Devo deixar meus pais interferirem na educação de meus filhos?

Você ficou chateado quando soube que seus sogros, que o tratam como filho, haviam levado sua filha a uma "rezadeira" ou "benzedeira" como são chamadas mulheres que alegam tirar "mau olhado" de crianças doentes. Será que por causa do bom relacionamento e do respeito que você nutre por seus sogros você deveria fechar os olhos para algo assim e permitir que eles continuem a dar uma educação religiosa à sua filha, mesmo sabendo ser esta contrária à Bíblia?

Quando uma pessoa se casa forma uma nova unidade familiar e já não tem mais que obedecer seus pais, porém devem continuar a honrá-los. Obedecer e honrar são coisas diferentes. Eu posso honrar uma autoridade, como meu chefe no trabalho, mas serei obrigado a desobedecê-lo se ele me obrigar a fazer coisas contrárias à Palavra de Deus. Quando o assunto são nossos pais, devemos respeitá-los mesmo que o casamento tenha causado uma mudança no relacionamento. A Bíblia ensina que os filhos sempre devem ouvir e considerar os conselhos dos pais (uma boa leitura é o Livro de Provérbios), pois o natural é que eles tenham maior experiência de vida, mesmo aqueles que são incrédulos. Então, em questões como educação formal, saúde e cuidados é sempre bom ponderar o que nos ensinam nossos pais.

Aos filhos pequenos e jovens que ainda estão sob a autoridade dos pais, isto é, não são independentes, a Bíblia deixa claro o princípio da obediência:

"Vós, filhos, obedecei em tudo a vossos pais, porque isto é agradável ao Senhor” (Cl 3:20).

Porém depois de casados os filhos já não devem obediência aos pais (permanecem a honra e o respeito), já que constituíram uma nova unidade familiar. Nesta o marido é a cabeça e, portanto, a autoridade, mesmo que seja incrédulo e sua esposa crente. Mas, no que diz respeito aos pais, apesar de não ser mais uma questão de obediência, continua sendo uma questão de honra:

"Honra a teu pai e a tua mãe, que é o primeiro mandamento com promessa."(Ef 6:2).

No lar a responsabilidade de governá-lo é tanto do marido quanto da esposa, portanto quando um dos cônjuges joga essa responsabilidade no outro alegando já ter suas preocupações está desprezando o ensino claro da Palavra. Também não deve existir discórdia quando o assunto é o cuidado dos filhos, pois estes percebem claramente coisas assim acontecerem e acabam perdendo o respeito pelos pais ou escolhendo aquele que acham "mais bonzinho", mesmo que seja o que poderá acabar acostumando mal o filho.

"Quero, pois, que as que são moças se casem, gerem filhos, governem a casa, e não deem ocasião ao adversário de maldizer” (1 Tm 5:14).

Portanto, sua filha é responsabilidade sua e de sua esposa, e não de seus pais ou sogros. Então cabe a vocês decidirem juntos como deve ser a educação dela, em especial a educação cristã, como nos exorta a Palavra de Deus: "Vós, pais, não provoqueis à ira a vossos filhos, mas criai-os na doutrina e admoestação do Senhor” (Ef 6:4).

Deixar que seus pais ou sogros levem seus filhos a lugares ou cerimônias que são contrárias à Palavra de Deus não é criá-los "na doutrina e admoestação do Senhor", por mais que os pais ou sogros acreditem estar fazendo o melhor para seus filhos. Conheci um pai que contratou uma prostituta para seu filho adolescente por achar que aquilo seria importante em sua educação sexual. Se, como cristãos, achamos uma aberração fazer algo assim, colocando o filho em contato com a impureza moral, o que pensar de deixá-lo exposto à impureza religiosa?

O melhor será deixar claro para seus sogros a posição de vocês e como desejam criar seus filhos, fazendo isso com muito tato e respeito para não os ofender e nem deixar que a situação se transforme em discussão. Se eles não creem no Senhor de nada adiantará argumentar porque não entenderão isso também. Para eles o que importa é o bem-estar da menina, por isso ficaram tão surpresos quando você se opôs a eles por terem levado sua filha a uma benzedeira.

Se eles fossem muçulmanos radicais talvez levassem a menina para ser circuncidada. Pais muçulmanos seguem essa prática da religião acreditando ser o melhor para seus filhos. A Lei Islâmica prescreve: "Circuncisão é obrigatória (para cada homem e mulher) pela remoção do pedaço da pele da glande do homem, mas a circuncisão da mulher se dá pela remoção do clitóris (isto é chamado Hufaad)”. Será que pais cristãos deveriam permitir que seus pais ou sogros muçulmanos fizessem isso com uma neta só para não perderem a amizade?

Não se intimide se encontrar oposição, apenas não discuta e deixe clara a sua posição. Todos os que se convertem acabam tendo algum tipo de oposição dos pais. Alguns por causa da conversão, outros por causa das práticas diárias e há ainda os que saíram de uma denominação para congregarem somente ao nome do Senhor e são rechaçados pelos pais, mesmo crentes, que permanecem nos sistemas religiosos que os homens criaram.

Não deveria ser motivo de espanto sermos rejeitados mesmo por familiares, porque o Senhor deixou muito claro que isso aconteceria. O cego curado foi rejeitado por seus pais quando os fariseus fizeram pressão sobre eles e temeram ser expulsos da sinagoga. Muitos pais se envergonham de seus filhos terem se convertido (ou abandonado o sistema religioso), pois isso para eles é uma desonra diante de amigos ou mesmo de irmãos cristãos denominacionais.

"Não cuideis que vim trazer a paz à terra; não vim trazer paz, mas espada; porque eu vim pôr em dissensão o homem contra seu pai, e a filha contra sua mãe, e a nora contra sua sogra; e assim os inimigos do homem serão os seus familiares" (Mt 10:34-35).

"Portanto, cingindo os lombos do vosso entendimento, sede sóbrios, e esperai inteiramente na graça que se vos ofereceu na revelação de Jesus Cristo; como filhos obedientes, não vos conformando com as concupiscências que antes havia em vossa ignorância; mas, como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em toda a vossa maneira de viver; porquanto está escrito: Sede santos, porque eu sou santo. E, se invocais por Pai aquele que, sem acepção de pessoas, julga segundo a obra de cada um, andai em temor, durante o tempo da vossa peregrinação, sabendo que não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados da vossa vã maneira de viver que por tradição recebestes dos vossos pais, mas com o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado” (1 Pe 1:13-19).

"Ora, pois, já que Cristo padeceu por nós na carne, armai-vos também vós com este pensamento, que aquele que padeceu na carne já cessou do pecado; para que, no tempo que vos resta na carne, não vivais mais segundo as concupiscências dos homens, mas segundo a vontade de Deus. Porque é bastante que no tempo passado da vida fizéssemos a vontade dos gentios, andando em dissoluções, concupiscências, borrachices, glutonarias, bebedices e abomináveis idolatrias; e acham estranho não correrdes com eles no mesmo desenfreamento de dissolução, blasfemando de vós. Os quais hão de dar conta ao que está preparado para julgar os vivos e os mortos” (1 Pe 4:1-5).

"Porque, persuado eu agora a homens ou a Deus? Ou procuro agradar a homens? Se estivesse ainda agradando aos homens, não seria servo de Cristo” (Gl 1:10).

Sugiro que leia a excelente série de artigos "Como educar a criança" de autoria de J. C. Ryle e publicados originalmente com o título de "The duties of parents" entre os séculos 18 e 19.