Arrebatamento: Verdade ou mito?

Você escreveu que gosta das coisas que publico, mas ficou decepcionado ao saber que creio no arrebatamento, o qual, segundo você disse, “foi grandemente alardeado na série ‘Deixados para Trás’ produzido por Hollywood e agora vem com toda força e nova roupagem no filme de Nicolas Cage”. Você afirma ainda que o arrebatamento é “algo totalmente engendrado pelos Illuminati que dominam os estúdios de Hollywood” e acrescenta alguns links na tentativa de provar que isso é “totalmente antibíblico”. Seu e-mail termina dizendo que em sua cidade há vários admiradores de meu ministério que estão intrigados por eu aceitar a “teologia dos Illuminati que não tem base bíblica” e pedindo “um novo vídeo postado pelo Mario que conhecemos e admiramos corrigindo a interpretação pré-tribulacionista”.

Fiz o que pediu e fui ver os links que enviou, um de um site do tipo “imprensa marrom” que “Illuminati” no nome só traz teorias conspiratórias para tentar provar que qualquer coisa ruim que aconteça no planeta é culpa dos tais Illuminati. Nem perdi meu tempo em ir adiante com este e fui tentar os outros links, todos de um mesmo site. Sinceramente eu acho que você não examinou os fundamentos da pessoa que criou o site, pois se tivesse examinado veria que o fato de ela não acreditar no arrebatamento é o menor dos males.

O site é de uma mulher que diz um dia ter tido um sonho no qual Deus a teria escolhido para restaurar as verdades dadas à igreja. Como se Deus pudesse se contradizer ao escolher essa mulher para ensinar doutrina, pois a Palavra de Deus proíbe que a mulher ensine (1 Tm 2:12), o site traz uma série de textos de autoria da autoproclamada profetiza dizendo que as almas dos ímpios serão aniquiladas no final, que a Trindade é um mito, que o destino da Igreja não é o céu, que devemos guardar o sábado porque o domingo é marca da besta, que a perdição não é eterna e a salvação não pode ser recebida pela fé, mas por imitar a vida santa de Cristo.

Você tem certeza de ser este mesmo o site que quis me passar para provar que o arrebatamento não tem base bíblica? Sinceramente, se você diz que aprecia o evangelho que tenho pregado, ou você nunca entendeu o que eu disse ou não está avaliando com cuidado a fonte que usa para rejeitar o arrebatamento. A terceira opção seria você crer em toda a bobagem que aquela mulher prega, mas espero sinceramente não ser este o seu caso. Em seus devaneios a sonhadora do site afirma uma série de argumentos contra o arrebatamento, os quais chama de “irrefutáveis”, mas foi fácil refutar um a um e até postei a refutação na área de comentários, mas algumas horas mais tarde vi que ela tinha refutado minha refutação e excluiu meu comentário.

Mais tarde achei que nem deveria ter perdido meu tempo em comentar ali, pois o que aquela mulher precisa mesmo é do evangelho para crer em Cristo para a remissão de seus pecados. Sua afirmação de que a salvação é pela imitação de Cristo deixa muito claro que ela ainda não conhece a salvação eterna recebida por graça e pela fé em Jesus e em seu sacrifício no Calvário.

Mas é triste ver nos comentários cristãos incautos caindo na conversa dela que não é nem um pouco inofensiva. Ao eliminar o arrebatamento da perspectiva do cristão ela elimina também a bendita esperança de nosso encontro com Cristo a qualquer momento e joga essa esperança para algum momento no fim do mundo, além de lançar seus leitores na incerteza da salvação (pois os faz pensar que terão de passar pelo juízo final) e fazer com que se preocupem mais com “guerras e rumores de guerras” (Mt 24:6) do que com o encontro com o Senhor. Tinha um que, na área de comentários, já pedia para ela escrever algo sobre como preparar-se para a “grande tribulação” com dicas de “como se manter em momentos de crise e guerra, como obter agua potável, como plantar, como aproveitar ao máximo as cascas e sobras de alimentos, como criar animais, noções básicas de defesa, etc.”

