Devo apresentar meu filho no templo?

Você escreve dizendo que sua família pede que você apresente seu filho ao Senhor em alguma igreja, seja ela católica ou evangélica, por isso quer saber se existe fundamento bíblico para a apresentação ou dedicação de crianças no templo. A Bíblia mostra que os pais de Jesus o levaram para ser apresentado no Templo de Jerusalém e aquilo estava bem de acordo com a dispensação na qual viviam, porque todos ali eram judeus vivendo dentro do judaísmo e havia um Templo em Jerusalém que era o único lugar físico reconhecido por Deus como lugar de adoração a ele.

No judaísmo quando nascia um menino ele primeiro precisava ser circuncidado, conforme determinava o que Deus disse a Abraão, antes mesmo da Lei dada por intermédio de Moisés:

"Disse mais Deus a Abraão: Tu, porém, guardarás a minha aliança, tu, e a tua descendência depois de ti, nas suas gerações. Esta é a minha aliança, que guardareis entre mim e vós, e a tua descendência depois de ti: Que todo o homem entre vós será circuncidado. E circuncidareis a carne do vosso prepúcio; e isto será por sinal da aliança entre mim e vós... E o homem incircunciso, cuja carne do prepúcio não estiver circuncidada, aquela alma será extirpada do seu povo; quebrou a minha aliança” (Gn 17:9-14).

Depois, além da circuncisão da criança, a mãe devia passar por um processo de purificação de 40 dias, como fez Maria depois de Jesus ter sido circuncidado:

"E, quando os oito dias foram cumpridos, para circuncidar o menino, foi-lhe dado o nome de Jesus, que pelo anjo lhe fora posto antes de ser concebido. E, cumprindo-se os dias da purificação dela, segundo a lei de Moisés, o levaram a Jerusalém, para o apresentarem ao Senhor (Segundo o que está escrito na lei do Senhor: Todo o macho primogênito será consagrado ao Senhor); e para darem a oferta segundo o disposto na lei do Senhor: Um par de rolas ou dois pombinhos” (Lc 2:21-24).

Você deve ter reparado na passagem que por três vezes a Lei é mencionada, o que indica que estamos vendo uma cena típica do judaísmo. O ritual de purificação da mãe dependia se a criança era do sexo masculino ou feminino, como instruía a Lei dada a Moisés em Levítico 12:1-8:

"Falou mais o Senhor a Moisés, dizendo: Fala aos filhos de Israel, dizendo: Se uma mulher conceber e der à luz um menino, será imunda sete dias, assim como nos dias da separação da sua enfermidade, será imunda. E no dia oitavo se circuncidará ao menino a carne do seu prepúcio. Depois ficará ela trinta e três dias no sangue da sua purificação; nenhuma coisa santa tocará e não entrará no santuário até que se cumpram os dias da sua purificação. Mas, se der à luz uma menina será imunda duas semanas, como na sua separação; depois ficará sessenta e seis dias no sangue da sua purificação. E, quando forem cumpridos os dias da sua purificação por filho ou por filha, trará um cordeiro de um ano por holocausto, e um pombinho ou uma rola para expiação do pecado, diante da porta da tenda da congregação, ao sacerdote. O qual o oferecerá perante o Senhor e por ela fará propiciação; e será limpa do fluxo do seu sangue; esta é a lei da que der à luz menino ou menina. Mas, se em sua mão não houver recursos para um cordeiro, então tomará duas rolas, ou dois pombinhos, um para o holocausto e outro para a propiciação do pecado; assim o sacerdote por ela fará expiação, e será limpa".

José e Maria eram pobres, por isso ofereceram apenas duas rolas ou dois pombinhos, e não um cordeiro, que era a oferta padrão. Ao final desse processo é que a mãe comparecia ao Templo de Jerusalém para apresentar a criança, como fizeram os pais de Jesus. Segundo a Lei o primogênito pertencia ao Senhor (Ex 13:2), daí ser apresentado ao Senhor no Templo de Jerusalém.

Portanto, se você quiser imitar o que fizeram José e Maria, primeiro deve circuncidar seu filho (se for menino, obviamente), depois sua mulher deve cumprir os dias da purificação, sacrificar um cordeiro (ou duas pombinhas se vocês forem pobres) e finalmente apresentar a criança ao Senhor no Templo de Jerusalém, porque aquele é o único Templo e santuário reconhecido por Deus.

Mas espere um pouco! Hoje tem uma mesquita islâmica no lugar do Templo! Então já deu para você perceber que não poderá cumprir os requisitos do judaísmo, não só por esta razão, mas também porque você faz parte de outro povo, a Igreja, que nada tem de judaísmo e nem de adoração segundo os moldes terrenos dados a Israel. A Igreja adora, não em Jerusalém ou qualquer outro templo de pedras, mas em espírito e em verdade. Os que fazem parte do corpo de Cristo não vão apresentar seus filhos diante de um sacerdote porque todo crente hoje faz parte de uma "geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz" (1 Pe 2:9).

Portanto esqueça a chamada "dedicação da criança" ou "apresentação da criança" ou "cultinho do bebê" ou qualquer outro nome que se dê a levar a criança a alguma igreja ou templo moderno para colocá-lo diante de um homem autodenominado sacerdote, bispo, pastor ou algo do tipo. Nada disso tem base na doutrina dos apóstolos dada à Igreja. O fato de algo estar na Bíblia não significa que deve ser feito, pois é preciso ver a quem aquilo foi dito, onde, quando e com que finalidade.

"Disse-lhe a mulher [samaritana]: Senhor, vejo que és profeta. Nossos pais adoraram neste monte, e vós dizeis que é em Jerusalém o lugar onde se deve adorar. Disse-lhe Jesus: Mulher, crê-me que a hora vem, em que nem neste monte nem em Jerusalém adorareis o Pai. Vós adorais o que não sabeis; nós adoramos o que sabemos porque a salvação vem dos judeus. Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem. Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade” (Jo 4:19-24).