Os gigantes sobreviveram ao dilúvio?
Entendo que os “gigantes” de que fala o capítulo 6 de Gênesis não seriam necessariamente homens grandes, mas grandes homens. ”Havia naqueles dias gigantes na terra; e também depois, quando os filhos de Deus entraram às filhas dos homens e delas geraram filhos; estes eram os valentes que houve na antiguidade, os homens de fama” (Gn 6:4). Uma teoria é que as histórias acerca desses homens com superpoderes tenham dado origem às lendas dos deuses da mitologia egípcia, grega e romana. É bastante comum na mitologia encontrarmos exemplos de “deuses” casando-se com mulheres e gerando homens poderosos.
Apesar de a ideia de anjos copulando com seres humanos ser refutada por alguns, quando reunimos outras passagens da Bíblia ela começa a ganhar sentido. Judas, por exemplo, fala de duas instâncias envolvendo anjos: ”E aos anjos que não guardaram o seu principado (“sua condição original”, segundo a versão de J. N. Darby, literalmente “domicílio”), mas deixaram a sua própria habitação, reservou na escuridão e em prisões eternas até ao juízo daquele grande dia; assim como Sodoma e Gomorra, e as cidades circunvizinhas, que, havendo-se entregue à fornicação como aqueles, e ido após outra carne [literalmente “carne estranha”], foram postas por exemplo, sofrendo a pena do fogo eterno” (Jd 1:6-7).
O interessante é que tanto Judas quanto Pedro citam o Livro de Enoque, o qual obviamente não é a Palavra de Deus, mas que ao menos nas passagens citadas ganha um lugar no cânon sagrado, as quais são assim endossadas pelos dois apóstolos. Compare a passagem acima de Judas com o texto tirado do apócrifo 1 Enoque que citamos aqui apenas a título de ilustração. Volto a alertar que o livro de Enoque não é a Palavra de Deus, mas faz parte da tradição judaica:
“Ide e fazei conhecido dos Vigilantes do céu quem abandonou os lugares celestiais, o lugar santo e eterno, e se contaminou com mulheres... Por terdes abandonado os lugares celestiais santos e eternos, e deitado com mulheres e se contaminado com as filhas do povo... não fiz esposas para vós, pois a habitação que cabe aos seres espirituais dos lugares celestiais são os lugares celestiais... Atai as mãos e os pés de Azazel e jogai-o nas trevas... Deus cobriu sua face para que não veja a luz; para que ele seja lançado no fogo no grande dia do juízo... Atai Semjaza e os outros que estão com ele, os quais fornicaram com as mulheres, para que morram junto com elas em toda a sua corrupção... Atai-os por setenta gerações sob as rochas da terra até o dia de seu juízo e de sua consumação, até que termine o juízo eterno” (1 Enoque 12:4; 15:3, 7; 10:4-6; 10:11-12).
Pedro também inclui uma citação do livro de Enoque que você irá identificar como sendo o final do texto logo acima: ”Porque, se Deus não perdoou aos anjos que pecaram, mas, havendo-os lançado no inferno, os entregou às cadeias da escuridão, ficando reservados para o juízo; E não perdoou ao mundo antigo, mas guardou a Noé, pregoeiro da justiça, com mais sete pessoas, ao trazer o dilúvio sobre o mundo dos ímpios; E condenou à destruição as cidades de Sodoma e Gomorra, reduzindo-as a cinza, e pondo-as para exemplo aos que vivessem impiamente” (2 Pe 2:4-6).
Entendo que os três episódios reunidos e citados por Pedro numa só sequência estão intimamente relacionados. O primeiro por nos remeter a Gn 6 e ao intercurso ocorrido entre anjos que assumiram a forma humana e mulheres. Estes estão presos até agora e é bom observar que não são todos os anjos caídos na rebelião de Satanás que se encontram presos hoje, portanto estes devem ter feito algo muito fora do padrão de simplesmente servirem de emissários ou ministros do diabo.
O segundo episódio fala do dilúvio, e não é difícil concluir que Deus fez isso para evitar a corrupção de toda a descendência humana. Ele havia prometido no Éden que da semente da mulher viria o Salvador, portanto uma estratégia de Satanás pode muito bem ter sido a de corromper essa semente e transformar a raça humana numa raça híbrida.
Finalmente menção é feita a Sodoma e Gomorra, o episódio quando os homens da cidade quiseram ter relações com ”carne estranha”, isto é, os dois anjos enviados por Deus para salvar Ló e sua família.
Mas voltando à sua pergunta inicial, se os gigantes de Gênesis 6 teriam sobrevivido ao dilúvio, a resposta é um enfático NÃO! A razão é simples, a Palavra de Deus afirma categoricamente que ninguém, além de Noé e sua família, sobreviveu ao dilúvio, portanto quem se atreveria a contestar o que diz a Palavra de Deus? Infelizmente existem alguns que discordam da Palavra de Deus neste ponto, mas seria surpresa se eles não existissem, pois aí as próprias profecias bíblicas que falam desses seriam invalidadas.
“Disse o Senhor: 'Farei desaparecer da face da terra o homem que criei, os homens e também os animais grandes, os animais pequenos e as aves do céu. Arrependo-me de havê-los feito'. A Noé, porém, o Senhor mostrou benevolência... Porque eis que eu trago um dilúvio de águas sobre a terra, para desfazer toda a carne em que há espírito de vida debaixo dos céus; tudo o que há na terra expirará” (Gn 6:7-17).
“E eu convosco estabeleço a minha aliança, que não será mais destruída toda a carne pelas águas do dilúvio, e que não haverá mais dilúvio, para destruir a terra” (Gn 9:11).
“E não o perceberam, até que veio o dilúvio, e os levou a todos, assim será também a vinda do Filho do homem” (Mt 24:39).
“Comiam, bebiam, casavam, e davam-se em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca, e veio o dilúvio, e os consumiu a todos” (Lc 17:27).
“E não perdoou ao mundo antigo, mas guardou a Noé, pregoeiro da justiça, com mais sete pessoas, ao trazer o dilúvio sobre o mundo dos ímpios” (2 Pe 2:5).
“Pelas quais coisas pereceu o mundo de então, coberto com as águas do dilúvio” (2 Pe 3:6).
A menos que esses ”valentes que houve na antiguidade, os homens de fama” (Gn 6:4) fossem também anfíbios, eles também acabaram morrendo no dilúvio como todos os seres terrestres. A Bíblia não menciona se depois do dilúvio os anjos teriam voltado a praticar a mesma coisa, mas eu particularmente creio que não. Creio que os gigantes que encontramos a partir daí provavelmente seriam homens comuns, como existem pigmeus e gigantes até hoje e eles não tem nada de especial além da estatura. Mil anos mais tarde do episódio de gn eles aparecem descritos pela mesma palavra hebraica “nefilim” em Números 13:33. Existe uma dúvida se a palavra “nefilim” deve ser traduzida como “gigante”, “caído” ou “que faz cair”. No dicionário hebraico uma das opções seria “brutamontes”.