Quando comecei a ler os “argumentos irrefutáveis” logo percebi que ela deve ter aprendido sobre o arrebatamento em livros e filmes como “Deixados para trás”, o que equivale apresentar uma lista de “argumentos irrefutáveis” contra a medicina depois de assistir o seriado “House”. Aquele filme e muitos livros alarmantes que falam do arrebatamento têm tanta base bíblica quanto um gibi. Por isso boa parte dos argumentos nem precisam ser refutados porque não apontam para versículos que falam do arrebatamento, mas aqueles que esses filmes e livros ensinam que seriam o arrebatamento, todos eles tirados dos evangelhos.

O problema é que não temos o arrebatamento nos evangelhos, pois foi um dos mistérios (1 Co 15:51) revelados a Paulo, que nem era convertido quando Jesus andou aqui. Capítulos como Mateus 24 e Lucas 21 não fazem qualquer menção ao arrebatamento da igreja, mas são exclusivamente dirigidos aos judeus e falam tanto da destruição do Templo como da grande tribulação. Portanto vou tratar das passagens que são citadas por apresentarem alguma dificuldade também a crentes sinceros, em especial as que trazem a expressão “no último dia”. A autora tenta provar que não haveria arrebatamento porque a ressurreição só deve ocorrer “no último dia”. As passagens são:

“E a vontade do Pai que me enviou é esta: Que nenhum de todos aqueles que me deu se perca, mas que o ressuscite no último dia. Porquanto a vontade daquele que me enviou é esta: Que todo aquele que vê o Filho, e crê nele, tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia” (Jo 6:39-40). A mesma expressão aparece ainda em João6:44, 54 e 11:24. A outra passagem é Jo 12:48 que diz: “Quem me rejeitar a mim, e não receber as minhas palavras, já tem quem o julgue; a palavra que tenho pregado, essa o há de julgar no último dia”. O comentário da autora é que tanto a ressurreição quanto o juízo final de todos os homens ocorreriam “no último dia”, o que provaria que o crente iria passar pela “grande tribulação”.

Ocorre que a última passagem está falando do juízo daqueles que rejeitarem o Senhor e não receberem as suas palavras, categoria em que a própria autora se encaixa ao não crer no que a Bíblia diz que a salvação é pela fé em Cristo. Os ímpios que rejeitarem a salvação que há em Cristo Jesus, e não em nosso andar, e não creram em suas palavras passarão pelo juízo final ou “Grande Trono Branco” de Apocalipse 20:11-13. Nenhum daqueles que comparecer ao juízo final será salvo, pois ali se trata de um tribunal para lavrar as sentenças e não para julgar se alguém andou fazendo o bem ou para pesar as boas ações comparando-as com as más ações para ver se a pessoa será salva ou não. Naquele momento os salvos já estarão na companhia de Cristo, que prometeu: “Quem ouve a minha palavra, e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna, e não entrará em condenação [ou juízo], mas passou da morte para a vida” (Jo 5:24).

Mas então por que diz que tanto a ressurreição quanto o juízo final aconteceriam todos no “último dia”? Porque “dia” tem vários significados e nem sempre se refere a um período de 24 horas. Por exemplo, Sofonias 1:15-16 fala de “dia” como um período de “grande tribulação”: “Aquele dia será um dia de indignação, dia de tribulação e de angústia, dia de alvoroço e de assolação, dia de trevas e de escuridão, dia de nuvens e de densas trevas, dia de trombeta e de alarido contra as cidades fortificadas e contra as torres altas”. A expressão “dia” não delimita necessariamente uma data, como vemos em Gênesis 26:33: “Por isso é o nome daquela cidade Berseba até o dia de hoje”. Isto não significa que amanhã a cidade teria necessariamente outro nome. Também pode ser usado para falar de um período futuro, como em Gênesis 30:33: “Assim testificará por mim a minha justiça no dia de amanhã”. Se você me perguntar se já atingi a estabilidade financeira e eu responder que “ainda não, mas um dia chego lá” você não irá querer saber a data, pois estou apenas falando de um tempo futuro e não de um dia de 24 horas.

