Devemos separar as crianças dos adultos nas reuniões?
Você pergunta se devem manter as crianças separadas dos pais durante as reuniões para não atrapalharem, levando-as para um cômodo separado e promovendo ali atividades para elas. O correto é que as crianças participem normalmente das reuniões junto com seus pais, pois temos princípios bíblicos neste sentido. Um exemplo está em quando Moisés insistiu que deviam ir sacrificar ao Senhor levando seus filhos, condição com a qual o Faraó não concordava (o inimigo não quer que nossos filhos nos acompanhem nas coisas do Senhor):
“Então Moisés e Arão foram levados outra vez a Faraó, e ele disse-lhes: Ide, servi ao Senhor nosso Deus. Quais são os que hão de ir? E Moisés disse: Havemos de ir com os nossos jovens, e com os nossos velhos; com os nossos filhos, e com as nossas filhas, com as nossas ovelhas, e com os nossos bois havemos de ir; porque temos de celebrar uma festa ao Senhor. Então ele lhes disse: Seja o Senhor assim convosco, como eu vos deixarei ir a vós e a vossos filhos; olhai que há mal diante da vossa face. Não será assim; agora ide vós, homens, e servi ao Senhor pois isso é o que pedistes. E os expulsaram da presença de Faraó” (Ex 10:8-11).
Temos ainda uma ordem direta de Deus dada aos israelitas através de Moisés, para que o povo fosse reunido, homens, mulheres e crianças, para aprenderem o temor do Senhor:
“Ajunta o povo, os homens e as mulheres, os meninos e os estrangeiros que estão dentro das tuas portas, para que ouçam e aprendam e temam ao Senhor vosso Deus, e tenham cuidado de fazer todas as palavras desta lei; E que seus filhos, que não a souberem, ouçam e aprendam a temer ao Senhor vosso Deus, todos os dias que viverdes sobre a terra a qual ides, passando o Jordão, para a possuir” (Dt 31:12).
Outro exemplo é quando Josafá que, diante do perigo, ora a Deus por proteção na companhia de todo o povo, homens, mulheres e crianças:
“E todo o Judá estava em pé perante o Senhor como também as suas crianças, as suas mulheres, e os seus filhos” (2 Cr 20:13).
Uma situação semelhante encontramos em Esdras:
“E enquanto Esdras orava, e fazia confissão, chorando e prostrando-se diante da casa de Deus, ajuntou-se a ele, de Israel, uma grande congregação, de homens, mulheres e crianças; pois o povo chorava com grande choro” (Ed 10:1).
Em Neemias encontramos a dedicação dos muros reconstruídos, e quem participa da grande reunião de louvor e gratidão? Todos, inclusive as crianças, e elas se regozijam junto com seus pais:
“E ofereceram, no mesmo dia, grandes sacrifícios e se alegraram; porque Deus os alegrara com grande alegria; e até as mulheres e os meninos se alegraram, de modo que a alegria de Jerusalém se ouviu até de longe” (Ne 12:43).
O Senhor convida as crianças para aprender a sua Palavra, e não existe lugar melhor para isso do que nas reuniões da assembleia. Apesar de muitas vezes a criança parecer indiferente ao que se passa podemos ter certeza de que sua mente está sendo cheia pela água da Palavra como foram as talhas de pedra enchidas pelos servos (uma figura do Espírito Santo) da água que depois seria transformada em vinho (uma figura de vida e alegria) pelo próprio Senhor.
“Vinde, meninos, ouvi-me; eu vos ensinarei o temor do Senhor” (Sl 34:11).
Você certamente já viu uma criança aparentemente distraída com seus brinquedos fazer um aparte a uma conversa entre adultos, mostrando que ela estava prestando atenção a tudo o que estava sendo dito. Fazemos cursos de imersão quando queremos aprender rapidamente um idioma, portanto pense em sua criança participando das reuniões como uma imersão na Palavra de Deus. É sempre importante lembrar que a Palavra de Deus tem um poder que vai além de simplesmente compreendê-la. Ela é a forma usada por Deus para abrir os ouvidos do pecador, como fica claro nesta passagem:
“De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus” (Rm 10:17).
