Estarei perdida para sempre?

Você contou que se converteu e passou a frequentar uma igreja que ocupa grande espaço na TV. Mas, depois de alguns meses encontrou na Bíblia o pecado sem perdão e passou a ter medo de cometê-lo. Na igreja lhe disseram que esse pecado era blasfemar contra o Espírito e isso foi suficiente para você não conseguir controlar maus pensamentos e achou que tinha cometido tal pecado. Entrou em depressão, vivia chorando e com medo de ir para o inferno. Você acabou abandonando aquela igreja e passou os últimos sete anos sofrendo com a ideia de estar perdida eternamente.

Sinto dizer que você não está sozinha. Muitas pessoas que frequentam ou frequentaram igrejas pentecostais acabam vítimas de terrorismo psicológico e acabam entrando em depressão por acharem que estão perdidas. Muitos pregadores de milagres usam desse argumento de "blasfemar contra o Espírito" por afirmarem que fazem milagres em nome de Jesus e pelo Espírito Santo, portanto alegam que se alguém duvidar deles estará blasfemando contra o Espírito. Mas o próprio Jesus nos alertou contra os tais:

“Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas, interiormente, são lobos devoradores. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? E em teu nome não expulsamos demônios? E em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade” (Mt 7:15-23).

Esses contra os quais Jesus fala não são pagãos, feiticeiros, espíritas, macumbeiros, etc., mas são homens que professam ser cristãos e fazer milagres em nome de Jesus. São os mesmos contra os quais Paulo e Judas escrevem em 1 Timóteo 3 e Judas 1. Judas os compara a Janes e Jambres, os magos de Faraó que imitavam os milagres que Deus fazia por intermédio de Moisés.

Existem passagens nos evangelhos que são específicas para aquele momento em que a passagem ocorria. Por exemplo, é comum você aprender de pregadores pentecostais que Jesus teria levado sobre si as nossas enfermidades na cruz e por isso jamais deveríamos ficar doentes. Caso ficarmos, devemos repreender a enfermidade lembrando que na cruz Jesus as levou todas sobre si.

Mas a verdade é que quando Jesus curava estavam se cumprindo as Escrituras que diziam que ele levaria sobre si as enfermidades das pessoas que ele curava, que foi o que profetizou Isaías 53:4: “Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido”. O contexto todo do capítulo é dirigido ao povo que rejeitou o Messias, isto é, os judeus.

“Porque foi subindo como renovo perante ele, e como raiz de uma terra seca; não tinha beleza nem formosura e, olhando nós para ele, não havia boa aparência nele, para que o desejássemos. Era desprezado, e o mais rejeitado entre os homens, homem de dores, e experimentado nos trabalhos; e, como um de quem os homens escondiam o rosto, era desprezado, e não fizemos dele caso algum. Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido” (Is 53:2-4).

É apenas depois, no versículo 5, que o profeta faz alusão à sua obra na cruz, porém nos versículos anteriores está falando de Jesus vivo, em seu andar aqui neste mundo, sem beleza, desprezado, rejeitado, trabalhando arduamente e tomando para si as enfermidades das pessoas que curava, algo que só ele podia fazer por ser sem pecado e, portanto, imune às enfermidades. Se o ensino desses pregadores pentecostais fosse correto, não teríamos Epafrodito, Timóteo e outros discípulos doentes como vemos no Novo Testamento.

As enfermidades continuam aí e estamos sujeitos a elas porque estamos num corpo ainda corrompido pelo pecado. É só depois de ressuscitados que não experimentaremos mais doenças. Uma pinta na pele, uma cárie no dente, a redução da visão e audição, ou até mesmo a calvície são enfermidades, e mesmo esses pregadores que afirmam tal mentira não conseguem esconder essas enfermidades, mesmo que se tratem secretamente de outras em clínicas e hospitais particulares para seus seguidores acharem que eles nunca adoeçam.

Entenda que a profecia de Isaías se cumpriu quando Mateus disse que ela estava se cumprindo, ou seja, quando Jesus curava as pessoas enquanto andava aqui:

“E, chegada a tarde, trouxeram-lhe muitos endemoninhados, e ele com a sua palavra expulsou deles os espíritos, e curou todos os que estavam enfermos; para que se cumprisse o que fora dito pelo profeta Isaías, que diz: Ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e levou as nossas doenças” (Mt 8:16-17).

Quanto à sua dúvida sobre o pecado sem perdão, veja que quando Jesus disse aquilo ele estava bem ali na frente dos fariseus curando pessoalmente as pessoas e sendo acusado de fazer aquilo pelo poder de Satanás. Ao fazerem aquilo os fariseus estavam blasfemando assim contra o Espírito Santo. Mas aquela era uma situação bem específica para aquele momento, como era também a passagem em que a profecia de Isaías se cumpriu ao Jesus tomar para si as enfermidades dos que eram curados.

Veja a passagem da blasfêmia como é apresentada no Evangelho de Marcos:

“Em verdade vos digo que tudo será perdoado aos filhos dos homens: os pecados e as blasfêmias que proferirem. Mas aquele que blasfemar contra o Espírito Santo não tem perdão para sempre, visto que é réu de pecado eterno. Isto, porque diziam: está possesso de um espírito imundo” (Mc 3:28-30).

Repare que eles estavam dizendo que Jesus estava possesso de um demônio, o que seria impossível você dizer hoje, pois Jesus já não está no mundo, e sim na glória.

Outro ponto: uma pessoa que fique atribulada por ter tido um mau pensamento contra o Espírito Santo obviamente só poderá ser alguém que está sendo tocada em sua consciência pelo mesmo Espírito para confessar esse pecado a Deus. Se ela fosse totalmente indiferente a isso aí sim seria preocupante, pois ainda não teria sido despertada pelo Espírito, que é quem nos convence de pecado. Mas por estar sendo tocada neste sentido é porque tem vida em si mesma.

Lembre-se de que se blasfêmia fosse hoje um pecado sem perdão, Paulo jamais teria sido salvo, pois ele escreve: “A mim, que dantes fui blasfemo, e perseguidor, e injurioso; mas alcancei misericórdia, porque o fiz ignorantemente, na incredulidade” (1 Tm 1:13).