - ARA e Darby). A “vinda de nosso Senhor Jesus Cristo e nossa reunião com ele” é a esperança apropriada a todo cristão — o arrebatamento da Igreja — quando Cristo descerá até os ares onde nos encontraremos com ele, “transformados; num momento, num abrir e fechar de olhos, ante a última trombeta; porque a trombeta soará, e os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados” (1 Co 15:52). O “dia do Senhor” é um evento diferente e posterior, quando Cristo descerá até a terra para julgar as nações e estabelecer seu reino. No primeiro ele desce só até os ares; no segundo ele coloca seus pés sobre o Monte das Oliveiras, o mesmo lugar de onde partiu deste mundo (Zc 14:4; Atos 1:9-12).
Paulo conforta os tessalonicenses dizendo: “Ninguém de maneira alguma vos engane; porque não será assim sem que antes venha a apostasia, e se manifeste o homem do pecado, o filho da perdição” (2 Ts 2:3). Antes de qual acontecimento ele diz que se manifestará o anticristo, “o homem do pecado, o filho da perdição”? Antes do último evento que ele citou, ou seja, antes do “dia do Senhor”. Uma paráfrase do que ele diz seria algo assim: “Considerando o arrebatamento, que será quando nos reuniremos com nosso Senhor Jesus Cristo, peço que vocês não sejam enganados por insinuações, palavras e textos, como se o dia do Senhor já tivesse chegado”. Portanto, qualquer que sejam os boatos (e a Internet ajuda em muito a espalhá-los) o cristão não deve viver em sobressaltos achando que o anticristo virá para puxar seu pé quando estiver dormindo à noite. A esperança do cristão (aquilo que ele espera) não é o anticristo, mas ele deve “esperar dos céus a seu Filho, a quem [Deus] ressuscitou dentre os mortos, a saber, Jesus, que nos livra da ira futura” (1 Ts 1:10).
Então, quando eu pensava já ter visto de tudo, de teorias de Illuminati, “caixões do FEMA” até um “chip do Obama”, eis que surge o “chip da Dilma”! Quando saiu a notícia do tal “chip do Obama” muitos cristãos ficaram aterrorizados. Mas a coisa foi perdendo força, talvez por descobrirem que o Obama nunca foi presidente do Brasil. Então o jeito foi trazer à tona “o chip da Dilma” para injetar uma nova dose de adrenalina nos pobres cristãos escravos de falsos profetas e alarmistas. Teria fundamento o tal “chip da Dilma”? Bem, antes é preciso entender que a presidente Dilma deu uma declaração na TV expressando o desejo do governo de unificar as informações de cada cidadão brasileiro com uma identidade única. Nada de mais aí, considerando tantos documentos com os quais temos de lidar. A evolução disso para um chip é um caminho natural e não é nenhuma novidade. Afinal temos microchips que nos identificam até no polegar. Sim, pois quando você coloca seu polegar num leitor de digital para votar, abrir uma porta ou acessar o caixa eletrônico, o sistema associa seu polegar às suas informações gravadas em um chip em algum lugar. Você não vai cortar seu polegar por isso, vai?
Meu carro possui um microchip que o mecânico pode acessar para saber o que está errado com seu funcionamento. No para-brisas há outro microchip com minhas informações que acionam a cancela de pedágios e estacionamentos debitando o gasto em minha conta. Na capa de meu passaporte há um chip que, quando identificado pelo oficial da imigração mostra até minha foto na tela do computador. Se você está preocupado em ter de usar um microchip para comprar coisas no futuro, então é melhor livrar-se de seu cartão de crédito, porque é exatamente isso que ele faz. Celulares também trazem um microchip com sua identificação que permitem a você comprar ao aproximá-lo de um terminal. A preocupação de ter um microchip implantado sob a pele nem faz muito sentido em quem já vive grudado ao celular. Alguns carregam microchips implantados literalmente sob a pele, como cães, gatos, milionários que temem sequestros e pessoas com marca-passo, dispensador de medicamentos ou sistemas de temperatura e pressão que precisam estar conectados a um hospital para transferência de dados.
Não faz muito tempo, antes que existissem microchips do tamanho de um grão de arroz, havia cristãos que tremiam só de olhar para um código de barras, achando que aquela era a marca da besta. Conheci um que não comprava produtos com código na embalagem, mas se ele tivesse continuado assim teria morrido de fome, pois hoje absolutamente tudo traz um código de barras impresso, até a carta que você recebe pelo correio. O pavor de muitos vem da tentativa de se interpretar duas passagens de Apocalipse que falam de uma marca que será colocada nas pessoas que se submeterem ao anticristo:
“...e faz que a todos, pequenos e grandes, ricos e pobres, livres e servos, lhes seja posto um sinal na sua mão direita, ou nas suas testas, para que ninguém possa comprar ou vender, senão aquele que tiver o sinal, ou o nome da besta, ou o número do seu nome... E seguiu-os o terceiro anjo, dizendo com grande voz: Se alguém adorar a besta, e a sua imagem, e receber o sinal na sua testa, ou na sua mão, também este beberá do vinho da ira de Deus, que se deitou, não misturado, no cálice da sua ira; e será atormentado com fogo e enxofre diante dos santos anjos e diante do Cordeiro” (Ap 13:16-17; 14:9-10).