Repare que não diz “o ouvir DA Palavra de Deus”, mas a capacidade de ouvir vem “PELA Palavra de Deus”. Isto significa que é a exposição à Palavra de Deus que nos faz ganhar a capacidade de ouvir espiritualmente e ter fé naquele que é o Autor da Palavra. É justamente disso que falam os versículos imediatamente anteriores:
“Porque todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem não ouviram?” (Rm 10:13-14).
Portanto não subestime o poder da Palavra em gerar vida em seus filhos, ainda que eles pareçam indiferentes ao que está sendo ministrado nas reuniões. Lembre-se do cuidado do Senhor para com as crianças e para que estas não fossem impedidas de ir a ele. Eram os discípulos sem entendimento e os religiosos fariseus que tinham aversão ao fato de crianças estarem junto com os adultos e serem capazes de desfrutar da companhia do Senhor e até de louvá-lo do modo como ele merece.
“Trouxeram-lhe, então, alguns meninos, para que sobre eles pusesse as mãos, e orasse; mas os discípulos os repreendiam. Jesus, porém, disse: Deixai os meninos, e não os estorveis de vir a mim; porque dos tais é o reino dos céus” (Mt 19:13-14).
“Vendo, então, os principais dos sacerdotes e os escribas as maravilhas que fazia, e os meninos clamando no templo: Hosana ao Filho de Davi, indignaram-se e disseram-lhe: Ouves o que estes dizem? E Jesus lhes disse: Sim; nunca lestes: Pela boca dos meninos e das criancinhas de peito tiraste o perfeito louvor”? (Mt 21:15).
Portanto se onde você congrega as crianças são separadas dos adultos nas reuniões regulares de ministério da Palavra, oração e adoração, saiba que essa prática não é bíblica. Infelizmente hoje em muitos agrupamentos cristãos as crianças são levadas para um lugar separado durante as reuniões regulares para que fiquem brincando ou fazendo atividades com monitoras. Certamente não há nada de errado em se promover atividades e reuniões de evangelização de crianças e jovens (geralmente chamadas de “Escola Dominical”), mas estas não substituem a frequência delas às reuniões regulares da assembleia.
Para bebês ou crianças muito pequenas os pais podem levar algum livro, caderno ou brinquedo que as mantenha distraídas, mas é importante pensar em algo que não faça barulho. Às vezes não é a criança, mas os objetos ou brinquedos de plástico rígido ou de metal (ou pior ainda, eletrônicos sonoros!) que, quando derrubados, causam barulho suficiente para atrapalhar a reunião. Quando bebês choram os pais devem ter o bom senso de procurar um lugar à parte para cuidar deles ou amamentá-los a fim de tranquilizá-los, voltando à reunião tão logo a criança esteja mais calma. Lembre-se do que o Senhor disse: “Pela boca dos meninos e das criancinhas de peito tiraste o perfeito louvor”? (Mc 21:15).
A desculpa de que as crianças devem ser mantidas separadas dos pais durante as reuniões por fazerem barulho e não se comportarem só expõe a falta de disciplina em casa, pois se os pais as disciplinassem corretamente em casa elas saberiam como se comportar nas reuniões, na escola ou em qualquer lugar.
Infelizmente a disciplina amorosa, saudável e bíblica dos filhos, que às vezes deve ser firme e severa, é hoje vista como bullying ou violência verbal, psicológica e física que tolhe a liberdade da criança. Hoje pais cristãos são vistos como criminosos quando precisam aplicar a disciplina que Deus ensinou em sua Palavra. Ao fazerem isso os homens se consideram mais sábios que Deus e não é preciso muito para ver o resultado disso nos lares, escolas e prisões.
“Não retires a disciplina da criança; pois se a fustigares com a vara, nem por isso morrerá. Tu a fustigarás com a vara, e livrarás a sua alma do inferno... A vara e a repreensão dão sabedoria, mas a criança entregue a si mesma, envergonha a sua mãe” (Pv 23:13, 14; 29:15).