A arca de Noé seria uma figura do arrebatamento?

Pelo tom que você usou em seu e-mail, aplicando LETRAS MAIÚSCULAS em algumas partes, como se estivesse GRITANDO, fico na dúvida se você está realmente querendo saber sobre o arrebatamento, afirmar o que pensa saber ou apenas começar uma discussão. Pelo sim, pelo não, aqui vão alguns links que o ajudarão a entender melhor o arrebatamento.

Mas já posso adiantar que sua dificuldade está em você não discernir e separar as passagens que falam da Igreja e as que falam do remanescente judeu que será salvo após o arrebatamento. Nos evangelhos você só encontra a igreja em duas passagens, Mateus capítulos 16 e 18, e ainda assim como algo futuro, portanto é preciso cuidado ao tentar aplicar passagens dos evangelhos à verdade da igreja que só foi revelada a partir do apóstolo Paulo. Este é um princípio importante quando se deseja entender as Escrituras:

“Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade” (2 Tm 2:15). Uma tradução alternativa e mais clara seria: “... dividindo de forma precisa a palavra da verdade”

Embora a arca de Noé possa ser usada às vezes como figura do cuidado de Deus em preservar os seus dos perigos deste mundo, ela é antes uma figura do remanescente de Israel que será preservado durante a grande tribulação para poder habitar no reino milenial de Cristo. Noé e sua família são uma figura dos que irão repovoar a terra depois da grande tribulação. O arrebatamento é melhor representado por Enoque, aquele que foi tirado da terra antes que viesse a tribulação do dilúvio, pela qual Noé e sua família passariam.

Portanto a passagem que citou na tentativa de provar que os santos que pertencem ao corpo de Cristo, que é a igreja, passariam pela tribulação não se sustenta. A passagem a que você aparentemente se referiu ao falar de Noé acredito estar no livro de Mateus e que diz:

“Porquanto, assim como, nos dias anteriores ao dilúvio, comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca, E não o perceberam, até que veio o dilúvio, e os levou a todos, assim será também a vinda do Filho do homem. Então, estando dois no campo, será levado um, e deixado o outro; estando duas moendo no moinho, será levada uma, e deixada outra” (Mt 24:38-41).

Repare que no contexto o verbo levar não está sendo usado no sentido de arrebatamento, mas de ser levado pela morte. O dilúvio “levou a todos”, ou seja, matou todos os que não creram na pregação de Noé, e assim será no final da grande tribulação quando os incrédulos serão levados pela morte, independentemente de onde estiverem, seja trabalhando no campo, seja moendo o trigo. Tente ler a passagem desta maneira: “Assim como... o dilúvio os levou a todos [Os que comiam e bebiam despreocupadamente]... assim será também... será levado um, e deixado outro”.

Os que são deixados permanecerão vivos para entrarem no milênio e habitarem na terra durante o reino de mil anos de Cristo. É por isso que Deus decidiu abreviar os dias da grande tribulação, caso contrário não restariam vivos para participarem do milênio, que será um reino de pessoas vivas com o mesmo corpo com que viveram na terra, e não com corpos ressuscitados como terão nessa ocasião os santos do Antigo Testamento e os do período da Igreja que viverão no céu e reinarão com Cristo sobre a terra (e não na terra).

“E, se aqueles dias não fossem abreviados, nenhuma carne se salvaria; mas por causa dos escolhidos serão abreviados aqueles dias” (Mt 24:22).

É bom também lembrar que os que habitarão na terra, judeus e gentios, se multiplicarão nesse período de mil anos. Nem todos serão realmente convertidos, o mesmo acontecendo com aqueles que irão gerar, mas estarão em uma terra onde a justiça reina e o pecado será imediatamente penalizado com a morte. No final do milênio serão os falsos convertidos que se submeterão a Satanás que será libertado por um breve período de tempo e farão guerra a Cristo.

Sua comparação do arrebatamento com a saída de Ló e suas filhas de Sodoma também não tem fundamento. A destruição das cidades tem o mesmo caráter da figura que é Noé e sua família escapando do juízo que cairá sobre a terra, ou seja, temos uma população de ímpios e um remanescente que escapa desse juízo, tudo apontando para o remanescente de Israel que será preservado durante a grande tribulação.

Mas no caso de Sodoma a figura tem muito mais força ao descrever a condição moral do mundo do que em ocupar-se com o remanescente que escapa. Mesmo assim é digno de nota que quem tira Ló e sua família de Sodoma prestes a ser destruída não é o Senhor, como vemos em 1 Tessalonicenses 4 no caso do arrebatamento, mas os anjos. Assim será também o cuidado de Deus para com o remanescente espalhado por todo o mundo, o qual será recolhido por anjos para estarem na Jerusalém restaurada.

“E, logo depois da aflição daqueles dias, o sol escurecerá, e a lua não dará a sua luz, e as estrelas cairão do céu, e as potências dos céus serão abaladas. Então aparecerá no céu o sinal do Filho do homem; e todas as tribos da terra se lamentarão, e verão o Filho do homem, vindo sobre as nuvens do céu, com poder e grande glória. E ele enviará os seus anjos com rijo clamor de trombeta, os quais ajuntarão os seus escolhidos desde os quatro ventos, de uma à outra extremidade dos céus” (Mt 24:29).

Considere estas passagens, todas elas claramente relacionadas a Israel e não à Igreja (que ainda era um mistério não revelado no Antigo Testamento):

“Se o Senhor dos Exércitos não nos tivesse deixado algum remanescente, já como Sodoma seríamos, e semelhantes a Gomorra” (Is 1:9).

“Os restantes se converterão ao Deus forte, sim, os restantes de Jacó. Porque ainda que o teu povo, ó Israel, seja como a areia do mar, só um remanescente dele se converterá; uma destruição está determinada, transbordando em justiça. Porque determinada já a destruição, o Senhor DEUS dos Exércitos a executará no meio de toda esta terra” (Is 10:21-23).

“E há de ser que naquele dia o Senhor tornará a pôr a sua mão para adquirir outra vez o remanescente do seu povo, que for deixado, da Assíria, e do Egito, e de Patros, e da Etiópia, e de Elã, e de Sinar, e de Hamate, e das ilhas do mar. E levantará um estandarte entre as nações, e ajuntará os desterrados de Israel, e os dispersos de Judá congregará desde os quatro confins da terra” (Is 11:11-12).