A passagem não fala de um microchip, mas de uma marca ou sinal que nem sabemos o que é, e nem precisamos saber porque quem precisará se ocupar com isso serão os deixados para trás após o arrebatamento. É no período de 7 anos antes da vinda de Cristo para reinar que o anticristo se manifestará e essas coisas terão relevância. Mas os que se converterem então (apenas os que nunca escutaram o evangelho antes do arrebatamento) saberão muito bem de que se trata esse “sinal” ou “marca”. Quanto a nós, “Deus não é Deus de confusão, senão de paz” (1 Co 14:16) e não nos deixaria no escuro se fosse um enigma para nós resolvermos. Confiar na integridade de Deus é saber que, quando ele decidiu destruir Sodoma e Gomorra explicou antes sua intenção de forma clara e inequívoca a Abraão e a Ló. “E disse o Senhor: Ocultarei eu a Abraão o que faço”? (Gn 18:17). Deus revelou a ele e Abraão entendeu de pronto, mas Ló vacilou, porém mesmo assim os anjos o tiraram à força para não ser consumido pelo juízo. O primeiro versículo de Apocalipse1:1 mostra que é assim que Deus faz, pois ele quer “mostrar aos seus servos as coisas que brevemente devem acontecer” (Ap 1:1).
Você sabe o que significa a “marca” ou “sinal”? Nem eu, então o melhor é vivermos tranquilos, pois se Deus quisesse nos revelar ele nos revelaria como certamente fará com o remanescente de judeus que se converterá após o arrebatamento da Igreja. Deixe de se preocupar com aquilo que não é para você, aprendendo a lição que o Senhor deu a Pedro quando este quis saber o que aconteceria com João: “Disse-lhe Jesus: Se eu quero que ele fique até que eu venha, que te importa a ti? Segue-me tu” (Jo 21:22).
Voltando à passagem que fala da “marca” ou “sinal” em Apocalipse, é preciso lembrar que temos diante de nós um livro de símbolos e qualquer estudioso das Escrituras entenderá que a fronte e a mão, lugares onde esse “sinal” será colocado, nos falam, respectivamente, dos lugares de nosso corpo onde são tomadas as decisões (o cérebro) e do membro que usamos para colocar em prática tais decisões (a mão). São os mesmos lugares em que Deus ordenava que os israelitas trouxessem sua Palavra: “E estas palavras, que hoje te ordeno, estarão no teu coração... Também as atarás por sinal na tua mão, e te serão por frontais entre os teus olhos” (Dt 66-8). Alguns judeus religiosos trazem até hoje uma fita ou uma caixinha com textos da Lei amarrada na testa e outra na mão. O que eles não entendem é que Deus exigia obediência, e não um enfeite. Junte isso com a passagem de Apocalipse e você entenderá que é de obediência ao anticristo que ela fala, pois logo em seguida à passagem você encontra o contraste e o que caracteriza os que não trazem o sinal da besta: “Os que guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus” (Ap 14:12).
Paulo mostra que esta é também a característica daqueles que hoje fazem parte do corpo de Cristo, pois uma pessoa fica serva daquele a quem ela presta obediência, seja a Cristo, seja ao inimigo de nossas almas: “Não sabeis vós que a quem vos apresentardes por servos para lhe obedecer, sois servos daquele a quem obedeceis, ou do pecado para a morte, ou da obediência para a justiça? Mas graças a Deus que, tendo sido servos do pecado, obedecestes de coração à forma de doutrina a que fostes entregues. E, libertados do pecado, fostes feitos servos da justiça” (Rm 6:16). Os que obedecerem ao anticristo se colocarão voluntariamente sob seu comando, tanto para pensar (“fronte” ou “testa”) como para agir (“mão”). Um verdadeiro servo de Deus não perderá seu tempo hoje, na dispensação da graça de Deus, ocupado com algum tipo de código ou chip, mas conservará seus pensamentos e ações sob o comando da Palavra de Deus e de ninguém mais. Lembre-se de que o “sinal” que Deus exigia no Antigo Testamento que os israelitas trouxessem sobre a testa e na mão significava obediência. Não havia qualquer poder na coisa em si, mas na obediência. Você é controlado por aquele a quem você obedece, pare de obedecer a cada “vento de doutrina, pelo engano dos homens que com astúcia enganam fraudulosamente” (Ef 4:14), às “fábulas profanas e de velhas caducas” (1 Tm 4:7), sendo um dos que “apostatarão da fé, por obedecerem a espíritos enganadores e a ensinos de demônios, pela hipocrisia dos que falam mentiras e que têm cauterizada a própria consciência”, ou acabará servo desses falsos profetas que visam tirar a tranquilidade dos filhos de Deus.
Não tenha receio do “chip da Dilma”, mas pode ficar preocupado se lançarem no mercado algum tipo de “Dilma Chips” (tipo “Elma Chips”). Aí sua preocupação será com a saúde, pois se comer demais acabará engordando.