Na Bíblia você encontra expressões como “o dia do juízo”, “o dia do Senhor” e “no último dia” com diferentes significados para dias e épocas diferentes relacionadas a diferentes pessoas. Portanto, nos evangelhos quando Jesus fala da ressurreição no “último dia” está falando de um período de tempo que engloba todo o período desde a vinda de Cristo para receber os seus santos nos ares, até o tempo “quando tiver entregado o reino a Deus, ao Pai, e quando houver aniquilado todo o império, e toda a potestade e força” (1 Co 15:24). Assim, a ressurreição do “último dia” mencionada no Evangelho de João inclui a ressurreição tanto dos salvos quanto dos perdidos, mas estas não ocorrem em um mesmo momento, mas como mostram outras passagens estão separadas por um intervalo de ao menos mil e sete anos.

Para entender isto sugiro que leia em www.respondi.com.br os textos “Haverá mais de uma ressurreição” e “Quem participa da primeira ressurreição”? O simples fato de a Palavra de Deus falar de uma “primeira ressurreição” em Apocalipse 20:5-6 demonstra que haverá mais de uma. Lembre-se também de que “um dia para o Senhor é como mil anos, e mil anos como um dia” (2 Pe 3:8).

A autora do site usa então a passagem de 1 Coríntios 15:22-26 na tentativa de provar que, exceto a ressurreição de Cristo que já ocorreu, todos os outros eventos acontecerão em sequência, mas nesse mesmo “último dia”: “...assim também todos serão vivificados em Cristo. Mas cada um por sua ordem: Cristo as primícias, depois os que são de Cristo, na sua vinda. Depois virá o fim, quando tiver entregado o reino a Deus, ao Pai, e quando houver aniquilado todo o império, e toda a potestade e força. Porque convém que reine até que haja posto a todos os inimigos debaixo de seus pés. Ora, o último inimigo que há de ser aniquilado é a morte”.

O problema é: se Cristo vai voltar no “último dia” para ressuscitar os salvos primeiro, os perdidos depois e finalmente lançar “a morte e o inferno... no lago de fogo” (Ap 20:14), quanto tempo ele irá reinar? Pois a passagem é clara em mostrar que ele irá reinar do momento em que voltar até aniquilar o último inimigo, que é a morte, o que daria apenas algumas horas de reinado antes de entregar “o reino a Deus, ao Pai” (1 Co 15:24). “Porque convém que reine até que haja posto a todos os inimigos debaixo de seus pés” e “o último inimigo... é a morte”.

Outra passagem que ela usa para tentar provar que só deveríamos aguardar por uma única vinda de Jesus no “último dia” é Hebreus 9:27-28: “E, como aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso o juízo, assim também Cristo, oferecendo-se uma vez para tirar os pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o esperam para salvação. “Usar esta passagem para provar isso é tão válido quanto dizer que se vou estar em São Paulo hoje e no Rio amanhã fica provado que não existe nenhuma cidade entre estas duas.

No próximo argumento ela é obrigada a alterar uma passagem para justificar sua tese: “E destes profetizou também Enoque, o sétimo depois de Adão, dizendo: Eis que é vindo o Senhor com milhares de seus santos; para fazer juízo contra todos e condenar dentre eles todos os ímpios, por todas as suas obras de impiedade, que impiamente cometeram, e por todas as duras palavras que ímpios pecadores disseram contra ele” (Jd 1:14-15).

Seu argumento é que, já que Cristo voltará no último dia que é quando acontecerá a ressurreição dos salvos e a condenação dos ímpios, esses “santos” que virão com o Senhor não poderiam ser os salvos levados no arrebatamento, mas devem ser “anjos”. Para embasar seu argumento ela cita Lucas 9:26: “Porque, qualquer que de mim e das minhas palavras se envergonhar, dele se envergonhará o Filho do homem, quando vier na sua glória, e na do Pai e dos santos anjos”.

Para mim a explicação mais simples, e que não implica trocar “santos” ou acrescentar “anjos” em Judas 1:14-15 e Zacarias 14:5, é que em sua vinda para reinar, e depois para a grande batalha final do Armagedom, Jesus virá tanto com seus anjos como com seus santos. Alterando, tirando ou acrescentando palavras ao texto bíblico é possível provar qualquer coisa, que é o que a autora tenta fazer aqui.

O argumento seguinte não prova nada, pois certamente Jesus voltará para julgar os vivos e os mortos e a passagem que ela menciona evidentemente não inclui o arrebatamento porque os vivos e mortos que serão julgados no final são apenas os perdidos, não os salvos. A passagem que citou é esta e seu objetivo não é assinalar os tempos proféticos, mas exortar Timóteo a pregar a Palavra com urgência diante da horrível expectativa que aguarda os perdidos: “Conjuro-te, pois, diante de Deus, e do Senhor Jesus Cristo, que há de julgar os vivos e os mortos, na sua vinda e no seu reino, que pregues a palavra, instes a tempo e fora de tempo” (2 Tm 4:1-2). Como já mencionei, Jo 5:24 mostra que aquele que crê em Cristo “não entra em juízo, mas passou da morte para a vida” no momento em que creu.

O argumento seguinte é muito usado pelos que tentam negar o arrebatamento, mas isso só demonstra sua ignorância por achar que só exista na Bíblia uma trombeta. Ela coloca a “última trombeta” de 1 Coríntios 15:51-52, que é a “trombeta de Deus” de 1 Tessalonicenses 4:16 e efetivamente fala da ressurreição e arrebatamento dos santos, como se fosse a mesma coisa da “trombeta” do “sétimo anjo” de Apocalipse 10:7 e 11:15-18, que é uma trombeta para anunciar o final da grande tribulação e início do reino de Cristo na terra, e do “rijo clamor de trombeta” de Mateus 24:29-31, que fala dos anjos que ajuntarão os judeus dos quatro cantos da terra. Apocalipse fala também de outras trombetas que soarão antes da sétima trombeta, todas elas anunciando juízos contra os habitantes da terra no tempo da grande tribulação.

No argumento seguinte ela demonstra mais uma vez total ignorância das Escrituras ao querer provar que a vinda de Cristo não será secreta ou invisível aos incrédulos no arrebatamento, mas que “todo olho o verá” (Ap 1:7), “com poder e grande glória” (Lc 21:27) e “como o relâmpago que sai do oriente e se mostra até ao ocidente” (Mt 24:27). Para justificar isso usa da passagem em Atos 1:10-11 na qual os anjos dizem aos discípulos: “Homens galileus, por que estais olhando para o céu? Esse Jesus, que dentre vós foi recebido em cima no céu, há de vir assim como para o céu o vistes ir”.

Ela se esquece de um detalhe: a subida de Cristo às alturas foi diante de judeus (não igreja, porque ela só veio a existir em Atos 2) e sua descida à terra será também para judeus, “assim” ou “do modo como” (Atos 1:11), no mesmo “monte das Oliveiras” (Zc 14:4). Para a igreja o Senhor não desce à terra, mas são os ressuscitados e arrebatados que sobem para encontrá-lo nos ares. “...os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro; depois, nós, os vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados juntamente com eles, entre nuvens, para o encontro do Senhor nos ares” (1 Ts 4:16-17).

Seu argumento final tenta provar que os salvos por Cristo da presente dispensação da Igreja passarão pela grande tribulação, e para tanto ela usa as passagens de Mateus 24:9-14 e Lucas 21:9-11. O versículo 13 de Mateus 24 diz que “aquele, porém, que perseverar até o fim, esse será salvo” e os versículos em Mateus 24:22 e Marcos 13:20 dizem que “se o Senhor não abreviasse aqueles dias, nenhuma carne se salvaria” mostram claramente tratar-se da salvação da vida natural, do corpo, para entrar vivo no reino milenial de Cristo. A passagem toda não está falando de arrebatamento, mas de morte, pois alguns serão “tirados” da terra como foram os mortos “nos dias de Noé” e o contrário de morte para quem está vivo é ser “salvo” da morte e conservar sua “carne” ou corpo vivo.

Outros versículos apontam claramente tratar-se da grande tribulação que atingirá principalmente o remanescente judeu fiel que habitará na terra de Israel no período após o arrebatamento, e dão detalhes de estarem falando para judeus na Palestina. Por exemplo: “os que estiverem na Judéia, fujam para os montes... e orai para que a vossa fuga não aconteça no inverno nem no sábado” (Mt 24:16, 20). Eu pergunto que diferença faria para um cristão que mora no Piauí essa fugo acontecer no inverno ou no sábado? Ah, me esqueci que a dona do site prega que os cristãos devem guardar o sábado! Mesmo assim, que diferença faria fugir no inverno para quem mora no Piauí?